A disputa entre Estados Unidos e China não anda aquecida somente no campo comercial. A batalha se estende até o campo tecnológico.
Sob acusações de espionagem, roubo de dados e risco real de ataques a estruturas críticas por meio dos equipamentos chineses, o presidente Donald Trump tem feito pessoalmente lobby para que a chinesa Huawei seja excluída das principais disputas pelo 5G no mundo. Incluindo o leilão brasileiro, previsto para 2020
Mas, segundo a Broadcast, apesar dessa pressão, não deve haver nenhum tipo de barreira ao uso de equipamentos da gigante chinesa pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
Atualmente, a Huawei já tem mais de um terço da infraestrutura de redes de telefonia móvel no País, além de contratos com vários órgãos do governo federal. A companhia chinesa foi escolhida pela Anatel para realizar todos os testes do 5G no Brasil junto com as principais teles - Oi, Tim, Claro, Vivo e Algar - que devem disputar o leilão do próximo ano.
O assunto foi levantado por Donald Trump em março, quando o presidente Jair Bolsonaro esteve na Casa Branca. No fim de julho, foi o secretário de Comércio dos Estados Unidos, Wilbur Ross, que desembarcou no Brasil com supostas informações sobre a vulnerabilidade dos equipamentos chineses. Recentemente demitido por Trump, o ex-conselheiro de Segurança Nacional dos EUA John Bolton se encontrou com autoridades brasileiras no começo de agosto.
Segundo a reportagem do Estadão, foram realizados nove encontros entre representantes do governo americano com pares no Brasil desde junho. Foi quando o vice-presidente Hamilton Mourão disse que o governo brasileiro não tem intenção de restringir a presença da chinesa no leilão de 5G, logo depois de desembarcar da China, onde se encontrou com o presidente executivo da Huawei, Ren Zhengfei.
Mas representantes chineses também andaram frequentando os gabinetes em Brasília. Segundo as agendas públicas de ministros e secretários dos ministérios de Ciência e Tecnologia, Economia, Itamaraty e Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI), foram seis encontros com representantes brasileiros.
De olho na Oi
A disputa entre Estados Unidos e China também tem reflexos na mesa de negociações da Oi. A empresa, que está em recuperação judicial desde 2016, está sendo monitorada pelas gigantes China Mobile e a At&T.
Após a aprovação do novo marco das teles, a companhia telefônica passou a ser mais atrativa aos investidores. O texto, que ainda precisa ser sancionado pelo Planalto e regulamentado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), livra a tele de uma série de custos e obrigações que eram vinculados às antigas concessões de telefonia fixa da empresa.
Preocupação
Por trás do discurso em defesa da segurança de dados, os EUA não escondem uma preocupação: a perda da liderança mundial no 5G. Um dos principais executivos da norte-americana Sprint, Marcelo Claure disse, ao defender a fusão da tele com a T-Mobile, que a companhia seria a única forma de os EUA vencerem a China na corrida tecnológica - a operação entre as teles acabou por não se concretizar.
A liderança norte-americana na tecnologia 4G é apontada como essencial para a criação e o desenvolvimento de um ecossistema de aplicativos, como Facebook, Netflix e Alphabet, por exemplo, que hoje estão entre as companhias mais valiosas do mundo. Nas tecnologias anteriores, 2G e 3G, o desenvolvimento foi realizado na Europa.
Japão, Nova Zelândia, Austrália, Reino Unido e os EUA baniram a Huawei da implantação da nova geração de redes de celulares nos seus territórios. Na França, a empresa foi proibida de instalar torres perto de prédios estratégicos do governo.
O edital brasileiro do 5G deve ser posto em consulta pública em outubro e, após as contribuições, a versão final precisa passar pelo crivo do TCU.
O leilão deve ocorrer no início do segundo semestre de 2020.
Procurado, o relator do leilão na Anatel, Vicente Aquino, disse que o edital ainda está em fase de estudos e informou que somente se pronunciará quando o documento for submetido à análise do Conselho Diretor da agência, em sessão pública. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.