A cotação do dólar caminha para o terceiro pregão de alta e explicações não faltam. Temos a ausência de notícias sobre as reformas, cenário externo menos amigável e conversas nas mesas de operação sobre um firme fluxo de saída.
Todas são boas, mas quero me ater aqui no que podemos ver: a movimentação de fundos, estrangeiros e bancos no mercado futuro, pois é lá que a formação de preço acontece.
Os investidores podem montar posições compradas (aposta de alta) e vendidas (aposta de queda) em dólar. A posição também pode ser uma forma de hedge (proteção) para exposição em outros mercados, como juros, bolsa, balcão e à vista. Portanto, avaliações sobre ganhos e perdas são feitas sempre em tese.
O que as posições sugerem, nesses últimos dois dias, é uma realização de lucros por parte dos fundos de investimento, que vinham em firme movimento de venda de contratos futuros de dólar desde o fim do ano passado, quando o dólar estava a R$ 3,87. Na outra ponta, temos os estrangeiros reduzindo a posição comprada, ou realizando prejuízos.
São essas trocas de posições ao longo dos próximos dias que devem continuar ditando o rumo do dólar, que hoje chegou a subir mais de 1%, testando a linha de R$ 3,77. No lado técnico, o dólar não conseguiu se firmar abaixo do R$ 3,68, tido como patamar importante a ser rompido para novas pernadas de baixa como vimos na abertura do ano. No lado posto, o primeiro ponto observado está ao redor de R$ 3,78, que marca a média móvel de 200 dias.
As variações dos últimos dias apenas confirmam a imprevisibilidade do câmbio, especialmente no curto prazo, tendo em vista que circularam pelo mercado projeções de dólar a R$ 3,20 nos últimos dias. Para quem acredita nessa possibilidade, toda alta é oportunidade de venda. Quem está na ponta oposta, reforça a compra.
Desde o pregão de segunda-feira, dia 14, a posição vendida dos fundos em dólar futuro caiu em US$ 727 milhões, de US$ 12,5 bilhões para US$ 11,8 bilhões. Os bancos também atuaram na ponta de compra, mas de forma menos expressiva, US$ 142 milhões.
Na ponta oposta, os estrangeiros reduziram a posição comprada em US$ 823 milhões, para US$ 4,85 bilhões, de US$ 5,7 bilhões.
Exposição líquida
Além dos contratos futuros de dólar outra forma de exposição cambial são os contratos de cupom cambial (DDI, juro em dólar). Considerando esses ativos, temos que os fundos seguiam vendidos em US$ 33,8 bilhões até o pregão de ontem, contra US$ 34,5 bilhões na abertura da semana.
Os estrangeiros estavam comprados em US$ 34,1 bilhões, em comparação com US$ 34,9 do dia 14, e os bancos seguem com uma posição pouca expressiva de US$ 2,23 bilhões (2,39 bilhões na segunda).
Ibovespa futuro
No mercado de índice futuro do Ibovespa, principal índice de ações da B3, o investidor estrangeiro segue reduzindo sua “aposta” de queda. Depois de marcar 164.902 contratos vendidos, maior em mais de uma década, em 9 de janeiro, a posição recuou brevemente a 152.628 contratos.
Na ponta de compra estão os fundos com 142.102 contratos, também um pouco menor que os 158.264 do dia 9.
Uma forma de ler as posições no Ibovespa futuro é como uma proteção (hedge) às oscilações no mercado à vista. O investidor está comprado em bolsa no mercado à vista e vai proteger essa exposição no mercado futuro vendendo contratos de Ibovespa.
No entanto, o mercado também opera o Ibovespa futuro com um ativo em si, podendo montar apostas de alta (comprado) ou de queda (vendido).
Na semana passada, discutimos se o estrangeiro estava ou não pessimista com a bolsa brasileira.