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Os 90 anos da crise de 1929

Aconteceu há 90 anos: lições aprendidas na crise de 1929

Acredito que 1929 foi uma lição aprendida. Jamais os Estados Unidos serão uma nação onde todos serão ricos. Muito menos outra em que todos serão pobres, como quase foi o caso na Grande Depressão.

24 de outubro de 2019
5:42 - atualizado às 17:36
Imagem de urso com fundo de cotações de ações, um símbolo da temporada de baixa na bolsa
Bear market - Imagem: Shutterstock

Quarta-feira, 23 de outubro de 1929, tarde escaldante de outono. É final da colheita de algodão nos campos agrícolas do estado do Mississippi.

Tal como faz todos os dias, Natan Will, um negro de 54 anos, descendente de escravos como todos de sua cor, trabalha colhendo algodão. As costas doem muito por estarem sempre curvadas.

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Will já nem sente os cortes nas mãos, tantos foram os ferimentos desde que começou a trabalhar na colheita, em 1885, aos 10 anos de idade.

Seus dedos são um amontoado de cicatrizes sobrepostas e entrelaçadas, resultado doa cápsulas afiadas feito navalha que envolvem as bolotas de algodão.

Analfabeto, Natan mora com a mulher, Sara, que também trabalha no algodoal. O casebre de um cômodo só onde eles vivem pertence ao dono da fazenda. Os filhos já foram embora para o Norte.

Will jamais teve conta em banco e nunca ouviu falar de ações ou da Bolsa de Valores de Nova York.

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Só que, para sua desgraça, os acontecimentos que irão ocorrer naquela metrópole, 1.500 kms a nordeste, nas próximas 24 horas, irão alterar, para pior, como se isso não fosse impossível, sua vida.

Natan Will será mais uma das dezenas de milhões de vítimas do grande crash de Wall Street, que sucederá no dia seguinte, quinta-feira, a Quinta-feira Negra. Mas, evidentemente, não faz a menor ideia disso. Fica feliz quando três badaladas de um sino assinalam que o trabalho daquele dia acabou.

90 anos depois...

Hoje, 24 de outubro de 2019, a Black Thursday completa 90 anos. Mesmo passado tanto tempo, continua sendo estudada pelos acadêmicos. É tema constante de livros, filmes e séries de TV. Desperta uma espécie de fascínio masoquista nos operadores de mercado.

Pudera, trata-se do marco definitivo do fim do maior e mais pujante bull market de ações da história. O Seu Dinheiro traz uma série de reportagens especiais sobre o tema neste link.

Invertendo a ampulheta do tempo, veremos que a máxima do Índice Industrial Dow Jones já acontecera havia 51 dias. Foi na terça-feira 3 de setembro de 1929, logo após o final do período de férias dos americanos, que tradicionalmente se encerra no Labor Day (Dia do Trabalho), sempre na primeira segunda-feira desse mês.

O Dow batera 381,17. Mas, e daí? Não é um número como outro qualquer? Quem é que poderia adivinhar que esse nível só voltaria a ser atingido um quarto de século mais tarde, em 1954, após as tragédias da Grande Depressão e da Segunda Guerra Mundial.

Esfuziantes Anos Vinte

Anos 20: a era do ouro da economia americana
Anos 20: a era do ouro da economia americana - Imagem: Shutterstock

Calma, Ivan. Por enquanto você está contando a história do Grande Crash e não do que aconteceu depois. Voltemos ao início do ciclo de crescimento que ficou conhecido como Roaring Twenties (Esfuziantes Anos Vinte).

Numa sociedade onde todos seriam ricos (pelo menos era o que se dizia), eram tempos do charleston, das flappers (melindrosas), com seus vestidos coloridos, não raro exibindo os joelhos, colares até a altura do umbigo e cigarros na ponta de piteiras compridas.

Talvez em memória daqueles anos de ilusão e fantasia, essas modas jamais voltariam a se repetir.

Ah, já ia me esquecendo da Lei Seca (Prohibition − 1920/1933) e dos speakeasies, bares “clandestinos”. Só em Nova York havia dezenas de milhares. Nunca se bebeu tanto nos Estados Unidos.

Os bilionários de hoje possuem jatinhos. Os daquela época, luxuosos vagões ferroviários particulares, atrelados aos comboios expressos, como o 20th Century Limited, que ligava as estações Grand Central, em Nova York, e LaSalle Street Station, em Chicago.

Como não podia deixar de ser em tempos de especulação desenfreada como aquela, a Bolsa tinha seus magos. Tanto podia ser um ilustre banqueiro da casa J. P. Morgan, uma vidente, como Evangeline Adams, cujo consultório ficava no prédio do Carnegie Hall e fazia profecias autorrealizáveis, ou o engraxate de 19 anos Pat Bologna, que lustrava os sapatos dos especuladores mais celebrados, inclusive o multimilionário Joseph Kennedy, pai do futuro presidente John Kennedy.

Conversa com um, conversa com outro, nessa troca de informações, Pat acabava sabendo das novidades do dia, principalmente das ações mais cotadas para uma alta rápida. E tratava de especular para si próprio, com ótimos resultados.

A economia americana não poderia estar melhor. Só a Ford Motor Company, de Detroit, produzira um milhão e meio de carros em 1929, número esse que só seria superado três décadas mais tarde.

Os passageiros da primeira classe do luxuosíssimo transatlântico Berengaria dispunham de uma corretora de valores no deque principal. Assim não precisavam interromper suas especulações enquanto transitavam entre Nova York e a Europa e vice-versa.

A magnata da beleza mundial, Helena Rubinstein, então com 58 anos, era uma dessas pessoas que não dispensavam uma jogada na Bolsa durante as travessias. Dispunha inclusive de um especialista em ações que a acompanhava no navio.

Era quase unânime entre os americanos a opinião de que eles estavam erigindo uma sociedade onde todos os brancos seriam ricos, sendo o mercado de ações o maior responsável por isso.

Oba-oba sem escrúpulos

Para apressar seus ganhos, alguns especuladores inventaram um sistema tão criativo quanto inescrupuloso. Eles simplesmente fundavam empresas cujo único objetivo era comprar ações de outras empresas. Estas, por sua vez, adquiriam papéis de outras e assim por diante.

Nenhuma delas produzia nada, apenas lucros. Lucros artificiais, mas, mesmo assim, lucros. Enquanto a Bolsa subisse, e muita gente acreditava que subiria para sempre, todos lucravam.

Se o mercado revertesse, uma grande quantidade de investidores ingênuos e ambiciosos seria proprietária de papéis sem valor algum.

Alavancagem era a palavra da moda. Por que adquirir 100 ações da General Electric, da Standard Oil of New Jersey ou da United States Steel se, com o mesmo capital, se podia comprar cinco vezes mais? Bastava contrair um empréstimo bancário dando em garantia as próprias ações.

Sim. Lucrava-se cinco vezes mais. Desde, é claro, que o mercado continuasse subindo.

Os bancos facilitavam enormemente esses empréstimos para compra de ações. Os juros eram altos. Mas quem se importava com taxas de juros se a Bolsa subia muito mais?

Havia também as puxadas. Grupos de especuladores formavam pools e escolhiam uma ação para subir. Primeiro compravam seus lotes. Depois espalhavam que a empresa tinha descoberto um produto espetacular, ou coisa parecida, e subornavam jornalistas para dar notícias favoráveis àquele investimento.

Quando a manada entrava no papel, os “underwriters” iniciais vendiam os seus lotes, não raro dobrando ou triplicando o dinheiro. E partiam para outra jogada.

Enquanto isso, lançamentos de novas ações não paravam de surgir. Os anúncios enchiam páginas e mais páginas dos jornais.

A festa acabou...

Tinta vermelha simula sangue na palavra Wall Street

Até que um dia o fluxo de dinheiro se inverteu. No início, de mansinho, mais dinheiro começou a sair da Bolsa do que entrar.

Pouquíssima gente percebeu.

Tudo isso poderia ser evitado se o governo tivesse um órgão regulador que fiscalizasse a lisura dos IPOs (esse termo ainda não era usado). Só que essa agência, a SEC – Securities and Exchange Commission − só seria criada em 1934, cinco anos após o crash.

Algumas pessoas e instituições foram prudentes e alertaram seus clientes que o preço das ações estava muito alto e que uma queda era inevitável. Entre elas, Amadeo Peter Giannini, fundador do Bank of America, que se tornaria o maior do mundo.

Giannini inclusive instruiu seus correntistas a vender ações de seu próprio banco.

A corretora Merrill Lynch também recomendou aos clientes sair fora da Bolsa. Entre eles, o ator Charles Chaplin.

Mais tarde, indagado por que liquidou suas ações antes do crash, e preservou sua enorme fortuna, Chaplin respondeu singelamente:

“Não entendo nada de mercado. Meus corretores mandaram vender e assim eu fiz”

Curiosamente, hoje em dia o Bank of America e a Merrill Lynch são a mesma empresa. A fusão das duas instituições ocorreu em 2009, oitenta anos após o crash.

Alguns especuladores também perceberam o que iria acontecer. Entre eles Joseph Kennedy e o lendário Jesse Livermore. Ambos não só liquidaram suas carteiras como venderam papéis a descoberto.

Podemos ter outra crise de 29?

Volta e meia alguém me pergunta se o colapso de 1929 tem chances de se repetir. Acho altamente improvável. Melhor dizendo, quase impossível.

Em 19 de outubro de 1987, houve um crash de grandes proporções na New York Stock Exchange. Nesse dia, que ficou inimaginosamente conhecido como Black Monday, o Dow Jones perdeu mais de um quinto de seu valor.

Só que o governo e o Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, agiram rápido. Enquanto o presidente Ronald Reagan pediu pessoalmente aos CEOs das grandes empresas listadas na Bolsa que comprassem seus próprios papéis, a Reserva Federal, cujo chairman, Alan Greenspan, acabara de assumir, inundou o mercado de liquidez.

Sendo Wall Street incorrigível, entre 2007 e 2010 os bancos se dedicaram desenfreadamente a financiar hipotecas, inflando o preço dos imóveis e oferecendo novos empréstimos pelos novos valores.

Quando o mercado financeiro ameaçou entrar em colapso, com a falência do Lehman Brothers, o governo simplesmente interveio nas duas maiores instituições de crédito imobiliário dos Estados Unidos: Fannie Mae e Freddie Mac, impedindo a falência de ambas.

Simultaneamente, grandes empresas, inclusive a General Motors, que chegou a pedir recuperação judicial (Chapter 11 of the Bankruptcy Code), receberam aportes financeiros do Tesouro.

Por essas e outras razões, acredito que 1929 foi uma lição aprendida. Jamais os Estados Unidos serão uma nação onde todos serão ricos. Muito menos outra em que todos serão pobres, como quase foi o caso na Grande Depressão dos Anos Trinta.

O negro Natan Will, que apresentei no início deste artigo, nunca existiu. Trata-se de um personagem de ficção que criei apenas para dar força dramática ao texto.

Seus descendentes, se ele tivesse existido, jamais teriam de quebrar as costas e rachar as mãos na colheita de algodão, hoje feito por modernas colheitadeiras.

Quem sabe, uma delas estaria sendo pilotada por um bisneto de Will, fechado em uma cabine com ar-condicionado. Em sua própria fazenda, bem entendido.

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