O mais novo round da batalha das maquininhas de cartão acertou em cheio a Cielo e a Stone. As ações de ambas as companhias despencam hoje com a notícia de que a Rede, do Itaú Unibanco, zerou as taxas aos lojistas que anteciparem os recebíveis das vendas realizadas nas compras com cartão de crédito à vista. Os papéis da PagSeguro também sentem o baque.
Depois de um tombo de quase 60% no valor de mercado no ano passado, a empresa controlada por Banco do Brasil e Bradesco ensaiava uma recuperação com a visão de que a nova gestão da companhia, liderada pelo ex-presidente do BB Paulo Caffarelli, conseguiria estancar a sangria da perda de mercado para as novas concorrentes.
A Stone é uma das novatas que abocanharam parte do mercado da Cielo e da Rede, que dominavam o setor antes da abertura determinada pelo Banco Central. A empresa abriu o capital no ano passado em uma oferta badalada na Nasdaq que atraiu figurões do mercado como o bilionário Warren Buffett.
A estratégia das empresas para ganhar mercado que ainda é liderado pela Cielo tem sido derrubar as várias taxas cobradas dos lojistas. Além de uma taxa cobrada a cada venda realizada nos cartões de crédito ou débito, as maquininhas ganham ao antecipar o dinheiro que os lojistas só recebem em um prazo de 30 dias após a venda.
O negócio de antecipação é (ou era) uma mina de ouro para as maquininhas. Em uma operação com risco praticamente zero, já que o devedor da operação é o banco emissor do cartão, as taxas de juros cobradas dos lojistas nos tempos "áureos" chegavam a 5% ao mês.
A expectativa é que o movimento da Rede afete mais uma fonte de receita e, por consequência, os resultados de Cielo, Stone e PagSeguro.
As ações da Cielo fecharam em forte queda de 7,3% e anularam o ganho que ainda acumulavam em 2019. Na Nasdaq, os papéis da Stone desabaram mais de 20%. Os papéis da PagSeguro, que são listados na Nyse, recuaram 10%. Confira a cobertura completa dos mercados hoje.
A redução das taxas pela Rede enfureceu os concorrentes e vai ser investigada pelo Cade. A grande questão é saber se o Itaú está se valendo do seu poder de fogo para prejudicar os competidores.
Os bancos têm uma vantagem natural contra as empresas que operam apenas com as maquininhas, como Stone e PagSeguro, porque operam em toda a cadeia de cartões. Ou seja, o Itaú, em tese, poderia "perder" dinheiro na operação de maquininhas, onde há maior competição, e compensar em outras áreas.