A bolsa fechou estável nesta terça (09), aos 86.087 pontos, após uma série de altas e baixas durante o pregão. O dia começou com ajustes e realização de lucros, depois de uma segunda-feira de rali, notadamente nas ações que mais subiram ontem. O movimento foi revertido com a ajuda do cenário exterior e a manutenção do otimismo com as perspectivas de que Bolsonaro seja eleito e faça um governo mais liberal na economia. Mas o Ibovespa fechou praticamente no zero a zero.
Ainda assim, o volume de R$ 17,3 bilhões negociado hoje, bem abaixo do volume recorde de R$ 28,9 bilhões de ontem, ficou acima da média diária do mês.
Especulações em torno dos nomes já aventados para compor um possível governo do capitão reformado estão agradando os investidores, pelo viés mais pró-mercado. É o caso de Maria Silvia Bastos Marques, CEO do Goldman Sachs e ex-presidente do BNDES, e Roberto Campos Neto, diretor do Santander.
Curiosamente, a possibilidade de o deputado Onyx Lorenzoni (DEM) se tornar ministro da Casa Civil em um eventual governo Bolsonaro não parece ter afetado o humor dos investidores hoje. Lorenzoni opôs-se duramente à Reforma da Previdência no governo Temer, junto com o PT.
Para o economista-chefe da Garde Asset Management, Daniel Weeks, no entanto, quem serão os ministros de Bolsonaro ainda não faz preço no mercado. Ao Broadcast, do "Estadão", ele argumentou que o economista Paulo Guedes é o "grande fiador" do candidato à Presidência da República e isso basta por ora. Depois do resultado do segundo turno, será o momento de cobrar os nomes da equipe econômica.
Em entrevista ao programa "Pânico", da Jovem Pan, nesta tarde, Paulo Guedes disse que a ideia de recriação de um imposto nos moldes da CPMF foi "um equívoco", e que ele estudava a criação de um imposto único. Também garantiu a manutenção do Bolsa Família e defendeu maior abertura da economia do país. O pronunciamento também pode ter contribuído para animar os mercados na parte da tarde.
As ações de estatais, que vinham num forte movimento de alta nos últimos dias e dispararam ontem, hoje subiram moderadamente. Eletrobrás fechou em alta de 3,68% (ELET3) e 0,15% (ELET6) e Petrobras subiu 1,85% (PETR3) e 0,83% (PETR4). BB (BBAS3), no entanto, fechou em queda de 0,51%.
As ações da Vale (VALE3), que amargaram quedas nos últimos dias por conta da baixa do dólar, subiram hoje impulsionadas pela alta no preço do minério de ferro. A cotação no porto de Qingdao, na China, atingiu US$ 71,14 a tonelada, alta de 2,5%. As ações fecharam em alta de 1,07%.
A Cemig (CMIG4), estatal mineira que subiu forte ontem em razão das perspectivas de privatizações num eventual governo do Partido Novo no estado, fechou com alta de 2,16%. Mais cedo, o BTG Pactual elevou a recomendação das ações da Cemig de "neutro" para "compra".
As ações da Gol (GOLL4), maior alta de ontem, continuaram subindo nesta terça com o recuo do dólar ante o real. A companhia tem boa parte de seus custos e de sua dívida na moeda americana. Os papéis fecharam com ganho de 0,75%.
Marfrig é a maior alta do dia
As ações da Marfrig (MRFG3) registraram a maior alta do dia, refletindo a aprovação da venda da Keystone pelo órgão regulador da concorrência dos Estados Unidos. Segundo o analista da Guide ouvido pelo Broadcast, Luis Gustavo Pereira, a aprovação já era esperada, mas essa transação contribui para melhorar a estrutura de capital da Marfrig, além de seguir em linha com o objetivo de redução da alavancagem financeira da empresa.
A redução da alavancagem, segundo o analista, seria de 4,2 vezes a dívida líquida/Ebitda para perto de duas vezes a dívida líquida/Ebitda. As ações da Marfrig subiram hoje 7,59%.
Fora do Ibovespa, a Even subiu 5,21%, após o JPMorgan elevar a recomendação do papel de "neutral" para "overweight" (desempenho acima da média do mercado). As ações da construtora, segundo a instituição, ainda teriam potencial de alta de 30%, com preço-alvo de R$ 5 no fim do ano. As ações da Tenda (TEND3), no entanto, foram rebaixadas de "overweight" para "neutral" e fecharam em queda de 4,42%.
Dólar se aproxima de R$ 3,70
O dólar à vista abriu em alta, influenciado pelo avanço da moeda americana no exterior, em razão de expectativas de que os EUA precisem acelerar o movimento de elevação dos juros por conta do aquecimento da economia do país. Isso se refletiu no aumento dos juros dos títulos do Tesouro americano nos últimos dias.
Porém, nesta manhã, o dólar reverteu o movimento e passou a registrar queda em relação ao real, uma vez que os juros dos títulos dos EUA começaram a perder forças. Também houve novos ingressos de fluxo cambial no mercado local. A moeda fechou em queda de 1,28% a R$ 3,7155.
A queda do dólar se refletiu também num recuo dos juros futuros brasileiros. O DI com vencimento em janeiro de 2021 caiu de 8,89% para 8,64%. Já o DI para janeiro de 2023 caiu de 10,14% para 9,96%.
Os juros dos títulos do Tesouro americano começaram a cair, nesta manhã, após a fala do presidente do Fed de Dallas, Robert Kaplan, que afirmou não ser fora do razoável haver mais três elevações de juros nos Estados Unidos até junho do próximo ano. Sem direito a voto atualmente nas decisões de política monetária, Kaplan disse não haver dúvida de que as pressões cíclicas sobre a inflação têm aumentado, o que propicia o aperto monetário gradual atualmente em andamento.
A virada na bolsa brasileira na manhã de hoje acompanhou as altas vistas nas bolsas americanas e europeias e reforçou o otimismo do investidor com as perspectivas de um eventual governo Bolsonaro, o que tem feito a bolsa subir e o dólar e os juros caírem nos últimos dias.
As bolsas americanas abriram em baixa, de olho nas expectativas para os juros dos títulos americanos. Quanto mais eles sobem, mais atrativos se tornam, deixando os ativos de risco menos interessantes, e vice-versa. Depois, chegaram a reverter o movimento, mas devolveram os ganhos até o fim do dia.
O Dow Jones fechou em queda de 0,21%, aos 26.430 pontos; o S&P500 fechou em baixa de 0,14%, aos 2.880 pontos; e a Nasdaq teve ligeira alta de 0,03%, aos 7.738 pontos.
As bolsas europeias fecharam em alta depois que o governo italiano afirmou, nesta manhã, que participantes do mercado ficarão mais "tranquilos" quando lerem a proposta completa para o Orçamento de 2019.
Os investidores estrangeiros, no entanto, mantiveram a cautela em relação a dois pontos: o aumento das tensões comerciais entre EUA e China; e o Brexit. O Banco Central Europeu advertiu, em documento divulgado nesta manhã, sobre como, no tempo limitado até a saída do Reino Unido da União Europeia, empresas britânicas não conseguirão mitigar os riscos de ruptura financeira por conta própria.
De acordo com fontes da agência Dow Jones Newswires, o Reino Unido e a União Europeia fizeram progressos nas negociações em relação ao Brexit e um acordo pode já ser anunciado na próxima segunda-feira.
Dados econômicos divulgados hoje
Mais cedo, o IBGE informou que a produção industrial no país cresceu em 11 dos 15 locais pesquisados em agosto de 2018 em relação a agosto de 2017. Os dados são da Pesquisa Industrial Mensal - Produção Física Regional. As maiores altas ocorreram no Rio Grande do Sul (12,3%), Pernambuco (11,7%) e Pará (11,0%).
O Índice de Preços ao Consumidor - Semanal (IPC-S) avançou em seis das sete capitais pesquisadas na primeira quadrissemana de outubro na comparação com o fechamento de setembro. Na primeira leitura deste mês, o índice atingiu 0,53%, depois de 0,45% no fim de setembro.
O Indicador Antecedente de Emprego (IAEmp) recuou 3,3 pontos em setembro ante agosto, para 91,0 pontos, informou a Fundação Getúlio Vargas (FGV). Após sete meses seguidos de quedas, o indicador atingiu o menor nível desde dezembro de 2016, quando estava em 90,0 pontos.
*Com Estadão Conteúdo