Novo Congresso pode representar custo fiscal mais elevado ao presidente
Mesmo com renovação, grande número de partidos e ausência de lideranças pode tornar aprovação de reformas mais caras, contrariando leitura inicial do mercado

A surpresa com o resultado das eleições para o Congresso, que mostrou renovação e queda de caciques históricos pode não ser tão positiva quanto parece. Dispersão partidária e falta de liderança podem elevar o custo fiscal das reformas.
A avaliação é do mestre em economia pela UnB e doutor em direito pela UFMG, Bruno Carazza. E diverge um pouco da primeira leitura do mercado com relação à governabilidade de um eventual governo Jair Bolsonaro.
Para o pesquisador, o Congresso que emerge das urnas é muito mais desarticulado, com as bancadas, como a ruralista e evangélica, apresentando um peso maior que os partidos.
É um pouco a questão do chamado voto temático, algo que Jair Bolsonaro vem apresentando como um fiel de sua governabilidade. Segundo o presidenciável, antes da eleição ele já teria mais de 120 votos de parlamentares alinhados a suas propostas.
Segundo Carazza, como Bolsonaro não tem um arco partidário muito grande e estável ele vai tentar jogar com isso. O que é um pouco perigoso do ponto de vista fiscal.
Carazza fala com bom conhecimento de causa, pois fez extensa pesquisa para publicar o livro “Dinheiro, Eleições e Poder: as engrenagens do sistema político brasileiro”, onde cruza doações eleitorais com depoimentos da Lava Jato.
Leia Também
Suspeitando irregularidades, TSE pede a WhatsApp dados sobre disparos nas eleições de 2018
Bolsonaro fala pela primeira vez em disputar a reeleição em 2022
“Partidos quando atuam em bloco visam poder. Negociam com base em Orçamento, cargo, diretoria de estatal. Quando se desloca a ótica para a questão das bancadas, elas querem benesses, querem subsídio, crédito direcionado, desoneração fiscal, regulação mais favorável. E isso pode prejudicar, inclusive, o esforço fiscal do governo”, explica.
Um bom exemplo disso foi a recente aprovação de projeto para a renegociação de dívidas do setor rural, que chegou a ser estimado em R$ 15 bilhões.
“Bancadas fecham questão nos temas que lhe são caros, mas será que o ruralista vai votar em peso em uma reforma previdenciária? Quem sabe a articulação com partidos não seria mais confiável que bancada?”, questiona, lembrando que partidos têm instrumentos de coerção dos filiados.
Congresso mais desarticulado
Para Carazza, mesmo com a eleição expressiva de 52 parlamentares do PSL, partido de Bolsonaro, a agremiação política chega à Câmara dos Deputados sem quadros para exercer liderança, pois a maior parte dos candidatos é novata.
“Vão ter de surgir novas lideranças. Acho que vai ter um período de acomodação na Câmara e no Senado pela falta de grandes lideranças”, ponderou.
Nomes como Romero Jucá (MDB-RR), que não conseguiram reeleição, são figuras conhecidas por fazer a inevitável mediação entre Congresso, governo e diferentes grupos de interesse. Para dar uma dimensão, Jucá virou piada aqui em Brasília, pois não importava quem fosse eleito, ele seria o líder do governo. E, de fato, ele foi o líder de todos os presidentes desde Fernando Henrique Cardoso (FHC).
“Ainda tenho de computar mais alguns dados, mas a população deu uma lição no pessoal da Lava Jato. A conta que vem sendo acumulada desde 2013 foi apresentada agora”, explica.

Tivemos algumas surpresas
Carazza já esperava essa maior renovação na Câmara dos Deputados, mas o desempenho do PSL surpreendeu, bem com o encolhimento de partidos tradicionais, como MDB, com menos 32 deputados, e PSDB, menos 23 cadeiras, em comparação com 2014.
Então, o quadro geral é de maior fragmentação, já que siglas menores e médias ganham peso, cenário que criaria muita dificuldade.
“Sempre no início de governo tem uma lua de mel. Então é de se esperar que ele consiga formar base razoável, mas será fragmenta e heterogênea. O que faz com que os problemas que temos hoje, continuem, como atender grupos específicos e aprovar determinadas propostas. O quadro é um pouco melhor do ponto de vista do candidato, mas é de difícil condução”, explica.
Possibilidade de vitória
O especialista não crava uma vitória de Bolsonaro neste segundo turno por cautela. “As coisas mudam muito rápido e erramos muita coisa no primeiro turno”, pondera. Mas avalia que o cenário está muito mais fácil para o capitão reformado do Exército.
Segundo Carazza, o PT perdeu o timing de sinalizar para o eleitor de centro. Se tivesse feito isso ao longo do primeiro turno teria chance de reverter votos a seu favor.
“O Haddad vai ter de roubar voto do Bolsonaro. Se pensar bem é pouco provável que quem votou em Amoedo ou Daciolo vai virar para o Haddad. A luta do PT em direção ao centro é mais difícil e internamente é difícil para o partido assumir isso”, explica.
Carazza lembra que há um sentimento antipetista muito significativo na sociedade e que o PT apostou em alguns posicionamentos que são muito sensíveis para boa parte da sociedade. Entre eles, conceder indulto ao Lula e a questão envolvendo a Venezuela. Além disso, o programa econômico do Haddad é muito estatizante, lembrando a desastrosa Nova Matriz Econômica da Dilma Rousseff.
“Mais que um sentimento anti-PT é um sentimento contra o sistema. O Bolsonaro conseguiu encarnar esse sentimento da população de que todo mundo é corrupto. Mesmo sendo uma figura do sistema, ele conseguiu encarnar essa visão de que é diferente, por não estar envolvido nos escândalos de corrupção”, disse.
Ainda de acordo com o especialista, Bolsonaro se beneficiou, de alguma forma, do atentado sofrido no começo de setembro, pois o protegeu de ataques de outros adversários. Ele também soube lidar bem com a lógica de uma campanha mais curta e que mostrou que o dinheiro não foi tão relevante. Sinal claro de que o investimento de recursos em campanha mais curta demorou a maturar veio do tucano Geraldo Alckmin, que tinha dinheiro e tempo de TV, mas não teve votação expressiva.
Nas eleições para a Câmara, diz Carazza, a lógica do dinheiro continuou marcante, com maior correlação entre gasto e voto.
“Apesar do crescimento do PSL que foge do padrão, nos outros partidos prevaleceu a lógica de quem arrecadou mais, conseguiu ser eleito.”
Em entrevista, Eduardo Bolsonaro diz sentir que não haverá reforma da previdência em 2018
Bolsonaro disse que há preocupação com a eleição de um presidente da Câmara alinhado com os interesses do futuro governo, que não necessariamente o nome sairá do PSL
Bolsonaro ainda não bateu o martelo sobre fusão de Agricultura e Meio Ambiente, diz Onyx
Anúncio da fusão causou protestos na Frente Parlamentar da Agricultura, a chamada bancada ruralista, que vê a ideia com desconfiança
Ministério de governo Bolsonaro terá até 16 pastas
Futuro governo vai criar superministério da Economia, juntando as pastas da Fazenda, Planejamento e Indústria além de Comércio Exterior e Serviços
Empresários esperam confirmação de agenda liberal no governo de Bolsonaro
Aprovação das reformas é vista como prioridade para colocar o país na rota do crescimento, embora candidato eleito tenha de convencer o Congresso a votar a favor de medidas impopulares
Trump reforça possibilidade de acordo comercial com futuro governo Bolsonaro
Presidente norte-americano reforçou que teve “uma ótima” conversa com Bolsonaro mas criticou o atual comportamento do país na área comercial
Bolsonaro vai tentar aprovar reforma da Previdência de Temer
Em entrevistas, presidente eleito disse que virá a Brasília e tentará aprovar reforma proposta pelo atual governo ao todo ou em partes
Política externa de Bolsonaro deve mirar EUA e Israel
Na via contrária à aproximação com os países ditos “bolivarianos” e ao projeto sul-sul, Bolsonaro já deixou clara sua admiração pelos americanos e israelenses
O dia em que a música morreu
Existe um risco material de o mercado entrar no estado de euforia. Quando isso acontecer, você não pode deixar seduzir-se
Entusiasmo ou alívio?
Seja lá o que for que Bolsonaro fale até a posse, não diminuirá meu alívio por ter votado 17. O que estou interessado em saber é se ele vai transformar esse alívio em entusiasmo
Trump parabeniza Bolsonaro no Twitter e sinaliza ‘cooperação próxima’ no futuro
Presidente americano sinalizou relação próxima em “comércio e defesa” com futuro governo Bolsonaro
Com vitória de Bolsonaro, mercado entra em festa. E você pode participar
Assim que o resultado foi confirmado, bancos e corretoras correram para soltar relatórios a seus clientes, um mais otimista que o outro. Projeções colocam Ibovespa em até 125 mil pontos, enquanto o dólar pode cair para a casa de R$ 3,50
Nova governabilidade é desafio para Bolsonaro
Prometendo não entregar cargos em troca de apoio, eleito terá de inaugurar nova forma de relação com o Congresso
O que interessa é a formação de governo, diz economista do ABC Brasil
Para Luis Leal, confirmada a vitória é possível que o mercado “ande mais um pouco” e dólar busque a linha de R$ 3,60. Autonomia do BC é medida que pode surpreender
Bolsonaro defende emprego, renda e ajuste fiscal em discurso
Presidente eleito destacou defesa da constituição, da democracia e da liberdade
Sob Temer, MDB elege menos governadores
Partido terá 3 governadores no próximo mandato, contra 7 no anterior
Campanha vitoriosa rompe paradigmas de marketing eleitoral
Bolsonaro superou o pouco tempo de TV no primeiro turno (apenas oito segundos), a união com um só partido (PRTB, do vice, general Hamilton Mourão) e uma campanha com poucos recursos financeiros.
Bolsa pode atingir “patamar Alckmin” se Bolsonaro indicar boa equipe econômica
Avaliação é de Luiz Eduardo Portella, sócio-gestor da Novus Capital. Na prática, isso significa que o Ibovespa pode chegar aos 100 mil pontos e o dólar pode testar o patamar de R$ 3,50 a R$ 3,55
Boca de urna: 56% Bolsonaro X 44% Haddad
Boca de urna: 56% Bolsonaro X 44% Haddad Apuração (88,44% das urnas apuradas) Bolsonaro 55,7% contra 44,30% Atualização em instantes
Conheça os governadores eleitos em 13 estados e no DF
Ibaneis Rocha (MDB), do Distrito Federal, é o 1º governador eleito no segundo turno. Acompanhe
Vereadora do PSL é presa por suspeita de compra de voto para Haddad
Josefa Eliana da Silva Bezerra, do partido de Bolsonaro, estava com um veículo repleto de adesivos do candidato petista