Mobius, guru dos emergentes, tem ido às compras na Bolsa (e tem pressa): “O preferido? O Brasil, é claro!”
Em viagem pelo país, o gestor da Mobius Capital visitou dez empresas e já colocou uma na sacola. Lamenta que os demais gringos devem vir logo, porque isso vai forçar para cima os preços do que ele ainda gostaria de comprar
Ele não é exótico somente nos trajes – sempre claros, da gravata ao sapato – e no anel de topázio. Mark Mobius está sempre de olho no que está fora de moda, no que é visto como arriscado demais.
Nesta semana, em passagem pelo Brasil, o guru dos mercados emergentes exibia a empolgação de quem encontrou pechinchas na feira. "O preferido? O Brasil, é claro!", disse para nós o megainvestidor, comemorando o cancelamento de uma palestra no Egito. Sobrou mais tempo para garimpar por essas bandas.
Conversamos com Mobius em meio a uma visita dele a potenciais investidores no BTG Pactual, que vai distribuir com exclusividade seu novo fundo no país. Mas a Mobius Capital, recém-criada pelo gestor que construiu reputação internacional na Franklin Templeton, não vai sair com a sacola vazia: já fez reuniões em São Paulo com dez empresas brasileiras, sendo que uma já está comprando. Daqui segue para o Rio.
Mobius faz mistério sobre o que está incluindo agora para o portfólio, dedicado a emergentes – não quer que o excesso de demanda torne seu achado mais caro – mas mostra uma lista em que o Brasil está no topo, com a maior participação. O setor está lá: cíclicos domésticos.
"Já perdemos um bom investimento! Estávamos de olho em uma empresa, mas o preço saltou", conta. A vinda do gringo para a bolsa brasileira, tão esperada pelos investidores locais, não é para ele uma boa notícia. "Lembre-se: Os investidores estrangeiros não vêm enquanto os mercados não começam a subir. No próximo mês você poderá ver mais dinheiro começando a voltar, o que me deixa muito desapontado, porque agora temos que correr e encontrar bons investimentos antes disso".
Confira abaixo, nesta conversa comigo e com a Ana Luísa Westphalen, o que o megainvestidor dos emergentes viu que os outros gringos ainda não viram.
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Na última vez que nos encontramos, há quatro anos, no Rio de Janeiro, o senhor não estava muito otimista sobre o Brasil, especialmente em relação à política nacional. E agora, com a eleição de Jair Bolsonaro, como está seu sentimento?
Estou muito otimista! Não só sobre o Bolsonaro, mas pela Lava-Jato. O que aconteceu aqui não tem precedentes. Não consigo pensar em nenhum outro país que tenha tido uma ofensiva contra a corrupção dessa extensão. É inacreditável. É um tributo à sociedade brasileira o fato de terem feito isso, por isso estou tão otimista.
A carta mais recente do fundo diz que vocês começaram a investir em setembro, para o período de três a cinco anos, em sete companhias, listadas na China, Hong Kong, Indonésia, Polônia, Rússia e Turquia. Por que não no Brasil?
O Brasil está incluído agora! Temos dez investimentos agora e o Brasil está lá. Não podemos dizer no que exatamente é o investimento pois ainda estamos no processo de aquisição, mas o Brasil está no topo da lista.
Essa decisão de incluir o Brasil na lista de investimentos foi tomada depois da eleição do Bolsonaro?
A decisão de investimento foi tomada antes das eleições presidenciais. Mesmo se o Bolsonaro não tivesse ganhado, só o fato de terem um candidato como ele já era por si só um bom sinal.
Vi aí na lista que a empresa que vocês escolheram para investir no Brasil é do setor de consumo discricionário [bens e serviços não-essenciais]. Por quê?
O consumo global dos mercados emergentes está se tornando cada vez mais rico. Eles estão podendo comprar mais pelo aumento da renda per capita. É uma indústria em crescimento.
A Mobius Capital dá preferência a empresas de pequeno e médio porte. Por que não as de grande porte?
Porque são as empresas pequenas e médias que mais têm potencial de crescimento. Se você investe em uma empresa grande, ela já é grande... o upside é limitado. Mas, no caso das pequenas e médias, a perspectiva de crescimento é tremenda. E também porque são essas as companhias em que há mais probabilidade de sucesso em decorrência da nossa influência em um processo de melhora de governança.
Vocês investem de forma ativista, né?
Sim, mas é preciso ter cuidado com a definição de ativismo, pois nossa intenção não é fazer isso de forma agressiva. Nossa ideia é atuarmos como parceiros das empresas. Então sentamos com os executivos e falamos: “As ações não estão tendo um bom desempenho, vamos trabalhar juntos e ver o que podemos fazer. Percebi que vocês não têm conselheiros independentes, vamos recomendar um. Vimos que vocês não têm mulheres no conselho...”
O plano é ter quantas companhias no portfólio?
Entre 25 e 30. É um fundo muito focado.
Bem diferente do seu fundo na Franklin Templeton, né?
Sim. Bem diferente de antes, quando tínhamos entre 70 e 80 empresas, algo assim. Se você tem muitas empresas, não consegue acompanhar todas elas tão bem. E também não queremos ter qualquer tipo de companhias medíocres, queremos ter o que há de melhor. E não há tantas assim nas quais possamos fazer um ótimo trabalho de ajudar a melhorar a governança. Percebemos que, se você for seletivo, seu retorno será muito melhor.

Vocês estão analisando outras empresas brasileiras?
Sim, muitas! Falamos com muita gente em São Paulo nos últimos dois dias: dez empresas. Estamos indo para o Rio, por sinal. Acabei de descobrir que não terei de ir ao Egito por enquanto. Então eu posso ir para o Rio! Eu teria que fazer uma palestra no Egito, mas agora foi cancelada e eu poderei ficar aqui no Brasil um pouco mais.
Qual é o seu país preferido hoje entre os emergentes?
O preferido? O Brasil, é claro! O Brasil exemplifica a mudança, a reforma, a juventude. Uma das razões pelas quais o Brasil passou por todas essas mudanças deve-se ao fato de a população ser jovem, disposta a aceitar novas ideias. E estamos vendo o avanço da influência da tecnologia de forma muito rápida. Isso acontece em geral nos mercados emergentes hoje, mas particularmente no Brasil. Vocês podem realmente liderar o mundo em termos dessa mudança.
Em geral temos visto os investidores profissionais brasileiros muito otimistas em relação ao país, mas preocupados porque o fluxo de recursos estrangeiros não está vindo...
Lembre-se: Os investidores estrangeiros não vêm enquanto os mercados não começam a subir. Aqui vocês já viram a Bolsa começar a subir. No próximo mês poderão ver mais dinheiro começando a voltar... O que me deixa muito desapontado, porque agora temos que correr e encontrar bons investimentos antes disso (risos). E já perdemos um bom investimento! Estávamos de olho em uma empresa, mas o preço saltou.
Qual é sua avaliação dos preços dos ativos brasileiros de forma geral?
Bom, a maioria está barata. Há alguns poucos ativos que saltaram, mas a maioria caiu muito e tem um bom potencial de crescimento, então vemos boas oportunidades. Porque temos que olhar para frente, não podemos olhar para trás, e há um tremendo potencial daqui para frente.
No que se baseia essa sua perspectiva otimista para as empresas? É por que elas estão muito deprimidas depois da crise?
Uma das razões é que elas viveram recentemente no pior ambiente possível: você teve todos esses escândalos... Acontece que o bear market não dura para sempre; ele tem curta duração. Já o bull market vem e fica por mais tempo. É por isso que eu estou otimista, porque me dei conta que de que o bear market não dura para sempre.
Pela sua experiência de décadas em mercados emergentes, que poder uma mudança política é capaz de ter? É possível que um governo liberal realmente faça algo transformacional pelo Brasil?
Sim, é só ver o que o Trump fez. O ambiente político nos Estados Unidos é provavelmente ainda mais desafiador do que o brasileiro para se conseguir uma mudança. Há um Partido Democrata muito forte. O fato de o Trump ter vencido – apesar de não ter alcançado a maioria dos votos –, de ele ter sido capaz de dar andamento à reforma tributária, de ter conseguido negociar um acordo comercial mais vantajoso com a Europa e o México, Israel... São grandes mudanças que de fato aconteceram, a despeito de a maioria das pessoas odiarem-no. Mesmo que concordem com ele, ele é visto como um párea para a maioria das pessoas.
Se compararmos esses dois cenários, eu acredito que o Bolsonaro provavelmente será capaz de fazer até mais pelo Brasil em muitos aspectos. Creio que o rating dele é provavelmente melhor do que o do Trump.
Há quem diga que o investidor estrangeiro está um pouco traumatizado com os mercados emergentes, depois de experiências ruins na África do Sul, México... O que acha disso?
(Risos) Eles ficam traumatizados, mas por duas ou três semanas e depois voltam. Tem gente que acha que as pessoas são inflexíveis, mas não, elas mudam. E mudam rapidamente. É preciso lembrar que a quantidade de dinheiro indo para fundos de pensão e poupança está crescendo. Essa é a realidade. Porque a quantidade de dinheiro no sistema financeiro está sempre aumentando.
Enquanto houver uma oportunidade, as pessoas vão investir. “O Brasil está indo bem? Vamos colocar dinheiro no Brasil.” Eles viram o que aconteceu com o mercado acionário brasileiro agora, subiu muito. Eles começarão a se dar conta.
Além do Brasil, de que outros países o senhor gosta na América Latina?
Do México.
Apesar da turbulência política que estão enfrentando?
Acho que o López Obrador [presidente do México] fará muito para reduzir a criminalidade. Ele tem conhecimento do que realmente afeta as pessoas, os cidadãos. Parece ser um homem disposto a ajudar os mais pobres. Nesse sentido, provavelmente vai se sair bem. E ele está se relacionando bem com o Trump, não vejo nenhum problema.
E fora da América Latina?
A Índia tem muito potencial. Muita burocracia, mas ainda assim vejo um bom potencial de crescimento.
E a China, preocupa? Tem o problema da desaceleração…
Vi que há uma preocupação por parte dos seus fundos com ESG (sigla em inglês para um método de avaliação das questões ambientais, sociais e de governança das empresas). Aqui no Brasil os investidores ainda não estão muito interessados nisso, embora pareça ser uma tendência. O quão importante é esse método para o controle de risco de investimentos em mercados emergentes?
Este é um ótimo ponto. Hoje vejo pessoas falando em ESG como se fosse algo novo, mas não há nada de novo, sempre olhamos para isso. Se estamos avaliando a Vale, temos que considerar quanta poluição está sendo criada, porque isso pode penalizar a empresa. Numa reunião com uma confecção de roupas de Hong Kong, precisei dizer: “percebi que seus funcionários estão trabalhando 12 horas por dia, eles aparentam estar exaustos”. Ou “Por que seu filho está no conselho se ele não tem experiência nenhuma em nada?” “Por que sua empresa compra matéria-prima de um parente seu?”
Então sempre olhamos para isso, para esses fatores de risco ambientais, sociais e de governança. Mas agora parece que está mais formalizada essa sigla, ESG, as Nações Unidas listaram todos esses fatores, muitos clientes têm perguntado sobre, então incluímos no nosso material do fundo. Enfatizamos e encorajamos as empresas primeiramente a terem uma boa governança e uma boa relação com seus acionistas. E então podemos falar sobre os outros fatores.
Esse método é mais importante nos mercados emergentes do que nos desenvolvidos?
Sim, porque nesse caso dos emergentes o potencial de upside é maior. As empresas que melhoraram sua governança viram os preços de suas ações subirem mais. É crucial.
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