A bolsa pode mais? Bradesco BBI diz que sim e projeta o Ibovespa em até 145 mil pontos
Estimativa do chefe da área de análise de ações do banco reflete o melhor cenário, com aprovação de uma reforma da Previdência robusta, com uma economia de pelo menos R$ 800 bilhões em dez anos.
André Carvalho, chefe de análise de ações do Bradesco BBI, estava em Londres quando atendeu a minha ligação na segunda-feira à tarde. Ele estava na capital britânica em reuniões com clientes para apresentar as oportunidades na bolsa brasileira. O momento não poderia ser melhor, afinal o Ibovespa acabara de bater pela primeira vez a marca histórica de 100 mil pontos.
A unidade que reúne o banco de investimento e a corretora do Bradesco já havia elevado no começo do mês a projeção para o principal índice da B3 de 112 mil para 116 mil pontos no fim deste ano. Esse é o cenário básico, considerado o mais provável.
Mas o Ibovespa pode ir muito além no melhor cenário e atingir os 145 mil pontos, segundo a estimativa do Bradesco. Ou seja, depois da alta de 13,3% no ano até terça-feira (19), ainda haveria espaço para uma valorização adicional de mais 45% da bolsa em 2019. Nada mal para um país em que o juro básico é de 6,5% ao ano.
E do que depende esse melhor cenário projetado pelo Bradesco? Se você pensou em reforma da Previdência, acertou.
Mas não basta só aprovar as mudanças nas aposentadorias. É preciso que o projeto aprovado no Congresso traga uma economia de pelo menos R$ 800 bilhões em dez anos para as cofres públicos.
"Esse número seria suficiente para estabilizar a relação entre a dívida e o PIB, o que levaria automaticamente a uma redução na percepção de risco de se investir no país", me disse Carvalho.
Uma reforma mais robusta também deve estimular um cenário de crescimento da economia pelo menos nos próximos cinco anos, o que favorece as empresas listadas na bolsa, segundo o analista.
O risco para esse cenário para o Ibovespa está justamente na não-aprovação da reforma. Mas nos níveis de hoje a bolsa sofreria mesmo no caso de uma aprovação de um projeto mais tímido, que trouxesse uma economia de menos de R$ 400 bilhões, segundo o analista.
Nesse caso, a bolsa poderia encerrar o ano nos 88 mil pontos, o que representa uma queda da ordem de 12% em relação aos níveis atuais, de acordo com a estimativa do banco.
Pacote ambicioso
Mas não é só de Previdência que vive a bolsa. No atual patamar de 100 mil pontos, o Ibovespa é negociado em linha com a média histórica. Para o analista do Bradesco BBI, contudo, a bolsa deveria negociar acima dessa média.
"O Brasil tem hoje a agenda de reformas mais ambiciosa entre os mercados emergentes", afirma.
Além da Previdência, Carvalho destaca o projeto de redução e simplificação de impostos para as empresas e o programa de privatizações do governo.
Outro fator que tem entrado pouco nas contas da maior parte do mercado é a expectativa de lucro das empresas. Nas projeções do Bradesco BBI, o resultado das companhias listadas no Ibovespa devem crescer 34% em dólar neste ano.
Quem tende a ganhar nesse cenário são os setores ligados ao cenário doméstico, como o financeiro, elétrico e bancos. Entre as ações recomendadas pelo Bradesco BBI estão B3 (B3SA3), Energisa (ENGI11), Lojas Renner (LREN3) e Petrobras (PETR3 e PETR4).
Gringos e fundos de pensão
Carvalho tem descrito esse mesmo cenário otimista para os investidores estrangeiros com quem se encontrou durante a viagem. Mas ele me disse que o dinheiro dos gringos, principalmente dos chamados fundos ativos, só deve vir para a bolsa brasileira depois da aprovação da reforma da Previdência.
"Eles sabem que podem perder a próxima 'pernada' de alta do Ibovespa. Mas são investidores com horizonte de três a cinco anos, que não querem entrar no Brasil para sair no mês seguinte", afirma.
Quem também está com uma posição menor na bolsa do que o esperado são os fundos de pensão brasileiros, segundo o analista do Bradesco BBI. Para ele, a entrada desses recursos que estão fora do mercado de ações pode dar sustentação à alta do Ibovespa.
Com a aprovação da reforma, que deve manter a taxa básica de juros (Selic) em níveis baixos por um longo período, uma maior parcela do dinheiro das pessoas físicas deve ir para a bolsa, segundo Carvalho. "Os investidores não vão se contentar com uma remuneração tão baixa e vão passar a alocar sua poupança para ativos de mais risco", afirma.
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