O calcanhar de Aquiles que pode derrubar Trump e a maior economia do mundo
Kevin Warsh, antigo membro do conselho de governadores do Fed, fala dos pontos fortes e fracos do novo governo norte-americano em uma conversa com André Esteves, chairman e sócio sênior do BTG Pactual

Durante a Guerra de Troia, Aquiles foi atingido por uma flecha envenenada no calcanhar — seu único ponto fraco — em uma lesão fatal. Donald Trump está longe de ser como o herói grego, mas nem por isso deixa de ter seu “calcanhar de Aquiles”. E quem conta qual é ele é Kevin Warsh, antigo membro do conselho de governadores do Federal Reserve (Fed).
Warsh esteve no Fed entre 2006 e 2011 e foi o principal elo do banco central norte-americano com Wall Street no auge da crise financeira de 2008. Ele conversou com André Esteves, chairman e sócio sênior do BTG Pactual, nesta quarta-feira (26) durante o segundo dia da CEO Conference Brasil 2025.
Ele começou a participação no evento com uma polêmica: defendeu o Departamento de Eficiência Governamental (Doge, na sigla em inglês), comandado pelo bilionário Elon Musk — que, segundo ele, pode ajudar a combater o calcanhar de Aquiles de Trump.
O Doge não tem caráter oficial ou eletivo. É um departamento consultivo criado pelo presidente norte-americano para auxiliar na eficiência do governo, com foco no corte de gastos federais — a missão inicial do órgão era cortar US$ 6 bilhões do orçamento.
O problema para muitos cientistas políticos e legisladores norte-americanos é que o Doge é comandado por Musk, que alcançou um poder dentro do governo que nenhum cidadão comum jamais teve antes.
Muitos dizem que a incursão do dono da Tesla, do X e da SpaceX no governo não apenas representa um conflito de interesse como também levanta questões jurídicas sérias, que esbarram na Constituição dos EUA.
Leia Também
Warsh, no entanto, vê o copo do Doge meio cheio. “Não subestimemos o que o Doge pode fazer. Se o Doge conseguir um corte de US$ 1 bilhão em gastos públicos, um valor realmente ambicioso, colocaria os EUA muito mais próximo da estabilidade econômica”, disse Warsh.
Ainda durante a campanha de Trump, Musk afirmou que poderia cortar pelo menos US$ 2 trilhões em despesas federais — uma meta elogiada por aliados, mas amplamente considerada irrealista, especialmente dada a oposição repetida dos legisladores republicanos ao corte da Previdência Social e do Medicare, o programa de saúde norte-americano.
Só que quando assumiu o Doge, Musk precisou recalcular a rota e passou a dizer que havia uma "boa chance" de alcançar US$ 1 trilhão em cortes no orçamento.
Segundo Warsh, mais do que o que efetivamente Musk vai conseguir cortar em despesas do governo, é o sinal que o Doge manda que mais importa neste momento.
“O Doge é importante como uma demonstração de compromisso do governo com a questão fiscal. O Doge é uma necessidade fiscal”, disse.
O ex-Fed não está preocupado com a questão fiscal dos EUA à toa. O déficit das contas públicas nos EUA bateu um novo recorde no último trimestre de 2024: US$ 711 bilhões de (R$ 4,45 trilhões, na cotação atual), um aumento de 39% na comparação com o mesmo período do ano anterior.
Também houve recorde de gastos: cerca de US$ 1,8 trilhão (R$ 11 trilhões) em três meses, 11% a mais que no mesmo período do ano anterior.
“Estou alarmado com a dívida e os gastos do governo. Manter o nível de déficit atual é promover um encontro com um choque econômico no futuro. Estamos muito próximos de um ponto em que não há retorno”, disse Warsh.
Sobre a chance de a economia norte-americana entrar em recessão com a redução dos gastos do governo, ele foi categórico: “Não estou preocupado com o que pode acontecer se cortarmos os gastos federais em demasia. Há uma inflação gerada por gastos do governo e se cortamos esses gastos, essa inflação desacelera significativamente”.
NINGUÉM HOJE é capaz de ALCANÇAR a ECONOMIA dos EUA. O que INVESTIDOR BRASILEIRO deve fazer?
O isolacionismo de Trump
Se, para Warsh, a questão fiscal é o calcanhar de Aquiles de Trump, para o mundo, o problema é outro: a tendência do republicano de isolar os EUA.
Segundo ex-Fed, o que o presidente norte-americano pratica não é uma política isolacionista e sim bilateral. E há motivos para isso: o fracasso das instituições internacionais e multilaterais.
“A abordagem de Trump de negociar individualmente com cada país não me parece um fechamento da economia dos EUA e sim um novo jeito de negociar. Se olharmos para o FMI [Fundo Monetário Internacional] e para a OMC [Organização Mundial do Comércio] notamos que não têm o mesmo papel que há 25 anos”, disse.
“Ou essas instituições são reformadas ou os EUA encontrarão novas maneiras de obter resultados para si. E essa será uma transição desconfortável para muita gente que alega que o governo norte-americano está destruindo instituições criadas no pós-guerra, mas esquecem que Trump herdou um mundo com guerras e no qual as instituições não funcionam”, acrescentou.
- VEJA MAIS: 30 dias de Trump na Casa Branca; confira os melhores momentos
Juros, dólar e criptomoedas
Warsh não comentou sobre a atual política monetária do Fed, mas, segundo Esteves, arrancou sorrisos dos economistas presentes no evento quando falou que a política monetária deveria estar mais apertada nos EUA.
Vale lembrar que durante sua passagem pelo banco central norte-americano, Warsh foi conhecido por sua visão hawkish — ou seja, mais favorável ao aperto monetário.
“O preço dos ativos mostram que a política monetária ficou meio frouxa”, disse. “Não importa o que os bancos centrais estão fazendo; precisamos apertar um pouco mais [a política monetária] para evitar problemas no futuro.
Depois de colocar os juros no maior patamar em 23 anos, o Fed começou a cortar as taxas — atualmente na faixa entre 4,25% e 4,50% ao ano — conforme a inflação foi cedendo na direção da meta de 2% do BC norte-americano.
Agora, com a reaceleração dos preços, a autoridade monetária sinaliza uma pausa no ciclo de afrouxamento ao indicar que não está com pressa para promover novos ajustes na taxa referencial.
Além dos juros, Warsh também falou do dólar. Questionado por Esteves sobre o câmbio, ele disse que a moeda norte-americana deve continuar sendo a moeda do mundo e não vê uma ameaça vinda das criptomoedas.
“Não concordo com moedas [digitais] grandes demais e que forcem um resgate pelo banco central; elas precisam ser lastreadas em dólar. O dólar, por sua vez, precisa continuar sendo uma fonte de valor para o mundo, como defende Trump — e isso é bom não só para os EUA, mas para os mercados em geral”, disse.
Ele se mostrou aberto ao dólar digital e disse que vê as stablecoins — criptomoedas criadas para ter um valor estável em relação a um ativo real, como o dólar, o euro ou o ouro, por exemplo — com bons olhos.
“Temos que olhar para as stablecoins como uma forma de diversificar pagamentos; não estamos criando uma moeda nova. Defendo um sistema que possa transportar dólares para diversos países, de modo bom, que tenha valor, e que use o Fed”, afirmou.
Nova tabela do imposto de renda entra em vigor nesta quinta (1), com aumento da faixa de isenção; veja o que muda
A partir de hoje passam a ficar isentos de IR os trabalhadores que recebem até R$ 3.036 mensais, o equivalente a dois salários mínimos
As maiores altas e quedas do Ibovespa em abril: alívio nos juros foi boa notícia para ações, mas queda no petróleo derrubou petroleiras
Os melhores desempenhos são puxados principalmente pela perspectiva de fechamento da curva de juros, e azaradas do mês caem por conta da guerra comercial entre EUA e China
Weg (WEGE3) desembolsa R$ 53,7 milhões para comprar empresa americana de revestimentos industriais
A Heresite Protective Coatings tem forte presença internacional, com 70% de suas vendas realizadas fora dos EUA, além de parceiros certificados ao redor do mundo
Ficou com ações da Eletromidia (ELMD3) após a OPA? Ainda dá tempo de vendê-las para não terminar com um ‘mico’ na mão; saiba como
Quem não vendeu suas ações ELMD3 na OPA promovida pela Globo ainda consegue se desfazer dos papéis; veja como
Microsoft (MSFT34) dispara 9% em Nova York após balanço superar expectativas de lucro e receita no primeiro trimestre
O impulso para os ganhos da empresa de tecnologia vieram de novos contratos para a divisão de nuvem Azure
Elon Musk demitido da Tesla? WSJ diz que conselho deu início a busca por substituto, mas montadora nega; entenda
A Tesla tem sido alvo de boicotes devido à aproximação do bilionário com o governo Trump. Conselheiros estariam insatisfeitos com a postura de Musk e a repercussão nos lucros e valor de mercado da montadora
Ozempic na mira de Trump? Presidente dos EUA diz que haverá tarifas para farmacêuticas — e aproveita para alfinetar Powell de novo
Durante evento para entregar investimentos, Trump disse entender muito mais de taxas de juros do que o presidente do Fed
China já sente o peso das tarifas de Trump: pedidos de exportação desaceleraram fortemente em abril
Empresas americanas estão cancelando pedidos à China e adiando planos de expansão enquanto observam o desenrolar da situação
Entenda por que Bolsonaro pode se beneficiar se ação penal de Ramagem for suspensa no caso da tentativa de golpe de Estado
Câmara analisa pedido de sustação da ação contra o deputado Alexandre Ramagem; PL, partido de Bolsonaro, querem anulação de todo o processo
Fraude do INSS: oposição protocola pedido por CPI na Câmara; juiz manda quebrar sigilos
Pedido teve a adesão de 185 deputados; irregularidades levaram à queda do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto
CMN regulamenta ampliação do Minha Casa Minha Vida para classe média, que entra em vigor agora em maio
Regulação permite que bancos combinem recursos de captação própria com os do FGTS, mas que consigam dar crédito nas mesmas condições que os financiamentos apenas com recursos do fundo
Lula defende redução da jornada 6×1 em discurso do Dia do Trabalhador
Presidente diz que seu governo vai “aprofundar o debate” sobre o tema, “ouvindo todos os setores da sociedade”
Andy Warhol: 6 museus para ver as obras do mestre da Pop Art — incluindo uma exposição inédita no Brasil
Tão transgressor quanto popular, Warhol ganha mostra no Brasil em maio; aqui, contamos detalhes dela e indicamos onde mais conferir seus quadros, desenhos, fotografias e filmes
Entregou a declaração e ainda ficou devendo à Receita? Saiba como pagar o imposto de renda 2025
Na hora do ajuste anual, alguns contribuintes ainda têm contas a acertar com o Leão; entenda por que e veja como pagar o IR
Diretor do Inter (INBR32) aposta no consignado privado para conquistar novos patamares de ROE e avançar no ambicioso plano 60-30-30
Em entrevista ao Seu Dinheiro, Flavio Queijo, diretor de crédito consignado e imobiliário do Inter, revelou os planos do banco digital para ganhar mercado com a nova modalidade de empréstimo
Ninguém vai poder ficar em cima do muro na guerra comercial de Trump — e isso inclui o Brasil; entenda por quê
Condições impostas por Trump praticamente inviabilizam a busca por um meio-termo entre EUA e China
Rodolfo Amstalden: Falta pouco agora
Depois de lambermos a lona no início de janeiro, a realidade acabou se mostrando um pouco mais piedosa com o Kit Brasil
Carne louca: confusão na variação das ações da Minerva (BEEF3) nesta quarta (30) ‘mascarou’ queda de mais de 20% em ajuste; entenda
Discrepância acontece já que indicadores aparentemente não levaram em consideração a queda da abertura da B3, após Minerva aprovar aumento de capital social
Starbase: o novo plano de Elon Musk para transformar casa da SpaceX na primeira cidade corporativa do mundo
Moradores de enclave dominado pela SpaceX votam neste sábado (03) a criação oficial de Starbase, cidade idealizada pelo bilionário no sul do Texas
Bitcoin vai do inferno ao céu e fecha como melhor investimento de abril; um título de renda fixa se deu bem com a mesma dinâmica
As idas e vindas das decisões do presidente dos EUA, Donald Trump, causaram uma volatilidade além da habitual no mercado financeiro em abril, o que foi muito bom para alguns ativos