BRF (BRFS3): se o brasileiro está trocando a carne pelo frango, por que o balanço da empresa decepcionou o mercado?
Companhia de fato teve um ano estelar e repleto de recordes positivos em 2024, mas também vem sofrendo com a alta dos custos; entenda por que a ação cai hoje
Em tempos de inflação alta no Brasil, sabemos que a população tende a trocar as carnes bovinas por alternativas de proteínas mais baratas, como os ovos e o frango — este último, o carro-chefe da produção da BRF (BRFS3).
Mesmo assim, após um ano estelar na bolsa em 2024, o frigorífico vem patinando em 2025, e nesta quinta-feira (27) figura entre as maiores baixas do Ibovespa após a divulgação de um balanço que ficou aquém das expectativas de analistas e investidores.
Por volta das 12h30, os papéis BRFS3 recuavam 4,26%, a R$ 18,20, enquanto o Ibovespa operava praticamente estável. No pior momento do dia, chegaram a recuar mais de 8%. No ano, a perda acumulada supera os 26%.
De fato, o problema para a BRF não é tanto a demanda por seus produtos, mas também os custos. Assim como a inflação pesa no bolso do brasileiro, a companhia vive um momento de aumento de despesas, como o custo mais elevado do milho usado nas rações animais.
- VEJA MAIS: 35 empresas divulgam resultados do 4T24 esta semana, e BTG Pactual revela suas projeções para as principais
E embora os números do quarto trimestre de 2024 tenham apresentado melhora na comparação anual, quando comparados ao trimestre anterior as cifras apresentaram fraqueza, o que aponta para um futuro menos otimista para a empresa.
A analista Georgia Jorge, do BB Investimentos, considerou o resultado do quarto trimestre misto e observou que "os números reportados fecharam um ano memorável para a companhia, marcado pela elevação de receita e da rentabilidade com geração de caixa, o que permitiu a redução da alavancagem financeira e geração de valor aos seus acionistas. Contudo, observamos um enfraquecimento do resultado na comparação trimestral, com pressões inflacionárias sobre as despesas pesando na composição do resultado."
Leia Também
Os destaques do balanço da BRF (BRFS3) no 4T24
Vejamos primeiro os principais números da BRF no trimestre e no ano de 2024:
- Receita líquida 4T24: R$ 17,6 bilhões, alta de 21,6% a/a e de 13,1% t/t
- Receita líquida 2024: R$ 61,4 bilhões, alta de 14,5% a/a, recorde histórico
- Lucro líquido societário 4T24: R$ 868 milhões, alta de 15,0% a/a, mas queda de 23,7% t/t
- Lucro líquido societário 2024: R$ 3,7 bilhões, recorde histórico, revertendo prejuízo de R$ 1,9 bilhão em 2023
- Ebitda ajustado 4T24: R$ 2,8 bilhões, alta de 47,2% a/a, mas queda de 5,6% t/t
- Ebitda ajustado 2024: R$ 10,5 bilhões, alta de 122,6% a/a, recorde histórico
- Geração de caixa 4T24: R$ 2,1 bilhões, alta de 244,6% a/a e de 15,0% t/t
- Geração de caixa 2024: R$ 6,5 bilhões, alta de 690,6% a/a, recorde histórico
- Alavancagem ao final de 2024: 0,79 vez, queda de 60,5% ante as 2,01 vez ao final de 2023 e leve ala de 10,9% ante o 0,71 vez do 3T24.
De fato, em sua mensagem no release de resultados, o comando da BRF destacou o quanto o ano de 2024 foi bom para a companhia — e isso se refletiu nas ações BRFS3, que dispararam mais de 80% no ano passado.
Além disso, a empresa foi feliz em reduzir drasticamente seu endividamento, o qual era uma das espadas que pairavam sobre sua cabeça até 2023. Então por que o balanço é tão mal recebido pelo mercado hoje?
Ebitda e margens decepcionantes
Apesar do crescimento apresentado tanto em base anual como trimestral, o Ebitda ajustado da BRF veio abaixo das expectativas do BTG Pactual e do Itaú BBA, reportam os analistas destas instituições financeiras nesta quinta-feira.
A cifra ficou 7% abaixo da estimativa do BTG e foi 6% inferior à do Itaú BBA, que já eram menores que o consenso do mercado, segundo a Bloomberg, que era de R$ 3,3 bilhões.
O Ebitda e as margens na divisão brasileira apresentaram algumas dificuldades no período, destacam os analistas.
Por um lado, o crescimento da receita no país foi forte, e houve uma alta de 12% nos volumes em base anual, além de um aumento da participação de mercado para 40,8%. Aliás, 2024 foi o primeiro ano de ganhos de participação de mercado desde a criação da BRF, nota o BTG.
Por outro lado, a sazonalidade positiva — o fim do ano costuma ser marcado pela venda de carnes de aves comemorativas de Natal e Ano Novo — não se refletiu em margens operacionais maiores, que caíram 190 pontos-base na comparação trimestral, para 14,7%. Com isso, o Ebitda na divisão brasileira ficou 10% abaixo da previsão do BTG, que era de R$ 1,3 bilhão.
O Itaú BBA tem leitura parecida. Para o banco, o Ebitda ajustado da BRF no 4T24 em verdade "não apresentou a sazonalidade esperada", apesar das boas vendas e expansão da receita.
Na opinião dos analistas da instituição, o desempenho explica-se principalmente pelo aumento das despesas gerais e administrativas e pela alta nos custos dos grãos. Já o BTG nota que "algumas linhas de produtos, como margarina, podem ter começado a refletir custos maiores."
- VEJA TAMBÉM: Santander, Itaú, Bradesco, Banco do Brasil, qual a melhor ação de banco para investir após o 4T24?
Mercado internacional se sai melhor, mas também se vê pressionado
A preocupação do mercado é com o que vem pela frente. Sobre a divisão internacional, por exemplo, os analistas de ambas as instituições destacaram a formidável margem operacional de 20,4% no trimestre, porém a cifra representa uma redução de 180 pontos-base na comparação trimestral, devido a uma queda nos preços das aves e o impacto de custos maiores denominados em dólares — lembre-se da forte depreciação do real no final do ano passado.
Aliás, a alta do custo unitário não compensou o aumento do preço médio dos produtos. Para o Itaú BBA, a recuperação de preços em alguns cortes específicos no mercado internacional neste início de ano pode ser parcialmente compensada por custos mais altos de grãos, resultando em mudanças pouco significativas nas margens no curto prazo.
Olhando para a frente, a BRF dependerá da dinâmica do ciclo global de aves, diz o banco, mas o otimismo com a companhia dependeria de assumir que os negócios internacionais continuarão a ter um desempenho acima dos níveis históricos por um período prolongado.
Nenhum dividendo adicional por enquanto; mais crescimento por vir?
Esse foi o questionamento levantado pelos analistas Thiago Duarte, Guilherme Guttilla e Gustavo Fabris, do BTG Pactual.
Eles notam que a BRF anunciou um novo programa de recompra de ações de até cerca de R$ 285 milhões com base no preço atual das ações, mas dizem ter ficado "surpresos que nenhuma nova distribuição de dividendos foi revelada".
Também destacam que o fato de o capex (investimentos) ter acelerado para R$ 1 bilhão no quarto trimestre (totalizando R$ 3,3 bilhões em 2024) sugere que a BRF está "realmente se preparando para o crescimento".
- VEJA TAMBÉM: cobertura completa da temporada de balanços - Saiba o que esperar do mercado e como se posicionar
Comprar BRFS3 ou não?
O Itaú BBA e o BTG Pactual mantiveram sua recomendação neutra para as ações da BRF. Os analistas Gustavo Troyano e Bruno Tomazetto, do BBA, consideram que as ações já estão precificadas de maneira justa sob condições de margem normalizadas.
Já os analistas do BTG Pactual dizem que, por muitos anos, sua recomendação neutra para a ação "foi mais do que apenas uma opinião sobre preços de aves ou grãos; em vez disso, foi fundamentada na visão de que a empresa não tinha a estratégia, a execução e, mais importante, o balanço patrimonial necessário para competir. No entanto, a BRF emergiu mais forte, mais enxuta e mais inovadora nos últimos dois anos. O crescimento do volume retornou e atesta essa melhora, juntamente com um balanço patrimonial forte, que finalmente posiciona a empresa para buscar o crescimento mais uma vez. Embora reafirmemos nossa visão Neutra, ela agora se baseia na crença de que o ciclo de margem mudará e que as expectativas (e valuations) estão elevadas."
Já o BB Investimentos, embora tenha avaliado o balanço de maneira semelhante aos seus pares, mantém recomendação de compra para a ação da companhia, com preço-alvo de R$ 33, potencial de alta de 82% ante o fechamento de ontem.
"Daqui para frente, a companhia deve enfrentar maior pressão sobre os custos em função da alta no preço do milho. Para mitigar esse impacto, a companhia informou ter antecipado compras para lidar com a recente alta, garantindo estoques e otimizando custos. Combinado a isso, ainda vemos um mercado bastante resiliente em termos de demanda, especialmente no mercado interno, principalmente quando vislumbramos um cenário inflacionário pressionando o consumo das famílias, o que direciona a demanda para proteínas mais baratas, como é o caso da carne de aves e suínos", diz a analista Georgia Jorge.
Neoenergia (NEOE3) levanta R$ 2,5 bilhões com venda de hidrelétrica em MT, mas compra fatia na compradora e mantém participação indireta de 25%
Segundo a Neoenergia, a operação reforça sua estratégia de rotação de ativos, com foco na otimização do portfólio, geração de valor e disciplina de capital.
Hapvida (HAPV3): Itaú BBA segue outras instituições na avaliação da empresa de saúde, rebaixa ação e derruba preço-alvo
As perspectivas de crescimento se distanciaram das expectativas à medida que concorrentes, especialmente a Amil, ganharam participação nos mercados chave da Hapvida, sobretudo em São Paulo.
BRB já recuperou R$ 10 bilhões em créditos falsos comprados do Banco Master; veja como funcionava esquema
Depois de ter prometido mundos e fundos aos investidores, o Banco Master criou carteiras de crédito falsas para levantar dinheiro e pagar o que devia, segundo a PF
Banco Master: quem são os dois empresários alvos da operação da PF, soltos pela Justiça
Empresários venderam carteiras de crédito ao Banco Master sem realizar qualquer pagamento, que revendeu ao BRB
Uma noite sobre trilhos: como é a viagem no novo trem noturno da Vale?
Do coração de Minas ao litoral do Espírito Santo, o Trem de Férias da Vale vai transformar rota centenária em uma jornada noturna inédita
Com prejuízo bilionário, Correios aprovam reestruturação que envolve demissões voluntárias e mais. Objetivo é lucro em 2027
Plano prevê crédito de R$ 20 bilhões, venda de ativos e cortes operacionais para tentar reequilibrar as finanças da estatal
Supremo Tribunal Federal já tem data para julgar acordo entre Axia (AXIA3) e a União sobre o poder de voto na ex-Eletrobras; veja
O julgamento acontece após o acordo entre Axia e União sobre poder de voto limitado a 10%
Deixe o Banco do Brasil (BBAS3) de lado: para o Itaú BBA, é hora de olhar para outros dois bancões — e um deles virou o “melhor da bolsa”
Depois da temporada de balanços do terceiro trimestre, o Itaú BBA, que reiterou sua preferência por Nubank (ROXO33) e Bradesco (BBDC4), enquanto rebaixou a indicação do Santander (SANB11) de compra para neutralidade. Já o Banco do Brasil (BBAS3) continua com recomendação neutra
O novo trunfo do Magazine Luiza (MGLU3): por que o BTG Pactual vê alavanca de vendas nesta nova ferramenta da empresa?
O WhatsApp da Lu, lançado no início do mês, pode se tornar uma alavanca de vendas para a varejista, uma vez que já tem mostrado resultados promissores
5 coisas que o novo Gemini faz e você talvez não sabia
Atualização do Gemini melhora desempenho e interpretação de diferentes formatos; veja recursos que podem mudar sua rotina
Vibra (VBBR3) anuncia R$ 850 milhões em JCP; Energisa (ENGI11) e Lavvi (LAVV3) anunciam mais R$ 500 milhões em dividendos
Vibra e Energisa anunciaram ainda aumentos de capital com bonificação em ações; veja os detalhes das distribuições de dividendos e ações
Nvidia (NVDC34) tem resultados acima do esperado no 3T25 e surpreende em guidance; ações sobem no after market
Ações sobem quase 4% no after market; bons resultados vêm em meio a uma onda de temor com uma possível sobrevalorização ou até bolha das ações ligadas à IA
Hora de vender MOTV3? Motiva fecha venda de 20 aeroportos por R$ 11,5 bilhões, mas ação não decola
O valor da operação representa quase um terço dos R$ 32 bilhões de valor de mercado da empresa na bolsa. Analistas do BTG e Safra avaliam a transação
Nem o drible de Vini Jr ajudaria: WePink de Virginia fecha acordo de R$ 5 milhões após denúncias e fica proibida de vender sem estoque
Marca da influenciadora terá que mudar modelo de vendas, reforçar atendimento e adotar controles rígidos após TAC com o MP-GO
Patria dá mais um passo em direção à porta: gestora vende novo bloco de ações da Smart Fit (SMFT3), que entram em leilão na B3
Conforme adiantado pelo Seu Dinheiro em reportagem exclusiva, o Patria está se preparando para zerar sua posição na rede de academias
BRB contratará auditoria externa para apurar fatos da operação Compliance da PF, que investiga o Banco Master
Em comunicado, o banco reafirma seu compromisso com as melhores práticas de governança, transparência e prestação de informações ao mercado
O futuro da Petrobras (PETR4): Margem Equatorial, dividendos e um dilema bilionário
Adriano Pires, sócio-fundador do CBIE e um dos maiores especialistas em energia do país, foi o convidado desta semana do Touros e Ursos para falar de Petrobras
ChatGPT vs. Gemini vs. Llama: qual IA vale mais a pena no seu dia a dia?
A atualização recoloca o Google na disputa com o ChatGPT e o Llama, da Meta; veja o que muda e qual é a melhor IA para cada tipo de tarefa
Magazine Luiza (MGLU3) e Americanas (AMER3) fecham parceria para o e-commerce; veja
Aliança cria uma nova frente no e-commerce e intensifica a competição com Mercado Livre e Casas Bahia
Governador do DF indica Celso Eloi para comandar o BRB; escolha ainda depende da Câmara Legislativa
A nomeação acontece após o afastamento judicial de Paulo Henrique Costa, em meio à operação da PF que mira irregularidades envolvendo o Banco Master
