Os ventos de Jackson Hole: brisa de alívio ou tempestade nos mercados?
As expectativas em torno do discurso de Jerome Powell no evento mais tradicional da agenda econômica global divide opiniões no mercado

O grande evento da semana é o Simpósio de Política Econômica de Jackson Hole, que se inicia hoje, 21 de agosto, e se estende até sábado, 23, sob a organização do Federal Reserve de Kansas City. Trata-se de um dos encontros mais tradicionais e influentes da agenda econômica global, reunindo alguns dos principais formuladores de política monetária do mundo.
O tema deste ano — “Mercados de Trabalho em Transição: Demografia, Produtividade e Política Macroeconômica” — chega em momento mais do que oportuno, justamente quando o Federal Reserve (Fed) enfrenta a pressão de dados recentes que mostram inflação persistente e sinais mistos no mercado de trabalho.
Entre todas as participações, o discurso de Jerome Powell, previsto para sexta-feira, concentra as maiores expectativas, já que poderá oferecer indícios mais claros sobre o rumo da política de juros nos Estados Unidos.
O consenso de mercado ainda projeta três cortes de juros até o fim de 2025, iniciando já em setembro. No entanto, permanece aberta a possibilidade de uma flexibilização mais cautelosa, talvez limitada a apenas duas reduções, com início adiado para outubro, dependendo do comportamento dos próximos indicadores de atividade e preços.
Nesse contexto, os investidores também acompanharam ontem com atenção a divulgação da ata da reunião de julho do Fed. O documento revelou de forma mais explícita a intensidade das divisões internas no comitê, após a rara dissidência de dois membros votantes, que defenderam um corte de 25 pontos-base já naquela ocasião.
Ainda assim, o material pode soar mais hawkish (ou seja, mais duro) para um mercado que hoje está sedento por sinais de afrouxamento monetário. Isso porque a ata reflete apenas o cenário de fim de julho, antes da divulgação do payroll de julho — publicada em 1º de agosto —, que mostrou enfraquecimento no mercado de trabalho e reforçou a tese de cortes. Assim, é natural que, à luz dos dados mais recentes, a posição registrada naquela reunião pareça mais restritiva do que o discurso atual do Fed tende a indicar.
Leia Também
Felipe Miranda: Lições de uma semana em Harvard
- VEJA TAMBÉM: O que você precisa saber para investir agora? O Touros e Ursos, podcast do Seu Dinheiro, convida os principais especialistas do mercado para dar o veredito; assista aqui
Reversão do ciclo de juros nos EUA está contratada?
Por ora, o mercado segue atribuindo mais de 80% de probabilidade a um corte de juros em setembro, expectativa reforçada não apenas pelos dados econômicos recentes, mas também pela pressão política crescente de Donald Trump, que insiste em medidas para aliviar o setor imobiliário e estimular a atividade.
Ainda assim, dúvidas relevantes permanecem sobre o impacto efetivo das tarifas recém-impostas, a trajetória da atividade econômica e a resiliência dos preços ao longo dos próximos meses.
Em paralelo, o mercado de trabalho americano começa a exibir sinais de desgaste. Após um período de estabilidade em níveis robustos desde o fim de 2023, a criação de empregos se concentra de maneira crescente em setores como saúde, governo e educação — segmentos tradicionalmente menos cíclicos —, enquanto outras áreas já apresentam indícios de estagnação ou até retração.
Esse enfraquecimento estrutural da geração de vagas amplia o risco de deterioração no horizonte dos próximos trimestres e adiciona pressão às escolhas de política monetária do Federal Reserve.
- LEIA TAMBÉM: Os leitores do Seu Dinheiro recebem todos os dias as notícias mais quentes do mercado. Quer receber também? Cadastre-se aqui
Simpósio de Jackson Hole sob os holofotes do mercado
Nesse contexto, aumentam as expectativas em torno do discurso de Jerome Powell no simpósio de Jackson Hole. O mercado permanece dividido: de um lado, dados de inflação mais benignos e a desaceleração do emprego fortalecem as apostas em cortes; de outro, a resiliência do consumo e a persistência da inflação em serviços sugerem que não há espaço para uma flexibilização mais agressiva.
Embora o último CPI tenha sido recebido de forma relativamente positiva, indicadores alternativos de preços revelam que o processo de desinflação perdeu tração, com salários e serviços ainda exercendo pressão relevante.
Esse quadro reforça a percepção de que o Fed deverá adotar um tom cauteloso, o que mantém a volatilidade elevada até que surja maior clareza sobre os rumos da política monetária e as perspectivas de crescimento global. A fala de Powell, assim como as demais discussões do simpósio, tende a nivelar melhor as expectativas do mercado em relação à trajetória dos juros.
As implicações são diretas: um tom mais duro pode sustentar o dólar em níveis mais altos, enquanto uma postura mais flexível pode fragilizá-lo. Essa dinâmica não é trivial, já que afeta não apenas o equilíbrio entre as principais moedas globais, mas também o desempenho de ativos em geral — sendo que, historicamente, um dólar mais fraco costuma favorecer especialmente os mercados emergentes, entre os quais o Brasil se insere.
As críticas a uma Petrobras ‘do poço ao posto’ e o que mexe com os mercados nesta quinta-feira (2)
No Brasil, investidores repercutem a aprovação do projeto de isenção do IR e o IPC-Fipe de setembro; no exterior, shutdown nos EUA e dados do emprego na zona do euro
Rodolfo Amstalden: Bolhas de pus, bolhas de sabão e outras hipóteses
Ainda que uma bolha de preços no setor de inteligência artificial pareça improvável, uma bolha de lucros continua sendo possível
Um ano de corrida eleitoral e como isso afeta a bolsa brasileira, e o que move os mercados nesta quarta-feira (1)
Primeiro dia de outubro tem shutdown nos EUA, feriadão na China e reunião da Opep
Tão longe, tão perto: as eleições de 2026 e o caos fiscal logo ali, e o que mexe com os mercados nesta terça-feira (30)
Por aqui, mercado aguarda balança orçamentária e desemprego do IBGE; nos EUA, todos de olho nos riscos de uma paralisação do governo e no relatório Jolts
Eleições de 2026 e o nó fiscal: sem oposição organizada, Brasil enfrenta o risco de um orçamento engessado
A frente fiscal permanece como vetor central de risco, mas, no final, 2026 estará dominado pela lógica das urnas, deixando qualquer ajuste estrutural para 2027
Tony Volpon: O Fed e as duas economias americanas
Um ressurgimento de pressões inflacionárias ou uma fraqueza inesperada no mercado de trabalho dos EUA podem levar a autarquia norte-americana a abortar ou acelerar o ciclo de queda de juros
B3 deitada em berço esplêndido — mas não eternamente — e o que mexe com os mercados neste segunda-feira (29)
Por aqui, investidores aguardam IGP-M e Caged de agosto; nos EUA, Donald Trump negocia para evitar paralisação do governo
Pequenas notáveis, saudade do que não vivemos e o que mexe com os mercados nesta sexta-feira (26)
EUA aguardam divulgação do índice de inflação preferido do Fed, enquanto Trump volta a anunciar mais tarifas
A microcap que garimpa oportunidades fora da bolsa e vem sendo recompensada por isso
Há ótimas empresas fora da bolsa, mas não conseguimos nos tornar sócios delas; mas esta pequena empresa negociada na B3, sim
Mais água no feijão e o que sobra para os acionistas minoritários, e o que mexe com os mercados nesta quinta (25)
Por aqui temos prévia da inflação e reunião do Conselho Monetário Nacional (CMN); nos EUA, PIB do segundo trimestre e mais falas de dirigentes do Fed
Rodolfo Amstalden: O amor pode estar do seu lado
Não serei eu a querer estragar o story telling de ninguém, mas o (eventual) rali eleitoral no Brasil sequer começou
A chama que não se apaga das debêntures incentivadas e o que esperar dos mercados hoje
Após renovar recorde ontem, Ibovespa tem dia de agenda esvaziada; destaques são fluxo cambial no Brasil e falas de dirigentes do Fed nos EUA
Dois coelhos com uma cajadada só, um grande encontro e o que move os mercados nesta terça-feira (23)
Investidores acompanham hoje ata do Copom, início da Assembleia Geral da ONU e discurso do presidente do Fed
80 anos de ONU: discursos idealistas, cofres vazios e investidores correndo para o ouro
Ao mesmo tempo em que busca reafirmar seu papel global, a ONU enfrenta talvez a mais profunda crise de legitimidade e de recursos de sua história
Felipe Miranda: O novo ouro é… o próprio ouro
Há uma narrativa de que o bitcoin seria o “ouro digital”, mas existem motivos pelos quais o paralelo com o metal precioso não é tão correto assim
Quem quer dinheiro? Uma jogada de mestre com o ouro, e o que mexe com os mercados nesta segunda-feira (22)
Dia tem discursos de dirigentes do Banco Central da Inglaterra e do Federal Reserve; investidores também se preparam para a Assembleia Geral da ONU, que começa amanhã
Petrobras (PETR4): novo plano estratégico pode abrir as portas para mais dividendos aos acionistas; saiba o que esperar
Estamos perto da divulgação do Plano Estratégico 2026-2030 da Petrobras, o que pode ser um catalisador relevante para os papéis da estatal
Super Quarta de contrastes: a liquidez vem lá de fora, a cautela segue aqui dentro
Fed inicia novo ciclo de cortes, Copom sinaliza flexibilização futura e mercados globais reagem à virada monetária que impulsiona ativos de risco
O melhor aluno da sala fazendo bonito na bolsa, e o que esperar dos mercados nesta quinta-feira (18)
Investidores ainda reagem às decisões e declarações da Super Quarta; no Reino Unido e no Japão, definição de juros vem hoje
Rodolfo Amstalden: A falácia da “falácia da narrativa”
Pela visão talebiana, não conseguimos nos contentar com o simples acaso, precisamos sempre de uma explicação para o que está acontecendo