Olhando para o Brasil em 2026: as lições que a Argentina oferece e o pêndulo político
O exemplo argentino demonstra que, com coragem política, determinação e foco em reformas estruturais, é possível transformar um cenário de crise em oportunidade de crescimento sustentável
Há pouco mais de um ano, Javier Milei assumiu a presidência da Argentina com um plano radical e ambicioso para enfrentar os profundos desafios econômicos do país, marcados por uma inflação de três dígitos e um histórico persistente de endividamento e desequilíbrios fiscais. Sua estratégia, focada em uma drástica redução de gastos públicos e em reformas estruturais audaciosas, começa a dar frutos.
Desde sua posse, Milei reduziu mais da metade dos ministérios, implementou cortes expressivos nos salários do funcionalismo público, desvalorizou a moeda local e estabeleceu restrições rigorosas ao crescimento das pensões.
Embora essas medidas tenham enfrentado resistência inicial, elas foram desenhadas para corrigir muitos anos de políticas fiscais insustentáveis, características do kirchnerismo.
Os primeiros sinais de sucesso começam a aparecer.
O secretário de Finanças da Argentina, Pablo Quirno, anunciou recentemente o pagamento de US$ 4,3 bilhões em títulos da dívida soberana, um feito significativo e o maior desde a reestruturação de 2020.
Desse montante, US$ 3,7 bilhões foram destinados a credores privados, enquanto o restante foi repassado a entidades públicas detentoras de títulos. Os recursos utilizados para esse pagamento foram obtidos por meio do superávit de 2024, fruto direto do rigoroso pacote de austeridade.
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A eficácia das reformas é inegável.
O pêndulo político na Argentina e a melhora nos indicadores
A mudança drástica no pêndulo político gerou uma transformação na política econômica, com melhorias consistentes em vários indicadores macroeconômicos. Essa reviravolta também impulsionou uma forte valorização dos ativos financeiros argentinos, posicionando-os entre os destaques globais.
Os dados mais recentes mostram que a terceira maior economia da América Latina começa a emergir de uma prolongada crise. Pela primeira vez desde o terceiro trimestre de 2023, a Argentina saiu oficialmente da recessão.
Embora o Produto Interno Bruto (PIB) deva registrar uma contração em 2024, esse resultado reflete, em parte, um efeito estatístico herdado de 2023.
Após anos de declínio, exacerbados pelas políticas do governo Fernández e pelo ajuste recessivo de Milei, o Índice de Atividade Econômica (EMAE), elaborado pelo Indec, já aponta para uma recuperação.
A trajetória recente do país sugere uma recuperação em "V", marcando um ponto de inflexão na história econômica argentina e demonstrando que, embora dolorosas, as reformas estruturais podem gerar resultados significativos em termos de estabilidade econômica e crescimento sustentável muito mais rapidamente do que se pensava.
A recuperação dos mercados vem aí
Entende-se que a recuperação gradual da atividade econômica na Argentina seja impulsionada por uma retomada lenta, mas consistente, do consumo, ancorada na progressiva melhora da renda real por lá.
O movimento deverá ser complementado pelo início de uma recuperação nos mercados de crédito, o que oferecerá um suporte adicional ao avanço da economia em recuperação.
Essa perspectiva ganha relevância em um contexto histórico marcante: em 2024, a Argentina registrou um superávit fiscal pela primeira vez em 123 anos, rompendo um ciclo secular de déficits. O resultado desse esforço foi um superávit primário equivalente a 2,3% do PIB, demonstrando um comprometimento com o fiscal.
Como consequência direta do ajuste fiscal, a inflação mensal, que atingia preocupantes 25% em dezembro de 2023, recuou de forma significativa para apenas 2,4% em novembro de 2024, sinalizando o impacto positivo das políticas implementadas.
Essa conquista reflete o impacto imediato das medidas de austeridade e ajustes estruturais de Milei, que têm repercutido de forma contundente sobre os preços ao consumidor, como ilustrado pelos dados apresentados a seguir.
Essa conquista, naturalmente, veio acompanhada de custos sociais significativos. Ao mesmo tempo, porém, a desaceleração inflacionária tem gerado reflexos positivos na taxa de pobreza do país, que vem seguindo uma trajetória de redução consistente, sustentada pelo crescimento gradual dos salários reais.
Atualmente, a estimativa nowcast da Universidad Torcuato Di Tella aponta uma taxa de pobreza de 36,8%, marcando uma queda expressiva em relação aos alarmantes 52,9% registrados no início do governo.
Esse progresso evidencia os primeiros frutos de um ajuste econômico rigoroso, ainda que os desafios permaneçam consideráveis.

Em outras palavras, embora a mídia frequentemente enfatize o aumento da pobreza na Argentina durante o governo Milei, é crucial destacar que os dados em questão ainda refletem o cenário do primeiro trimestre de 2024, quando os efeitos das reformas recém-implementadas ainda não haviam se consolidado. A situação tem mudado.
Argentina oferece lição à bolsa brasileira
O mercado, por sua vez, demonstrou uma habilidade notável para antecipar a recuperação econômica. Tanto é verdade que o índice Merval começou a apresentar uma reação positiva já em junho de 2022, ou seja, 16 meses antes das eleições presidenciais que resultaram na vitória de Javier Milei em novembro de 2023.
Esse movimento sugere que o mercado financeiro tende a precificar mudanças estruturais antes mesmo de sua concretização, o que pode oferecer uma lição valiosa para a bolsa brasileira: transformações significativas no ambiente político e econômico costumam ser refletidas de forma antecipada nos preços dos ativos.
Assim, embora o ajuste tenha inicialmente levado a um aumento na taxa de pobreza na Argentina, os indicadores já começam a refletir os efeitos positivos da estabilização econômica.
As projeções para 2025 reforçam esse cenário otimista: espera-se que a economia argentina cresça 5%, revertendo a contração de 3% registrada em 2024.
Esses avanços não apenas consolidam a recuperação econômica, mas também fortalecem a posição política de Javier Milei.
As eleições de meio de mandato em 2025 poderão servir como um referendo de seu governo, permitindo-lhe expandir sua base de apoio e garantir o respaldo necessário para aprovar novas e importantes reformas estruturais.
Mantendo essa trajetória, Milei poderá não apenas consolidar seu legado, mas também abrir caminho para uma eventual reeleição em 2027.
O sucesso de Milei na Argentina levanta questões inevitáveis para o Brasil.
O exemplo argentino demonstra que, com coragem política, determinação e foco em reformas estruturais, é possível transformar um cenário de crise em uma oportunidade de crescimento sustentável, mesmo que isso exija sacrifícios no curto prazo.
Talvez, em 2027, com uma possível guinada no pêndulo político nas eleições de 2026, o Brasil também possa implementar mudanças de grande impacto e colher frutos semelhantes.
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