Felipe Miranda: Perdidos no espaço-tempo
Toda a Ordem Mundial dos últimos anos dá lugar a uma nova orientação, ao menos, por enquanto, marcada pela Desordem
"E era como se jogassem Space Invaders
Perdendo mais dinheiro de muitas maneiras
Vivendo num planeta perdido como nós
Quem sabe ainda estamos a salvo?
Ficamos suspensos
Perdidos no espaço”CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADECONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADELegião Urbana - Perdidos no espaço
Só há dois tipos possíveis hoje: os perdidos e os desinformados.
Saímos para o final de semana receosos de revivermos algo semelhante a novembro de 1962. O recrudescimento potencial das tensões em EUA e China guardaria paralelos com a crise dos mísseis de Cuba, de tal modo que analistas de grandes bancos correram para alertar para a necessidade de uma “desescalada”. Você nunca sabe quando uma guerra fria, agora em sua segunda edição, pode ficar quente.
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Então, subitamente, parecíamos transportados para 2012, quando do lançamento de “O ruído e o sinal”, livro de Nate Silver. Honrando seu estilo dionisíaco e oscilatório, Donald Trump foi às redes sociais para transmitir calma: não se preocupem com a China; vai ficar tudo bem. Os mercados prontamente se recuperaram.
Cenário político econômico incerto
Nas idas e vindas dentro de nosso DeLorean, o capacitor de fluxo a plena carga de plutônio apoia-se nas manchetes de restrições ao orçamento francês, de décimo-terceiro dia de paralisação do governo norte-americano e de dificuldades fiscais renovadas para o Brasil, agora sob um pacote de (supostas) bondades de R$ 100 bilhões para 2026, para nos lembrar das dificuldades em torno do conflito distributivo e para nos transportar para a década de 30.
Com sociedades muito divididas e polarizadas, um lado não reconhece a legitimidade do outro. As instituições clássicas das democracias liberais são colocadas em xeque. O “rule of law” em crise no mundo, como apontou Solange Sour em coluna recente da Folha. Como aceitar concessões orçamentárias num ambiente assim?
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Então, vamos cedendo a um populismo crescente, ao isolacionismo perigoso, cujos paralelos históricos apontam como corolário um subsequente aumento do militarismo. As tarifas comerciais em curso remetem justamente ao governo Hoover. Sabemos como terminou a década de 30.
Busca por refúgio
O comportamento do ouro emite sinal inequívoco da busca por proteção ao risco geopolítico e também oferece analogias com o cenário imediatamente anterior à Segunda Guerra. Sob o “Gold Reserve Act” de 1934 de Roosevelt, o ouro foi reavaliado de US$ 20,67 para US$ 35 por onça – a alta de 70% está entre as maiores da história.
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Outra multiplicação semelhante aconteceu no final da década de 70. Entre 1978 e 1980, os preços do ouro se multiplicaram por mais de quatro vezes, saindo de US$ 200 para US$ 850 por onça. Preocupações com as trajetórias de dívida pública diante de políticas mais keynesianas dos anos 70, dois choques do petróleo e tensão geopolítica diante da Revolução Iraniana e da Invasão Soviética ao Afeganistão estiveram entre os propulsores do valor do ouro.
É curioso como a trajetória do metal precioso não se dá de forma linear, gradual, bem comportada. A análise empírica evidencia longos períodos de certa estagnação ou lateralização, seguidas de grandes saltos súbitos, muito além do que a tendência ao pensamento incremental e gradativo poderia conceber a priori.
Não à toa, o megainvestidor Ray Dalio identifica paralelos atuais precisos com a década de 70, defendendo uma posição de 15% em ouro – parece um tanto exagerado, mas só de estarmos discutindo a hipótese já se percebe a gravidade do momento.
Otimistas ou pessimistas? Perdidos!
Não quero, com isso, transmitir alertas de uma caminhada inexorável rumo à Terceira Guerra Mundial, tampouco contratar uma nova década perdida para o Brasil, tal como tivemos nos anos 80, muito como consequência das mazelas do período imediatamente anterior. Procuramos algum rigor com as palavras. Não falamos em “pessimistas”; estamos todos “perdidos”.
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Há fatores para otimismo também, sendo os dois principais a queda das taxas de juro em âmbito global (note que isso também favorece o ouro e ativos de risco em geral) e toda a revolução advinda da inteligência artificial.
O rigor com o léxico permanece: estamos mesmo diante de uma grande revolução, capaz de guiar o crescimento econômico global a partir de um salto expressivo da produtividade. Mas que isso não se confunda com a prescrição de complacência com riscos. Evoluções quânticas de produtividade são tipicamente associadas à exuberância irracional. Não há muita dúvida de que, cedo ou tarde, viveremos uma bolha associada à IA, pois essa é a natureza dos mercados. Com seu perfil ciclotímico inerente, eles alternam momentos de euforia e depressão. Ao menos desde 1976, Rudi Dornbusch nos mostra como o “overshooting” (movimentos excessivos dos mercados, além dos preços de equilíbrio de longo prazo) fazem parte da essência do preço dos ativos, mesmo em ambientes de racionalidade.
O que muda e o que é igual
Num paralelo com a última grande revolução tecnológica, a questão aqui é se estamos mais perto de 1995/96, quando do início da apreciação das ações ligadas à internet, numa trajetória muito positiva que ainda duraria anos, ou se já flertamos com 99/2000, época do estouro da bolha pontocom. Por ora, mais parece 1996, mas esse é o tipo de coisa que só fica claro mesmo a posteriori – toda boa bolha oferece uma narrativa convincente enquanto está em curso.
Seja lá em qual momento do tempo estivermos, parece razoável supor grandes mudanças à frente. Toda a Ordem Mundial dos últimos anos dá lugar a uma nova orientação, ao menos por enquanto marcada pela Desordem.
O estrategista Michael Hartnett, do Bank of America Merrill Lynch, por exemplo, tem defendido uma segunda metade da década de 2020 bem diferente dos cinco anos vindouros. A imagem abaixo ilustra a transformação sugerida:

O mesmo Michael Hartnett acaba de projetar o ouro possivelmente caminhando para US$ 6.000 por onça. A nova corrida do ouro pode estar apenas começando. O metal precioso precisa compor seu portfólio.
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