Felipe Miranda: O fim do Dollar Smile?
Agora o ouro, e não mais o dólar ou os Treasuries, representa o ativo livre de risco no imaginário das pessoas

No livro “Trincheira Tropical: A Segunda Guerra Mundial no Rio”, Ruy Castro conta, com a habilidade costumeira, a história de 1935 a 1945 na capital fluminense, a partir da divisão ideológica interna entre os comunistas, os integralistas e os defensores da democracia liberal.
Entre inúmeras situações e personagens interessantes, algumas questões em particular chamam especial atenção: a chegada de imigrantes fugindo da guerra, como Paulo Ronai e Otto Maria Carpeaux, e a participação brasileira no fornecimento de materiais básicos a adversários da Alemanha nazista.
Nesse contexto se insere a “Política de Boa Vizinhança”, implementada pelo governo Roosevelt desde 1933 com o objetivo de estreitar laços com a América Latina — interessavam aos EUA nossa capacidade de fornecer produtos e as bases militares do Nordeste. Walt Disney não veio somente para criar o Zé Carioca, tampouco Orson Welles estava apenas interessado em documentar a realidade local.
- VEJA MAIS: Quer investir melhor? Faça parte do clube de investidores do Seu Dinheiro gratuitamente e saiba tudo o que está rolando no mercado
Enquanto a chinela cantava no resto do mundo, o isolamento geográfico da América do Sul e sua capacidade de prover o mundo com energia e comida, elementos fundamentais numa guerra, emergiam como diferenciais relevantes. De repente, o Rio de Janeiro, que desde 1934 já havia sido batizada oficialmente de “Cidade Maravilhosa” com a marchinha de André Filho, era uma das cidades mais vibrantes do mundo.
Geopolítica e risco
Ruy Castro é sempre uma boa leitura, mas ganha contornos especialmente convidativos agora. Se o prêmio de risco geopolítico global aumenta diante do conflito no Oriente Médio, a geografia ganha importância relativa. Se há risco de que o conflito se espalhe diante de eventual envolvimento dos EUA em favor de Israel e, quem sabe, da Rússia e da China em prol do Irã (compondo o tal Eixo do Mal), talvez não seja má ideia encaminhar-se para a América do Sul.
Sem precisar ir tão longe, provar-se um fornecedor estável e confiável de matérias-primas, energia e alimentos também pode render frutos não-desprezíveis.
Se olharmos o comportamento dos ativos e suas correlações desde o estouro da guerra entre Israel e Irã, notaremos uma dinâmica diferente de crises anteriores. Há cerca de 20 anos, o economista Stephen Jen formulara uma teoria simples e ilustrativa para descrever a sensibilidade do dólar frente a choques, denominada “Dollar Smile”, em alusão à imagem de um sorriso.
Leia Também
17 X 0 na bolsa brasileira e o que esperar dos mercados hoje, com disputa entre Israel e Irã no radar
Sexta-feira, 13: Israel ataca Irã e, no Brasil, mercado digere o pacote do governo federal
A ideia era de que em situações de economia forte nos EUA e sem grandes medos no horizonte, o dólar estaria forte (ou alto). Como, no entanto, se percebe uma associação entre a moeda e os títulos de dívida norte-americanos a ativos livres de risco, um momento de recessão global ou grande aversão a risco despertaria uma corrida em direção ao dólar, que também ficaria alto em momentos adversos. Somente numa situação morna, de meio do caminho, teríamos um dólar fraco contra as demais moedas.
A crise de 2008 talvez seja o exemplo mais didático sobre o fenômeno: o colapso do mercado imobiliário e a consequente quebra da Lehman Brothers ocorrem justamente nos EUA; em reação, a moeda norte-americana se valoriza de maneira destacada. Se recorrermos à análise de várias outras crises ao longo da história, chegaremos à conclusão semelhante.
Dólar, ouro e as oportunidades da América Latina
Desta vez, porém, ao menos até aqui, vemos um comportamento distinto. O dólar praticamente não se mexeu desde sexta-feira. O euro está perto de 1,16. O real flerta com R$ 5,50. Não houve uma corrida para os Treasuries.
A recente elucubração da Gavekal, que questionara se os títulos de dívida dos EUA deixaram de ser antifrágeis, ou seja, se ainda reagiriam positivamente a um choque exógeno negativo, recebe validação empírica. George Catrambone, head de renda fixa da DWS Americas, concedeu entrevista na sexta-feira sintetizando a nova dinâmica: agora o ouro, e não mais o dólar ou os Treasuries, representa o ativo livre de risco no imaginário das pessoas.
A ideia do enfraquecimento do excepcionalismo norte-americano já vinha impactando de forma negativa o dólar e estimulando a migração para outras jurisdições. A América Latina, em especial do Sul, recebia interesse crescente por ser menos afetada pelas tarifas por conta de seu baixo envolvimento nas cadeias de suprimento global, por sua neutralidade diplomática, por valuations convidativos e por boa posição técnica.
Tudo isso combinado à possibilidade de alternância do ciclo de economia política, rumo a um direcionamento mais pró-mercado e fiscalista, em vários de seus países. O aumento do risco geopolítico é um reforço à tese. Da mesma forma que Georges Bernanos, um dos principais escritores de sua época, saiu da França para buscar refúgio e inspiração em Barbacena entre 1938 e 1945, o capital internacional também poderia buscar abrigo em terras locais.
Historicamente, ciclos de baixa do dólar estiveram associados a boa valorização da região, sendo o Brasil um dos maiores beneficiados em termos relativos. Aos 83 anos, Zé Carioca poderia estampar a capa da Economist?
PS.: numa eventual consolidação do ciclo positivo dos mercados brasileiros, nossas small caps estariam entre os ativos mais diretamente beneficiados. Estamos particularmente otimistas com a classe e, por isso, convidamos para uma conversa exclusiva sobre o tema.
Rodolfo Amstalden: Mais uma anomalia para chamar de sua
Eu sou um stock picker por natureza, mas nem precisaremos mergulhar tanto assim no intrínseco da Bolsa para encontrar oportunidade; basta apenas escapar de tudo o que é irritantemente óbvio
Construtoras avançam com nova faixa do Minha Casa, e guerra comercial entre China e EUA esfria
Seu Dinheiro entrevistou o CEO da Direcional (DIRR3), que falou sobre os planos da empresa; e mercados globais aguardam detalhes do acordo entre as duas maiores potências
Pesou o clima: medidas que substituem alta do IOF serão apresentadas a Lula nesta terça (10); mercados repercutem IPCA e negociação EUA-China
Entre as propostas do governo figuram o fim da isenção de IR dos investimentos incentivados, a unificação das alíquotas de tributação de aplicações financeiras e a elevação do imposto sobre JCP
Felipe Miranda: Para quem não sabe para onde ir, qualquer caminho serve
O anúncio do pacote alternativo ao IOF é mais um reforço à máxima de que somos o país que não perde uma oportunidade de perder uma oportunidade. Insistimos num ajuste fiscal centrado na receita, sem anúncios de corte de gastos.
Celebrando a colheita do milho nas festas juninas e na SLC Agrícola, e o que esperar dos mercados hoje
No cenário global, investidores aguardam as negociações entre EUA e China; por aqui, estão de olho no pacote alternativo ao aumento do IOF
Azul (AZUL4) no vermelho: por que o negócio da aérea não deu samba?
A Azul executou seu plano com excelência. Alcançou 150 destinos no Brasil e opera sozinha em 80% das rotas. Conseguiu entrar em Congonhas. Chegou até a cair nas graças da Faria Lima por um tempo. Mesmo assim, não escapou da crise financeira.
A seleção com Ancelotti, e uma empresa em baixa para ficar de olho na bolsa; veja também o que esperar para os mercados hoje
Assim como a seleção brasileira, a Gerdau não passa pela sua melhor fase, mas sua ação pode trazer um bom retorno, destaca o colunista Ruy Hungria
A ação que disparou e deixa claro que mesmo empresas em mau momento podem ser ótimos investimentos
Às vezes o valuation fica tão barato que vale a pena comprar a ação mesmo que a empresa não esteja em seus melhores dias — mas é preciso critério
Apesar da Selic, Tenda celebra MCMV, e FII do mês é de tijolo. E mais: mercado aguarda juros na Europa e comentários do Fed nos EUA
Nas reportagens desta quinta, mostramos que, apesar dos juros nas alturas, construtoras disparam na bolsa, e tem fundo imobiliário de galpões como sugestão para junho
Rodolfo Amstalden: Aprofundando os casos de anomalia polimórfica
Na janela de cinco anos podemos dizer que existe uma proporcionalidade razoável entre o IFIX e o Ibovespa. Para todas as outras, o retorno ajustado ao risco oferecido pelo IFIX se mostra vantajoso
Vanessa Rangel e Frank Sinatra embalam a ação do mês; veja também o que embala os mercados hoje
Guerra comercial de Trump, dados dos EUA e expectativa em relação ao IOF no Brasil estão na mira dos investidores nesta quarta-feira
O Brasil precisa seguir as ‘recomendações médicas’: o diagnóstico da Moody’s e o que esperar dos mercados hoje
Tarifas de Trump seguem no radar internacional; no cenário local, mercado aguarda negociações de Haddad com líderes do Congresso sobre alternativas ao IOF
Crônica de uma ruína anunciada: a Moody’s apenas confirmou o que já era evidente
Três reformas estruturais se impõem como inevitáveis — e cada dia de atraso só agrava o diagnóstico
Tony Volpon: O “Taco Trade” salva o mercado
A percepção, de que a reação de Trump a qualquer mexida no mercado o leva a recuar, é uma das principais razões pelas quais estamos basicamente no zero a zero no S&P 500 neste ano, com uma pequena alta no Nasdaq
O copo meio… cheio: a visão da Bradesco Asset para a bolsa brasileira e o que esperar dos mercados hoje
Com feriado na China e fala de Powell nos EUA, mercados reagem a tarifas de Trump (de novo!) e ofensiva russa contra Ucrânia
Você já ouviu falar em boreout? Quando o trabalho é pouco demais: o outro lado do burnout
O boreout pode ser traiçoeiro justamente por não parecer um problema “grave”, mas há uma armadilha emocional em estar confortável demais
De hoje não passa: Ibovespa tenta recuperação em dia de PIB no Brasil e índice favorito do Fed nos EUA
Resultado do PIB brasileiro no primeiro trimestre será conhecido hoje; Wall Street reage ao PCE (inflação de gastos com consumo)
A Petrobras (PETR4) está bem mais próxima de perfurar a Margem Equatorial. Mas o que isso significa?
Estimativas apontam para uma reserva de 30 bilhões de barris, o que é comparável ao campo de Búzios, o maior do mundo em águas ultraprofundas — não à toa a região é chamada de o “novo pré-sal”
Prevenir é melhor que remediar: Ibovespa repercute decisão judicial contra tarifaço, PIB dos EUA e desemprego no Brasil
Um tribunal norte-americano suspendeu o tarifaço de Donald Trump contra o resto do mundo; decisão anima as bolsas
Rodolfo Amstalden: A parábola dos talentos financeiros é uma anomalia de volatilidade
As anomalias de volatilidade não são necessariamente comuns e nem eternas, pois o mercado é (quase) eficiente; mas existem em janelas temporais relevantes, e podem fazer você ganhar uma boa grana