Felipe Miranda: Em busca do heroísmo genuíno
O “Império da Lei” e do respeito à regra, tão caro aos EUA e tão atrelado a eles desde Tocqueville e sua “Democracia na América”, vai dando lugar à necessidade de laços pessoais e lealdade individual, no que, inclusive, aproxima-os de uma caracterização tipicamente brasileira
“Em busca do heroísmo genuíno” não tem a importância histórica da “Proposta Larida”, claro, mas é meu texto predileto de André Lara Resende. Se, depois do Iluminismo, não podemos mais nos apoiar na onipotência e na onisciência de Deus, qual será nossa grande referência?
"Se Deus está morto”, para usar a expressão clássica não-literal de Nietzsche, no sentido de que foi sobrepujado pela luz da razão e pela perda da fé nos valores tradicionais, restam-nos reis que não foram ungidos por um poder transcendental ou uma república laica, escorada em leis, princípios e instituições mundanas. E se não pertencemos ao sagrado, estamos mais próximos do profano.
O problema é que a sociedade moderna enterrou Deus sem colocar nada à altura em seu lugar. Nada poderá ter a mesma legitimidade percebida do que o divino. Haverá falhas, rachaduras e imperfeições, permitindo insurgências contra o status quo e divisões da sociedade. Só Deus não pode ser questionado.
O discurso da moda agora defende o “homem desconstruído”. Momentos estranhos em que enaltecemos a destruição, em vez da construção. Matamos o “Ânimus" em prol de um discurso identitário incapaz de propor algo novo consistente, incorrendo no risco do niilismo social. Se você está desconstruído, o que resta de você? Um grande terreno baldio representaria seu psiquismo.
Não há mais mitos, símbolos, referências ou heróis. Sem a dimensão do simbólico, perdemos aquilo em que nos espelhamos, o objetivo a ser perseguido, uma espécie de sentido capaz de unir sociedades e famílias. Só sobra o nada.
Há cerca de 80 anos, para evitar uma terceira guerra mundial que extinguiria nossa espécie, organizamos um pouco a coisa com o multilateralismo, o fortalecimento da ONU, a OEA, a Unesco, os tribunais internacionais. Criamos o GATT (que viria a se tornar a OMC), a OTAN protegia o Ocidente (e seus valores tradicionais). E, claro, a própria Segunda Guerra Mundial foi definida a partir da aliança umbilical típica entre Estado norte-americano, suas universidades e o setor privado.
Leia Também
Como nos lembra Yuval Harari, parecíamos ter alcançado uma grande conquista: um acordo institucionalizado de que um país/povo não poderia invadir a nação do coleguinha. E para quem estuda processos civilizatórios sob uma perspectiva histórica, essa questão da segurança e da não-invasão foi das mais notáveis. Colhemos os dividendos da paz por um período prolongado sem precedentes.
Toda essa Ordem Mundial foi articulada, liderada e coordenada pelos EUA, que, num processo endógeno e autorreflexivo, também se beneficiavam dela. Eram eles os defensores dos valores ocidentais clássicos, o xerife do mundo, a referência de instituições inclusivas e de aumento da produtividade dos fatores, a liberdade de imprensa, de pensamento universitário e do judiciário.
- SAIBA MAIS: Fique por dentro das principais notícias do mercado. Cadastre-se no clube de investidores do Seu Dinheiro e fique atualizado sobre economia diariamente
E o que vemos agora?
Ataques frontais ao multilateralismo e ao livre-comércio, tentativa de direcionamento do pensamento a algumas das principais universidades norte-americanas (Harvard é o exemplo mais representativo), punições a juízes da Suprema Corte de jurisdição alheia e soberana (com isso, não pretendo diminuir ou relativizar os excessos e abusos do STF), tentativas de reduzir preços de medicamentos na marra a partir de ameaças a farmacêuticas, críticas ao Banco Central (Gleisi, é você?), demissão a chefe do departamento das estatísticas oficiais, num movimento de fazer inveja à interferência de Cristina Kirchner no Indec — quem sabe poderíamos exportar Márcio Pochmann para o cargo? Sem tarifas sobre ele, claro…
Em resumo, os EUA afrontam aquilo que foram há pelo menos 80 anos. Emitem sinais contundentes e sucessivos de perda de previsibilidade, de maior arbitrariedade e menor impessoalidade, afastando-se de algumas de suas características mais constitutivas. O “Império da Lei” e do respeito à regra, tão caro aos EUA e tão atrelado a eles desde Tocqueville e sua “Democracia na América”, vai dando lugar à necessidade de laços pessoais e lealdade individual, no que, inclusive, aproxima-os de uma caracterização tipicamente brasileira.
“Você sabe com quem está falando?”, a terrível frase em tom de ameaça descrita por Roberto da Matta como definidora da matriz brasileira, poderia muito bem sair da boca de um defensor do movimento MAGA.
Os sinais se acumulam em desfavor do dólar. Não no sentido de perda de seu papel como reserva de valor ou uso no comércio global. Muito menos ainda com a estúpida ideia de sua substituição pela “moeda dos BRICs”, essa alucinação. Mas de uma perda de sua importância relativa e da diversificação entre outras moedas e ativos, levando a uma gradual mas consistente perda de valor da moeda norte-americana, em favor de todo o resto (e lá vai o ouro para cima dos US$ 3.500 de novo!). Os dados de emprego abaixo do esperado por lá são apenas um reforço conjuntural a uma tendência mais estrutural e de longo prazo.
- Leia também: Felipe Miranda: O duelo
Inversão de papéis
Enquanto isso, a esquerda latino-americana, que começa a sentir os efeitos do “Corolário Trump à Doutrina Monroe”, agora se torna defensora do livre-comércio e da globalização que tanto combateu. Eram felizes e não sabiam quando encontravam o liberalismo como seu principal antagonista. Defenestraram tanto o "consenso de Washington” que agora não sabem enfrentar algo muito pior.
Cuidado com o que se deseja! Veremos as consequências da ausência de líderes verdadeiramente liberais. Vivemos tempos em que Lula cita Ronald Reagan e Margareth Thatcher em tom elogioso e saudosista — talvez engane quem não viveu à época ou quem desconhece o nível de fechamento da economia brasileira.
Se os EUA vão se tornando, ao menos circunstancialmente, mais parecidos com os laços de afetividade e pessoalidade das “Raízes do Brasil”, o que resta pra gente? Em que o Brasil pode se tornar?
Torço para que seja uma inversão de papéis, para que possamos mirar a referência dos EUA como representantes da democracia liberal. Temo, no entanto, que sigamos ensimesmados nas nossas próprias referências históricas, tendo em Macunaíma o exemplo a ser perseguido, o herói sem nenhum caráter, duplamente preguiçoso.
Estamos muito baratos, os juros vão cair lá fora e, depois, a Selic também vai ceder por aqui, as tarifas serão bem mais brandas do que o inicialmente previsto diante de tantas isenções. É só não capotar na reta.
Infelizmente, enquanto uns têm o “Destino Manifesto”, outros se mantêm no “Manifesto Antropofágico”. Com essas referências, os riscos de capotagem na reta desafiam a mecânica clássica.
Investir com emoção pode custar caro: o que os recordes do Ibovespa ensinam
Se você quer saber se o Ibovespa tem espaço para continuar subindo mesmo perto das máximas, eu não apenas acredito nisso como entendo que podemos estar diante de uma grande janela de valorização da bolsa brasileira — mas isso não livra o investidor de armadilhas
Seca dos IPOs ainda vai continuar, fim do shutdown e o que mais movimenta a bolsa hoje
Mesmo com Regime Fácil, empresas ainda podem demorar a listar ações na bolsa e devem optar por lançar dívidas corporativas; mercado deve reagir ao fim do maior shutdown da história dos EUA, à espera da divulgação de novos dados
Rodolfo Amstalden: Podemos resumir uma vida em uma imagem?
Poucos dias atrás me deparei com um gráfico absolutamente pavoroso, e quase imediatamente meu cérebro fez a estranha conexão: “ora, mas essa imagem que você julga horripilante à primeira vista nada mais é do que a história da vida da Empiricus”
Shutdown nos EUA e bolsa brasileira estão quebrando recordes diariamente, mas só um pode estar prestes a acabar; veja o que mais mexe com o seu bolso hoje
Temporada de balanços, movimentos internacionais e eleições do ano que vem podem impulsionar ainda mais a bolsa brasileira, que está em rali histórico de valorizações; Isa Energia (ISAE4) quer melhorar eficiência antes de aumentar dividendos
Ibovespa imparável: até onde vai o rali da bolsa brasileira?
No acumulado de 2025, o índice avança quase 30% em moeda local — e cerca de 50% em dólar. Esse desempenho é sustentado por três pilares centrais
Felipe Miranda: Como era verde meu vale do silício
Na semana passada, o mitológico investidor Howard Marks escreveu um de seus icônicos memorandos com o título “Baratas na mina de carvão” — uma referência ao alerta recente de Jamie Dimon, CEO do JP Morgan, sobre o mercado de crédito
Banco do Brasil (BBAS3) precisará provar que superou crise do agro, mercado está otimista com fim do shutdown nos EUA no horizonte, e o que mais você precisa saber sobre a bolsa hoje
Analistas acreditam que o BB não conseguirá retomar a rentabilidade do passado, e que ROE de 20% ficou para trás; ata do Copom e dados de inflação também mexem com os mercados
Promovido, e agora? Por que ser bom no que faz não te prepara para liderar pessoas
Por que seguimos promovendo técnicos brilhantes e esperando que, por mágica, eles virem líderes preparados? Liderar é um ofício — e como todo ofício, exige aprendizado, preparo e prática
Novo nome da Eletrobras em nada lembra mercado de energia; shutdown nos EUA e balanço da Petrobras também movem os mercados hoje
Depois de rebranding, Axia Energia anuncia R$ 4 bilhões em dividendos; veja o que mais mexe com a bolsa, que bate recorde depois de recorde
Eletrobras agora é Axia: nome questionável, dividendos indiscutíveis
Mesmo com os gastos de rebranding, a empresa entregou bons resultados no 3T25 — e há espaço tanto para valorização das ações como para mais uma bolada em proventos até o fim do ano
FII escondido no seu dia a dia é campeão entre os mais recomendados e pode pagar dividendos; mercado também reflete decisão do Copom e aprovação da isenção de IR
BTGLG11 é campeão no ranking de fundos imobiliários mais recomendados, Copom manteve Selic em 15% ao ano, e Senado aprovou isenção de Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil
É bicampeão! FII BTLG11 volta ao topo do ranking dos fundos mais recomendados em novembro — e tem dividendos extraordinários no radar
Pelo segundo mês consecutivo, o BTLG11 garantiu a vitória ao levar quatro recomendações das dez corretoras, casas de análise e bancos consultados pelo Seu Dinheiro
Economista revela o que espera para a Selic em 2025, e ações ligadas à inteligência artificial sofrem lá fora; veja o que mais mexe com o mercado hoje
Ibovespa renovou recorde antes de decisão do Copom, que deve manter a taxa básica de juros em 15% ao ano, e economista da Galapagos acredita que há espaço para cortes em dezembro; investidores acompanham ações de empresas de tecnologia e temporada de balanços
O segredo do Copom, o reinado do Itaú e o que mais movimenta o seu bolso hoje
O mercado acredita que o Banco Central irá manter a taxa Selic em 15% ao ano, mas estará atento à comunicação do banco sobre o início do ciclo de cortes; o Itaú irá divulgar seus resultados depois do fechamento e é uma das ações campeãs para o mês de novembro
Política monetária não cede, e fiscal não ajuda: o que resta ao Copom é a comunicação
Mesmo com a inflação em desaceleração, o mercado segue conservador em relação aos juros. Essa preferência traz um recado claro: o problema deriva da falta de credibilidade fiscal
Tony Volpon: Inteligência artificial — Party like it’s 1998
Estamos vivendo uma bolha tecnológica. Muitos investimentos serão mais direcionados, mas isso acontece em qualquer revolução tecnológica.
Manter o carro na pista: a lição do rebalanceamento de carteira, mesmo para os fundos imobiliários
Assim como um carro precisa de alinhamento, sua carteira também precisa de ajustes para seguir firme na estrada dos investimentos
Petrobras (PETR4) pode surpreender com até R$ 10 bilhões em dividendos, Vale divulgou resultados, e o que mais mexe com seu bolso hoje
A petroleira divulgou bons números de produção do 3° trimestre, e há espaço para dividendos bilionários; a Vale também divulgou lucro acima do projetado, e mercado ainda digere encontro de Trump e Xi
Dividendos na casa de R$ 10 bilhões? Mesmo depois de uma ótima prévia, a Petrobras (PETR4) pode surpreender o mercado
A visão positiva não vem apenas da prévia do terceiro trimestre — na verdade, o mercado pode estar subestimando o potencial de produção da companhia nos próximos anos, e olha que eu nem estou considerando a Margem Equatorial
Vale puxa ferro, Trump se reúne com Xi, e bolsa bateu recordes: veja o que esperar do mercado hoje
A mineradora divulga seus resultados hoje depois do fechamento do mercado; analistas também digerem encontro entre os presidentes dos EUA e da China, fala do presidente do Fed sobre juros e recordes na bolsa brasileira