Renda fixa conservadora se manterá atrativa no 2⁰ semestre, mas Tesouro Direto abriu oportunidades de retorno alto
Sem perspectiva de queda nos juros até o fim do ano, títulos atrelados à Selic seguem atrativos, mas investidor pode “travar” retornos elevados em prefixados e indexados à inflação; veja onde investir na renda fixa até o fim do ano

Com a forte volatilidade do mercado brasileiro na primeira metade de 2024, a renda fixa acabou funcionando como um porto seguro para os investidores, que foram ficando mais e mais avessos à renda variável.
Não que a classe de ativos de menor risco tenha ficado imune ao sobe e desce do mercado; afinal, os juros futuros, que impactam diretamente os preços dos ativos de renda fixa prefixados e indexados à inflação, subiram forte, impactando negativamente o desempenho de mercado desses títulos.
Por outro lado, esse aumento nas taxas futuras elevou as rentabilidades desses papéis, abrindo oportunidades para o investidor garantir, por longos prazos, remunerações acima de 11% nos prefixados e 6% mais IPCA nos indexados à inflação.
E se no início do ano o mercado esperava que a Selic chegasse à casa de um dígito, a redução nas expectativas de cortes de juros nos Estados Unidos e o aumento dos ruídos fiscais por aqui levaram o Banco Central a interromper o ciclo de cortes de juros em 10,50% ao ano na última reunião do seu Comitê de Política Monetária (Copom).
Ainda não é possível ter certeza se o ciclo de cortes chegou ao fim ou se esta foi uma pausa temporária, mas o mercado espera que a Selic permaneça em 10,50% ou, no máximo, chegue a 10,25% até o fim de 2024. Seja como for, a taxa básica ainda deve terminar o ano nos dois dígitos, o que mantém a atratividade da renda fixa, inclusive a pós-fixada, de mais baixo risco.
Para os próximos seis meses, portanto, o cardápio de recomendações dos especialistas em renda fixa é variado e incluem tanto títulos prefixados, como os pós-fixados (atrelados à Selic e ao CDI) e os indexados à inflação (atrelados ao IPCA).
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Esta matéria faz parte de uma série especial do Seu Dinheiro sobre onde investir no segundo semestre de 2024. Eis a lista completa:
- Cenário macro: a visão do gestor
- Bolsa
- Renda fixa (você está aqui)
- Bitcoin e criptomoedas
- Fundos imobiliários
- Dólar e investimentos no exterior (08/07)
- Você está preparado para ajustar sua carteira este mês? Descobrimos as principais recomendações dos analistas da Empiricus Research no novo episódio do “Onde Investir”; confira aqui
Juro alto ainda mantêm Tesouro Selic atrativo no segundo semestre
Para Marcelo Guterman, especialista de investimentos da Western Asset, o patamar atual da taxa não deve se mexer mais este ano, portanto, segue elevado. No entanto, ele acredita que a taxa tende a recuar a partir do ano que vem, o que exige atenção redobrada ao investimento.
Com isso, a escolha deve depender da aposta do investidor sobre o cenário. Caso o BC volte a reduzir a Selic a partir do ano que vem, títulos pós-fixados como o Tesouro Selic também perderão rendimento. Por isso, o título é indicado como o mais seguro apenas se o investidor quiser deixar o dinheiro investido por pouco tempo, e isso vale para o segundo semestre.
“O que o investidor precisa olhar é, primeiramente, o cenário externo. Se o Federal Reserve começar a cortar as taxas de juros, isso cria espaço para que o nosso BC também derrube a Selic por aqui. Nossa aposta é de que o Fed reduza as taxas ainda este ano”, disse Guterman.
Em segundo lugar, de acordo com o especialista da Western, o investidor deve ficar atento às discussões sobre a questão fiscal. Atualmente, a falta de sinalização do governo em relação ao corte de gastos e a ausência de âncora fiscal clara têm contribuído para as revisões que elevaram as expectativas de juros e inflação, aumentando as incertezas sobre a política monetária.
Volatilidade e possível queda de juros exigem cautela
Para Guterman, o investidor deve olhar para a sua própria aversão ao risco e seu horizonte de investimentos. “Se for um investimento de curto prazo, não adianta ficar especulando. Mas, se for no longo prazo, vai depender muito do ‘estômago’ do investidor.”
Para os investimentos de longo prazo e com a perspectiva de Selic em queda no ano que vem, a recomendação são os títulos públicos Tesouro Prefixado e Tesouro IPCA+ para proteção contra a inflação. No entanto, o especialista alerta: “Embora os títulos prefixados e indexados ao IPCA estejam com taxas excelentes, o investidor deve esperar volatilidade até o cenário previsto se concretizar.”
“Para quem pode segurar o dinheiro até o final do ano que vem, o Tesouro Prefixado é a melhor opção. Caso contrário, pode ter prejuízo no caminho. A taxa pode subir mais e, com a marcação a mercado, o risco é ter prejuízo ao retirar antes do prazo”, afirma o especialista.
Em relação ao prefixado, o especialista citou o Título Prefixado com vencimento em janeiro de 2026. Vale lembrar que o Tesouro Prefixado 2026 não está disponível no Tesouro Direto apenas no mercado secundário, via mesa de operações da corretora. O título com vencimento mais próximo no Tesouro Direto hoje é o Tesouro Prefixado 2027.
Proteção contra a inflação é boa opção, mas prefixados também têm lugar
Já Odilon Costa, head de Renda Fixa da SWM, acredita que a Selic ainda deve permanecer alta também pelo próximo ano, enquanto a inflação deve permanecer baixa. Nesse cenário, ele afirma que a instituição está “bastante construtiva” em relação aos títulos pós-fixados.
São investimentos atrelados a um indicador econômico, como o CDI ou a taxa Selic. Além disso, a remuneração é definida no momento de seu vencimento ou resgate. É o caso do título público Tesouro Selic, mas também de títulos bancários como CDBs, LCIs e LCAs indexados ao CDI, investimentos esses que costumam ser indicados inclusive para investidores iniciantes e/ou mais conservadores.
Ao mesmo tempo em que garantem que o poder de compra do investimento não seja corroído ao longo do tempo, os pós-fixados também oferecem a possibilidade de ganhos maiores em cenários de alta de juros. “Para quem quer ter pouca volatilidade, os pós-fixados continuam fazendo bastante sentido”, afirma o especialista.
Outra boa opção, segundo Costa, são os ativos indexados à inflação, como o título público Tesouro IPCA+, mais voltados para as pessoas que querem se proteger dos efeitos da inflação, principalmente em prazos mais longos.
Ele cita especialmente os títulos com prazo de vencimento de 5 a 7 anos. Entre as opções disponíveis no Tesouro Direto está o Tesouro IPCA+ 2029.
“Nós estamos em um momento em que, dadas todas as incertezas fiscais e externas, as taxas desses títulos continuam atrativas. Faz muito sentido você ter um pouco de IPCA+ 6,20%, por exemplo, na carteira”, afirma Odilon Costa. “Ainda que isso custe alguma volatilidade no curto prazo.”
O especialista também citou os prefixados. “Hoje, o cenário que o mercado traça é de uma Selic constante até o final do ano que vem. Porém, o prêmio pago nas aplicações prefixadas [ spreads, prêmio adicional em relação à taxa básica de juros, no caso dos títulos públicos, ou aos títulos públicos, no caso dos títulos privados], principalmente as que vencem em 2026 e 2027, oferecem uma Selic terminal próxima de 11,75%, ou 12%. Então, existe um prêmio de remuneração nos ativos prefixados”, afirma.
Embora a recomendação do head de Renda Fixa da SWM seja de que os ativos atrelados ao CDI e ao IPCA devam ser o “grande bolo” da carteira, é recomendado ter um título prefixado com vencimento mais curto compondo entre 5% e 15% da carteira de investimentos, segundo ele.
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Debêntures, CRIs e CRAs
No crédito privado, os ativos isentos de Imposto de Renda, como as Debêntures Incentivadas, CRIs (Certificado de Recebíveis Imobiliários) e CRAs (Certificado de Recebíveis do Agronegócio), oferecem vantagens atrativas, de acordo com o especialista da SWM.
Além da isenção de IR, esses títulos também têm emissões atreladas ao IPCA+, com mais uma taxa de prêmio em relação aos títulos públicos. Para Odilon, embora os juros permaneçam em patamares elevados, o ciclo de crédito no Brasil tende a se manter estável, ou até mesmo piorar.
Por conta disso, os investidores devem priorizar empresas “defensivas”, segundo ele. Em outras palavras, priorize os emissores considerados bons pagadores, com melhor classificação de risco (rating).
“Buscar mais risco de crédito com o objetivo de melhorar a rentabilidade da carteira talvez não seja oportuno na conjuntura atual”, alerta.
O setor de utilidades, ou seja, as empresas que prestam serviços públicos essenciais, como energia elétrica e saneamento, deve seguir como o favorito para esse tipo de aplicação.
O que o investidor precisa analisar
Mais do que o cenário macro, os investidores que desejam aportar em opções de renda fixa precisam avaliar prazos, indexadores e os devedores dos títulos públicos e privados, afirma Odilon.
O primeiro ponto de atenção é se o banco central dos EUA dará mais pistas sobre os próximos passos da política monetária por lá. “Uma queda nos juros pelo Fed pode resultar em uma queda de juros longos, trazendo mais flexibilidade para a queda de juros no Brasil”, diz.
Além disso, o fator fiscal na política interna também deve ser levado em consideração. No caso, o equilíbrio das contas públicas e as medidas do governo Lula para cortar gastos.
Por fim, o mercado deve ficar atento à “credibilidade” do Banco Central, especialmente após a saída do atual presidente da autoridade monetária, Roberto Campos Neto, no final do ano.
“Esses serão os grandes pontos de atenção no mercado, pois são três fatores que podem influenciar a inflação e os juros mais para frente”, conclui o especialista em renda fixa.
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