‘Pai’ do Tesouro RendA+ defende criação de título público para recompensar mulheres por terem filhos
Com a queda nas taxas de natalidade no Brasil e no mundo e o peso financeiro da maternidade, especialista em previdência Arun Muralidhar propõe a criação de um ativo que ajude as mulheres a criarem seus filhos – especialmente as mães solo
Um dos responsáveis pelas ideias que embasam os títulos públicos Tesouro RendA+ e Tesouro Educa+ defende agora a criação de um novo tipo de título emitido pelo governo, desta vez voltado para as mulheres que se tornam mães, para ajudar nas despesas com a criação dos filhos.
Em artigo recente, o especialista em previdência e PhD em Economia e Finanças Gerenciais pelo M.I.T., Arun Muralidhar, diz que a criação de ativos nos moldes dos dois novos títulos do Tesouro Direto podem ajudar o Brasil a endereçar o desafio global da equidade de gênero nas aposentadorias ou da compensação financeira para as mulheres, uma vez que a maternidade tende a impactar negativamente a carreira e as finanças delas.
No texto, escrito em coautoria com o economista Alexandre Vitorino e a jornalista Luciene Miranda, Muralidhar diz que “este novo título ajudaria as mães com a complementação de renda tão necessária em casa, uma vez que muitas delas – para além dos problemas de desigualdade de gênero enfrentados no trabalho – pagam sozinhas as despesas da casa, como aluguel, energia, água e alimentação.”
“A renda extra gerada pelo novo título ajudaria essas mães a proverem um ambiente seguro para as crianças, a fim de criá-las com condições de qualidade em casa e, na conclusão do ciclo, as enviarem para a faculdade”, dizem os autores. “Nós, assim, recomendamos que as mulheres sejam compensadas por terem filhos.”
- LEIA TAMBÉM: Títulos de renda fixa ‘premium’ estão chamando a atenção dos investidores em meio à queda da Selic; veja como capturar taxas de até IPCA + 10%
Queda na população pode ser um grande problema para a economia de um país
O declínio populacional já é uma realidade em diversos países desenvolvidos, e mesmo países emergentes vêm experimentando uma queda no crescimento demográfico. O fenômeno é muito observado na Europa e na Ásia, mas também no Brasil.
Muralidhar, Vitorino e Miranda lembram que, segundo o IBGE, a taxa de crescimento médio da população vem recuando desde os anos 1960, e recentemente atingiu 0,52%, o menor nível desde 1872, quando o recenseamento começou no país.
“As razões para este declínio são complicadas, mas há um conjunto de fatos bem conhecidos”, dizem os autores, que enumeram:
- Mulheres tipicamente ganham menos que os homens pelo mesmo trabalho;
- Mulheres frequentemente precisam pausar a carreira quando têm filhos ou gastar sua renda com cuidados com os filhos quando eles são pequenos;
- Mulheres são normalmente as cuidadoras principais dos pais, novamente interrompendo a geração de renda regular;
- A expectativa de vida feminina é, em média, maior que a dos homens, resultando numa necessidade maior de recursos para a aposentadoria.
“Como resultado, ter filhos se torna ‘caro’ para as mulheres, o que leva muitas delas a não se tornarem mães ou terem poucos filhos”, escrevem.
No entanto, quando esse fenômeno se torna disseminado na população feminina, acaba afetando a chamada “Infraestrutura Demográfica”. Declínio populacional pode se tornar um grande problema para um país, acarretando redução da mão de obra e, com as pessoas vivendo cada vez mais, pesando sobre os gastos públicos com Previdência, uma vez que há menos jovens para sustentar as aposentadorias e pensões de mais idosos.
- Previdência privada: qual é a melhor alternativa para o seu futuro? Veja como escolher o plano ideal
Iniciativas como Tesouro RendA+ e Tesouro Educa+ indicam um caminho
Neste sentido, acreditam os autores, o Tesouro Nacional brasileiro poderia aproveitar a mecânica dos títulos Tesouro RendA+ e Tesouro Educa+ para emitir uma nova modalidade de título público gerador de renda por um prazo determinado a fim de complementar a renda das mulheres que se tornam mães e reduzir a desigualdade de gênero nas finanças.
O Tesouro RendA+ é um título público destinado à poupança para a aposentadoria, que gera, a partir de uma data futura, uma renda mensal corrigida pela inflação por um prazo de 20 anos. Já o Educa+ segue a mesma lógica, porém a renda mensal é paga por um prazo de cinco anos.
O Brasil foi o primeiro país a adotar esse tipo de título, que se baseia no conceito de SelfiES, criado por Muralidhar e o Nobel de Economia Robert Merton. Trata-se de um tipo de ativo que permite ao investidor poupar aos poucos, por um determinado prazo, com vistas ao pagamento futuro de uma renda, que complementaria a sua aposentadoria pública.
“A experiência do Brasil com o Bolsa Família mostrou as vantagens de fazer pagamentos às mulheres, por isso o RendA+ e o Educa+ ajudam mulheres e famílias a planejarem não só os pagamentos de curto prazo, do dia a dia, mas também o seu futuro de longo prazo e o de seus filhos”, escrevem, lembrando que o custo de tal iniciativa seria transparente pelo Tesouro, e seria possível medir os resultados do programa e seu impacto econômico.
O futuro da mulher e de seus filhos
Segundo me contou Muralidhar, ele já chegou iniciar a conversa sobre o novo título com o Tesouro Nacional, que também tem suas próprias ideias sobre como apoiar as mães por meio de títulos públicos.
Outros países também têm considerado alternativas para manter o crescimento populacional. É o caso da Austrália, que vai passar a reforçar o plano de aposentadoria de casais que tiverem filhos. Muralidhar, Vitorino e Miranda mencionam também o caso de Gana, que também passou a contemplar uma iniciativa de emissão de “baby bonds”.
Mesmo as políticas de melhoria nas licenças-maternidade e paternidade, bem como igualdade salarial, caminham nesse sentido de prevenir ou reverter o declínio populacional.
No entanto, Muralidhar acredita que um “Tesouro Mamãe+” poderia ser ainda mais interessante, por ser um instrumento que poderia garantir o futuro tanto da mãe quanto da criança.
É O FIM DA PREVIDÊNCIA PRIVADA? VEJA SE O TESOURO RENDA+ PODE ACABAR COM OS PGBLs e VGBLs
Órfão das LCI e LCA? Banco indica 9 títulos isentos de imposto de renda que rendem mais que o CDI e o Tesouro IPCA+
Itaú BBA recomenda nove títulos de renda fixa, entre debêntures, CRIs e CRAs, acessíveis para investidores em geral e isentos de IR
Ficou mais difícil investir em LCI e LCA após mudanças nas regras? Veja que outras opções você encontra no mercado
Prazo de carência de LCIs e LCAs aumentou de três para 12 ou nove meses, respectivamente; além disso, emissões caíram e taxas baixaram. Para onde correr?
Meu CRI, Minha Vida: em operação inédita, Opea capta R$ 125 milhões para financiar imóvel popular de clientes da MRV
A Opea Securitizadora e a fintech EmCash acabam de anunciar a emissão do primeiro CRI voltado ao financiamento de unidades lançadas pela MRV dentro do programa habitacional do governo federal
Onde investir na renda fixa após tantas mudanças de regras e expectativas? Veja as recomendações das corretoras e bancos
Mercado agora espera que corte de juro seja menos intenso, e mudanças nos títulos isentos ocasionou alta da demanda por debêntures incentivadas, com queda nas taxas; para onde a renda fixa deve ir, então?
O risco do Tesouro Direto que não te contaram (spoiler: tem a ver com inflação e imposto de renda)
Mordida do Leão sobre o Tesouro IPCA+ ocorre não só sobre o retorno real do título, mas também sobre a variação da inflação; e isso tem implicações para o investidor
A vez da renda fixa: Debêntures impulsionam mercado de capitais no 1T24 após “fim da farra” das LCIs e LCAs
A captação do mercado de capitais chegou ao recorde de R$ 130,9 bilhões entre janeiro e março deste ano, impulsionada pelas ofertas de renda fixa
Está faltando papel? Emissões de LCIs e LCAs caíram pela metade depois de aumento do prazo de carência
Levantamento do JP Morgan mostra queda anual de 40% nas novas emissões de LCIs e LCAs e baixas de 50% a 60% desde aprovação das novas regras; estudo da XP também mostra impacto das medidas na emissão de CRIs e CRAs
Debêntures incentivadas viraram o porto seguro da isenção de IR, mas ainda valem a pena?
Títulos de dívida emitidos por empresas estão entre os melhores investimentos do ano, com alta de mais de 3,50%; em 12 meses, ganhos ultrapassam 18,50%. Mas depois de toda essa valorização, taxas continuam atrativas?
Mesmo com a Selic em queda, taxas do Tesouro Direto subiram e voltaram aos níveis de outubro de 2023; vale a pena investir agora?
Títulos públicos mais longos acumulam queda neste início de ano; no caso do Tesouro IPCA+ remuneração voltou a se aproximar dos 6% ao ano mais inflação
Quanto rendem R$ 100 mil na poupança, no Tesouro Direto e em CDB com a Selic em 10,75%?
Banco Central cortou a taxa básica em mais 0,50 ponto percentual nesta quarta; veja como a rentabilidade dos investimentos conservadores deve reagir
Leia Também
-
Governo antecipa décimo terceiro de aposentados e pensionistas; veja quando o dinheiro cairá na conta
-
Sem revisão da vida toda para a aposentadoria: STF anula julgamento da própria Corte e livra INSS de impacto de até R$ 480 bilhões
-
STF se prepara para retomar julgamento sobre revisão da vida toda do INSS
Mais lidas
-
1
Vale (VALE3) e a megafusão: CEO da mineradora brasileira encara rivais e diz se pode entrar na briga por ativos da Anglo American
-
2
Preço dos imóveis sobe em São Paulo: confira os bairros mais buscados e valorizados na cidade, segundo o QuintoAndar
-
3
Imposto de 25% para o aço importado: só acreditou quem não leu as letras miúdas