Ainda estou aqui: o recado do maior banco central do mundo sobre os juros antes da chegada de Trump e que derrubou as bolsas e fez o dólar disparar
O Federal Reserve cortou os juros em 25 pontos-base como indicavam as apostas do mercado e dá um spoiler do que pode acontecer a partir de 2025, quando o governo norte-americano será comandado pelo republicano
![Imagem mostra Jerome Powell como grande estrela do mercado financeiro](https://media.seudinheiro.com/uploads/2021/08/Show-Jerome-Powell-Centro-Luzes-715x402.jpg)
Mesmo que você não seja ligado ao cinema, é praticamente impossível ignorar o sucesso de “Ainda estou aqui”, que recebeu, junto com a atriz Fernanda Torres, indicações ao Globo de Ouro e flerta com o Oscar. Muito menos estelar do que o filme brasileiro, a decisão dos juros do Federal Reserve (Fed) desta quarta-feira (18) também será difícil de ser ignorada — especialmente por Donald Trump.
Na última reunião de 2024, o banco central norte-americano seguiu o roteiro: cortou os juros em 25 pontos-base (pb), devolvendo a taxa para o mesmo patamar de dezembro de 2022, colocando-a na faixa entre 4,25% e 4,50% ao ano.
Pela segunda reunião consecutiva, um membro do comitê de política monetária (Fomc, na sigla em inglês) discordou da decisão: a presidente do Fed de Cleveland, Beth Hammack, votou para que o Fed mantivesse inalterada. Em novembro, Michelle Bowman não endossou o corte de 25 pb, na primeira vez que uma diretora votou contra uma decisão desde 2005.
Apesar de não ter sido unânime, o terceiro corte consecutivo dos juros na maior economia do mundo vem com um recado: o Fed ainda está aqui.
Só que diferente do filme, que conta uma história que todos nós já sabemos o final, o que acontece a partir de agora na política monetária dos EUA é uma incógnita — e muito tem a ver com o fato de as promessas de Trump para o segundo mandato terem o potencial de acelerar uma inflação que já dá sinais de reaquecimento.
A reação da plateia foi digna de um filme arrasa-quarteirão. Wall Street passou a operar no vermelho, com o S&P 500, o Nasdaq e o Dow Jones recuando mais de 1% cada.
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O índice DXY, que mede o dólar ante uma cesta de rivais fortes, também subiu 1%, enquanto os yields (retornos) dos títulos do Tesouro dos EUA aceleraram os ganhos, renovando máximas intradiárias. O T-note de dez anos, referência do mercado, chegou a tocar nos 4,50%.
Já o VIX, índice conhecido como termômetro do medo em Wall Street, saltou mais de 20% na tarde de hoje.
Por aqui, o dólar no mercado à vista renovou máxima ao atingir R$ 6,2707 (+2,86%). A moeda norte-americana fechou o dia cotada a R$ 6,2657 (+2,78%).
O Ibovespa renovou uma série de mínimas do dia, chegando ao piso da sessão, aos 120.941,73 pontos (-3,01%). O principal índice da bolsa brasileira fechou o dia com baixa de 3,15%, aos 120.771,88 pontos.
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A decisão dos juros veio com spoiler
“Ainda estou aqui” é baseado no livro de Marcelo Rubens Paiva, em que ele conta a história da própria família — portanto, seu sucesso nada tem a ver com um desfecho surpreendente ou inesperado.
Ainda assim, qualquer um que assista o filme não quer spoiler — algo bem diferente da decisão do Fed de hoje. Tudo o que o mercado deseja é saber o que o aguarda em 2025 — no caso da política monetária, surpresas nunca são bem-vindas.
O comunicado de hoje mudou pouco, exceto por um ajuste em relação à "extensão e ao momento" de novas mudanças nos juros — uma ligeira alteração na linguagem em relação à reunião de novembro.
Acontece que a decisão veio acompanhada das últimas projeções econômicas do Fomc do ano — e elas dizem muito sobre o que pode acontecer a partir de 2025 nos EUA de Trump.
O ponto alto das projeções é o dot plot. O chamado gráfico de pontos dá uma ideia do que os membros do Fomc esperam para os juros na maior economia do mundo.
Ao entregar o corte de 25 bp de hoje, o Fed indicou que provavelmente reduzirá a taxa apenas mais duas vezes em 2025 — uma projeção que caiu pela metade em relação às intenções do comitê quando o dot plot foi atualizado pela última vez, em setembro.
Assumindo reduções de 25 bp, as autoridades indicaram mais dois cortes em 2026 e outro em 2027. No longo prazo, o comitê vê a taxa de juros neutra — aquela que não superaquece e nem esfria a economia — em 3%, 0,1 ponto percentual a mais do que a atualização de setembro.
O Fed divulga projeções a cada três meses — a última vez que isso aconteceu foi em setembro. Confira o que mudou de lá para cá segundo as previsões atualizadas hoje:
Juros
- 2025: 3,9% de 3,4% previstos em setembro
- 2026: 3,4% de 2,9% previstos em setembro
- 2027: 3,1% de 2,9% previstos em setembro
- Longo prazo: 3,0% de 2,9% previstos em setembro
PIB dos EUA
- 2025: 2,1% de 2,0% previstos em setembro
- 2026: mantido em 2,0%
- 2027: 1,9% de 2,0% previstos em setembro
- Longo prazo: mantido em 1,8%
Inflação medida pelo PCE
- 2025: 2,5% de 2,1% previstos em setembro
- 2026: 2,1% de 2,0% previstos em setembro
- 2027: mantido em 2,0%
- Longo prazo: mantido em 2,0%
Taxa de desemprego
- 2025: 4,3% de 4,4% previstos em setembro
- 2026: mantido em 4,3%
- 2027: 4,3% de 4,2% previstos em setembro
- Longo prazo: mantida em 4,2%
O corte de juros desta quarta ocorreu mesmo que o Fomc tenha aumentado a projeção para o crescimento do PIB de 2024 para 2,5%, meio ponto percentual a mais do que setembro. No entanto, nos anos seguintes, os membros do comitê esperam que as economia norte-americana desacelere para a projeção de longo prazo de 1,8%.
Outras mudanças nas projeções fizeram com que o Fomc reduzisse a estimativa para a taxa de desemprego em 2024 de 4,4% para 4,2%, enquanto a inflação foi empurrada para cima, de 2,3% para 2,4% neste ano.
Vale destacar que, embora essas condições sejam mais consistentes com a manutenção ou aumento dos juros, os membros do Fomc estão cautelosos com o aperto monetário, já que não desejam arriscar uma desaceleração desnecessária na economia norte-americana.
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Powell ainda está aqui
Trump toma posse em 20 de janeiro de 2025. A próxima reunião do Fomc acontece depois disso, nos dias 28 e 29 de janeiro.
O retorno do republicano representa muito mais do que a já conhecida relação tempestuosa com o Fed e com o próprio presidente da instituição, Jerome Powell — o novo chefe da Casa Branca é um crítico contumaz da política monetária norte-americana.
Dessa vez, Trump traz consigo um pacote de medidas que prometem dificultar — e muito — a vida dos membros do BC norte-americano.
Aumento de tarifas, corte de impostos e uma política de imigração mais dura são apenas algumas das principais medidas que o presidente eleito promete emplacar assim que sentar à mesa do Salão Oval e começar a assinar decretos.
Todas essas medidas, que, por ora, ainda estão no campo das promessas, têm o potencial de acelerar uma inflação que volta a deixar o Fed e o mercado atentos.
Ao conceder a última coletiva do ano, Powell endereçou essas e outras preocupações.
O chefão do Fed começou suas declarações reafirmando o compromisso em levar a inflação dos EUA para 2% ao ano.
De acordo com ele, a economia norte-americana está forte e fez progressos significativos em direção aos objetivos do BC: o mercado de trabalho esfriou, embora continue sólido, e a inflação se aproximou mais da meta de longo prazo.
"Estamos comprometidos em manter a força da nossa economia apoiando o pleno emprego e devolvendo a inflação à meta de 2%", afirmou.
Powell destacou ainda que um amplo conjunto de indicadores sugere que as condições no mercado de trabalho estão agora menos aquecidas do que em 2019. "O mercado de trabalho não é uma fonte de pressão inflacionária significativa", disse.
O chefão do Fed também mandou um recado ao mercado: as projeções para os juros não conduzem as decisões do Fomc.
"Essas projeções não são um plano ou a decisão do comitê, pois à medida que a economia evolui, a política monetária se ajustará para promover melhor nossas metas de pleno emprego e estabilidade de preços", disse Powell.
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