Galípolo abre o jogo sobre divergências de membros do Banco Central e corte de juros nos EUA
Em evento hoje, o diretor de Política Monetária ainda falou sobre autonomia do BC e importância dos dados para tomada de decisão do Copom em setembro
Os membros do Banco Central podem até discordar, como na decisão rachada sobre a magnitude do corte da Selic em maio, mas essas divergências são apenas “granulares”, afirmou Gabriel Galípolo, diretor de Política Monetária, em evento hoje em Teresina (PI).
Galípolo explicou que a autoridade monetária adota uma série de modelos para monitorar os dados e que se apoiam em muitos modelos de câmbio para o processo decisório.
No caso da decisão dividida, de cinco votos a quatro por uma redução de 0,25 ponto porcentual na Selic em maio, ele disse que a decisão estava dentro do intervalo do modelo de confiança para um horizonte de 18 meses.
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“Como está todo mundo exposto àqueles dados e aos cenários que são feitos, está todo mundo com uma visão que foi compartilhada ali, do ponto de vista daquilo que foi municiado e aí essas divergências acabam sendo divergências que são mais granulares, não são divergências que têm um impacto muito relevante", disse o diretor do BC.
Ele ainda ponderou que o País está passando pela primeira experiência da autonomia do BC e que isso não significa que haverá rupturas, por causa da institucionalidade. Galípolo reconheceu, no entanto, que na reta final do processo decisório pode haver um "judgement call".
"Eu realmente acho que a melhor coisa que pode acontecer com a autonomia do BC é que essas decisões estratégicas sejam o mais colegiadas possível, que a gente não tenha decisões monocráticas", afirmou o diretor.
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Copom de setembro: o que esperar?
Se a decisão será dividida no próximo Copom, em setembro, ainda não se sabe. Mas Galípolo reforçou que os dados econômicos permanecem relevantes para a tomada de decisão.
Ele destacou, especialmente, que o BC vem observando alguns dados para ver se a atividade está pressionando salários e preços.
"O Banco Central assumiu uma posição mais conservadora, interrompeu seu ciclo de corte e ficou dependente de dados. Nesse ciclo, a gente tem uma série de dados relevantes de mercado de trabalho, atividade econômica e, inclusive, de inflação até a próxima reunião que nós pretendemos consumir para tomar a decisão", disse Galípolo.
O diretor de Política Monetária afirmou ainda que o Brasil vem passando por um momento de desancoragem das expectativas que se refletem nas taxas de juros.
Ele ponderou que, apesar desse cenário, há indicadores positivos na economia brasileira.
"Estamos com o menor desemprego dos últimos dez anos. A renda cresceu 12% frente a 2022 e bateu recorde de crescimento. As projeções de PIB vêm sendo revisitadas sistematicamente para cima de novo, como aconteceu nos últimos anos", listou.
Para ele, esses dados mostram que a economia brasileira apresenta bastante dinamismo, mas que faz parte do papel do BC observar se esse crescimento da demanda tem ocorrido de forma desordenada, a ponto de poder produzir um processo inflacionário que vai corroer a renda.
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"Essa é a observação que o Banco Central sempre faz. A função do Banco Central é ser mais cauteloso e ter cuidado em função desses dados", disse Galípolo, frisando a observação da economia mais resiliente.
Corte dos juros nos Estados Unidos vai acontecer, a discussão agora é a magnitude
Galípolo afirmou ainda que o início do ciclo de corte de juros nos Estados Unidos se aproxima e que a discussão agora é sobre a magnitude.
Ele citou as falas recentes do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, que deu declarações arrojadas sobre o processo de desinflação sem muito custo para a economia dos EUA.
O diretor contextualizou que havia expectativa de o Fed iniciar o ciclo de corte de juros em março, mas os dados da economia norte-americana mais resiliente foram postergando esse ciclo. O cenário mudou de uma previsão de seis cortes para um número entre zero e um.
"Isso acaba reprecificando a taxa de juros norte-americana ao longo do ano, e os ativos do mundo todo se alinham a isso”, disse o diretor.
Ele explicou que a expectativa de desaceleração da economia dos Estados Unidos oscilou muito entre "hard, soft e no-landing".
"Isso oscilou muito recentemente, a ponto de você ter, numa única semana, a expectativa dessas três alternativas. Se você imaginar um não pouso, significa que as taxas de juros americanas permanecem mais altas por mais tempo, o que tende a ser mais adverso para países emergentes", pontuou.
A análise é de que houve uma consolidação da expectativa pelo pouso suave nos preços do mercado, mas há outros aspectos pesando. Ele citou, por exemplo, as tensões geopolíticas do fim de semana que se refletiram nos preços do petróleo.
Bancos Centrais ao redor do mundo têm ‘timings’ diferentes para reagir à inflação
O diretor ainda afirmou que os bancos centrais reagem à inflação mais alta em momentos distintos, enfatizando o pioneirismo do Brasil e do Chile nesse movimento de alta.
"O Brasil e o Chile foram os países que primeiro reagiram na política monetária, enquanto muitos dos países desenvolvidos entendiam que não era necessário, porque essa era uma inflação que você poderia aguardar a normalização das cadeias produtivas, que ela poderia retornar.
Com alguma defasagem, depois, de maneira mais sincronizada, todos os bancos centrais começaram a subir juros, de maneira a tentar arrefecer essa demanda, para tentar conter a inflação", disse Galípolo.
Ele ponderou que, após a pandemia, a invasão da Ucrânia colaborou para a desarticulação de cadeias produtivas e choques de oferta que aumentaram os preços. Além disso, a rearticulação de cadeias produtivas tem impacto de custo.
"Como resposta, você começa a ter programas de protecionismo por parte de alguns países. É aquilo que a gente tem assistido de maneira bastante evidente, que é a disputa entre Estados Unidos e China, do ponto de vista comercial", disse o diretor do BC.
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