‘Peso real’ volta a ganhar os holofotes; mas pra que ele serviria afinal? Entenda sobre ‘nova moeda’ digital que pode melhorar relação entre Brasil e Argentina
Há muita especulação em torno do tema e pouca coisa concreta, mas o assunto voltou a surgir após falas do ministro da Economia argentino

Na primeira viagem ao exterior de seu terceiro mandato como presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva reuniu-se nesta segunda-feira com seu homólogo argentino, Alberto Fernández. O amistoso encontro para estreitar as relações entre países vizinhos levantou uma bola que há muito tempo quica, mas ninguém colocava no chão: a criação de uma moeda comum, o “peso real” — ou “sur”, nome sugerido mas menos charmoso.
O responsável por isso é Sérgio Massa, ministro da economia da Argentina, que voltou a tocar no assunto durante uma entrevista ao jornal Financial Times. “Seria um estudo de mecanismos de integração comercial”, disse. “Não quero criar falsas expectativas… É o primeiro passo de um longo caminho que a América Latina deve percorrer.
Massa se refere à criação de uma moeda comum entre os dois países, mas que poderia integrar toda a economia da América Latina, hoje dominada pela influência do dólar.
A criação de um “peso real” já vinha sendo debatida desde o governo de Jair Bolsonaro, quando o ministro da Economia era Paulo Guedes. Com a eleição do presidente Lula, o assunto voltou à pauta, agora na boca de um representante argentino.
Fortalecimento da América Latina
O governo Lula pretende fortalecer os laços com os países vizinhos — e começou com a terceira maior economia da região, perdendo apenas para o México.
Segundo fontes ouvidas pelo Estadão, o Brasil pretende utilizar o Fundo de Garantia à Exportação (FGE) para oferecer crédito privado e público para importadores da Argentina adquirirem produtos nacionais.
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A Argentina também daria algum ativo em contrapartida. A visita de Lula ao país também deve tratar da construção de um gasoduto da reserva de Vaca Muerta para o Brasil. Portanto, gás e outras commodities devem ser utilizados como garantia desses empréstimos.
O presidente Lula confirmou que o “sur” seria utilizado para essas transações como uma forma de reduzir a influência do dólar na região. Entretanto, o projeto da moeda comum é incipiente, pouco claro e tratado com ceticismo por integrantes do mercado financeiro.
Peso real: moeda comum ou única?
Mas por que o termo gerou tanto rebuliço? Afinal, Brasil e Argentina poderiam criar, sozinhos, uma moeda forte como o euro?
Em primeiro lugar, tanto Alberto Fernández quanto Lula evitaram usar o termo “moeda comum”, mas sim “instrumento financeiro de comércio”.
Os termos geraram certa rusga entre os governos brasileiro e argentino porque têm implicações diferentes na economia.
Mas terminologias à parte, há diferença entre uma “moeda comum” e uma “moeda única”:
- Moeda comum (ou comercial): É utilizada em transações bilaterais entre dois países, visando o melhor negócio para ambas as partes. Em outras palavras, não se pretende substituir o peso ou o real como moedas nacionais.
- Moeda única: É uma moeda oficial utilizada por duas ou mais nações. O melhor exemplo é o euro, utilizado na Europa por Alemanha, França e diversos outros países.
Os debates entre Brasil e Argentina chegaram a uma conclusão preliminar de que o melhor formato seria uma “moeda comum” e digital, limitada a transações financeiras e comerciais.
Portanto, criar uma moeda comum ou comercial — e não única — seria mais rápido porque permitiria a adoção mais rápida do que esperar a criação de toda uma infraestrutura de moeda única para Brasil e Argentina.
Vale lembrar que o processo de criação e adoção do euro demorou cerca de 36 anos para ser finalizado e seu lançamento foi atrasado mais de uma vez.
Vantagens para Argentina com a nova moeda
Para o professor de administração com especialização em finanças internacionais da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Fábio Gallo, a Argentina teria a maior vantagem com a criação de uma moeda comercial.
O país vive uma crise de falta de dólares, essenciais para trocas comerciais internacionais. Utilizando uma outra moeda, o país conseguiria estancar a sangria de dinheiro estadunidense para o exterior.
“Usar uma mesma moeda evita o câmbio e consequentemente as perdas com essas trocas. O poder de compra fica mais equalizado”, comentou. “Mas, não entendo porque isso seria útil pro Brasil além desses pontos nesse momento”.
Moeda comum salvaria popularidade do governo
A jogada argentina para falar sobre a “moeda comum” foi a mais brasileira possível — um “truco” à moda porteña.
No entanto, essa nova moeda pode dar um respiro ao governo. Isso porque a atual gestão argentina lida com uma crise de popularidade.
A escassez de dólares e a inflação disparada — que fechou 2022 em 94,8% — erodiram a base para nova candidatura de Alberto Fernández. E as eleições por lá acontecem em outubro deste ano.
A intensificação das transações poderia aliviar a pressão sobre o governo no curto prazo e garantir uma competitividade maior ao atual governo.
Menos pessimismo com uma moeda local
O sonho de uma moeda regional para a América Latina não é novo. Ela foi debatida nos anos 1970 com a mesma finalidade — reduzir a influência norte-americana na região e aumentar a integração do sul geográfico.
“Não digo que não dá pra fazer [uma moeda única], até porque temos o aprendizado do mercado comum europeu”, diz Gallo. “Mas criar regras e implementá-las é outra coisa muito diferente e demora muito mais tempo”.
Ele relembra alguns passos importantes que antecederam a criação do euro:
- Em primeiro lugar, a união alfandegária (“que ainda não funciona efetivamente na América Latina”, pondera);
- Na sequência, foi criada a primeira moeda comercial — algo próximo e equivalente ao “sur” —, chamada ECU (European Currency Unit ou “unidade de moeda europeia”, em tradução livre), uma moeda essencialmente virtual para transações financeiras entre países;
- Por fim, após uma unificação e estabilização das economias, em 1º de janeiro de 1999 foi lançado oficialmente o euro.
Um pitaco de outra área
Por falar em moedas digitais, o assunto chegou até mesmo nos ouvidos de Brian Armstrong, o CEO da Coinbase, a maior corretora de criptomoedas dos Estados Unidos e uma das maiores do mundo.
Naturalmente, Armstrong é um entusiasta de moedas digitais — e, é claro, fez suas sugestões para ambos países. “Gostaria de saber se eles consideraram mudar para o bitcoin — essa provavelmente seria a aposta certa a longo prazo”, escreveu ele no Twitter.
Por fim, vale ressaltar que o Brasil tem um projeto de Central Bank Digital Currency (CDBC, ou moeda digital de Banco Central), conhecida como real digital. Essa poderia ser uma alternativa de “moeda virtual” usada para essas transações.
Porém, a força do real frente ao peso argentino permaneceria a mesma. Apesar de ser uma moeda virtual, ela nada mais é do que uma representação digital do dinheiro brasileiro.
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