Real digital: 7 perguntas e respostas com tudo que você precisa saber sobre a criptomoeda do Banco Central que deve ser lançada em 2023
Para respondê-las, o Seu Dinheiro entrou em contato com o Banco Central e Fábio Araújo, coordenador dos trabalhos sobre o real digital, que esclareceu algumas dúvidas

As primeiras curvas de 2023 começam a aparecer diante dos nossos olhos. Naturalmente, o novo ciclo que se inicia sempre é recheado de expectativa e uma delas diz respeito ao real digital, criptomoeda a ser emitida pelo Banco Central.
Ela faz parte de uma classe muito específica de criptomoedas chamadas Central Bank Digital Currencies (CDBC, ou moeda digital de Banco Central, na tradução do inglês). Diferentemente de outras moedas virtuais como o bitcoin (BTC), as CDBCs são emitidas por uma entidade centralizada — no caso, a autoridade monetária de cada país.
E o real digital é um dos projetos mais avançados nesse segmento juntamente com o yuan digital da China, que já está em testes para usuários no varejo. No entanto, a moeda brasileira terá outros objetivos e funcionalidades.
De acordo com o cronograma estabelecido pelo próprio BC, uma versão piloto do real digital deve ser lançada em 2023. A expectativa é de que os testes durem cerca de 18 meses. O lançamento oficial da “criptomoeda brasileira” deve ficar para o período entre o fim de 2024 e início de 2025.
Mas o projeto ainda tem mais perguntas do que respostas. Para respondê-las, o Seu Dinheiro entrou em contato com o Banco Central, e Fábio Araújo, coordenador dos trabalhos sobre o a CDBC, esclareceu algumas dúvidas da reportagem sobre o programa.
Confira a seguir 7 perguntas e respostas com os principais detalhes sobre a nova moeda e o futuro dos pagamentos:
1 — O que é o real digital?
Para começar, o real digital nada mais é do que a representação virtual da moeda corrente brasileira. Ele foi criado pelo Laboratório de Inovações Financeiras e Tecnológicas (LIFT) do Banco Central, em uma edição especial chamada LIFT Challenge.
Dito assim, à primeira vista, ela não é nada diferente do dinheiro que um cliente tem guardado na carteira ou no banco.
As diferenças começam a partir do momento que o real digital é integrado a um sistema blockchain. Essa tecnologia permite uma infinidade de possibilidades, como maior transparência e segurança na troca de informações e nas transações de maneira instantânea.
Diferentemente de outras criptomoedas que podem ser armazenadas em carteiras digitais privadas (wallets), a CDBC terá uma dinâmica diferente. “O real digital poderá ser acessado através de endereços oferecidos por agentes autorizados pela autoridade monetária, como bancos, cooperativas e instituições de pagamento (IPs)”, explica Araújo.
Outra característica desse tipo de moeda virtual é a possibilidade da criação de contratos inteligentes (smart contracts), utilizados hoje no universo das criptomoedas para assegurar acordos de empréstimos, trocas de moedas, entre outras coisas.
2 — No que o real digital difere do PIX?
Nas palavras do próprio coordenador do projeto:
“A iniciativa do real digital propõe uma solução que se caracteriza muito mais como uma nova infraestrutura do que como um novo produto — em contraste com o PIX, por exemplo, que tem mais características de produto do que de infraestrutura”.
Em outras palavras e sendo bem direto: em nada.
Em primeiro lugar, o Brasil possui um sistema financeiro extremamente sofisticado. Soluções como TED, DOC e boletos virtuais até existem em outros países, mas não são utilizados com a mesma frequência que aqui.
O PIX, sistema de pagamentos instantâneos, é uma solução ainda mais recente e muito mais tecnológica — países como Colômbia, Canadá e até mesmo os EUA se espelham no sistema brasileiro.
Portanto, o real digital seria apenas mais uma solução de transferências instantâneas disponível para o usuário. Assim como existem lojas que dão descontos para transações com PIX, existe alguma chance de acontecer o mesmo com a CDBC brasileira, mas isto é apenas especulação.
3 — Real digital será uma moeda do dia a dia?
Porta-vozes do BC vêm participando de diversos eventos sobre a CDBC brasileira e reiteram a seguinte frase:
“O real digital é uma moeda focada no atacado, não no varejo. Para ele [o varejo], já existe o PIX”.
Em outras palavras, isso quer dizer que a criptomoeda do BC dará prioridade para transações entre empresas e instituições. Graças à tecnologia da rede blockchain, essas características podem ser alteradas ou redesenhadas se o BC enxergar essas necessidades.
Ou seja, quando a moeda for lançada, ela terá seu uso relativamente limitado para a população em geral. Ainda assim, o coordenador do projeto afirma que o real digital poderá ser usado para qualquer operação de pagamento online existente, “da mesma forma que o real convencional”.
4 — Bancos ameaçados: qual o problema do real digital?
Nem tudo são flores quando se fala em real digital. Existe um cenário específico com potencial de afetar o sistema financeiro como um todo.
Isso porque o desenho da rede do real digital retira a necessidade de um intermediário entre o Banco Central e o usuário final — no caso, os bancos privados. Hoje, o cliente precisa ter uma conta aberta nessas instituições para usar o real convencional. A CDBC brasileira estabelece uma conexão direta com a autarquia.
No entanto, a chamada corrosão do balanço dos bancos já foi pensada, e o BC tem uma saída: a tokenização, ou seja, transformar um ativo do mundo real em uma representação digital (token).
As instituições financeiras privadas poderão transformar suas reservas em reais convencionais na versão digital e vice-versa, como explicou o presidente do BC, Roberto Campos Neto, em evento.
“O Banco Central vai garantir que toda stablecoin [criptomoeda com lastro] seja transformada 1 para 1 na moeda emitida pelo BC”, afirmou.
“A solução apresentada para essa questão é o uso de depósitos tokenizados como meio de liquidação para serviços de varejo. Assim, apesar de incorporar novas tecnologias, o real digital mantém a parceria com o setor privado para o provimento de liquidez e crédito à economia e, portanto, elimina na prática o impacto sobre os balanços dos bancos”, afirma Fábio Araújo.
A saída é mais complexa, como explica Alexandre Ludolf, CIO da gestora de ativos digitais QR Asset. Apesar da resposta do BC, a solução não é exatamente uma “bala de prata” para esta situação — e por isso, os diversos cenários serão testados em 2023 para o lançamento oficial em 2024/25.
O que se sabe é que é de interesse do BC manter os bancos privados no jogo. Afinal, essas instituições são grandes garantidoras de crédito para a população.
5 — Posso ser censurado?
Outro ponto importante diz respeito à custódia do real digital. Muitos membros do mercado de criptomoedas são avessos à ideia de uma CDBC pelo fato de que é um dinheiro que pode ser “censurado”.
Para nós brasileiros é fácil entender esse cenário: o confisco da poupança durante o governo Fernando Collor de Mello (1990–1992) não seria possível no mercado de criptomoedas. Isso porque não existe um ente centralizador — como o Banco Central — para recolher o dinheiro ou bloquear contas.
O mesmo poderia acontecer com uma CDBC. Por isso, participantes do mercado tendem a ver com maus olhos esse tipo de projeto.
6 — Stablecoins e CDBCs são a mesma coisa?
Apesar disso, o real digital pode desempenhar o mesmo papel que as stablecoins no desenvolvimento de projetos e protocolos a nível local.
Recapitulando, as stablecoins são a espinha dorsal de todo universo das criptomoedas por serem a ponte com uma referência internacional: o dólar americano. Assim, é mais fácil negociar com um padrão internacional em mãos.
Essas criptomoedas são responsáveis por toda infraestrutura de finanças descentralizadas (DeFi), além de terem uma participação importante nas recompensas de protocolos de lending e staking.
Já o real digital pode desempenhar esse mesmo papel no cenário doméstico. Por ser um token programável, é possível estabelecer contratos e transferências de maneira rápida e segura.
7 — Concorrência? Não é bem assim
Apesar de parecidas, as CDBCs e as stablecoins são ativos distintos. A programabilidade, o desenho da rede, os usos e até mesmo se a moeda é aceita ou não em determinadas redes são fatores que colocam essas criptomoedas em pontos distintos do tabuleiro.
Seja como for, o real digital tem grande potencial de se tornar uma referência internacional de criptomoedas de Bancos Centrais, assim como ocorreu com o PIX.
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