Depois da revelação de um rombo de R$ 20 bilhões no balanço da Americanas (AMER3), a agência de classificação de risco Fitch cortou o rating de crédito da empresa para a faixa CC, o que indica, na escala da agência, que a varejista está altamente vulnerável a dar calote.
De acordo com a Fitch, é provável que a Americanas entre em um acordo de standstill com seus credores, um pacto formal que visa evitar o pedido de recuperação judicial. Isto porque, na visão da agência, a Americanas agora tem uma estrutura de capital insustentável e o episódio gerou danos à reputação da companhia.
Caso a Americanas, de fato, faça esse acordo, o rating da empresa seria rebaixado para C, o que a deixaria a um corte de distância da classificação D, que indica default (calote).
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Estrutura de capital insustentável
A adição de R$ 20 bilhões em novos passivos deixa a estrutura de capital da Americanas fadada à insustentabilidade, segundo a Fitch.
"Os novos passivos quase dobram o cálculo da Fitch da dívida líquida ajustada de financiamento da empresa para R$ 46 bilhões, de R$ 26 bilhões", diz a agência em relatório.
Associada à reputação prejudicada, a Americanas terá sua flexibilidade financeira prejudicada gravemente, na visão da Fitch, o que exigirá apoio dos credores.
Esse apoio poderia vir por meio de um pacote formado por uma espécie de "perdão" às possíveis violações de covenants, pela não aceleração das obrigações financeiras e por uma rolagem da dívida. O termo covenants, vale destacar, refere-se a métricas financeiras que uma empresa precisa manter em certos níveis para indicar aos seus credores que ela tem capacidade de honrar suas dívidas.
Do ponto de vista operacional, a Americanas pode ter dificuldade em manter seus fornecedores atuais e a Fitch avalia que uma grande injeção de capital para evitar o calote é muito incerta. Na teleconferência de quinta-feira (12), o ex-CEO da Americanas, Sergio Rial, destacou justamente esse ponto.
“Ninguém definiu o valor, até porque o número não foi auditado. Mas sabemos que não será uma capitalização de milhões”, disse o executivo, indicando que o valor será muito maior.
ESG?
A Fitch apontou, ainda, que a governança corporativa - o G da sigla ESG - da Americanas foi afetada pelo caso.
"O anúncio de inconsistências contábeis destaca vários anos de fraqueza na qualidade das demonstrações financeiras da empresa, bem como a falta de transparência em seus relatórios financeiros", disse a Fitch.
Para a agência, o caso levanta questionamentos sobre os controles financeiros da Americanas e prejudica sua capacidade de levantar capital extra.
O que aconteceu com a Americanas
Na noite de quarta-feira (11), a Americanas publicou um fato relevante na CVM informando sobre "inconsistência contábil" da ordem de R$ 20 bilhões.
A identificação do rombo bilionário provocou um efeito dominó que causou a renúncia dos recém-empossados CEO, Sergio Rial, e diretor financeiro, André Covre, ambos com apenas 10 dias de casa.
Na quinta-feira (12), em uma teleconferência restrita promovida pelo banco BTG Pactual, Rial detalhou os problemas encontrados nas operações de risco sacado.
O risco sacado é uma modalidade de crédito feita entre empresas, instituições financeiras e fornecedores e funciona como uma antecipação de recebíveis. O problema é que ela tem um jeito especial de ser lançada nas demonstrações financeiras que não foi seguido pela Americanas durante anos, gerando uma distorção bilionária da saúde financeira da varejista.
O rombo identificado no balanço das Americanas certamente aumentará muito o endividamento da companhia quando as demonstrações financeiras hoje erradas forem republicadas com a correção.
A varejista montou um comitê independente para investigar o buraco. E enquanto ainda se discute se o ocorrido foi fraude deliberada ou apenas erro honesto, o mercado refletiu a quebra de confiança com uma queda de 77% das ações na quinta-feira (12).