Você investiria em um título com lastro em uma dívida do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) ou em uma empresa que tem como principais acionistas os três homens mais ricos do Brasil, incluindo Jorge Paulo Lemann?
Pois quem escolheu apostar na Americanas certamente amargou algum tipo de perda após a descoberta do rombo contábil bilionário na varejista. Enquanto isso, os investidores dos certificados de recebíveis do agronegócio (CRAs) do MST seguem recebendo em dia.
Quem chamou atenção para o fato foi o CEO de Investimentos de Impacto do Grupo Gaia, João Paulo Pacifico, responsável por estruturar a operação do MST. Numa postagem no LinkedIn, Pacifico diz: "Quem investiu no CRA do MST (emitido pela Gaia) está tranquilo, recebe mensalmente os pagamentos… Por outro lado, quem investiu nas Americanas…"
Em entrevista ao Seu Dinheiro, Pacifico disse estar muito satisfeito com a operação com o MST e adiantou que há outras engatilhadas para sair ainda em 2023.
"Neste ano, vão sair operações para investidores profissionais e estamos trabalhando para fazer mais uma para o varejo", disse Pacifico.
Ele destacou que, na época do lançamento dos CRAs do MST, houve procura de mais de 5 mil investidores, mas apenas 1.518 pessoas físicas puderam entrar no negócio. E a Gaia recebe pessoas até hoje procurando como investir no MST.
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Maçãs x laranjas
Apesar da provocação (válida, por sinal), é preciso destacar que não se trata de classes de ativos perfeitamente comparáveis.
Nos CRAs do MST, estamos falando de um investimento de impacto, cujo principal objetivo não é gerar retorno financeiro para o investidor, mas sim um resultado socioambiental positivo. A taxa de retorno dos CRAs foi fixada em 5,5% ao ano, um índice muito abaixo da inflação e da Selic atuais.
Com a emissão dos CRAs, em setembro de 2021, o MST captou R$ 17,5 milhões para financiar a produção de alimentos como arroz, feijão, milho, laticínios, entre outros. A estimativa, na época da emissão, era de que o montante beneficiaria 13 mil agricultores.
Os CRAs do MST têm um prazo de cinco anos e, como todo CRA, são isentos de imposto de renda.
Vale lembrar que, na época da captação, a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) chegou a suspender a operação por falta de informações.
Americanas: calote em fundos
Já os investimentos que estão levando ou estão na iminência de levar calote da Americanas funcionam de maneira diferente. Por definição, são ativos lançados no mercado de capitais com o objetivo de gerar um resultado acima do CDI, o referencial de renda fixa.
A varejista também é locatária de fundos imobiliários de shoppings e galpões que agora estão ameaçados de não receber.
Na terça-feira (14), foi revelado que a Americanas deixou de pagar integralmente o aluguel de um galpão na Bahia da empresa de galpões Aratulog Armazenagem, na qual o FII VBI Logística (LVBI11) detêm uma participação de 70%. Além disso, a varejista começou a notificar os shopping centers de que não irá pagar os aluguéis onde mantém lojas físicas.