Volatilidade? Não, obrigado! Existe outro indicador de risco melhor
Considerada uma das principais medidas de risco adotadas pelo mercado, a volatilidade tem dois problemas práticos graves

A volatilidade é, de longe, a principal medida de risco usada no mercado financeiro.
A definição mais formal do indicador seria: a dispersão das variações diárias de um ativo em torno de sua média.
Para simplificar, eu prefiro dizer que a medida representa o quanto um ativo “balançou” ao longo do tempo.
Uma volatilidade alta significa que o ativo subiu e caiu bastante e, possivelmente, tornou uma ou duas noites de sono do investidor um pouco mais desconfortáveis – ao menos daqueles desavisados, que não sabiam onde estavam colocando o seu dinheiro.
Apesar de ser um indicador muito utilizado pelo mercado – talvez pela facilidade de seu cálculo, ou somente por sua tradicionalidade –, em nossas análises internas de fundos de investimento optamos por outra medida de risco que consideramos muito mais justa: o Ulcer Index.
Antes de apresentá-lo, porém, te mostrarei na prática os dois principais problemas da volatilidade.
Leia Também
O salvador da pátria para a Raízen, e o que esperar dos mercados hoje
Felipe Miranda: Um conto de duas cidades
- [Guia gratuito] Veja onde investir no 2º semestre, segundo os especialistas consultados pelo Seu Dinheiro. Baixe o material completo aqui.
O fundo ‘balançou’ muito... mas para qual direção?
A primeira crítica à volatilidade é muito simples: não há distinção entre retornos positivos ou negativos.
O gráfico abaixo representa a simulação de dois fundos fictícios em um determinado período:
Pela imagem, você diria que ambos os fundos possuem o mesmo risco? Eu com certeza não.
Por incrível que pareça, ambos possuem a mesma volatilidade, de 4,7%. Isso acontece por possuírem variações iguais, mas com sinais invertidos, o que não é capturado no resultado final do indicador.
É claro que se trata apenas de uma simulação, mas o uso da volatilidade pode distorcer a percepção de risco entre fundos, quando comparados exclusivamente através da análise dessa medida.
Os fins justificam os meios?
Veja o gráfico abaixo, em que cada linha representa uma série de retornos diferentes:
Olhando apenas a imagem, qual deles você escolheria para investir? Note que as três, no final, chegam ao mesmo resultado.
Aqueles com perfil de risco mais conservador talvez escolheriam a linha azul, por ser visualmente mais estável.
Outros, com mais apetite a risco, não suportariam investir em um ativo que ficou tanto tempo “parado” (como o da linha azul), optando então pela linha preta.
Eu não sei sua resposta exata, mas uma coisa eu tenho certeza: você não escolheu a linha vermelha, que acumulou uma perda superior a 97% na maior parte de seu histórico.
Que volatilidade é essa?
O mais impressionante é: as três séries são os retornos diários do índice Ibovespa, o principal índice da Bolsa brasileira, com algumas modificações.
A linha vermelha representa o índice com a ordem dos retornos diários reorganizados da mais negativa para a mais positiva. Por isso, a linha inicia com quedas bruscas e se recupera apenas no final.
A linha azul, por outro lado, é uma otimização dos retornos diários do índice para que ele sempre tenha o menor período de perda possível. De um modo geral, sempre há retornos negativos seguidos por outros positivos.
A linha preta, por fim, é o Ibovespa puro, sem alterações.
LEIA TAMBÉM: Vale a pena investir sob as orientações de um prêmio Nobel?
O caminho importa
Como as variações diárias são iguais, apenas com a ordem modificada, a volatilidade dos três, no fim, é a mesma.
Assim, caso você tivesse apenas a informação da volatilidade e do retorno de cada um – que são iguais –, poderia acabar colocando o seu dinheiro em uma estratégia inadequada para o seu perfil de risco – e, convenhamos, a maioria já teria resgatado o investimento na linha vermelha bem antes de sua recuperação.
Podemos pensar em uma série de motivos para não querer que um fundo possua um período de perda (drawdown) muito relevante – o valor para que uma queda seja considerada “grande” de fato ainda é uma incógnita, mas já fizemos estudos que sugerem algo superior a 40%.
Um gestor amador pode, por exemplo, se arriscar demais em posições controversas para tentar se recuperar de uma perda profunda. Nesse caso, os cotistas também seriam afetados, possivelmente migrando seus recursos para outras alternativas de investimento e prejudicando a saúde financeira da gestora.
As consequências são muitas, mas a principal mensagem aqui é: o caminho importa.
VEJA TAMBÉM — Pensão alimentícia: valor estabelecido é injusto! O que preciso para provar isso na justiça? Veja em A Dinheirista
Ulcer Index: corrigindo os problemas da volatilidade
Consideramos o Ulcer Index como uma medida mais apropriada para a análise de fundos justamente por endereçar os dois problemas ilustrados para a volatilidade.
Sua função matemática é a seguinte:
Repare que a medida leva em consideração apenas os períodos em que o fundo esteve com um desempenho negativo, retirando o uso da “volatilidade boa” – em que o fundo teve retornos positivos – do cálculo de risco.
Além disso, é feito ainda um ajuste para considerar apenas as perdas abaixo do benchmark (índice de referência) do fundo. Afinal, um fundo que caiu menos que seu benchmark em um determinado período deveria receber algum reconhecimento, não é mesmo?
Outro fator interessante é que as perdas são elevadas ao quadrado. Com isso, o cálculo penaliza os fundos que possuem períodos de queda mais intensos – importante ressaltar que, quanto maior o Ulcer Index, mais arriscado é o fundo.
No exemplo anterior das versões do índice Ibovespa, o Ulcer Index capturou com precisão o risco de cada linha, como visto abaixo:
A volatilidade é muito utilizada principalmente por fazer parte da composição do Índice Sharpe, o indicador de eficiência (relação entre retorno e risco) mais utilizado pelo mercado.
Nossas críticas à volatilidade, consequentemente, afetam o Sharpe, que também possui um substituto melhor dentro de nossas análises. Talvez eu o traga aqui em uma próxima ocasião.
Um grande abraço,
Pedro Claudino
Rodolfo Amstalden: Só um momento, por favor
Qualquer aposta que fizermos na direção de um trade eleitoral deverá ser permeada e contida pela indefinição em relação ao futuro
Cada um tem seu momento: Ibovespa tenta manter o bom momento em dia de pacote de Lula contra o tarifaço
Expectativa de corte de juros nos Estados Unidos mantém aberto o apetite por risco nos mercados financeiros internacionais
De olho nos preços: Ibovespa aguarda dados de inflação nos Brasil e nos EUA com impasse comercial como pano de fundo
Projeções indicam que IPCA de julho deve acelerar em relação a junho e perder força no acumulado em 12 meses
As projeções para a inflação caem há 11 semanas; o que ainda segura o Banco Central de cortar juros?
Dados de inflação no Brasil e nos EUA podem redefinir apostas em cortes de juros, caso o impacto tarifário seja limitado e os preços continuem cedendo
Felipe Miranda: Parada súbita ou razões para uma Selic bem mais baixa à frente
Uma Selic abaixo de 12% ainda seria bastante alta, mas já muito diferente dos níveis atuais. Estamos amortecidos, anestesiados pelas doses homeopáticas de sofrimento e pelo barulho da polarização política, intensificada com o tarifaço
Ninguém segura: Ibovespa tenta manter bom momento em semana de balanços e dados de inflação, mas tarifaço segue no radar
Enquanto Brasil trabalha em plano de contingência para o tarifaço, trégua entre EUA e China se aproxima do fim
O que Donald Trump e o tarifaço nos ensinam sobre negociação com pessoas difíceis?
Somos todos negociadores. Você negocia com seu filho, com seu chefe, com o vendedor ambulante. A diferença é que alguns negociam sem preparo, enquanto outros usam estratégias.
Efeito Trumpoleta: Ibovespa repercute balanços em dia de agenda fraca; resultado da Petrobras (PETR4) é destaque
Investidores reagem a balanços enquanto monitoram possível reunião entre Donald Trump e Vladimir Putin
Ainda dá tempo de investir na Eletrobras (ELET3)? A resposta é sim — mas não demore muito
Pelo histórico mais curto (como empresa privada) e um dividendo até pouco tempo escasso, a Eletrobras ainda negocia com um múltiplo de cinco vezes, mas o potencial de crescimento é significativo
De olho no fluxo: Ibovespa reage a balanços em dia de alívio momentâneo com a guerra comercial e expectativa com Petrobras
Ibovespa vem de três altas seguidas; decisão brasileira de não retaliar os EUA desfaz parte da tensão no mercado
Rodolfo Amstalden: Como lucrar com o pegapacapá entre Hume e Descartes?
A ocasião faz o ladrão, e também faz o filósofo. Há momentos convidativos para adotarmos uma ou outra visão de mundo e de mercado.
Complicar para depois descomplicar: Ibovespa repercute balanços e início do tarifaço enquanto monitora Brasília
Ibovespa vem de duas leves altas consecutivas; balança comercial de julho é destaque entre indicadores
Anjos e demônios na bolsa: Ibovespa reage a balanços, ata do Copom e possível impacto de prisão de Bolsonaro sobre tarifaço de Trump
Investidores estão em compasso de espera quanto à reação da Trump à prisão domiciliar de Bolsonaro
O Brasil entre o impulso de confrontar e a necessidade de negociar com Trump
Guerra comercial com os EUA se mistura com cenário pré-eleitoral no Brasil e não deixa espaço para o tédio até a disputa pelo Planalto no ano que vem
Felipe Miranda: Em busca do heroísmo genuíno
O “Império da Lei” e do respeito à regra, tão caro aos EUA e tão atrelado a eles desde Tocqueville e sua “Democracia na América”, vai dando lugar à necessidade de laços pessoais e lealdade individual, no que, inclusive, aproxima-os de uma caracterização tipicamente brasileira
No pain, no gain: Ibovespa e outras bolsas buscam recompensa depois do sacrifício do último pregão
Ibovespa tenta acompanhar bolsas internacionais às vésperas da entra em vigor do tarifaço de Trump contra o Brasil
Gen Z stare e o silêncio que diz (muito) mais do que parece
Fomos treinados a reconhecer atenção por gestos claros: acenos, olho no olho, perguntas bem colocadas. Essa era a gramática da interação no trabalho. Mas e se os GenZs estiverem escrevendo com outra sintaxe?
Sem trégua: Tarifaço de Trump desata maré vermelha nos mercados internacionais; Ibovespa também repercute Vale
Donald Trump assinou na noite de ontem decreto com novas tarifas para mais de 90 países que fazem comércio com os EUA; sobretaxa de 50% ao Brasil ficou para a semana que vem
A ação que caiu com as tarifas de Trump mas, diferente de Embraer (EMBR3), ainda não voltou — e segue barata
Essas ações ainda estão bem abaixo dos níveis de 8 de julho, véspera do anúncio da taxação ao Brasil — o que para mim é uma oportunidade, já que negociam por apenas 4 vezes o Ebitda
O amarelo, o laranja e o café: Ibovespa reage a tarifaço aguado e à temporada de balanços enquanto aguarda Vale
Rescaldo da guerra comercial e da Super Quarta competem com repercussão de balanços no Brasil e nos EUA