🔴 ONDE INVESTIR EM NOVEMBRO: AÇÕES, DIVIDENDOS, FIIS E CRIPTOMOEDAS – CONFIRA

Felipe Miranda: Era uma vez no Oeste

O 3G resolveu falar sobre Americanas e emitiu um comunicado protocolar. Estamos falando de possivelmente as maiores referências do capitalismo moderno brasileiro

23 de janeiro de 2023
18:53
Jorge Paulo Lemann, Marcel Herrmann Telles e Carlos Alberto Sicupira, bilionários acionistas da Americanas (AMER3)
Carlos Alberto Sicupira, Jorge Paulo Lemann e Marcel Herrmann Telles, acionistas da Americanas (AMER3) - Imagem: Shutterstock/Ambev/Seu Dinheiro - Montagem Brenda Silva

"Ia pra igreja só pra roubar o dinheiro
Que as velhinhas colocavam na caixinha do altar”
Legião Urbana, em álbum de 1987

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Ele não era operador de pregão. Naquele dia, porém, entre o final dos anos 80, começo dos 90, não sei precisar ao certo, foi escalado para a missão. O Ministro acabara de sair do banco, deixando a informação de que a taxa do overnight seria reduzida naquela madrugada.

Só alguém de confiança poderia ser designado a – sejamos diretos aqui – operar aquela informação privilegiada, ainda que, nem mesmo entre eles, essa fosse a expressão utilizada. Todos fingiam apenas se tratar de uma conversa informal com o admirado ministro.

Então, lá foi ele, com sua agressividade típica e a habilidade quase única de se alavancar em tão pouco tempo.

Entrou no pregão viva-voz, destilando seu francês em alto e bom som, aos berros: “Compro tudo de vocês, pode fazer fila, bando de filha da puta. Tomei, tomei e tomei, cambada de vagabundo.”

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Soa estranho e fora de tom. Com efeito, é estranho e fora de tom. Contudo, era meio normal àquela época – conta-se até que, ao final de cada ano, havia um sorteio de uma mulher entre os operadores. Talvez, naquela ocasião específica, com algum exagero, porque o tamanho dos lotes e a confiança demonstrada escapavam um pouco da razoabilidade. Alguns acharam, sim, aquilo descompensado, pois, claro, não sabiam da informação assimétrica.

Leia Também

Mas, como nos ensina Warren Buffett, tudo que você precisa para perder um milhão de dólares é ter esse um milhão de dólares e uma informação privilegiada.

Naquele dia, a taxa over foi aumentada, não reduzida. Os prejuízos do banco foram astronômicos e o mesmo operador acabou novamente escalado para voltar lá e reduzir os danos o quanto mais rápido fosse possível. Entrou com o rabo entre as pernas, sob os olhares e as risadas alheias pelo vexame da véspera. Saiu cabisbaixo, humilhado e maltratado. A arrogância é marcada a mercado.

Não é possível repetir a experiência, até porque o pregão viva-voz foi extinto. Percorrendo as mesas de operação, você até encontra um cliente ou trade mais verborrágico contra os brokers, mas é coisa menor. Aquele faroeste, o verdadeiro bangue-bangue acabou.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Bom, ao menos deveria ter acabado.

Palavras não pagam dívidas

Depois de um longo silêncio sepulcral, o 3G resolveu falar sobre Americanas. Escreveu um comunicado protocolar. Disse que não sabia de nada, prometeu empenho para recuperar a empresa, lamentou as perdas sofridas pelos investidores e credores. Lembrou também que foi alcançado pelos prejuízos – ao ler, tive a sensação de que, se deixassem mais algumas linhas para a turma escrever, acabariam pedindo ressarcimento pelo rombo, vítimas de um grande escândalo que não lhes pertence.

Talvez os dois leitores mais críticos pudessem apontar que não havia muito espaço para um caminho diferente. Protocolos existem para serem seguidos. Qualquer coisa distinta poderia comprometê-los, seria uma espécie de tiro no próprio pé. É difícil discordar. Contudo, como escreve Shakespeare, palavras não pagam dívidas. Há oito pontos na carta, nenhum compromisso com injeção de dinheiro.

Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Beto Sicupira não são apenas acionistas de referência da companhia. Foram por décadas controladores da empresa, incluindo aí o período do escândalo. Mas também não são só isso. Eles se transformaram num símbolo da companhia, uma metonímia da eficiência operacional e financeira. Está tudo lá no livro Sonho Grande, o conhecimento autodidata e intuitivo e também as lições aprendidas com Sam Walton, Jim Collins e companhia. Do aproveitamento inédito dos espaços aéreos entre gôndolas para a exposição dos ovos de Páscoa (meu Deus, até eles viraram polêmica agora!) à gestão financeira moderna – talvez moderna até demais, com certa elasticidade ética e contábil. Garantia, ALL, Kraft Heinz, Americanas. Tem mais de um exemplo para cada um dos Gs.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Talvez também pudessem apelar à velha máxima de que não se joga dinheiro bom atrás de dinheiro ruim. Mas não é apenas disso que se trata. Estamos falando de possivelmente as maiores referências do capitalismo moderno brasileiro. Se o Barão de Mauá seria, sei lá, uma espécie de Howard Hughes, os 3G poderiam duelar imageticamente com Sam Walton, Jack Welch e companhia.

Seria dinheiro bom atrás de legado bom, se isso lhes importar em algo. E deveria importar.

Meta cumprida - só que não

No meu entendimento particular, ainda que cada uma das palavras do comunicado seja verdadeira, o problema que agora vem à superfície com Americanas deriva, talvez entre outras coisas (reconheça), sim, de uma cultura corporativa desatualizada, que fazia sentido para os anos 80, na época do faroeste e do bangue-bangue, mas que não se alinha ao capitalismo de stakeholder e à imposta total transparência dos negócios num mundo de enorme escrutínio sobre tudo que fazemos.

O Garantia era conhecido pela sua sagacidade, mas também por sua truculência, cowboys de mercado. Na economia real, colocamos água na cerveja, depois milho pra piorá-la um pouco mais. Também vamos com mais água no catchup. Vestimos corte de produto com a retórica de corte de custo. São coisas bem diferentes.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

O primeiro piora seu material e afasta clientes no longo prazo, nada tem a ver com produzir a mesma coisa com mais eficiência. Enquanto isso, esmagamos fornecedores com prazos, aliciamentos e ameaças, ao mesmo tempo em que os colaboradores internos convivem com o risco tácito e, se precisar, explícito de demissão em caso de não se cumprirem as metas. Ou você cumpre a meta ou…

Se a sobrevivência está em jogo, só há uma coisa a se fazer: cumprir a meta, ainda que ela não tenha sido, de fato, cumprida. Abusamos da elasticidade contábil e ética, porque todos têm bocas a alimentar e boletos para pagar.

Empresas são pessoas

O trio símbolo do capitalismo brasileiro precisa agora se lembrar do que é a essência do capitalismo, que passa por respeito aos contratos, direitos de propriedade e obediência à sinalização do sistema de preços. Não há como atacar essas bases e se manter como grande empreendedor. A própria origem do Parlamento inglês remete à necessidade de a burguesia proteger seus direitos econômicos (contratos e direitos de propriedade) dos direitos políticos quase ilimitados da nobreza decadente economicamente – sem isso, toda a organização moderna está em risco.

Empresas, no final do dia, são pessoas e suas culturas delas derivam. Ao escolher companhias para investir ou até mesmo trabalhar, precisamos observar se os controladores e os administradores são capazes de ler o zeitgeist atual e colocar suas empresas na direção da transformação ao futuro, uma rara união entre conservar o que funciona e se adaptar aos novos ventos.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

Às lideranças, não cabe mais esmagar todo mundo em prol de um ponto a mais de margem. Ao mesmo tempo, também não há espaço para se perder em discussões sobre o gênero e o nome do terceiro banheiro.

Pra mim, moderno mesmo é o velho Jorge Ben: se malandro soubesse como é bom ser honesto, seria honesto só por malandragem.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE

COMPARTILHAR

Whatsapp Linkedin Telegram
FII DO MÊS

É bicampeão! FII BTLG11 volta ao topo do ranking dos fundos mais recomendados em novembro — e tem dividendos extraordinários no radar

6 de novembro de 2025 - 6:03

Pelo segundo mês consecutivo, o BTLG11 garantiu a vitória ao levar quatro recomendações das dez corretoras, casas de análise e bancos consultados pelo Seu Dinheiro

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Economista revela o que espera para a Selic em 2025, e ações ligadas à inteligência artificial sofrem lá fora; veja o que mais mexe com o mercado hoje

5 de novembro de 2025 - 8:04

Ibovespa renovou recorde antes de decisão do Copom, que deve manter a taxa básica de juros em 15% ao ano, e economista da Galapagos acredita que há espaço para cortes em dezembro; investidores acompanham ações de empresas de tecnologia e temporada de balanços

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

O segredo do Copom, o reinado do Itaú e o que mais movimenta o seu bolso hoje

4 de novembro de 2025 - 7:50

O mercado acredita que o Banco Central irá manter a taxa Selic em 15% ao ano, mas estará atento à comunicação do banco sobre o início do ciclo de cortes; o Itaú irá divulgar seus resultados depois do fechamento e é uma das ações campeãs para o mês de novembro

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

Política monetária não cede, e fiscal não ajuda: o que resta ao Copom é a comunicação

4 de novembro de 2025 - 7:10

Mesmo com a inflação em desaceleração, o mercado segue conservador em relação aos juros. Essa preferência traz um recado claro: o problema deriva da falta de credibilidade fiscal

EXILE ON WALL STREET

Tony Volpon: Inteligência artificial — Party like it’s 1998

3 de novembro de 2025 - 22:11

Estamos vivendo uma bolha tecnológica. Muitos investimentos serão mais direcionados, mas isso acontece em qualquer revolução tecnológica.

DÉCIMO ANDAR

Manter o carro na pista: a lição do rebalanceamento de carteira, mesmo para os fundos imobiliários

2 de novembro de 2025 - 8:00

Assim como um carro precisa de alinhamento, sua carteira também precisa de ajustes para seguir firme na estrada dos investimentos

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Petrobras (PETR4) pode surpreender com até R$ 10 bilhões em dividendos, Vale divulgou resultados, e o que mais mexe com seu bolso hoje

31 de outubro de 2025 - 7:58

A petroleira divulgou bons números de produção do 3° trimestre, e há espaço para dividendos bilionários; a Vale também divulgou lucro acima do projetado, e mercado ainda digere encontro de Trump e Xi

SEXTOU COM O RUY

Dividendos na casa de R$ 10 bilhões? Mesmo depois de uma ótima prévia, a Petrobras (PETR4) pode surpreender o mercado

31 de outubro de 2025 - 6:07

A visão positiva não vem apenas da prévia do terceiro trimestre — na verdade, o mercado pode estar subestimando o potencial de produção da companhia nos próximos anos, e olha que eu nem estou considerando a Margem Equatorial

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Vale puxa ferro, Trump se reúne com Xi, e bolsa bateu recordes: veja o que esperar do mercado hoje

30 de outubro de 2025 - 7:34

A mineradora divulga seus resultados hoje depois do fechamento do mercado; analistas também digerem encontro entre os presidentes dos EUA e da China, fala do presidente do Fed sobre juros e recordes na bolsa brasileira

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: O silêncio entre as notas

29 de outubro de 2025 - 20:00

Vácuos acumulados funcionaram de maneira exemplar para apaziguar o ambiente doméstico, reforçando o contexto para um ciclo confiável de queda de juros a partir de 2026

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

A corrida para investir em ouro, o resultado surpreendente do Santander, e o que mais mexe com os mercados hoje

29 de outubro de 2025 - 8:10

Especialistas avaliam os investimentos em ouro depois do apetite dos bancos centrais por aumentar suas reservas no metal, e resultado do Santander Brasil veio acima das expectativas; veja o que mais vai afetar a bolsa hoje

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

O que a motosserra de Milei significa para a América Latina, e o que mais mexe com seu bolso hoje

28 de outubro de 2025 - 7:50

A Argentina surpreendeu nesta semana ao dar vitória ao partido do presidente Milei nas eleições legislativas; resultado pode ser sinal de uma mudança política em rumo na América Latina, mais liberal e pró-mercado

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

A maré liberal avança: Milei consolida poder e reacende o espírito pró-mercado na América do Sul

28 de outubro de 2025 - 7:31

Mais do que um evento isolado, o avanço de Milei se insere em um movimento mais amplo de realinhamento político na região

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Os balanços dos bancos vêm aí, e mercado quer saber se BB pode cair mais; veja o que mais mexe com a bolsa hoje

27 de outubro de 2025 - 8:09

Santander e Bradesco divulgam resultados nesta semana, e mercado aguarda números do BB para saber se há um alçapão no fundo do poço

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Só um susto: as ações desta small cap foram do céu ao inferno e voltaram em 3 dias, mas este analista vê motivos para otimismo

24 de outubro de 2025 - 8:03

Entenda o que aconteceu com os papéis da Desktop (DESK3) e por que eles ainda podem subir mais; veja ainda o que mexe com os mercados hoje

SEXTOU COM O RUY

Por que o tombo de Desktop (DESK3) foi exagerado — e ainda vejo boas chances de o negócio com a Claro sair do papel

24 de outubro de 2025 - 6:01

Nesta semana os acionistas tomaram um baita susto: as ações DESK3 desabaram 26% após a divulgação de um estudo da Anatel, sugerindo que a compra da Desktop pela Claro levaria a concentração de mercado para níveis “moderadamente elevados”. Eu discordo dessa interpretação, e mostro o motivo.

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Títulos de Ambipar, Braskem e Raízen “foram de Americanas”? Como crises abalam mercado de crédito, e o que mais movimenta a bolsa hoje

23 de outubro de 2025 - 8:21

Com crises das companhias, investir em títulos de dívidas de empresas ficou mais complexo; veja o que pode acontecer com quem mantém o título até o vencimento

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: As ações da Ambipar (AMBP3) e as ambivalências de uma participação cruzada

22 de outubro de 2025 - 20:00

A ambição não funciona bem quando o assunto é ação, e o caso da Ambipar ensina muito sobre o momento de comprar e o de vender um ativo na bolsa

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Caça ao Tesouro amaldiçoado? Saiba se Tesouro IPCA+ com taxa de 8% vale a pena e o que mais mexe com seu bolso hoje

22 de outubro de 2025 - 7:58

Entenda os riscos de investir no título público cuja remuneração está nas máximas históricas e saiba quando rendem R$ 10 mil aplicados nesses papéis e levados ao vencimento

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Crônica de uma tragédia anunciada: a recuperação judicial da Ambipar, a briga dos bancos pelo seu dinheiro e o que mexe com o mercado hoje

21 de outubro de 2025 - 8:00

Empresa de gestão ambiental finalmente entra com pedido de reestruturação. Na reportagem especial de hoje, a estratégia dos bancões para atrair os clientes de alta renda

Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Fechar