Não é novidade que a continuidade da taxa básica de juros, a Selic, na casa dos dois dígitos, tem dividido opiniões no mercado financeiro e gerado uma batalha entre o governo e o Banco Central — batalha essa ainda sem sinais de bandeira branca.
Em meio às incertezas do cenário fiscal, com foco em uma possível revisão da meta da inflação e corte na Selic no segundo semestre, o Santander decidiu cortar a recomendação para as ações da BB Seguridade (BBSE3), de compra para neutro.
Afinal, a empresa é uma das que mais se beneficiou do ambiente de juros altos dos últimos meses; a BB Seguridade é a holding que reúne as participações do Banco do Brasil (BBAS3) em seguros e previdência.
Vale lembrar que a companhia registrou lucro líquido de R$ 1,8 bilhão entre setembro e dezembro do ano passado, um avanço de 47,3% na comparação com o mesmo período de 2021.
Mas, ainda que o papel seja o preferido do Santander no setor não-bancário, os resultados acima do esperado para o quarto trimestre ficaram em segundo plano na avaliação dos analistas.
“Embora vejamos favoravelmente os resultados saudáveis da empresa em 2022 e reconheçamos o sólido potencial de crescimento implícito na orientação para 2023, a principal motivação por trás de nosso rebaixamento é o que vemos ser um potencial de valorização limitado à frente”, escrevem os analistas Henrique Navarro, Arnon Shirazi e Anahy Rios, que assinam o relatório.
Para o banco, a alta acumulada de 76% nas ações da holding em 2022 não deve acontecer novamente neste ano, mesmo com a elevação do preço-alvo, de R$ 38 para R$ 39 — o que, na visão dos analistas, justifica o corte na recomendação.
Por ora, o Santander projeta um retorno total de 18% em 2023, considerando o novo preço-alvo. Além disso, o banco aumentou a estimativa de lucro líquido em 1%, para R$ 7,2 bilhões.
Hoje, por volta das 16h15 (horário de Brasília), os papéis do BB Seguridade (BBSE3) registravam queda de 3,16%, a R$ 34,05.
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BB Seguridade: riscos à vista
A vantagem “limitada” dos papéis do BB Seguridade (BBSE3), na visão dos analistas do Santander, se dá pelo “pouco espaço para revisões de lucros no futuro” — mesmo com a expectativa de taxa de juros elevada.
O relatório também aponta, entre os principais riscos para o papel, as questões regulatórias e políticas, assim como a renegociação de contratos do Banco do Brasil-BB Corretora.
“Nosso caso-base ainda considera que o contrato BB Corretora – Banco do Brasil será renovado alguns anos antes de sua data de término em janeiro de 2033 e que a BB Seguridade terá que desembolsar uma certa quantia de caixa para sua renovação, com um saldo negativo de aproximadamente R$ 6,0 bilhões”, pontua o relatório.
Estrela dos dividendos
A BB Seguridade (BBSE3) ainda é considerada uma das maiores pagadoras de dividendos entre as empresas do universo de cobertura do Santander, de acordo com o relatório.
Por fim, os analistas estimam que, mesmo com a visão mais conservadora sobre as ações, o percentual de lucros pagos (payout ratio) pela companhia em forma de dividendos será de 85% para 2023, com um sólido rendimento (dividend yield) de 8,6%.
Na teleconferência sobre os resultados do quarto trimestre, a administração da BB Seguridade afirmou que o pagamento dos proventos deve permanecer entre 80% e 90% dos lucros.