Mesmo após todos os esforços judiciais da Esh Capital, o aumento de capital da Gafisa (GFSA3) — um dos alvos da disputa entre a gestora e a construtora de Nelson Tanure — foi homologado.
O montante é inferior aos R$ 150 milhões previstos pela companhia na época do anúncio: ficou em pouco mais de R$ 78 milhões, com emissão de 13,2 milhões de novas ações.
Mas, ainda assim, deve provocar uma diluição dos acionistas, incluindo a Esh, pois os novos papéis saíram a R$ 5,89. A cifra é 346% inferior à cotação atual das ações, que, por volta das 15h, operavam com um salto de 25,8%, cotadas em R$ 26,28.
Por falar nelas, as ações da construtora estão em um rali desde o final de 2022 e acumulam alta de mais de 243% no último mês, quando os desdobramentos do imbróglio com a Esh foram divulgados ao mercado.
A alta volatilidade nos últimos dias também é justificada por um motivo técnico: com o aumento de capital iminente, investidores desmontaram suas posições vendidas no papel.
Na ocasião, a gestora havia obtido um parecer favorável da Comissão de Valores Mobiliários (CVM) para que a assembleia de acionistas convocada para 2 de janeiro fosse realizada. Ainda assim, a Gafisa manteve a convocação para o dia 9 deste mês.
O que está por trás da disputa entre Gafisa e Esh?
Apesar de pouco distantes, as datas eram muito relevantes nesse caso justamente por conta do aumento de capital. Um dos itens na pauta da AGE era discutir a decisão de aprovar a operação — que, segundo nota enviada pela Esh ao Seu Dinheiro, “se deu de forma ilegal”.
Já a Gafisa garante, também em nota, "que está atuando dentro da legalidade". "Qualquer outra posição é meramente especulativa e com intenções duvidosas", diz a empresa.
O encontro dos acionistas deliberará sobre uma possível ação de responsabilidade contra Nelson Tanure e outros administradores e membros do conselho fiscal da Gafisa, assim como a destituição desses integrantes e eleição de substitutos por quebra de deveres fiduciários.
Segundo fontes ouvidas pelo Seu Dinheiro, um dos temores da gestora era que o grupo ligado a Tanure poderia aumentar a sua participação no capital social da Gafisa após a operação e, com isso, chegar mais forte à assembleia.
“Ao promover o aumento de capital, a Gafisa atropelou a prerrogativa da AGE de deliberar sobre essa decisão. Obviamente a administração da companhia tem interesses conflitantes e no mínimo deveria se declarar impedida de deliberar sobre isso”, diz a Esh.
Vale lembrar que a gestora, por meio do fundo Esh Theta, elevou recentemente sua fatia na incorporadora para pouco mais de 15,1%. Mas a participação deve ser diluída pois a gestora não subscreveu ações no aumento de capital.
Além da operação, a Esh questiona ainda a 17ª emissão de debêntures da companhia. Os ativos foram alvo do primeiro embate jurídico entre gestora e construtora, que terminou com a Esh obtendo uma liminar que impediu a conversão das debêntures em ações.
A Gafisa afirma que essa liminar trará prejuízo. Isso porque a decisão limita a capacidade de prosseguir com o desenvolvimento de projetos estratégicos em imóveis adquiridos com os R$ 245,5 milhões levantados pela operação.
Esses empreendimentos, aliás, são o motivo por trás do pedido inicial. A Esh alega que os terrenos negociados pertencem a uma empresa de Nelson Tanure, o controlador da companhia.
Ainda segundo fontes consultadas pela reportagem, a gestora afirma que todas as etapas da emissão foram irregulares e representam um “flagrante prejuízo à companhia e seus acionistas” para beneficiar Tanure.
Os títulos são conversíveis em ações. Considerando isso, a Esh acredita que o objetivo final da operação também é diluir os acionistas e aumentar a participação do empresário na companhia.