Desde que Lula foi eleito para o seu terceiro mandato como presidente da República, em 30 de outubro de 2022, os títulos públicos prefixados e atrelados à inflação vêm passando por intensa volatilidade e acumulam perdas que variam de 2% a 11% nesse período de um mês e meio.
Eleito com um discurso de frente ampla e indicativos de um direcionamento mais de centro na economia, o petista não demorou a deixar o mercado nervoso.
Logo após o segundo turno das eleições, a notícia de que o governo de transição pretendia fazer uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que furasse o teto de gastos em quase R$ 200 bilhões deixou os investidores preocupados com a trajetória da dívida pública brasileira.
A piora do risco fiscal, com uma perspectiva de aumento das despesas, e a ameaça ainda viva da inflação levaram a uma alta dos juros futuros em todos os vencimentos.
Se antes os investidores esperavam que a Selic permanecesse em 13,75% até meados do ano que vem e, então, começasse a cair, a perspectiva passou a ser de queda somente a partir do fim de 2023, com parte do mercado apostando até em uma nova alta para mais de 14%.
Quando os juros sobem, os títulos prefixados e atrelados à inflação sofrem: suas taxas se elevam, mas seus preços, caem. Entenda como funciona a precificação dos títulos públicos.
Após uma certa desidratação da PEC da Transição no Senado, os juros futuros passaram até por algum alívio, com consequente recuperação dos preços dos títulos.
Mas a nomeação de Fernando Haddad para o Ministério da Fazenda, o rumor - depois confirmado - de mudança na Lei das Estatais, e a escolha de Aloizio Mercadante para a presidência do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) voltaram a deixar o mercado tenso, levando as taxas para cima de novo.
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A impressão do investidor é de que "o governo de frente ampla", afinal, não vai acontecer, ao menos não na economia.
A equipe econômica está ficando com a cara do PT, levantando temores de um governo mais gastador e intervencionista da economia do que o esperado inicialmente, como já foram as gestões de Dilma e o segundo mandato de Lula.
Veja na tabela a seguir o desempenho dos títulos prefixados (Tesouro Prefixado) e atrelados à inflação (Tesouro IPCA+ ou NTN-B), ainda disponíveis para compra no Tesouro Direto, desde que Lula ganhou a eleição:
Título | Variação desde 30 de outubro | Taxa de juros atual (remuneração)* |
Tesouro IPCA+ 2045 | -11,33% | IPCA + 6,35% |
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 2055 | -9,51% | IPCA + 6,41% |
Tesouro Prefixado 2029 | -7,83% | 13,65% |
Tesouro Prefixado com Juros Semestrais 2033 | -6,96% | 13,60% |
Tesouro IPCA+ 2035 | -6,17% | IPCA + 6,42% |
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 2040 | -5,89% | IPCA + 6,39% |
Tesouro IPCA+ com Juros Semestrais 2032 | -3,54% | IPCA + 6,44% |
Tesouro Prefixado 2025 | -2,45% | 13,91% |
Tesouro IPCA+ 2026 | -2,13% | IPCA + 6,52% |
Fonte: Tesouro Direto
Repare que os títulos mais longos, mais voláteis e sensíveis à variação do risco fiscal do país, foram os que mais sofreram, enquanto os mais curtos caíram menos.
Momento é bom para a compra de títulos públicos
Por outro lado, quem adquirir esses papéis agora, contratará taxas gordas até seus vencimentos - lembre-se de que as desvalorizações só são realizadas por quem vende o papel antes do vencimento em um momento de mercado desfavorável; quem fica com o título até o vencimento embolsa exatamente a rentabilidade contratada na compra.
Isso significa que é possível travar, por vários anos, rendimentos superiores a 13% ao ano em prefixados ou de mais de 6% ao ano acima da inflação em Tesouro IPCA+, que são retornos historicamente elevados para esses tipos de títulos.
Para quem prefere não encarar a dor de barriga do sobe e desce dos juros (e preços), basta lembrar que o bem menos volátil e mais conservador Tesouro Selic, cuja remuneração é indexada à taxa básica de juros, está se beneficiando da taxa de 13,75% ao ano neste momento, que deve permanecer neste patamar até o final do ano que vem.