BC da Inglaterra tenta defender a libra, mas causa choque inicial no mercado; entenda a crise
Governo britânico levou um puxão de orelha do Fundo Monetário Internacional, uma repreensão rara para economias tão desenvolvidas; saiba o que o FMI falou
Os britânicos estão vivendo sob um verdadeiro fogo cruzado depois que a recém empossada primeira-ministra Liz Truss apresentou um novo plano fiscal que foi desenhado para ajudar a economia do Reino Unido crescer.
Só que, ao que tudo indica, o tiro do governo saiu pela culatra. Os mercados vêm reagindo negativamente desde que a proposta se tornou pública. Resultado: a libra passou a renovar mínimas ante o dólar e os juros projetados pelos títulos de dívida do governo britânico — os chamados Gilts — dispararam.
Uma combinação para lá de explosiva para uma economia que ainda sente os efeitos da pandemia de covid-19 e tem a guerra entre Ucrânia e Rússia acontecendo em seu quintal.
O plano de BC para salvar a libra
Para impedir que essa explosão aconteça, o Banco da Inglaterra (BoE, o banco central britânico) se viu forçado a intervir. Nesta quarta-feira (28), a autoridade monetária anunciou que fará compras temporárias dos Gilts, os títulos do governo, de longo prazo.
Essas aquisições começaram hoje mesmo e se estenderão até 14 de outubro, e serão feitas "em qualquer escala que for necessária" para restaurar a ordem nos mercados financeiros.
A reação do mercado ao programa do BoE foi imediata. Os juros dos Gilts de 30 anos e 10 anos do Reino Unido caíram acentuadamente após o anúncio, enquanto a libra inicialmente recuou 1,5% em relação ao dólar antes de se recuperar ligeiramente para ser negociada em torno de US$ 1,066.
O BoE decidiu ainda adiar as vendas de Gilts que teriam início na próxima semana, como parte de um processo de aperto quantitativo. As primeiras operações de venda dos bônus foram remarcadas para 31 de outubro.
Nesta semana, os juros projetados pelo Gilt de 10 anos alcançaram os maiores níveis desde 2008 e a libra atingiu mínima histórica frente ao dólar, em reação a planos de cortes de impostos e aumentos de gastos revelados pelo governo britânico na sexta-feira (23).
Comportamento dos Gilts ao longo dos anos:
FMI não gosta do plano que demoliu a libra
O plano fiscal, apresentado pelo novo ministro das Finanças do Reino Unido, Kwasi Kwarteng, na sexta-feira (23), reduz tributos em 45 bilhões de libras até 2026.
Visando uma tendência de crescimento de 2,5%, a proposta inclui eliminar uma taxa de imposto de renda de 45% sobre ganhos de mais de 150 mil libras por ano para manter a taxa em 40% e reduzir os impostos pagos pelos compradores de casas.
A proposta geral já exigiria por si a tomada de mais empréstimos pelo governo britânico. Para agravar a situação, Kwarteng prometeu logo depois ainda mais cortes de impostos além do pacote de 45 bilhões de libras que ele anunciou na sexta-feira.
Em uma rara e pungente repreensão a uma economia desenvolvida tão grande, o Fundo Monetário Internacional (FMI) alertou nesta quarta-feira (28) que os cortes de impostos — os maiores do país desde o início dos anos 1970 — provavelmente acelerariam a inflação e aumentariam a desigualdade.
“Entendemos que o grande pacote fiscal anunciado visa ajudar famílias e empresas a lidar com o choque energético e impulsionar o crescimento por meio de cortes de impostos e medidas de abastecimento”, disse um porta-voz do FMI.
“No entanto, dadas as pressões inflacionárias elevadas em muitos países, incluindo o Reino Unido, não recomendamos pacotes fiscais grandes e não direcionados neste momento, pois é importante que a política fiscal não funcione em oposição à política monetária”, acrescentou.
- Leia também: Por que o pacote de Liz Truss está provocando uma corrida global ao dólar e demolindo a libra
Vem mais por aí?
Muitos economistas importantes descreveram as medidas pouco ortodoxas de Truss como uma aposta imprudente e alertaram que elas forçarão o Banco da Inglaterra a pisar no freio com ainda mais força, enquanto tenta domar a inflação que já está perto do maior nível em 40 anos, beirando os 10%.
Por isso, alguns deles passaram a prever a convocação de uma reunião extraordinária com vistas a um novo aperto monetário para ajudar a conter a queda da libra e acalmar a inflação.
Se isso acontecer, o novo aumento do juro viria pouco tempo depois de o banco central britânico elevar a taxa básica em meio ponto percentual, para 2,25%, e antes de sua próxima reunião oficial em 3 de novembro.
Agentes do mercado preveem agora que a taxa de juro no Reino Unido pode chegar a 5,5% até março.
O aperto monetário de setembro foi o sétimo consecutivo e levou o juro ao maior nível em 14 anos. Uma elevação adicional da taxa básica aumentaria os custos mensais de hipotecas para milhões de proprietários.
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