Como diria Galvão Bueno: “vai se criando um clima terrível” para a próxima reunião do Federal Reserve (Fed), marcada para os dias 13 e 14. O dado de emprego de novembro mais forte do que o esperado derruba Wall Street e coloca um ponto de interrogação sobre o tamanho do aumento do juro no encontro de política monetária deste mês.
Na quarta-feira (30), o presidente do Fed, Jerome Powell, animou os mercados ao reafirmar o compromisso com um ritmo mais brando de elevação da taxa básica — reforçando as apostas em um aperto de 0,50 ponto percentual (pp) depois de quatro altas seguidas de 0,75 pp.
Na ocasião, Wall Street disparou, com o Nasdaq na casa de 3%, e o S&P 500 passando de 2%.
A alegria dos investidores, no entanto, durou pouco. O payroll, como é conhecido o relatório de emprego nos EUA, deu um olé em quem estava seguro de um aumento menor do juro e voltou a colocar um Fed mais agressivo na cara do gol.
Em novembro, a economia norte-americana criou 263 mil vagas, acima da abertura de 200 mil postos de trabalho esperada pelos economistas consultados pela Dow Jones. A taxa de desemprego manteve-se estável em 3,7%.
Além da criação de vagas acima do esperado, o salário também seguiu aumentando — e alimentando o temor de uma inflação ainda mais acelerada. No mês passado, os ganhos médios por hora subiram 0,6%, para US$ 32,82. Em 12 meses, o salário médio por hora teve alta de 5,1%.
"O mercado de trabalho norte-americano tem sido um dos principais geradores de inflação no país e ainda se apresenta forte e resiliente”, disse Carlos Vaz, CEO da Conti Capital, gestora de investimentos nos EUA.
“O volume de criação de vagas acima do que era esperado pode refletir negativamente no mercado, causando ainda mais volatilidade e incerteza, uma vez que precisamos de um desaquecimento neste segmento para controlar o aumento generalizado de preços de bens e serviços”, acrescentou.
Fed: Bullard tinha avisado antes
Não faz muito tempo que os investidores haviam colocado em campo a possibilidade de o Fed elevar o juro em 0,75 pp pela quinta vez seguida.
Isso aconteceu quando James Bullard, presidente do Fed de Saint Louis, disse no início da semana que o mercado financeiro estava subestimando as chances de o banco central norte-americano se manter agressivo no aperto monetário para controlar a inflação.
Na ocasião, Bullard chegou inclusive a dizer que preferia que o Fed agisse mais rapidamente agora no aumento do juro para que as pressões sobre os preços diminuam ao longo de 2023.
Com as declarações, o mercado voltou a jogar na retranca. Até que, na quarta-feira desta semana, Powell colocou a bola no chão e pediu calma. O chefão do Fed sinalizou que iria continuar elevando o juro para conter a inflação, só que em ritmo menor do que vinha sendo feito até agora.
“Os dados do payroll de novembro estão moderando as expectativas de um Fed menos agressivo no curto prazo, depois que as esperanças aumentaram quando Powell sugeriu que a campanha de aperto pode ser desacelerada já neste mês”, disseram analistas da Schwab em relatório.
Payroll: Wall Street desaba
Wall Street reagiu mal aos dados de emprego mais quentes do que o esperado, preocupando os investidores que procuram sinais de que o Fed pode começar a desacelerar a alta do juro em dezembro.
“A forte criação de empregos e o aumento de salários reforçam o argumento do Fed de que mais precisa ser feito para controlar a inflação. Os dados sacudiram o mercado”, disse o economista chefe internacional do ING, James Knightley.
Assim que o payroll saiu, os futuros do Dow Jones caíram 315 pontos. O S&P 500 recuou 1,2%, enquanto o Nasdaq caiu 1,5%.
Depois que a Bolsa de Nova York abriu, a sangria continuou. Confira a variação e a pontuação dos principais índices de ações dos EUA por volta de 13h15:
- Dow Jones: -0,53%, 34.221,30 pontos
- S&P 500: -0,83%, 4.043,028 pontos
- Nasdaq: -1,13%, 11.352,69 pontos