Como Beto Sicupira, fundador da Ambev ao lado de Jorge Paulo Lemann, se tornou o 5º homem mais rico do Brasil
Sócio de Lemann e Marcel Telles e chamado de “rolo compressor” nas empresas, Sicupira atingiu uma fortuna de US$ 8,3 bilhões (R$ 42,6 bilhões)

Vai uma cervejinha aí? No caso de uma pessoa comum, isso seria um convite para beber, mas, para Carlos Alberto Sicupira, foi o começo do sonho grande que o levou ao patamar de uma das pessoas mais ricas do Brasil. Junto com Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles, ele é sócio da AB Inbev, a maior cervejaria do mundo e dona da brasileira Ambev.
Pela a apuração anual da revista Forbes, Beto Sicupira aparece como o quinto maior bilionário do país, com uma fortuna estimada em US$ 8,3 bilhões — o que, nas cotações atuais, chega a aproximadamente R$ 42,6 bilhões.
A maior parte da fortuna do empresário vem das ações da Anheuser-Busch InBev, na qual possui uma fatia de cerca de 3%.
Mas, para conseguir um patrimônio gigantesco como o de Sicupira, basta ser sócio de uma grande empresa? Confira o especial da Rota do Bilhão do Seu Dinheiro.
- SIGA A GENTE NO INSTAGRAM: análises de mercado, insights de investimentos e notícias exclusivas sobre finanças
Da Marinha aos jeans importados
A história de Carlos Alberto Sicupira começou na cidade do Rio de Janeiro em 1º de maio de 1948.
Quando criança, dificilmente os sonhos de Beto beiravam os bilhões na conta bancária. O que o pequeno carioca queria era entrar na Marinha, de modo a estar perto do mar, do qual era apaixonado.
Leia Também
Porém, há quem diga que “filho de peixe, peixinho é”. E, no caso de Beto, ser filho de um funcionário do Banco do Brasil e de uma dona de casa significou possuir um grande espírito empreendedor enquanto ainda adolescente.
Assim, Sicupira passou a vender carros usados com um amigo na adolescência. Dos automóveis, certamente ao som de muito iê-iê-iê, ele passou para o ramo da moda.
O jovem empresário fez dinheiro importando dos Estados Unidos um item que, desde os anos 1960, se perpetua de geração em geração: a calça jeans.
A entrada de Beto Sicupira no mercado financeiro
Bastante capitalizado para um rapaz de apenas 17 anos, Beto Sicupira quis comprar uma corretora de valores. Para fechar a compra, ele pediu para ser emancipado. Porém, a história da corretora não durou muito.
Enquanto cursava administração de empresas na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), decidiu passar adiante o negócio.
Dali para frente, Beto se dedicou ao serviço público, passando pelo Departamento Nacional de Estradas de Ferro, Porto do Rio de Janeiro, e Serviço Federal de Processamento de Dados. A burocracia foi outra coisa que durou pouco na vida do carioca.
As águas de Jorge Paulo Lemann e Beto Sicupira
Passada a tentativa da vida burocrática, Beto voltou para o mercado financeiro em 1968. E, aos 20 anos de idade, Sicupira comprou (pasmem) outra corretora de valores com um grupo de amigos.
Cinco anos depois disso, Carlos passaria a trabalhar com o seu hoje sócio Jorge Paulo Lemann. Mas vamos do começo.
A chegada de Lemann na vida de Beto não se deu através de uma interação numa mesa de operações em algum lugar do Leblon. Na realidade, de uma maneira ou outra, a vida achou um jeito de juntar as duas paixões de Sicupira em um só encontro: o mar e o trabalho.
E foi assim que os dois se conheceram: por meio da pesca submarina, um “passatempo” que deu a Sicupira quatro recordes mundiais e seis brasileiros.
O poder da pesca
O encontro dos dois executivos poderia não ter significado nada. Afinal, por que a pesca submarina criaria uma parceria?
Apesar de parecer em nada relacionada com o mercado de ações, a caça debaixo d’água exige precisão, paciência e envolve risco.
E, ao dividirem momentos de pesca subaquática, Jorge viu em Sicupira um profissional ideal para levar para sua recém-comprada corretora Garantia. Em 1973, o convidou a integrar seu time.
O início das sociedades do trio
Quando aceitou a proposta, Beto não fazia ideia dos requisitos básicos para considerar uma vaga de emprego — como o cargo que teria ou quanto ia receber no fim do mês.
Mas acabou que esta se tornou a primeira sociedade de Carlos Sicupira com Jorge Paulo Lemann e Marcel Telles. Desse momento em diante, a Garantia deixou de ser uma corretora de valores e assumiu o papel de banco de investimentos.
A Garantia foi a primeira empresa que cultivou os valores que marcaram o negócio do trio: a meritocracia e a partnership. Na corretora, Lemann pagava salários inferiores aos funcionários, mas todos poderiam ganhar bônus se atingissem as metas — e os melhores tinham a chance de se tornarem sócios.
Fatias do bolo da Americanas
Lá pelo começo dos anos 1980, o trio decidiu que, dado o sucesso da Garantia, era hora de ir para além das finanças tradicionais e começaram a investir em empresas.
A princípio, eles compraram ações da Alpargatas, negócio esse que não deu muito certo na época. Então, Carlos Beto Sicupira e seus sócios decidiram partir para a aquisição de papéis da Lojas Americanas — que já estava no radar de Jorge Paulo Lemann.
Na época, a varejista estava passando por poucas e boas, uma vez que os fundadores não estavam acompanhando o negócio de perto. Em 1981, o trio pagou US$ 24 milhões por uma fatia de 70% da empresa. Beto Sicupira foi o escolhido para representar o Garantia na Americanas.
Beto Sicupira, o rolo compressor
“É bem mais seguro ser temido do que amado”, escreveu Nicolau Maquiavel lá em 1513. Apesar dos séculos de diferença, Sicupira seguiu bem os pensamentos do filósofo italiano.
Assim que entrou para a Americanas, Beto criou uma estratégia: conhecer o time, ficar com os melhores, demitir os demais e cortar custos.
Então, surgiu a fama que o trio carrega hoje: em poucos meses, 40% do quadro de funcionários foi demitido. Estamos falando de 6,5 mil pessoas na rua.
Carlos Alberto Sicupira já foi chamado de "trator", "dono da verdade" e "rolo compressor" por colegas de trabalho. Para Lemann, Sicupira é como um militar “que gosta de botar ordem em qualquer coisa”.
Com o terror no ambiente de trabalho, o nada-amigável-carioca fez a Americanas valer bem mais do que quando o Garantia se tornou controlador.
Sicupira no setor imobiliário
Não é inteligente ficar fechado em uma só visão de negócios. E Carlos Alberto Sicupira levou a sério a diversificação dos negócios — mas sempre com um olho afiado para as melhores oportunidades.
Em 1989, Beto fundou a São Carlos Empreendimentos Imobiliários, transferindo para a nova empresa os imóveis que eram das Americanas.
Nessa época, enquanto o carioca estava ocupado com a varejista e a empresa imobiliária, o Garantia comprou a Brahma, a maior fabricante de cerveja no Brasil na época. O sócio de Sicupira, Marcel Telles, foi o escolhido para cuidar da reestruturação da cervejaria.
A reestruturação da Brahma
A fama do trio em relação a demissões não cabe só a Beto Sicupira. Telles decidiu utilizar na Brahma os mesmos princípios testados nas Americanas.
Ou seja, corte de custos considerados supérfluos, demissões em massa, bônus para os melhores profissionais e ainda um programa de trainee para caçar talentos.
E não somente bônus. Sob consultoria de Vicente Falconi, especialista em métodos gerenciais, métodos de remuneração variável e padronização.
Beto Sicupira e Alex Behring
Carlos Beto Sicupira não tinha medo de seguir os próprios princípios, e deixou a Americanas para dar lugar às novas gerações.
Então, Sicupira voltou para o Garantia e criou o primeiro fundo de private equity — que investe em participações em empresas — do Brasil em 1993, a GP Investimentos.
Durante suas viagens para o exterior para levantar fundos, Beto Sicupira conheceu em Harvard aquele que mais tarde seria seu sócio na 3G Capital: Alex Behring. Depois de escutar boas coisas sobre o executivo, Sicupira ofereceu uma vaga de analista na GP para Behring.
Em 1997, Alex foi escolhido por Beto para tocar a concessão da Rede Ferroviária Federal, que viria a se tornar ALL e deu origem à atual Rumo (RAIL3). Sicupira deu apenas uma instrução a Behring.
“Durante o primeiro ano, você e seu time não façam nada que tenha a ver com o negócio. Façam coisas que exijam apenas bom senso, enquanto aprendem como funciona a empresa. Se vocês fizerem coisas muito ligadas ao negócio, há grande chance de sair bobagem.”
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADECONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE
Em dez anos, a ALL virou a maior operadora logística de trens da América Latina.
Foco em cervejaria
Porém, não só de casos de sucesso vive a GP Investimentos. A empresa de private equity investiu em diversas empresas de diversos setores que deram muito errado. O próprio Garantia também passou por maus bocados durante as crises financeiras no fim dos anos 1990.
Essa falta de foco incomodava Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles. Então, no começo dos anos 2000, os bilionários decidiram vender suas fatias na GP e focar no ramo de cervejas.
Em 1999, o trio de empresários, que já comandava a Brahma, fechou a compra da principal rival, a Antarctica. O negócio deu origem ao “sonho grande” da AB Inbev, a quinta maior fabricante de cervejas do mundo e detentora de 73% do mercado brasileiro de bebidas.
A sequência de aquisições não parou por aí. Nos anos seguintes, a Ambev foi para o exterior preparada para ir às compras.
Em 2001 e 2002, foram adquiridas a paraguaia Cervecería Nacional e a argentina Quilmes, respectivamente.
Dois anos depois, veio a fusão da Ambev com a belga Interbrew, fabricante da Stella Artois. Em 2006, foi a vez da Budweiser, e a Inbev fez uma proposta para comprar a Anheuser-Busch.
Por fim, em 2015, o trio comprou a concorrente sul-africana SABMiller, por US$ 108 bilhões. Porém, apesar da consolidação no mercado, a transação mais que dobrou a dívida da gigante global de cervejas.
Sicupira, Lemann, Telles e a 3G Capital
Assim que venderam as ações da GP para investir no sonho grande, Lemann, Telles e Sicupira também focaram em um novo negócio.
Em 2004, foi criada a 3G Capital, uma empresa de investimentos focada em aplicar parte do patrimônio em empresas dos Estados Unidos. O trio ainda decidiu convidar Alex Behring para fazer parte da empreitada.
Em 2010, a empresa de investimentos comprou o Burger King, um dos ícones do capitalismo dos Estados Unidos, por US$ 4 bilhões.
Três anos depois, a 3G Capital adicionou a Heinz no portfólio, com a compra da fabricante de condimentos por US$ 28 bilhões.
Em 2015, surgiu a Kraft Heinz, a quinta maior empresa de alimentos do mundo. A companhia nasceu de um negócio em conjunto pela 3G e pela Berkshire Hathaway, do bilionário Warren Buffett, por US$ 62,3 bilhões.
Com algumas adaptações aos novos tempos, as empresas da 3G Capital ainda hoje seguem à risca um dos mandamentos de Sicupira: “Os custos são como unhas. Você tem que sempre cortá-los. Caso contrário, não vão parar de crescer.”
Itaú (ITUB4), de novo: ação é a mais recomendada para abril — e leva a Itaúsa (ITSA4) junto; veja outras queridinhas dos analistas
Ação do Itaú levou quatro recomendações entre as 12 corretoras consultadas pelo Seu Dinheiro; veja o ranking completo
Liberdade ou censura? Até que ponto as redes sociais devem “deixar rolar”: uma discussão sobre Tigrinho, ódio e mentiras
Até que ponto o discurso em nome da liberdade de expressão se tornou uma forma das big techs tirarem as responsabilidades de si mesmas?
Solidão, futuro cancelado e as corridas de 10 km: o mundo visto pelas lentes do Instagram e do TikTok em 2024
Quem costuma ler meus textos por aqui, sabe que gosto de começar com algum detalhe sobre mim. Os livros que gosto, os que odeio, alguma experiência da minha vida, algo que ouvi falar… Assim, vamos nos tornando mais íntimos um mês de cada vez. O texto de hoje é um desses. Quero falar sobre sonhos… […]
Quem é Justin Sun, o bilionário das criptos que virou sócio em sonho pessoal de Trump e comeu a banana mais cara da história
Ícone das criptomoedas possui história excêntrica, desde proximidade com Donald Trump a título de primeiro-ministro de micronação
Jovens conservadores: a Geração Z está desiludida a esse ponto? De onde vem a defesa de ‘valores tradicionais’ nas redes sociais?
As melhores distopias são necessariamente um retrato exacerbado do presente, que funcionam como uma espiada sensacionalista do está por vir se a sociedade decidir seguir determinado rumo. É como se a obra estivesse o tempo todo nos ameaçando com um futuro terrível… como se fosse a foto de um pulmão cinza e cheio de câncer […]
Eleições de 2024: Enquanto todos temiam a inteligência artificial, foi a picaretagem à moda antiga que marcou a campanha
Enquanto muitos temiam os deepfakes, a grande mentira das eleições de 2024 pareceu mais algo criado na década de 1930. O que aconteceu?
Da tolerância e outros demônios: como o Instagram e o TikTok estão mudando nossa relação com a arte?
A nossa relação com a arte mudou depois das redes sociais, mas até onde isso pode ser considerado uma coisa boa?
Por que os influencers viraram “a voz de Deus” nas redes sociais — e como a parcela dos ‘sem escrúpulos’ prejudicam o próprio público
Se antes a voz do povo era a voz de Deus, agora Ele parece ter terceirizado o serviço para uma casta de intermediários: os influencers. Munidos pela força do algoritmo das redes sociais, que exige cada vez mais do nosso tempo, eles parecem felizes em fazer esse trabalho, até porque são muito bem pagos por […]
Quanto de mim e de você tem no ChatGPT? Como nossos dados viraram o novo petróleo desta revolução
“As rodas da máquina têm de girar constantemente, mas não podem fazê-lo se não houver quem cuide delas”. Na falta de um jeito original de começar a news desta semana, recorro ao ChatGPT para me fazer parecer mais sofisticada. Oi, Chat! [digito educadamente na intenção de ser poupada caso as IAs tomem o poder] Quero […]
Lula e Bolsonaro estavam errados sobre o Plano Real — e eles tinham um motivo para isso 30 anos atrás
Enquanto Bolsonaro votou contra o Plano Real em 1994, Lula disputava a presidência contra Fernando Henrique Cardoso
Os carros mais injustiçados do Brasil: 7 modelos de bons automóveis que andam empacados nas concessionárias — mas talvez não seja à toa
Esses carros são reconhecidamente bons produtos, mas vendem pouco; saiba quando (e se) vale a pena comprá-los
Por que tem tanta gente burra nas redes sociais? Você provavelmente é o mais inteligente do seu círculo — qual é o problema oculto disso
Você provavelmente é mais inteligente entre seus círculo de conhecidos nas redes sociais. E aqui está o real motivo por trás disso
Como nossos pais: o TikTok não está oferecendo nada além do ultrapassado — e os jovens adoram. Mas por que achamos que seria diferente?
“Minha dor é perceber que apesar de termos feito tudo o que fizemos, ainda somos os mesmos e vivemos como os nossos pais”. Talvez seja um pouco irônico começar um texto sobre nostalgia citando uma música que me foi ensinada pelo meu próprio pai — e que fala sobre conflitos geracionais… A proposta de hoje: […]
O que o TikTok, Instagram e Facebook têm a ver com as guerras em Gaza e na Ucrânia
Começo o texto desta semana com uma história que envolve o TikTok, Vladimir Putin e um jovem sub-astro da rede, filho de dois viciados em droga que perderam a guarda dele antes mesmo de seu primeiro aniversário. O contexto que une esses personagens é a guerra na Ucrânia. O jovem em questão é Denys Kostev, […]
A morte da internet, o caso Choquei e o crime sem solução: o que Trump tem a ver com isso — e os desafios para redes em 2024
Você pode sair deste texto preocupado…
Pesquisei como ganhar R$ 1 mil por mês sem trabalhar — e a resposta mais fácil não estava no Google e sim no TikTok
Este texto não é sobre ganhar dinheiro, é sobre uma tendência
O WhatsApp criou mais um arma para espalhar mentiras ou os canais ajudam a quebrar o monopólio do “tio do zap”?
“Ah, é aquela rede social de gente mentirosa”, é o que eu ouço do meu avô de 91 anos ao tentar explicar o que é o Telegram. Assíduo espectador de noticiários, ele se referia não só às vezes em que a plataforma russa teve problemas com a Justiça brasileira, mas também ao seu conhecido uso […]
Os bilionários piraram? Elon Musk e Mark Zuckerberg ameaçam brigar no ringue, mas tomam nocaute em suas redes sociais
Os dois marcaram uma briga física, mas a batalha real é outra
Onde investir no segundo semestre de 2023: veja melhores investimentos neste guia gratuito
Com desafios e oportunidades pela frente, o Seu Dinheiro reuniu as melhores oportunidades indicadas pelos especialistas em um guia exclusivo; baixe gratuitamente
Este episódio de Black Mirror não está na Netflix, mas vai alugar um triplex na sua cabeça: descubra como o ChatGPT pode até mesmo ‘roubar’ o lugar da sua namorada
Um homem chega em casa exausto depois de uma semana intensa de trabalho. É sexta -feira e tudo está em silêncio, o lugar está escuro. Ele mora sozinho. O vazio do ambiente começa a contaminá-lo a ponto de despertar uma certa tristeza pela solidão que enfrentaria nas próximas horas. Ele se senta no sofá e, […]