Onde vai parar a inflação? Entenda por que o mercado ainda não conseguiu precificar os riscos derivados da alta dos preços – e dos juros
Juros e inflação devem aumentar nos próximos anos, levando várias economias a flertar com risco de recessão ou estagflação entre 2023 e 2024
Se pensávamos que abril tinha sido um mês difícil, quem dirá o mês de maio. Os últimos dias têm sido especialmente complicados para ativos de risco ao redor do mundo inteiro, com muita volatilidade sobre os investimentos de maneira geral.
Poucos são os nomes que conseguem se salvar em meio à realização generalizada. Nem mesmo o Brasil, que até o final de março havia conseguido se desvencilhar do humor global, consegue escapar agora.
Claro, há uma tempestade perfeita de crises no ambiente global que propicia a formação de sentimento de aversão ao risco:
- i) lockdown na China;
- ii) guerra na Ucrânia;
- iii) continuidade dos problemas nas cadeias de suprimentos;
- iv) temor de recessão; e, por fim, mas não menos importante;
- v) inflação e o aperto monetários nos países desenvolvidos, em especial nos EUA.
Investidores temem que aperto monetário leve a recessão
O quinto ponto apresentado acima talvez seja o mais relevante e de maior importância, principalmente depois da Super Quarta da semana passada, em que o Federal Reserve dos EUA e o Banco Central do Brasil movimentaram sua política monetária e se comunicaram com o mercado — buscando responder à elevação dos preços, as autoridades vêm subindo os juros e contraindo a liquidez de diferentes maneiras, como a redução do balanço de ativos.
O problema? Os investidores temem que a aceleração do ritmo de aumento das taxas de juros possa arrastar a economia para a recessão. Nesta semana, porém, mais importante do que a taxa de juros em si será a divulgação dos índices de inflação no Brasil e nos EUA.
- ESTÁ GOSTANDO DESTE CONTEÚDO? Tenha acesso a ideias de investimento para sair do lugar comum, multiplicar e proteger o patrimônio.
Inflação nos EUA estaria próxima do pico
Na terra do tio Sam, a inflação está na máxima de 40 anos, e os americanos estão sentindo isso. Diferente de nós, brasileiros, os americanos não estão acostumados com a dor inflacionária, o que prejudica o sentimento do consumidor.
Leia Também
Flávio Day: veja dicas para proteger seu patrimônio com contratos de opções e escolhas de boas ações
Felizmente, alguns investidores acreditam que o fardo pode diminuir em breve e que atingiremos um pico inflacionário por lá. Em outras palavras, parte do mercado acredita que é provável que a inflação já tenha atingido um pico por conta própria.
Portanto, salvo uma grande surpresa, a taxa básica de inflação dos EUA terá sido mais baixa em abril do que em março — mesmo a previsão mais alta submetida à pesquisa regular da Bloomberg está prevendo um declínio.
Assim, há esperança de que o ponto alto da inflação tenha finalmente sido alcançado.
Autoridades monetárias monitoram sinais de inflação
Um indício de que isso deverá acontecer foi que o núcleo do índice de gastos com consumo pessoal (excluindo os preços de alimentos e energia), que o Federal Reserve acompanha de perto para medir o preço de bens e serviços, cresceu 5,2% em março, ficando abaixo das expectativas dos economistas e caindo na comparação mensal pelo primeiro período desde outubro de 2020.
Outra evidência de apoio para um pico na inflação nos EUA veio como parte do relatório de folha de pagamento não agrícola de sexta-feira passada, que estava amplamente alinhado com as expectativas.
O crescimento médio dos ganhos por hora diminuiu muito ligeiramente, gerando esperanças de que uma espiral de preços e salários possa ser evitada, como podemos ver abaixo.
Ou seja, ainda é possível que um aumento nos salários que eleve os preços possa ser evitado. Portanto, ainda que seja muito cedo para dizer isso com confiança, a pressão do mercado de trabalho pode estar começando a melhorar nos EUA.
O que é inflação pegajosa
O Federal Reserve de Atlanta divide a inflação em duas categorias: rígida (pegajosa) e flexível. A inflação pegajosa é uma cesta de bens que tende a mudar mais lenta e permanentemente — como o custo da educação, transporte público e seguro de veículos motorizados. A inflação flexível, por sua vez, inclui itens que sobem e descem de custo mais rapidamente — gasolina, roupas, e alguns alimentos como leite e queijo.
Durante a estagflação da década de 1970, tanto a inflação rígida quanto a flexível cresceram. Até agora, porém, a inflação rígida permaneceu relativamente estável em comparação com a inflação flexível, um bom sinal de que o processo inflacionário ainda pode ser temporário.
Desaceleração da atividade na China deve mudar dinâmica de preços das commodities
Outra razão para otimismo em relação à inflação é que os preços das commodities podem estar começando a mudar. Hoje, tais preços começaram a arrefecer por conta da desaceleração da atividade chinesa, exacerbada pelas paralisações da política de "zero Covid", que reduziu a demanda por metais no gigante asiático, como ilustrado pelo gráfico abaixo (queda de demanda do minério de ferro, especificamente).
Ainda assim, mesmo que esta semana tenhamos o pico dos índices de preço, a inflação está atualmente muito acima de qualquer nível que um banco central possa tolerar por muito tempo. O Fed e outros bancos centrais precisam ver um declínio rápido, e não apenas um pico, antes de desistirem de seu atual caminho agressivo de aumentos de taxas.
No Brasil, inflação só deve voltar para uma região aceitável em 2023 ou 2024
No Brasil, contudo, devemos ter mais alguma continuidade da inflação em abril, mês em que as expectativas esperam 12,07% de inflação, uma aceleração frente aos 11,30% de março. O pico por aqui deverá ser encontrado ainda no primeiro semestre, mas a normalização de volta para uma região aceitável se dará apenas entre 2023 e 2024, como podemos ver abaixo.
Minha leitura é que vivemos uma quebra de paradigma em âmbito global. Não víamos tais patamares de inflação há muito tempo, o que muda um pouco a dinâmica sobre as políticas de juro baixo.
Os próximos anos deverão ser de mais juros e mais inflação, flertando com a possibilidade de recessão ou estagflação em várias economias entre 2023 e 2024. Portanto, para os mercados financeiros, devemos ter mais alguns meses de instabilidade e volatilidade até que consigamos precificar isso de maneira apropriada.
- SIGA A GENTE NO INSTAGRAM: análises de mercado, insights de investimentos e notícias exclusivas sobre finanças.
Os testes da família Bolsonaro, o sonho de consumo do Magalu (MGLU3), e o que move a bolsa hoje
Veja por que a pré-candidatura de Flávio Bolsonaro à presidência derrubou os mercados; Magazine Luiza inaugura megaloja para turbinar suas receitas
O suposto balão de ensaio do clã Bolsonaro que furou o mercado: como fica o cenário eleitoral agora?
Ainda que o processo eleitoral esteja longe de qualquer definição, a reação ao anúncio da candidatura de Flávio Bolsonaro deixou claro que o caminho até 2026 tende a ser marcado por tensão e volatilidade
Felipe Miranda: Os últimos passos de um homem — ou, compre na fraqueza
A reação do mercado à possível candidatura de Flávio Bolsonaro reacende memórias do Joesley Day, mas há oportunidade
Bolha nas ações de IA, app da B3, e definições de juros: veja o que você precisa saber para investir hoje
Veja o que especialista de gestora com mais de US$ 1,5 trilhão em ativos diz sobre a alta das ações de tecnologia e qual é o impacto para o mercado brasileiro. Acompanhe também a agenda da semana
É o fim da pirâmide corporativa? Como a IA muda a base do trabalho, ameaça os cargos de entrada e reescreve a carreira
As ofertas de emprego para posições de entrada tiveram fortes quedas desde 2024 em razão da adoção da IA. Como os novos trabalhadores vão aprender?
As dicas para quem quer receber dividendos de Natal, e por que Gerdau (GGBR4) e Direcional (DIRR3) são boas apostas
O que o investidor deve olhar antes de investir em uma empresa de olho dos proventos, segundo o colunista do Seu Dinheiro
Tsunami de dividendos extraordinários: como a taxação abre uma janela rara para os amantes de proventos
Ainda que a antecipação seja muito vantajosa em algumas circunstâncias, é preciso analisar caso a caso e não se animar com qualquer anúncio de dividendo extraordinário
Quais são os FIIs campeões de dezembro, divulgação do PIB e da balança comercial e o que mais o mercado espera para hoje
Sete FIIs disputam a liderança no mês de dezembro; veja o que mais você precisa saber hoje antes de investir
Copel (CPLE3) é a ação do mês, Ibovespa bate novo recorde, e o que mais movimenta os mercados hoje
Empresa de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, a Copel é a favorita para investir em dezembro. Veja o que mais você precisa saber sobre os mercados hoje
Mais empresas no nó do Master e Vorcaro, a escolha do Fed e o que move as bolsas hoje
Titan Capital surge como peça-chave no emaranhado de negócios de Daniel Vorcaro, envolvendo mais de 30 empresas; qual o risco da perda da independência do Fed, e o que mais o investidor precisa saber hoje
A sucessão no Fed: o risco silencioso por trás da queda dos juros
A simples possibilidade de mudança no comando do BC dos EUA já começou a mexer na curva de juros, refletindo a percepção de que o “jogo” da política monetária em 2026 será bem diferente do atual
Tony Volpon: Bolhas não acabam assim
Wall Street vivencia hoje uma bolha especulativa no mercado de ações? Entenda o que está acontecendo nas bolsas norte-americanas, e o que a inteligência artificial tem a ver com isso
As lições da Black Friday para o universo dos fundos imobiliários e uma indicação de FII que realmente vale a pena agora
Descontos na bolsa, retorno com dividendos elevados, movimentos de consolidação: que tipo de investimento realmente compensa na Black Friday dos FIIs?
Os futuros dividendos da Estapar (ALPK3), o plano da Petrobras (PETR3), as falas de Galípolo e o que mais move o mercado
Com mudanças contábeis, Estapar antecipa pagamentos de dividendos. Petrobras divulga seu plano estratégico, e presidente do BC se mantém duro em sua política de juros
Jogada de mestre: proposta da Estapar (ALPK3) reduz a espera por dividendos em até 8 anos, ações disparam e esse pode ser só o começo
A companhia possui um prejuízo acumulado bilionário e precisaria de mais 8 anos para conseguir zerar esse saldo para distribuir dividendos. Essa espera, porém, pode cair drasticamente se duas propostas forem aprovadas na AGE de dezembro.
A decisão de Natal do Fed, os títulos incentivados e o que mais move o mercado hoje
Veja qual o impacto da decisão de dezembro do banco central dos EUA para os mercados brasileiros e o que deve acontecer com as debêntures incentivadas, isentas de IR
Corte de juros em dezembro? O Fed diz talvez, o mercado jura que sim
Embora a maioria do mercado espere um corte de 25 pontos-base, as declarações do Fed revelam divisão interna: há quem considere a inflação o maior risco e há quem veja a fragilidade do mercado de trabalho como a principal preocupação
Rodolfo Amstalden: O mercado realmente subestima a Selic?
Dentro do arcabouço de metas de inflação, nosso Bacen dá mais cavalos de pau do que a média global. E o custo de se voltar atrás para um formulador de política monetária é quase que proibitivo. Logo, faz sentido para o mercado cobrar um seguro diante de viradas possíveis.
As projeções para a economia em 2026, inflação no Brasil e o que mais move os mercados hoje
Seu Dinheiro mostra as projeções do Itaú para os juros, inflação e dólar para 2026; veja o que você precisa saber sobre a bolsa hoje
Os planos e dividendos da Petrobras (PETR3), a guerra entre Rússia e Ucrânia, acordo entre Mercosul e UE e o que mais move o mercado
Seu Dinheiro conversou com analistas para entender o que esperar do novo plano de investimentos da Petrobras; a bolsa brasileira também reflete notícias do cenário econômico internacional