Beta, e depois alpha: Saiba por que você precisa saber analisar a temporada de balanços antes de montar sua carteira
Depois de muito tempo de narrativas sobre juros, inflação e recessão, talvez estejamos entrando num momento em que os resultados individuais voltam a ser relevantes

Um dos poucos sinais de que ainda não enlouqueci é que carrego muito mais dúvidas do que certezas.
Uma das principais questões estruturais a me perturbar se refere à capacidade dos analistas e gestores de entregarem “alpha”, ou seja, um retorno consistente acima do benchmark, ajustado por risco.
Ah, sim, como pertenço ao ramo, é também uma dúvida existencial: me questiono todos os dias se eu mesmo tenho algum tipo de competência.
Os mercados são eficientes?
Há uma conversa maravilhosa entre Eugene Fama e Richard Thaler em que se apresenta “A Grande Questão” das Finanças: “Os mercados são eficientes?”
Eugene Fama é a maior personificação da Hipótese de Mercados Eficientes; Richard Thaler representa uma boa prosopopeia da Economia Comportamental, crítica às expectativas racionais e à eficiência irrestrita.
Não tenho resposta fechada para a pergunta. Desconfio de quem tenha.
Leia Também
Rodolfo Amstalden: Seu frouxo, eu mando te demitir, mas nunca falei nada disso
Rodolfo Amstalden: Escute as feras
Ofereço minha perspectiva, mera hipótese, sobre a questão; não com o intuito de promover um debate teórico diletante, mas tentando aplicar o instrumental analítico sobre as decisões práticas de investimento.
É possível existir um método infalível?
Cada vez mais, me inclino à ideia de que boa parte das informações disponíveis está devidamente incorporada ao preço dos ativos. Com um terminal Bloomberg e dois estagiários, milagres acontecem. E depois do Google todo mundo é inteligente.
Mais do que isso, ainda que aconteçam anedotas e desfuncionalidades aqui ou ali, não me parece ser possível haver um método infalível para bater o mercado com consistência. Ao menos não para toda e qualquer circunstância e mercado.
Se houvesse, esse mesmo método seria apropriado por outros agentes de mercado e as coisas seriam rapidamente arbitradas. Não há fórmula da Coca-cola entre os Faria Limers – eles seriam incapazes de manter algo em segredo por muito tempo.
Taleb e o localismo
Nassim Taleb insiste no “localismo”. Embora tradicionalmente seja uma referência geográfica, na verdade o conceito é mais amplo.
Certas vantagens podem existir, mas sempre sob determinadas características e especificidades, dependendo das condições de contorno.
Como Taleb entraria no debate sobre mercados eficientes?
Prêmios de risco
Robert Barro, recuperando artigo anterior de Thomas Rietz batizado "The equity risk premium: a solution”, argumenta que o prêmio de risco de mercado (mas poderia valer para qualquer ativo) estaria associado à presença de eventos raros.
Quanto mais curtose (caudas gordas) houver naquela distribuição de retornos, mais prêmio de risco será cobrado para comprar aquele ativo.
Com o medo de um evento raro negativo, o investidor cobra um retorno esperado muito alto para estar ali.
De fato, o argumento ajuda a explicar a existência dos prêmios de risco e a avançar sobre um dos maiores puzzles do ramo.
No entanto, ainda somos incapazes de modelar adequadamente o comportamento do tal “equity risk premium” (prêmio de risco de mercado).
Apesar dos avanços de Barro, predizer o comportamento dos prêmios de risco segue bastante difícil.
O comportamento dos ativos
Talvez aí possa entrar uma contribuição talebiana importante.
Ainda que o argumento central esteja preservado, de que cobra-se mais prêmio de risco sobre um ativo que carrega a possibilidade de eventos raros (retornos muito distantes da média), modelar seu comportamento será uma impossibilidade, justamente porque, como insiste Taleb, os cisnes negros não permitem modelagem.
Até porque qualquer econometria razoável exige amostras maiores; e como ter uma amostra grande de eventos raros, se eles são raros?
Alpha, beta e questões mais gerais
Uma das grandes dificuldades da Teoria Econômica aplicada às Finanças talvez seja pela necessidade de tornar questões particulares e localizadas mais gerais.
As preferências não são estáveis, as correlações mudam dramaticamente, os mercados apresentam idiossincrasias locais e conjunturais, os métodos ganhadores de dinheiro vão sendo trocados ao longo do tempo.
A evolução atual dos mercados oferece exemplo revelador.
No pânico, não há diferenciação. As correlações vão todas para 1 e tudo cai igual. Não há alpha, apenas beta, uma sensibilidade do respectivo ativo às condições gerais de mercado.
Um primeiro estágio de análise
No momento inicial da recuperação, também não há muita diferenciação.
As ações são como molas comprimidas que, subitamente, são descomprimidas.
Tudo volta, num primeiro estágio, meio junto, com cobertura de shorts e recomposição de exposição muito underweight, alimentadas pelo fear of missing out (medo de não participar da festa).
Surge a diferenciação
Já num segundo tempo, em que superamos os movimentos estritamente técnicos e podemos olhar para os fundamentos microeconômicos e particulares, as notícias das empresas propriamente ditas começam a fazer preço.
Aí acontece a verdadeira diferenciação e abre-se espaço para a geração de alpha.
Enquanto o petróleo cedia no mercado internacional e as empresas de consumo subiam com a perspectiva de fim do ciclo de alta dos juros por aqui, as ações de Alpargatas caíram 13,53%, depois da divulgação de resultados ruins relativos ao segundo trimestre. É um dos shorts da Carteira Empiricus.
Pode levar tempo, mas, no final, quem manda é o lucro (ou a ausência dele).
Depois de muito tempo em que vivemos de narrativas de rotation trade, do value sobre o growth, de corridas em direção a um lado ou outro por conta das questões sistêmicas de juro, inflação e recessão, talvez estejamos entrando num novo momento, em que os resultados individuais voltam a ser relevantes.
A temporada de balanços é uma ótima oportunidade para separar o joio do trigo.
Felipe Miranda: Dedo no gatilho
Não dá pra saber exatamente quando vai se dar o movimento. O que temos de informação neste momento é que há uma enorme demanda reprimida por Brasil. E essa talvez seja uma informação suficiente.
Rodolfo Amstalden: As expectativas de conflação estão desancoradas
A principal dificuldade epistemológica de se tentar adiantar os próximos passos do mercado financeiro não se limita à já (quase impossível) tarefa de adivinhar o que está por vir
Felipe Miranda: Vale a pena investir em ações no Brasil?
Dado que a renda variável carrega, ao menos a princípio, mais risco do que a renda fixa, para se justificar o investimento em ações, elas precisariam pagar mais nessa comparação
Rodolfo Amstalden: Para um período de transição, até que está durando bastante
Ainda que a maior parte de Wall Street continue sendo pró Trump, há um problema de ordem semântica no “período de transição”: seu falsacionismo não é nada trivial
Tony Volpon: As três surpresas de Donald Trump
Quem estudou seu primeiro governo ou analisou seu discurso de campanha não foi muito eficiente em prever o que ele faria no cargo, em pelo menos três dimensões relevantes
Dinheiro é assunto de mulher? A independência feminina depende disso
O primeiro passo para investir com inteligência é justamente buscar informação. Nesse sentido, é essencial quebrar paradigmas sociais e colocar na cabeça de mulheres de todas as idades, casadas, solteiras, viúvas ou divorciadas, que dinheiro é assunto delas.
Rodolfo Amstalden: Na esperança de marcar o 2º gol antes do 1º
Se você abre os jornais, encontra manchetes diárias sobre os ataques de Donald Trump contra a China e contra a Europa, seja por meio de tarifas ou de afrontas a acordos prévios de cooperação
Rodolfo Amstalden: Um Brasil na mira de Trump
Temos razões para crer que o Governo brasileiro está prestes a receber um recado mais contundente de Donald Trump
Rodolfo Amstalden: Eu gostaria de arriscar um palpite irresponsável
Vai demorar para termos certeza de que o último período de mazelas foi superado; quando soubermos, porém, não restará mais tanto dinheiro bom na mesa
Rodolfo Amstalden: Tenha muito do óbvio, e um pouco do não óbvio
Em um histórico dos últimos cinco anos, estamos simplesmente no patamar mais barato da relação entre preço e valor patrimonial para fundos imobiliários com mandatos de FoFs e Multiestratégias
Felipe Miranda: Isso não é 2015, nem 1808
A economia brasileira cresce acima de seu potencial. Se a procura por camisetas sobe e a oferta não acompanha, o preço das camisetas se eleva ou passamos a importar mais. Não há milagre da multiplicação das camisetas.
Tony Volpon: O paradoxo DeepSeek
Se uma relativamente pequena empresa chinesa pode desafiar as grandes empresas do setor, isso será muito bom para todos – mesmo se isso acabar impactando negativamente a precificação das atuais gigantes do setor
Rodolfo Amstalden: IPCA 2025 — tem gosto de catch up ou de ketchup mais caro?
Se Lula estivesse universalmente preocupado com os gastos fiscais e o descontrole do IPCA desde o início do seu mandato, provavelmente não teria que gastar tanta energia agora com essas crises particulares
Rodolfo Amstalden: Um ano mais fácil (de analisar) à frente
Não restam esperanças domésticas para 2025 – e é justamente essa ausência que o torna um ano bem mais fácil de analisar
Rodolfo Amstalden: Às vésperas da dominância fiscal
Até mesmo os principais especialistas em macro brasileira são incapazes de chegar a um consenso sobre se estamos ou não em dominância fiscal, embora praticamente todos concordem que a política monetária perdeu eficácia, na margem
Rodolfo Amstalden: Precisamos sobre viver o “modo sobrevivência”
Não me parece que o modo sobrevivência seja a melhor postura a se adotar agora, já que ela pode assumir contornos excessivamente conservadores
Rodolfo Amstalden: Banda fiscal no centro do palco é sinal de que o show começou
Sequestrada pela política fiscal, nossa política monetária desenvolveu laços emocionais profundos com seus captores, e acabou por assimilar e reproduzir alguns de seus traços mais viciosos
Felipe Miranda: O Brasil (ainda não) voltou — mas isso vai acontecer
Depois de anos alijados do interesse da comunidade internacional, voltamos a ser destaque na imprensa especializada. Para o lado negativo, claro
Felipe Miranda: Não estamos no México, nem no Dilma 2
Embora algumas analogias de fato possam ser feitas, sobretudo porque a direção guarda alguma semelhança, a comparação parece bastante imprecisa
Rodolfo Amstalden: Brasil com grau de investimento: falta apenas um passo, mas não qualquer passo
A Moody’s deixa bem claro qual é o passo que precisamos satisfazer para o Brasil retomar o grau de investimento: responsabilidade fiscal