Conheça a maior bolha da bolsa brasileira — e sobre a qual você provavelmente nunca ouviu falar
Uma boa história financeira só existe com bolhas e crashes. Em 1888, começa a faísca pro maior crash do país — o maior de TODA a história do Brasil até os dias atuais. Nada comparável se repetiu

Por Beto Saadia, economista e sócio da BRA Investimentos
Aos que leem coisas do tipo “brasileiro tá aprendendo a investir agora” – eu rebato: o brasileiro investe em bolsa há séculos. Desde o início da monarquia (1822) já havia uma bolsa organizada por aqui.
Barão de Mauá foi o pioneiro no Brasil ao perceber o poder da congregação de capitais em produzir negócios e gerar riqueza. O “poder associativo”, nome mais elegante que partnership, “é a alma do progresso”, dizia.
Na metade do século 19, nossas empresas listadas eram verdadeiramente abertas, todas com direito a voto e sem barreiras ao capital estrangeiro.
Havia intensa participação de acionistas na vida das empresas e nas assembleias que constituíam evento econômico, social e político.
A explicação para a presença nas assembleias era a vida quotidiana pacata.
Leia Também
Felipe Miranda: O fim do Dollar Smile?
A bolsa do Rio de Janeiro
A bolsa principal era a do Rio de Janeiro e se tratava apenas de um lugar, não existindo como personalidade jurídica.
No início dos anos 1800 funcionou no finalzinho da Rua Primeiro de Março, quando encontra a igreja da Candelária, onde hoje é a Casa França-Brasil.
Não por acaso, é colado ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) – outro espaço de pregão que se tornou sede do Banco do Brasil bem depois, em 1930.
As negociações da bolsa
Para títulos de menor valor, penny stocks, as negociações eram livremente feitas a céu aberto nos arredores da Rua da Candelária.
Por conta disso, a arquitetura do saguão central do CCBB é arredondada, facilitando uma barreira física à entrada de corretores menores da rua para dentro do pitch.
A organização não cartorial, diferente dos dias atuais, permitia liberdade de horário no troca-troca de títulos, adaptando as negociações na ausência de eletricidade. Veja o estatuto da bolsa do rio em 1834.
A praça do comércio estará aberta ao público todos os dias que não forem domingo,
dias santos, das 9 da manhã até ao pôr do sol.
As bolhas e crashes das bolsas
Mas uma boa história financeira só existe com bolhas e crashes. São como Copas do Mundo, não dá pra contar a história do futebol sem elas.
Em 1888 começa a faísca pro maior crash do país. Não foi o maior da história somente até aquele momento. Foi o maior de TODA a história do país até os dias atuais. Nada comparável se repetiu.
A abolição dos escravizados seguida da nova república sinalizavam uma economia livre e produtiva. O ‘Posto Ipiranga', Ruy Barbosa, ligou a impressora de dinheiro como país de primeiro mundo.
E a bolsa de valores seria a principal locomotiva do país. Aliás, locomotivas eram blue chips na bolsa.
O título da ação mais negociado naquele ano de 1888 foi da Estrada de Ferro Leopoldina valendo 100 mil réis em janeiro. E não demoraram 6 meses pra marcar 190 mil réis – boataria de aquisição gringa.
Hoje, o prédio da estação está de pé, abandonado ali na praça da bandeira (RJ).
Bolhas de euforia e especulação na bolsa
Bolhas de euforia penetram nas diversas camadas sociais como fenômeno de psicologia das massas enriquecendo ingênuos e outsiders. Assim escreve o jornalista Veridiano de Carvalho em 1890.
Todos jogaram, o negociante, o médico, o jurisconsulto, o funcionário público, o corretor, o zangão
e os com pouco pecúlio e os com muito pecúlio.
Este outro trecho, do Visconde de Taunay, descreve a especulação democrática na esquina da Rua da Alfândega com a Candelária no Rio de Janeiro.
Todas as classes da sociedade misturadas, confundidas, um mundo de desconhecidos, outros infelizmente demasiadamente conhecidos. Gente recém-chegada do interior com a feição ainda tímida e acaipirada.
A ostentação máxima coube a Henry Lowndes. Ao invés de cavalos, uma parelha de Zebras importadas da África puxava sua Landau, suntuosa charrete de capota dupla que desfilava de sua casa do Catete ao pregão.
As ofertas públicas
Ofertas Públicas? Temos! A maior de toda a história. Entre julho de 1888 a março de 1891 foram, em média, 17 novas ofertas por mês.
A bolsa ostentou 456 empresas listadas no auge do boom. Hoje a B3 tem por volta de 400.
No início da euforia, ferrovias, fazendas. No auge, padarias, armazéns de costura e – funerária!
Era a Companhia Empresa Funerária que adquiria terrenos e prometia “fornecer serviço perfeito à sua última morada” — dizia o anúncio, além de “carros asseados de primeira ordem para transportar suas donzelas”.
A demanda por ofertas públicas ultrapassava duas, três vezes a oferta. Só subiam.
No último dia de subscrição, vinha gente de toda a cidade arrear o cavalo na sede da corretora e registrar sua intenção de investimento.
Ofertas e alavancagem
Oferta prioritária era pros mais fortes, escrevendo assim o Visconde de Taunay sobre o último dia de subscrição das ações do Banco Construtor do Brasil na sede da corretora.
Pretendentes invadiram o edifício, tal a aglomeração, pessoas tiveram síncopes, sendo resgatas pelos braços. [...]
Não era possível entrar ou sair do prédio. Os que estavam na escada atiravam dali mesmo os envelopes
na sala de subscrições com as quantias que desejavam reservar.
A alavancagem é enredo padrão no percurso dos desatinos especulativos e aqui foi direcionada às ofertas públicas como instrumento de alavancagem inusitado até para os dias atuais.
O investidor subscrevia uma oferta sem precisar dispor de todo dinheiro da reserva, sendo integralizado posteriormente em prestações mensais com a ação já em negociação.
Na falta de qualquer prestação, o pretendente perdia todas as ações já subscritas que eram revertidas à empresa.
A inflação no Brasil
Como toda injeção infinita de dinheiro, uma inflação desenfreada lambeu o país. Sai Ruy Barbosa, entra Alencar Araripe, jurista sem traquejo algum pra coisa econômica, “Macaco em loja de porcelana'', escreve o historiador Ney Carvalho.
A eclosão da bolha ocorreria inevitavelmente, mas Araripe se encarregou de furá-la pessoalmente decretando imposto de 3% em qualquer transação. O jurista quebrou a bolsa num só dia, porque corretores entraram em greve.
As empresas recém-chegadas, ainda não totalmente integralizadas dependiam do contínuo pagamento das parcelas acordadas no ato da subscrição.
Sem o fluxo de financiamento, preços despencaram. E o fatality foi o quadro de companhias reveladas pelo Jornal do Commercio em 16 de março de 1891.
Das 456 empresas, listadas apenas 74 tinham o capital totalmente integralizado. Ou seja, quase 84% eram empresas zumbi. Tudo fumaça.
Essa história retrata o período conhecido como Encilhamento no seu palco principal que foi o Rio de Janeiro, mas a euforia teve desdobramentos em São Paulo, degolando a bolsa Paulista que mal completara 6 meses de vida.
Bradesco acerta na hora de virar o disco, governo insiste no aumento de impostos e o que mais embala o ritmo dos mercados hoje
Investidores avaliam as medidas econômicas publicadas pelo governo na noite de quarta e aguardam detalhes do acordo entre EUA e China
Rodolfo Amstalden: Mais uma anomalia para chamar de sua
Eu sou um stock picker por natureza, mas nem precisaremos mergulhar tanto assim no intrínseco da Bolsa para encontrar oportunidade; basta apenas escapar de tudo o que é irritantemente óbvio
Construtoras avançam com nova faixa do Minha Casa, e guerra comercial entre China e EUA esfria
Seu Dinheiro entrevistou o CEO da Direcional (DIRR3), que falou sobre os planos da empresa; e mercados globais aguardam detalhes do acordo entre as duas maiores potências
Pesou o clima: medidas que substituem alta do IOF serão apresentadas a Lula nesta terça (10); mercados repercutem IPCA e negociação EUA-China
Entre as propostas do governo figuram o fim da isenção de IR dos investimentos incentivados, a unificação das alíquotas de tributação de aplicações financeiras e a elevação do imposto sobre JCP
Felipe Miranda: Para quem não sabe para onde ir, qualquer caminho serve
O anúncio do pacote alternativo ao IOF é mais um reforço à máxima de que somos o país que não perde uma oportunidade de perder uma oportunidade. Insistimos num ajuste fiscal centrado na receita, sem anúncios de corte de gastos.
Celebrando a colheita do milho nas festas juninas e na SLC Agrícola, e o que esperar dos mercados hoje
No cenário global, investidores aguardam as negociações entre EUA e China; por aqui, estão de olho no pacote alternativo ao aumento do IOF
Azul (AZUL4) no vermelho: por que o negócio da aérea não deu samba?
A Azul executou seu plano com excelência. Alcançou 150 destinos no Brasil e opera sozinha em 80% das rotas. Conseguiu entrar em Congonhas. Chegou até a cair nas graças da Faria Lima por um tempo. Mesmo assim, não escapou da crise financeira.
A seleção com Ancelotti, e uma empresa em baixa para ficar de olho na bolsa; veja também o que esperar para os mercados hoje
Assim como a seleção brasileira, a Gerdau não passa pela sua melhor fase, mas sua ação pode trazer um bom retorno, destaca o colunista Ruy Hungria
A ação que disparou e deixa claro que mesmo empresas em mau momento podem ser ótimos investimentos
Às vezes o valuation fica tão barato que vale a pena comprar a ação mesmo que a empresa não esteja em seus melhores dias — mas é preciso critério
Apesar da Selic, Tenda celebra MCMV, e FII do mês é de tijolo. E mais: mercado aguarda juros na Europa e comentários do Fed nos EUA
Nas reportagens desta quinta, mostramos que, apesar dos juros nas alturas, construtoras disparam na bolsa, e tem fundo imobiliário de galpões como sugestão para junho
Rodolfo Amstalden: Aprofundando os casos de anomalia polimórfica
Na janela de cinco anos podemos dizer que existe uma proporcionalidade razoável entre o IFIX e o Ibovespa. Para todas as outras, o retorno ajustado ao risco oferecido pelo IFIX se mostra vantajoso
Vanessa Rangel e Frank Sinatra embalam a ação do mês; veja também o que embala os mercados hoje
Guerra comercial de Trump, dados dos EUA e expectativa em relação ao IOF no Brasil estão na mira dos investidores nesta quarta-feira
O Brasil precisa seguir as ‘recomendações médicas’: o diagnóstico da Moody’s e o que esperar dos mercados hoje
Tarifas de Trump seguem no radar internacional; no cenário local, mercado aguarda negociações de Haddad com líderes do Congresso sobre alternativas ao IOF
Crônica de uma ruína anunciada: a Moody’s apenas confirmou o que já era evidente
Três reformas estruturais se impõem como inevitáveis — e cada dia de atraso só agrava o diagnóstico
Tony Volpon: O “Taco Trade” salva o mercado
A percepção, de que a reação de Trump a qualquer mexida no mercado o leva a recuar, é uma das principais razões pelas quais estamos basicamente no zero a zero no S&P 500 neste ano, com uma pequena alta no Nasdaq
O copo meio… cheio: a visão da Bradesco Asset para a bolsa brasileira e o que esperar dos mercados hoje
Com feriado na China e fala de Powell nos EUA, mercados reagem a tarifas de Trump (de novo!) e ofensiva russa contra Ucrânia
Você já ouviu falar em boreout? Quando o trabalho é pouco demais: o outro lado do burnout
O boreout pode ser traiçoeiro justamente por não parecer um problema “grave”, mas há uma armadilha emocional em estar confortável demais
De hoje não passa: Ibovespa tenta recuperação em dia de PIB no Brasil e índice favorito do Fed nos EUA
Resultado do PIB brasileiro no primeiro trimestre será conhecido hoje; Wall Street reage ao PCE (inflação de gastos com consumo)
A Petrobras (PETR4) está bem mais próxima de perfurar a Margem Equatorial. Mas o que isso significa?
Estimativas apontam para uma reserva de 30 bilhões de barris, o que é comparável ao campo de Búzios, o maior do mundo em águas ultraprofundas — não à toa a região é chamada de o “novo pré-sal”
Prevenir é melhor que remediar: Ibovespa repercute decisão judicial contra tarifaço, PIB dos EUA e desemprego no Brasil
Um tribunal norte-americano suspendeu o tarifaço de Donald Trump contra o resto do mundo; decisão anima as bolsas