Os riscos do mercado temático: errar com todo mundo ou ficar perdido e sozinho
O mercado está muito temático. Não me lembro de tê-lo visto dessa forma antes
Se fosse para darmos um tema para esta Super Quarta, seria a política monetária. Copom e Fed atualizam suas taxas básicas de juros hoje. Já falamos disso ontem e, portanto, podemos tratar de outra coisa.
A manada corre numa determinada direção. O que você faz? Bom, pode correr junto e aproveitar o movimento enquanto ele persiste. O problema é que ninguém sabe exatamente a hora em que ele para. Você pode ser simplesmente o último a chegar.
Alternativamente, você pode ir para o outro lado, sob o risco de cair numa espécie de ostracismo. Tentar não comer grama pisada numa área isolada, só sua. E errar fragorosamente na tentativa original.
Melhor errar com todo mundo do que acertar sozinho?
No primeiro caso, o risco é o overtrading. Você compra depois que muitos já foram naquela direção e, portanto, os ativos estão caros. Chegou tarde. Comprou purpurina e decorou as marchinhas de Carnaval na Quarta-feira de Cinzas. Vira o Curupira, o famoso pé trocado. Compra na máxima atraído pelo efeito manada, vai vender na mínima, depois que todo mundo já saiu da festa e você ficou para varrer o chão.
O risco da alternativa é você ficar simplesmente alijado dos fluxos. Quer ser o diferentão e ir contra o consenso, desafiando a direção em que todos estão caminhando. Pode acabar completamente perdido e sozinho. Além da dificuldade de ser o único a acertar uma certa tese, ainda corre o risco de estar certo, mas na hora errada. Sua ideia pode demorar muito tempo para ser percebida — e os mercados podem permanecer irracionais por mais tempo que você pode permanecer ilíquido. Uma boa ideia na hora errada é só uma ideia ruim.
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O mercado está muito temático. Não me lembro de tê-lo visto dessa forma antes. Claro que ele sempre foi um sujeito metido a descolado, viveu de suas modinhas. Mas, nesta intensidade, confesso: eu mesmo nunca vi.
Num dia, é para comprar tecnologia — afinal, esse é o grande vencedor de longo prazo, certo? Os juros de mercado nos EUA devem se estabilizar, pois não há muito espaço para disparada grande. A tendência estrutural ainda é a estagnação secular. A China pretende um crescimento menos dependente de commodities, a AIE descarta probabilidade alta de um superciclo das matérias-primas. Os BCs de Europa e Austrália já sinalizaram desconforto com a subida dos yields e disposição a agir. O dólar fica forte — e como as commodities são cotadas na moeda norte-americana, elas precisam se enfraquecer. É preciso comprar a Nova Economia em detrimento da Velha.
No dia seguinte — seguinte mesmo, sem nenhum exagero —, é o exato oposto. Joe Biden promete vacinar todos os adultos americanos até maio. Entra um novo pacote fiscal trilionário nos EUA. Há uma possibilidade real de superaquecimento cíclico da economia norte-americana. Nunca se viu tanto estímulo monetário e fiscal. A inflação está à espreita. Os juros precisam subir. É a hora dos bancos (financials em geral) e das commodities. Nada que represente um duration longo em Bolsa ou um caso de crescimento. Bora ir de volta à Velha Economia.
Já no terceiro dia, quando se criou a terra seca, percebe-se que, na verdade, o que ficou barato mesmo foram os nomes de abertura doméstica, muito castigados na crise. Precisam subir as aéreas, os shoppings, o varejo físico, as educacionais. Também dura 24 horas diante do recorde do número de mortes por Covid-19 no Brasil, novos lockdowns, constatação de estagflação e preocupação com a trajetória fiscal. O gringo bate em retirada desses nomes e eles são fritados, em especial a segunda linha, onde não há muita liquidez e você demora semanas para sair de um determinado case de small ou midcap. Se o GIC resolve vender Vale ou Petrobras, isso leva três, quatro dias. Se ele quer sair, sei lá, de Mitre ou Quero-Quero (só como exemplo hipotético), são semanas de doses nada homeopáticas de sofrimento. Bom, se a Capital resolve sair, aí não tem muito jeito; ela é tão grande que até B3 demora semanas ladeira abaixo — ainda que a realidade das companhias esteja cansada de correr na direção contrária, sem pódio de chegada ou beijo de namorada. Se você achar que eu tô derrotado, saiba que ainda estão rolando os dados.
Os temas se revezam e a rotação setorial acontece com violência impiedosa. Cada vez mais, os fundos sistemáticos e quantitativos, muito orientados pelo “factory investing” (alocação definida a partir de fatores de risco descorrelacionados, sem entrar tanto no fundamento idiossincrático de cada companhia), e o trading, em detrimento do value investing clássico, parecem ganhar espaço.
Os fluxos das pessoas físicas começam também a ter cada vez mais relevância. Essa é uma nova dinâmica de formação de preços. E, ao que parece, a popularidade de plataformas sem corretagem e estimuladoras do giro, que posteriormente será vendido para Citadel e afins, como eToro e Robinhood, traz um tipo de participação menos informada ao mercado. Segundo matéria do MarketWatch, os três tópicos mais visitados na seção de “Perguntas mais frequentes” do Robinhood são: “O que é o mercado de ações?”; “O que é o Dow Jones?”; “O que é o S&P 500?”. A turma não parece assim um primor da erudição em finanças e investimentos.
Ao mesmo tempo, ficam cada vez mais populares ferramentas em que você pode copiar a carteira de um determinado trader, sem precisar saber nada de ações; apenas seguindo seu youtuber ou sua celebridade favorita. Disseram que a carteira do Alec Baldwin está entre as mais replicadas. Pessoas tratando a Bolsa como um cassino em que os croupiers estampam a revista Contigo.
Assim, seria natural termos, ao menos no curto prazo, um desapego maior aos fundamentos. Direcional apresenta um resultado espetacular, com margem bruta muito acima do esperado; recorde de vendas e de lançamentos; uma geração de caixa sólida. Riva começa a pegar tração e acelera bastante sua velocidade de vendas. Todo sell side se diz surpreso e elogia o desempenho trimestral. A ação deve subir em reação aos números. Óbvio, né? Realidade: queda de 4,43%. À noite, a S&P atribui o rating AAA para a companhia, uma raridade no setor, o que corrobora sua solidez financeira. Fundamentos cada vez melhores. E quem se importa com isso?
Cosan Day foi espetacular. Provou por A+B as características ESG da empresa, sua capacidade de alocar capital, a solidez dos ativos, os amplos e gigantescos canais de crescimento. Preparadinha para um IPO poderoso da Raízen. Resultado? Queda de 3,26%. De ontem para hoje, o BTG Pactual elevou o preço-alvo das ações para R$ 130, frente aos R$ 88 atuais, elogiando o potencial de crescimento da empresa. A julgar pelo andar da carruagem e pela capacidade de reação a notícias boas, deve cair uns 4% hoje — chutando por baixo (melhor esclarecer: contém ironia).
Se você recuperar o value investing em suas origens mais elementares, encontrará, nas palavras do próprio Benjamin Graham algo mais ou menos assim: há uma fé numa espécie de magnetismo, uma expectativa de que haja sempre uma convergência dos preços (das cotações atuais) ao valor intrínseco da companhia; no final, ninguém sabe muito bem explicar direito a razão disso. É uma fé mesmo. Este é o termo. Uma esperança de que, cedo ou tarde (normalmente, mais tarde do que cedo), o mercado vai perceber o real valor da respectiva companhia. Em tempos de pandemia, a fé está sendo testada ao limite.
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