Onde investir para os próximos 3 anos: como ganhar dinheiro com a energia do futuro e a revolução sustentável
Com o mundo diante de uma revolução ecológica, separei três ideias, duas ligadas à energia renovável e uma à compensação, que podem fazer sentido para você
O Seu Dinheiro comemorou aniversário nos últimos dias e, em homenagem, nos reunimos para debater ideias sobre no que investir para os próximos três anos.
Curiosamente ou não, venho já há algum tempo refletindo sobre investimento com foco em horizontes mais dilatados de tempo, de três anos em diante, período no qual conseguiríamos verificar uma maturação mais apurada dos prêmios de risco de alguns setores mais delicados.
Falo aqui especificamente de segmentos ligados à sustentabilidade, em especial relacionados com energia renovável, campo fértil em ideias que, com um pouco de disciplina e paciência, pode oferecer frutos em alguns anos. Tudo gira em torno, claro, do que no mercado chamamos de investimento em ESG.
A ideia por trás do ESG (ou ASG em português, questões ambientais, sociais e de governança) tem se tornado um tema cada vez mais recorrente. A sigla refere-se aos três fatores centrais no trato da sustentabilidade e do impacto social de um investimento em uma empresa ou negócio.
Mundo está à beira de uma revolução ecológica
É do meu entendimento - e de muita gente no mercado - que o mundo está à beira de uma grande revolução ecológica nos próximos anos.
Nos últimos tivemos empresas e governos ao redor do mundo inteiro se comprometendo com a redução dos chamados gases causadores do efeito estufa, que contribuem para a mudança climática (ou aquecimento global), um dos principais desafios da humanidade até 2050.
Leia Também
As mudanças climáticas estão ocorrendo tão rapidamente que a maioria das nações que assinaram o Acordo de Paris provavelmente não conseguirá cumprir suas metas. A conferência em Glasgow, marcada o período entre 1 e 12 de novembro, é o grande evento do ano sobre o tema a ser assistido.
O objetivo aqui é a redução de emissões de CO2 (dióxido de carbono) ou CO2 equivalente (outros gases de efeito estufa, como metano, óxido nitroso e outros) até 2030 e posterior zeragem das emissões (potencialmente) até 2050.
Vários são os processos que mais contribuem para a emissão desses gases.
Entre os mais conhecidos podemos elencar: i) geração de energia; ii) queima de combustíveis fósseis para transporte; iii) desmatamento; iv) criação de gado, responsável pela fermentação entérica; e v) processos industriais.
Temos uma oportunidade de investimento aqui.
Mas como você joga essa tendência?
Separei três ideias, duas delas ligadas à energia renovável e uma com compensação, que podem fazer sentido.
A crise da Covid-19 mostrou que não há limite para a disposição de alguns governos em gastar com “projetos verdes”, quanto pior a economia ficar, mais dinheiro deve ser impresso pelos bancos centrais, e parte dele deve fluir para as chamadas “máquinas verdes”.
O excesso de gasto público em infraestrutura nos países desenvolvidos em momentos de depressão poderia vir a se concentrar em energia limpa (claras vencedoras de uma presidência Biden nos EUA).
Diferentemente de uma abordagem mais geral, a energia alternativa guarda riscos especulativos, o que faz com que deva ser tratada apenas com uma parcela limitada do portfólio.
A tendência existe, mas depende de muita política na próxima década para que, de fato, tenhamos algo sólido nesse sentido.
Antes de seguirmos, um pequeno disclaimer
Muitas das teses abaixo ainda estão em estágio inicial de desenvolvimento. Logo, o ideal é que o investidor não tenha mais de 1% de sua carteira em cada um deles. Tudo isso, claro, feito sob o devido dimensionamento das posições, conforme seu perfil de risco, e a devida diversificação de carteira, com as respectivas proteções associadas.
Vamos optar por destacar hoje alguns ETFs e fundos que se beneficiaram dos movimentos.
Vamos a eles.
Este texto faz parte de uma série especial de aniversário do Seu Dinheiro sobre três investimentos para os próximos três anos. Eis a lista dos convidados:
- Ruy Hungria: Eneva (ENEV3), Cosan (CSAN3) e Grupo GPS (GGPS3)
- Larissa Quaresma: Natura (NTCO3) e outras 2 ações ESG para os próximos 3 anos
- Maria Clara Sandrini: Tesouro Prefixado, Iguatemi (IGTA3) e Dólar
- Matheus Spiess: Urânio, hidrogênio e créditos de carbono - você está aqui
- Caio Araujo (disponível em 30/9)
Urânio
O urânio é um metal altamente denso, usado principalmente como combustível em usinas nucleares. Hoje, os principais produtores da commodity são Cazaquistão e Canadá. A tese para o urânio na atualidade talvez esteja no patamar mais forte em uma década.
Desde o desastre nuclear de Fukushima, em 2011, a commodity enfrentou grande contestação e enfrentamento. O persistente excesso de oferta manteve os preços baixos e o sentimento positivo em torno do urânio foi silenciado.
Uma década depois, o urânio volta a se fortalecer à medida que os países priorizam as agendas de combate à mudança climática e limitam as emissões de carbono, enquanto procuram distribuir energia para milhões de novos participantes da classe média.
Com as dinâmicas de oferta e demanda se tornando mais favoráveis e os riscos geopolíticos sustentáveis, o urânio pode ver sua sorte mudar na próxima década.
A energia nuclear emite muito menos dióxido de carbono do que os combustíveis fósseis tradicionais, com emissões de apenas 12 gramas de CO2 por kW/h – o mesmo, por exemplo, que a energia eólica offshore. Em contraste, o carvão emite 820 gramas CO2 por kW/h.
A crescente pressão social e política para que os países reduzam sua pegada de combustível fóssil é um dos motivos pelos quais se espera que a geração de eletricidade global por meio da energia nuclear aumente em 650 TWh de 2019 a 2040, em comparação com um crescimento de apenas 210 TWh de 2000 a 2019.
Para capturar essa evolução, gosto do Global X Uranium ETF (NYSE: URA), que pode ser comprado no exterior. O produto fornece aos investidores acesso a uma ampla gama de empresas envolvidas na mineração de urânio e na produção de componentes nucleares.
Alternativamente, o investidor que não possui conta no exterior para comprar o ETF, algumas opções começaram a aparecer no mercado doméstico, como o Vitreo Urânio, que oferece exposição a tal potencial.
Você pode conhecer um pouco mais no vídeo a seguir.
Hidrogênio
O hidrogênio é o elemento mais abundante e leve do universo. Acredito que seja proibido começar a falar sobre hidrogênio sem mencionar este fato. Em condições normais, o hidrogênio é um gás (H2) com imenso potencial como portador de energia, contendo três vezes mais conteúdo de energia em peso do que a gasolina.
Na Terra, contudo, ele ocorre naturalmente, ligado a outros elementos em moléculas como a água (H2O) e o metano (CH4), devendo ser isolado como H2 no processo de “produção de hidrogênio”.
Apesar de seu potencial energético, hoje ele é usado principalmente como insumo para refinar petróleo, tratar metais e produzir fertilizantes. Quase todo esse hidrogênio é produzido usando métodos intensivos de combustível fóssil de reforma ou gaseificação do metano a vapor (hidrogênio cinza).
Em outras palavras, a maior parte do hidrogênio produzido hoje é o chamado hidrogênio cinza (95% da produção de hidrogênio em 2019 foi cinza). Isso significa que é produzido a partir do gás natural e emite gases de efeito estufa.
Entretanto, a produção de hidrogênio não precisa ser intensiva em emissões, e seu potencial como transportador de energia pode realmente contribuir para a descarbonização.
Os métodos de produção atuais podem usar captura e armazenamento de carbono (CCS, ou “carbon capture and storage”) para reduzir as emissões, possivelmente em algo entre 85% e 95% no futuro. O hidrogênio produzido dessa forma é chamado de “hidrogênio azul”.
Mais importante, porém, é outro método de produção de hidrogênio chamado eletrólise, que tem o potencial de produzir hidrogênio sem gerar quaisquer emissões. A eletrólise da água é o processo de dividir a água em H2 e oxigênio usando uma corrente elétrica.
Quando a fonte dessa corrente deriva de alguma energia limpa, como a eólica ou solar fotovoltaica, a produção de hidrogênio é um processo de emissão zero e o hidrogênio resultante é chamado de "hidrogênio verde", talvez o grande potencial para os próximos anos.
Com isso, a produção de baixo a zero carbono (“low-to-zero”) poderia transformar o hidrogênio em um mercado de US$ 11 trilhões até 2050, aumentando a demanda anual por H2 dos atuais 70 megatons (Mt) para 613 Mt no cenário de aquecimento de 1,5 °C.
Para capturar essa evolução, gosto do Global X Hydrogen ETF (NYSE: HYDR), que pode ser comprado no exterior. O produto fornece aos investidores acesso a uma ampla gama de empresas envolvidas na mineração de urânio e na produção de componentes nucleares.
Alternativamente, o investidor que não possui conta no exterior para comprar o ETF, algumas opções começaram a aparecer no mercado doméstico, como o Vitreo Hidrogênio, que oferece exposição a tal potencial.
Você pode conhecer um pouco mais no vídeo a seguir.
Crédito de Carbono
O carbono pode ser a commodity do futuro.
Diferente das duas anteriores, que se beneficiam do desenvolvimento do mercado de energia renovável, o crédito de carbono captura a tendência do mercado de compensação de emissões.
O crédito de carbono trata-se de um certificado digital que comprova que uma empresa ou um projeto ambiental (projetos de conservação florestal, reflorestamento de áreas devastadas, energia limpa, biomassa, etc.) evitou a emissão (poluição) de 1 tonelada de CO2 (dióxido de carbono) ou CO2 equivalente (outros gases de efeito estufa, como metano, óxido nitroso e outros) em um determinado ano.
Ou seja, um crédito de carbono certifica que uma tonelada desses gases prejudiciais teve sua emissão evitada ou capturada por meio de algum projeto em algum lugar do mundo.
Grosso modo, se trata de uma ferramenta utilizada por empresas e, mais recentemente, por indivíduos, para compensar sua pegada de carbono, ou seu impacto negativo sobre o ambiente derivado da emissão dos gases de efeito estufa. Também pode ser uma grande moeda global e o ano de 2020 pode marcar o início desse processo.
Apesar de derivar de projetos diferentes, o crédito é um ativo digital, dolarizado, perene (não expira no mercado voluntário) e globalmente reconhecido, tornando-se, assim, uma espécie de reserva de valor.
É diferente, de modo positivo, do ouro, da prata, do diamante, do dólar e do bitcoin, uma vez que não emite gases estufa como a extração de metais e tem lastro em projetos de desenvolvimento sustentável ou ambiental.
Para se expor a tal mercado, você pode comprar o crédito de carbono diretamente, se valendo de plataformas como a Moss.Earth, ou até mesmo comprar os token de crédito de carbono da Moss (MCO2) pelo Mercado Bitcoin, por exemplo.
Alternativamente, o investidor pode comprar lá fora um ETF que investe nesses crédito de carbono, como o KraneShares Global Carbon ETF (NYSE: KRBN), ou se vale de um fundo no mercado doméstico que replica a estratégia de comprar os crédito de carbono, como o Vitreo Carbono.
Você pode conhecer um pouco mais no vídeo a seguir.
Feliz aniversário, Seu Dinheiro!
Que nos próximos três anos, bem como nas próximas três décadas, sigamos oferecendo aos nossos leitores os insights mais assimétricos de investimentos.
As lições do Chile para o Brasil, ata do Copom, dados dos EUA e o que mais movimenta a bolsa hoje
Chile, assim como a Argentina, vive mudanças políticas que podem servir de sinal para o que está por vir no Brasil. Mercado aguarda ata do Banco Central e dados de emprego nos EUA
Chile vira a página — o Brasil vai ler ou rasgar o livro?
Não por acaso, ganha força a leitura de que o Chile de 2025 antecipa, em diversos aspectos, o Brasil de 2026
Felipe Miranda: Uma visão de Brasil, por Daniel Goldberg
O fundador da Lumina Capital participou de um dos episódios de ‘Hello, Brasil!’ e faz um diagnóstico da realidade brasileira
Dividendos em 2026, empresas encrencadas e agenda da semana: veja tudo que mexe com seu bolso hoje
O Seu Dinheiro traz um levantamento do enorme volume de dividendos pagos pelas empresas neste ano e diz o que esperar para os proventos em 2026
Como enterrar um projeto: você já fez a lista do que vai abandonar em 2025?
Talvez você ou sua empresa já tenham sua lista de metas para 2026. Mas você já fez a lista do que vai abandonar em 2025?
Flávio Day: veja dicas para proteger seu patrimônio com contratos de opções e escolhas de boas ações
Veja como proteger seu patrimônio com contratos de opções e com escolhas de boas empresas
Flávio Day nos lembra a importância de ter proteção e investir em boas empresas
O evento mostra que ainda não chegou a hora de colocar qualquer ação na carteira. Por enquanto, vamos apenas com aquelas empresas boas, segundo a definição de André Esteves: que vão bem em qualquer cenário
A busca pelo rendimento alto sem risco, os juros no Brasil, e o que mais move os mercados hoje
A janela para buscar retornos de 1% ao mês na renda fixa está acabando; mercado vai reagir à manutenção da Selic e à falta de indicações do Copom sobre cortes futuros de juros
Rodolfo Amstalden: E olha que ele nem estava lá, imagina se estivesse…
Entre choques externos e incertezas eleitorais, o pregão de 5 de dezembro revelou que os preços já carregavam mais política do que os investidores admitiam — e que a Bolsa pode reagir tanto a fatores invisíveis quanto a surpresas ainda por vir
A mensagem do Copom para a Selic, juros nos EUA, eleições no Brasil e o que mexe com seu bolso hoje
Investidores e analistas vão avaliar cada vírgula do comunicado do Banco Central para buscar pistas sobre o caminho da taxa básica de juros no ano que vem
Os testes da família Bolsonaro, o sonho de consumo do Magalu (MGLU3), e o que move a bolsa hoje
Veja por que a pré-candidatura de Flávio Bolsonaro à presidência derrubou os mercados; Magazine Luiza inaugura megaloja para turbinar suas receitas
O suposto balão de ensaio do clã Bolsonaro que furou o mercado: como fica o cenário eleitoral agora?
Ainda que o processo eleitoral esteja longe de qualquer definição, a reação ao anúncio da candidatura de Flávio Bolsonaro deixou claro que o caminho até 2026 tende a ser marcado por tensão e volatilidade
Felipe Miranda: Os últimos passos de um homem — ou, compre na fraqueza
A reação do mercado à possível candidatura de Flávio Bolsonaro reacende memórias do Joesley Day, mas há oportunidade
Bolha nas ações de IA, app da B3, e definições de juros: veja o que você precisa saber para investir hoje
Veja o que especialista de gestora com mais de US$ 1,5 trilhão em ativos diz sobre a alta das ações de tecnologia e qual é o impacto para o mercado brasileiro. Acompanhe também a agenda da semana
É o fim da pirâmide corporativa? Como a IA muda a base do trabalho, ameaça os cargos de entrada e reescreve a carreira
As ofertas de emprego para posições de entrada tiveram fortes quedas desde 2024 em razão da adoção da IA. Como os novos trabalhadores vão aprender?
As dicas para quem quer receber dividendos de Natal, e por que Gerdau (GGBR4) e Direcional (DIRR3) são boas apostas
O que o investidor deve olhar antes de investir em uma empresa de olho dos proventos, segundo o colunista do Seu Dinheiro
Tsunami de dividendos extraordinários: como a taxação abre uma janela rara para os amantes de proventos
Ainda que a antecipação seja muito vantajosa em algumas circunstâncias, é preciso analisar caso a caso e não se animar com qualquer anúncio de dividendo extraordinário
Quais são os FIIs campeões de dezembro, divulgação do PIB e da balança comercial e o que mais o mercado espera para hoje
Sete FIIs disputam a liderança no mês de dezembro; veja o que mais você precisa saber hoje antes de investir
Copel (CPLE3) é a ação do mês, Ibovespa bate novo recorde, e o que mais movimenta os mercados hoje
Empresa de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, a Copel é a favorita para investir em dezembro. Veja o que mais você precisa saber sobre os mercados hoje
Mais empresas no nó do Master e Vorcaro, a escolha do Fed e o que move as bolsas hoje
Titan Capital surge como peça-chave no emaranhado de negócios de Daniel Vorcaro, envolvendo mais de 30 empresas; qual o risco da perda da independência do Fed, e o que mais o investidor precisa saber hoje