O que esperar do Copom e como uma possível alta de juros mexe com a Bolsa
Ainda que os dados de inflação recente assustem um pouco, há espaço para manter a taxa básica de juros de curto prazo em 2%
Depois de muita discussão e politização, a Anvisa finalmente aprovou o uso emergencial das vacinas do Instituto Butantan e da AstraZeneca. Agora, poderemos dar início à vacinação no Brasil e, com isso, retornar gradualmente à normalidade.
A expectativa é que, assim, possamos dar andamento à retomada da economia brasileira, que teve mais uma década perdida entre 2011 e 2020.
Agora, mais do que nunca, poderemos ter ao longo dos próximos meses mais visibilidade sobre uma eventual recuperação econômica, pautada pela diluição, ainda que devagar, do elevado número de desempregados e recomposição da renda nacional.
Consequentemente, claro, o movimento em um segundo momento teria como uma de suas derivadas a inflação, que assustou em 2020 por fatores um pouco mais atípicos.
No ano passado, a mediana das estimativas subestimou a taxa de inflação. De fato, o IPCA, principal índice de preços ao consumidor do Brasil, fechou dezembro com uma alta de 1,35% (versus 1,21%na expectativa). O dado representou o fim de um semestre com todos os meses acima das projeções:
- em outubro, tivemos 0,86% contra uma estimativa de 0,80%; e
- em novembro, recebemos 0,89%, frente a 0,77% na mediana.
Assim, o ano fechou com inflação em 4,52%, acima da meta de inflação do Banco Central de 4,00%.
Leia Também
Abaixo, um gráfico que mostra a inflação em 12 meses e a respectiva projeção de meados do mês para a inflação de 2020 (IPCA), ambas em porcentagem (%).
Se tomarmos os componentes individuais do IPCA, verificaremos que estes se comportaram de maneiras bastante diferentes em 2020. Na verdade, a forte alta dos preços dos alimentos (15% do índice), em função da alta dos preços internacionais dos alimentos e de uma moeda mais fraca, foi responsável por 3/5 da alta no IPCA do ano passado.
Claro, a alta dos preços dos bens industriais (23% do indicador) também influenciou, refletindo igualmente a desvalorização da moeda, mas acabou sendo menos expressiva devido à fraca demanda doméstica.
Assim, podemos apontar para a inflação do ano passado como sendo fruto de quatro fatores importantes, os quais não são tidos como necessariamente estruturais e, portanto, estariam passíveis de terem sido deixados para trás em 2021. São eles:
- quebra na cadeia de suprimentos por conta do lockdown no Brasil, proporcionando um descompasso acelerado entre oferta e demanda;
- alta do dólar (o Brasil é um país predominantemente importador de bens de consumo, o que provoca uma relação entre os preços ao consumidor e a divisa americana);
- alta dos preços das commodities agrícolas no âmbito internacional; e
- renda suplementar (auxílio emergencial) para onde não havia vácuo salarial.
Com isso em mente, quando prestamos atenção na função primordial da autoridade monetária, qual seja a de manter o poder de compra da moeda, verificamos que, ainda que os dados de inflação recente assustem um pouco, há espaço para manter a taxa básica de juros de curto prazo em 2%.
O que será do forward guidance ?
O que se questiona é: como virá o comunicado em anexo da decisão, mais dovish (expansionista) ou hawkish (contracionista)?
Antes, um breve esclarecimento.
A taxa de juros, a Selic, é a principal ferramenta do BC para o controle inflacionário. Basicamente, quando a economia se aquece e os preços se elevam, a autoridade eleva a taxa de juros para arrefecer a atividade e controlar a inflação. O contrário também é verdadeiro.
Volto.
Hoje, entende-se que, apesar da inflação do ano passado, ainda haja capacidade ociosa a ser ocupada; ou seja, o Brasil poderia crescer sem pressionar os preços. Essa é a teoria. Na prática, porém, nem sempre é assim.
Mais recentemente, foi estabelecido no comunicado do Copom o que se chama de forward guidance (“FG”), ou orientação futura, em português. Grosso modo, se trata de um dispositivo em que o BC contrata a taxa de juros futura, de modo a ancorar as expectativas de taxa de juros, aumentar a previsibilidade e estabilizar as expectativas. Os EUA, por exemplo, praticam tal orientação.
Contudo, a disparada do dólar, o desarranjo fiscal e o descompasso da inflação do ano passado fizeram com que se questionasse a viabilidade da ferramenta no Brasil. Nesse contexto, o que se discute é a dispensa do utensílio, de modo a tentar calibrar as expectativas e abrir pretexto para subir a taxa de juros de curto prazo antes do que se pressupunha.
Entendo que já nesta quarta-feira, assim como fez na última reunião, o Copom flexibilizará ainda mais a utilização do “FG”, deixando de usá-lo ainda em 2021.
Efeitos na Bolsa
Mudar a taxa de juros altera o valuation (valor das empresas) e a atratividade de investimentos.
Em outras palavras, poderia ser bom para o câmbio, por chamar de volta o carry trade (o capital estrangeiro que entra do país para se aproveitar da taxa de juros), mas seria prejudicial para a economia nacional, uma vez que com taxa de juros básica mais alta as pessoas investem e consomem menos.
Ainda assim, ao menos durante os primeiros meses do ano, a taxa de juros deverá se manter na mínima histórica, em 2% ao ano. Se houver elevação por qualquer motivo que seja, o impacto não deverá ser gritante para a Bolsa, ainda que haja ruído no curto prazo. De certo modo, a Bolsa vem tentado precificar tal risco e a volatilidade sobre o assunto já era esperada.
Se a taxa de juros subir por motivo inflacionário, entretanto, talvez haja espaço para a adição de tradicionais hedges (proteções) contra a inflação na carteira.
Quem são eles?
Small caps (empresas com baixa capitalização de mercado), high beta stock (cíclicas), commodities (matéria-prima), teses de "valor” (mais vale fluxo de caixa hoje do que daqui a 10 anos), ativos reais e empresas bem alavancadas (valor real da dívida vai para baixo ao passo em que a inflação sobre).
Tudo isso, claro, feito sob o devido dimensionamento das posições, conforme seu perfil de risco, e a devida diversificação de carteira, com as respectivas proteções associadas.
Hoje, no Brasil, talvez uma das pessoas mais gabaritadas para selecionar as melhores opções no mercado nacional se chame Max Bohm. Sócio e analista da Empiricus, Bohm se dedica diariamente a identificar as empresas que ele chama de As Melhores Ações da Bolsa, uma das séries best-sellers da Empiricus.
Sem dúvida, o investidor que melhor quiser surfar os diferentes cenários a partir das diferentes possibilidades de juros e inflação precisa do auxílio de Max para chegar bem do outro lado.
As lições do Chile para o Brasil, ata do Copom, dados dos EUA e o que mais movimenta a bolsa hoje
Chile, assim como a Argentina, vive mudanças políticas que podem servir de sinal para o que está por vir no Brasil. Mercado aguarda ata do Banco Central e dados de emprego nos EUA
Chile vira a página — o Brasil vai ler ou rasgar o livro?
Não por acaso, ganha força a leitura de que o Chile de 2025 antecipa, em diversos aspectos, o Brasil de 2026
Felipe Miranda: Uma visão de Brasil, por Daniel Goldberg
O fundador da Lumina Capital participou de um dos episódios de ‘Hello, Brasil!’ e faz um diagnóstico da realidade brasileira
Dividendos em 2026, empresas encrencadas e agenda da semana: veja tudo que mexe com seu bolso hoje
O Seu Dinheiro traz um levantamento do enorme volume de dividendos pagos pelas empresas neste ano e diz o que esperar para os proventos em 2026
Como enterrar um projeto: você já fez a lista do que vai abandonar em 2025?
Talvez você ou sua empresa já tenham sua lista de metas para 2026. Mas você já fez a lista do que vai abandonar em 2025?
Flávio Day: veja dicas para proteger seu patrimônio com contratos de opções e escolhas de boas ações
Veja como proteger seu patrimônio com contratos de opções e com escolhas de boas empresas
Flávio Day nos lembra a importância de ter proteção e investir em boas empresas
O evento mostra que ainda não chegou a hora de colocar qualquer ação na carteira. Por enquanto, vamos apenas com aquelas empresas boas, segundo a definição de André Esteves: que vão bem em qualquer cenário
A busca pelo rendimento alto sem risco, os juros no Brasil, e o que mais move os mercados hoje
A janela para buscar retornos de 1% ao mês na renda fixa está acabando; mercado vai reagir à manutenção da Selic e à falta de indicações do Copom sobre cortes futuros de juros
Rodolfo Amstalden: E olha que ele nem estava lá, imagina se estivesse…
Entre choques externos e incertezas eleitorais, o pregão de 5 de dezembro revelou que os preços já carregavam mais política do que os investidores admitiam — e que a Bolsa pode reagir tanto a fatores invisíveis quanto a surpresas ainda por vir
A mensagem do Copom para a Selic, juros nos EUA, eleições no Brasil e o que mexe com seu bolso hoje
Investidores e analistas vão avaliar cada vírgula do comunicado do Banco Central para buscar pistas sobre o caminho da taxa básica de juros no ano que vem
Os testes da família Bolsonaro, o sonho de consumo do Magalu (MGLU3), e o que move a bolsa hoje
Veja por que a pré-candidatura de Flávio Bolsonaro à presidência derrubou os mercados; Magazine Luiza inaugura megaloja para turbinar suas receitas
O suposto balão de ensaio do clã Bolsonaro que furou o mercado: como fica o cenário eleitoral agora?
Ainda que o processo eleitoral esteja longe de qualquer definição, a reação ao anúncio da candidatura de Flávio Bolsonaro deixou claro que o caminho até 2026 tende a ser marcado por tensão e volatilidade
Felipe Miranda: Os últimos passos de um homem — ou, compre na fraqueza
A reação do mercado à possível candidatura de Flávio Bolsonaro reacende memórias do Joesley Day, mas há oportunidade
Bolha nas ações de IA, app da B3, e definições de juros: veja o que você precisa saber para investir hoje
Veja o que especialista de gestora com mais de US$ 1,5 trilhão em ativos diz sobre a alta das ações de tecnologia e qual é o impacto para o mercado brasileiro. Acompanhe também a agenda da semana
É o fim da pirâmide corporativa? Como a IA muda a base do trabalho, ameaça os cargos de entrada e reescreve a carreira
As ofertas de emprego para posições de entrada tiveram fortes quedas desde 2024 em razão da adoção da IA. Como os novos trabalhadores vão aprender?
As dicas para quem quer receber dividendos de Natal, e por que Gerdau (GGBR4) e Direcional (DIRR3) são boas apostas
O que o investidor deve olhar antes de investir em uma empresa de olho dos proventos, segundo o colunista do Seu Dinheiro
Tsunami de dividendos extraordinários: como a taxação abre uma janela rara para os amantes de proventos
Ainda que a antecipação seja muito vantajosa em algumas circunstâncias, é preciso analisar caso a caso e não se animar com qualquer anúncio de dividendo extraordinário
Quais são os FIIs campeões de dezembro, divulgação do PIB e da balança comercial e o que mais o mercado espera para hoje
Sete FIIs disputam a liderança no mês de dezembro; veja o que mais você precisa saber hoje antes de investir
Copel (CPLE3) é a ação do mês, Ibovespa bate novo recorde, e o que mais movimenta os mercados hoje
Empresa de geração, transmissão e distribuição de energia elétrica, a Copel é a favorita para investir em dezembro. Veja o que mais você precisa saber sobre os mercados hoje
Mais empresas no nó do Master e Vorcaro, a escolha do Fed e o que move as bolsas hoje
Titan Capital surge como peça-chave no emaranhado de negócios de Daniel Vorcaro, envolvendo mais de 30 empresas; qual o risco da perda da independência do Fed, e o que mais o investidor precisa saber hoje