Medo e delírio: o fim da moeda?
“Enquanto meu irmão batalhava para abrir um enorme e duro estojo de couro, eu estava marcando seu tempo no relógio digital com o qual fazia uns meses meu avô tinha me presenteado. Era meu primeiro relógio: um Casio volumoso, com tela grande e pulseira de borracha preta, que dançava no meu pulso esquerdo (sempre tive pulsos demasiado finos).
E desde que meu avô tinha me presenteado eu não conseguia parar de cronometrar tudo, de marcar o tempo de tudo, tempos que ia anotando e comparando em um pequeno caderno espiral. Por exemplo: quanto tempo durava cada sesta de meu pai. Por exemplo: quanto tempo meu irmão levava para escovar os dentes de manhã versus antes de dormir. Por exemplo: quantos minutos minha mãe levava fumando um cigarro e falando ao telefone na sala versus tomando um café na copa. Por exemplo: quantos segundos havia entre os relâmpagos de uma tormenta que se aproximava. Por exemplo: quantos segundos eu segurava o fôlego embaixo da água na banheira. Por exemplo: quantos segundos podia sobreviver um de meus peixes dourados fora da água do aquário. Por exemplo: qual era a maneira mais rápida de me vestir antes de sair para o colégio (primeiro cueca, depois meias, depois camisa, depois calça, depois camisa), porque, então, se eu decifrasse, se eu encontrasse a maneira mais eficiente de me vestir nas manhãs, conseguiria dormir uns minutos a mais.
Meu mundo inteiro tinha mudado com aquele relógio de borracha preta. Agora podia mensurar qualquer coisa, agora podia imaginar o tempo, capturá-lo, e ainda visualizá-lo em uma pequena tela digital. O tempo, comecei a crer, era uma coisa real e indestrutível. Tudo no tempo sucedia como uma linha reta, com um ponto de início e um ponto-final, e eu agora podia situar esses dois pontos e medir a linha que os separava e anotar essa medida em meu pequeno caderno espiral.”
Esse é um trecho do livro “Luto”, de Eduardo Halfon. O Day One de hoje não é um texto de ficção científica. Ou talvez seja, sei lá. Pra mim, está mais para uma elucubração, um devaneio futurista distópico. O futuro contemplado de maneira exagerada abre espaço para, fora da assíntota, exigir uma atitude hoje.
Podemos medir o tempo em segundos ou minutos. “Quantos minutos minha mãe levava fumando um cigarro.” Ou calculá-lo a partir de qualquer outra unidade de medida. “O tempo gasto fumando um cigarro equivale ao tempo de quantos cafés na copa?” Levo 80 minutos para escrever o Day One ou o equivalente a uma corrida de 18 km (bons tempos! Dei uma exagerada só para parecer mais atlético — decadence avec elegance).
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Unidades de conta padronizadas e sistematizadas facilitam o entendimento geral. Uma corrida de 18 km sua pode ser muito mais rápida do que a minha (eu duvido!). Mas 80 minutos representam a mesma coisa para todo mundo.
Acontece algo semelhante com o dinheiro. A moeda é meio de troca, reserva de valor e unidade de conta. Saímos da sociedade do escambo porque era muito mais eficiente trocar uma produção de leite por dinheiro do que pelo bem desejado pela respectiva família leiteira — se eles precisassem de carne, por exemplo, teriam de encontrar um frigorífico disposto a entregar-lhe exatamente o que era desejado. Muito mais fácil vender o leite e pegar uns dólares do que fazer o match perfeito entre duas cestas de consumo dispostas a serem trocadas a par.
Existe uma ponderação aqui talvez pertinente. O dinheiro, em si, não deveria ser gerador de mais Utilidade (ou felicidade). O nível de satisfação individual varia conforme sua cesta de consumo — e podemos incluir o que quisermos nesta cesta, como horas de lazer, horas de sono, tempo gasto com o filho, qualquer coisa. A mercadoria se transforma em dinheiro para se transformar de novo em mercadoria — você troca o leite por dinheiro, para depois trocar dinheiro por algum bem de sua necessidade ou de seu desejo. Só o fetichismo marxista pressupõe o dinheiro sendo transformado em mercadoria para virar mais dinheiro lá na frente.
Se, portanto, dispuséssemos de um mecanismo de encontrar de maneira rápida e eficiente a mercadoria pela qual gostaríamos de trocar nosso bem produzido, possivelmente essa sociedade seria preferível àquela que necessita do dinheiro como meio de troca e unidade de medida, pois bens seriam trocados diretamente por bens, pulando a etapa do meio (de carregarmos dinheiro para qualquer transação), que não é geradora de valor em si, mas, sim, apenas um viabilizador de trocas.
Veja o que está acontecendo com o mundo. Como exemplo, o fundador do Twitter acaba de vender seu primeiro tuíte por US$ 3 milhões, via NFT (non-fungible token, ou token não fungível), que pode ser trocado por outro igual. E se ele pode ser trocado por outro igual, talvez possa ser trocado por dois outros de metade do valor.
Talvez estejamos diante de um embrião do que será uma sociedade de trocas descentralizadas diretas. Se tudo passa a ter algum valor na internet, e esse tudo pode ser facilmente pesquisado e identificado por uma pesquisa no Google, uma assinatura da Empiricus pode ser trocada por R$ 6/mês ou por X tempo de uso do Cloud. Este Day One pode valer Y cotas do FoF SuperPrevidência.
Pode parecer distante agora. Mas, se no tempo estaremos com nosso cérebro conectado a um exocortex tornando-nos máquinas de identificação e processamento de informação quase infinitos, poderemos achar tudo de que precisamos com uma rápida consulta do nosso óculos do Google, apenas movendo nossos olhos e sinalizando via ondas cerebrais nossos desejos. Pronto! Troca realizada, sem precisar de dinheiro. Foi uma assinatura da Empiricus, veio um bom Sangiovese.
As criptomoedas talvez tenham surgido apenas para viabilizar uma sociedade sem a necessidade de moeda. Não acho que seja o fim do dinheiro, mas, na dúvida, é melhor se preparar.
Alguém aí já viu uma nota de duzentos reais?
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