🔴VEM AÍ ONDE INVESTIR NO 2º SEMESTRE – DE 1 A 4 DE JULHO – INSCREVA-SE GRATUITAMENTE

Minha utopia brasileira

A caravana da corte portuguesa, falida, dependente do erário e dos favores do príncipe regente, tinha o tamanho da máquina burocrática americana.

11 de janeiro de 2021
10:49
Xadrez Brasil
Imagem: Shutterstock

“O Dom João que chegou ao Brasil em 1808 usaria para governar outro atributo fortíssimo da Monarquia: o da imagem do rei benigno, que tudo provê e de todos cuida e protege. Dom João passaria à história como um monarca bonachão, sossegado e paternal, que recebia pacientemente seus súditos no Palácio de São Cristóvão para o ritual de beija-mão. (..) A corte e o poder real fascinavam-se como uma verdadeira atração messiânica, era a esperança do socorro de um pai que vem curar as feridas dos filhos.”

Leia também:

Esse é um trecho do livro “1808”, de Laurentino Gomes, que narra a chegada da família real portuguesa ao Brasil, como forma de escapar das guerras napoleônicas em meio ao bloqueio continental. Entre 10 mil e 15 mil portugueses atravessaram o Atlântico com Dom João — é aproximadamente o mesmo número de pessoas transferidas para Washington, a nova capital, pelo presidente americano John Adams. A caravana da corte portuguesa, falida, dependente do erário e dos favores do príncipe regente, tinha o tamanho da máquina burocrática americana.

Como resumiu o historiador John Armitage, “um enxame de aventureiros, necessitados e sem princípios acompanhou a família real. (…) os novos hóspedes pouco se interessavam pela prosperidade do país: consideravam temporária sua ausência de Portugal e propunham-se mais a enriquecer à custa do Estado do que a administrar justiça ou a beneficiar o público”.

Segundo o historiador Luiz Felipe Alencastro, naquele tempo, além da família real, 276 fidalgos e dignatários régios recebiam verba anual de custeio e representação, paga em moedas de ouro e prata retiradas do Tesouro Real do Rio de Janeiro. Havia cerca de 2.000 funcionários reais e indivíduos exercendo funções relacionadas à Coroa, 700 padres, 500 advogados, 200 praticantes de medicina e entre 4.000 e 5.000 militares. O cônsul inglês James Henderson resumiu bem a questão: “poucas cortes europeias têm tantas pessoas ligadas a ela quanto a brasileira, incluindo fidalgos, eclesiásticos e oficiais”.

A chegada da corte portuguesa marca, basicamente, o início de um processo de transformação que culminaria na superação do Brasil-colônia para sua independência em 1822. Foi um período de muita mudança e modernização. A forma, porém, da apropriação de elementos da cultura europeia e a maneira da constituição da nossa elite mostram a dependência do Estado, as relações de dependência dos “amigos do rei”. Em bom “brasileiro”, as famosas mamadas nas tetas do Estado. 

Leia Também

A elite brasileira nasceu e cresceu sem erudição, profundidade intelectual e capacidade empreendedora, escorando-se nos favores da realeza para se sustentar e expandir. Era uma situação bem diferente daquela observada nos EUA, onde floresceu uma classe alfabetizada, habituada a decisões comunitárias e informada sobre as fronteiras do conhecimento e as invenções do mundo, disposta à atividade empreendedora e acostumada com a assunção de riscos.

Até aí, sejamos sinceros, nenhuma novidade. Mais papo de historiador do que de economista. Mas encontrar raízes históricas ajuda a entender o presente e, quem sabe, projetar o futuro.

Na natureza da sociedade brasileira, não se encontra a disposição ao risco, ao novo, ao desconhecido, ao empreendedorismo. Estamos, desde o começo, deitados em berço esplêndido, no colo do pai português bonachão e benevolente ou nos braços do Estado.

Talvez isso até poderia ser uma explicação antropológica para nossas taxas de juro historicamente tão altas. Para toparmos o financiamento público, precisamos ser remunerados agressivamente. Claro que não é a única justificativa. O passado de muita inflação e as dúvidas sobre a capacidade de o Estado honrar seus compromissos financeiros futuros diante da nossa trajetória fiscal estão entre as principais. Mas, pensando bem, não seria a mesma coisa? O Estado gasta muito e gera dúvidas sobre sua capacidade de financiamento; ao mesmo tempo, com seus gastos perdulários, alimenta uma sociedade muito dependente dos favores do Estado, num círculo vicioso aparentemente inquebrável.

Eis que agora, porém, os juros estão baixos. E por mais que devam subir em 2021, continuarão baixos na comparação com os níveis históricos. As pessoas, para não terem seu patrimônio corroído em termos reais e poderem preservar poder de compra, precisarão, cada vez mais, investir em ativos fora da renda fixa convencional. Por bem ou por mal, precisarão lidar com o risco. E não há melhor forma de aprender e conviver com algo a partir da própria convivência com esse algo. Como se aprende a andar de bicicleta? Como se aprende a cozinhar?

Os otimistas acreditam que o juro baixo vai revolucionar o mercado de capitais brasileiro, fazendo com que as pessoas passem a aumentar o duration de suas aplicações em renda fixa, a ter uma poupança de longo prazo grande em ações e a diversificar geograficamente e entre moedas seus investimentos.

Eu concordo com isso, mas tenho uma perspectiva ainda mais ambiciosa: o “financial deepening” como instrumento de transformação de toda a sociedade brasileira, em que passamos a entender que a vida não é de não se correr risco, de termos de nos escorar na segurança, mas, sim, de saber ponderar entre risco e retorno. Isso seria ainda mais transformacional, de entendermos que podemos mudar de emprego, mudar de cidade, mudar de opinião… conhecer o novo, empreender, romper relações destrutivas, abraçar um teste sem necessariamente saber seu resultado, calibrando a perda potencial.

Talvez seja uma utopia. A verdade, porém, é que, enquanto não tivermos a propriedade de conviver com o risco e a romper com o paternalismo, jamais conseguiremos caminhar efetivamente com as nossas próprias pernas. O Brasil do financial deepening pode ser de uma sociedade finalmente independente, mais confiante em si e na capacidade de conviver com a incerteza e o risco. Será somente um sonho?

COMPARTILHAR

Whatsapp Linkedin Telegram
O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Um longo caminho: Ibovespa monitora cessar-fogo enquanto investidores repercutem ata do Copom e testemunho de Powell

24 de junho de 2025 - 7:58

Trégua anunciada por Donald Trump impulsiona ativos de risco nos mercados internacionais e pode ajudar o Ibovespa

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

Um frágil cessar-fogo antes do tiro no pé que o Irã não vai querer dar

24 de junho de 2025 - 6:15

Cessar-fogo em guerra contra o Irã traz alívio, mas não resolve impasse estrutural. Trégua será duradoura ou apenas mais uma pausa antes do próximo ato?

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: Precisamos (re)conversar sobre Méliuz (CASH3)

23 de junho de 2025 - 14:30

Depois de ter queimado a largada quase literalmente, Méliuz pode vir a ser uma opção, sobretudo àqueles interessados em uma alternativa para se expor a criptomoedas

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Nem todo mundo em pânico: Ibovespa busca recuperação em meio a reação morna dos investidores a ataque dos EUA ao Irã

23 de junho de 2025 - 8:18

Por ordem de Trump, EUA bombardearam instalações nucleares do Irã na passagem do sábado para o domingo

DÉCIMO ANDAR

É tempo de festa junina para os FIIs

22 de junho de 2025 - 8:00

Alguns elementos clássicos das festas juninas se encaixam perfeitamente na dinâmica dos FIIs, com paralelos divertidos (e úteis) entre as brincadeiras e a realidade do mercado

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Tambores da guerra: Ibovespa volta do feriado repercutindo alta dos juros e temores de que Trump ordene ataques ao Irã

20 de junho de 2025 - 8:23

Enquanto Trump avalia a possibilidade de envolver diretamente os EUA na guerra, investidores reagem à alta da taxa de juros a 15% ao ano no Brasil

SEXTOU COM O RUY

Conflito entre Israel e Irã abre oportunidade para mais dividendos da Petrobras (PETR4) — e ainda dá tempo de pegar carona nos ganhos

20 de junho de 2025 - 6:03

É claro que a alta do petróleo é positiva para a Petrobras, afinal isso implica em aumento das receitas. Mas há um outro detalhe ainda mais importante nesse movimento recente. 

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Não foi por falta de aviso: Copom encontra um sótão para subir os juros, mas repercussão no Ibovespa fica para amanhã

19 de junho de 2025 - 9:29

Investidores terão um dia inteiro para digerir as decisões de juros da Super Quarta devido a feriados que mantêm as bolsas fechadas no Brasil e nos Estados Unidos

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: São tudo pequenas coisas de 25 bps, e tudo deve passar

18 de junho de 2025 - 14:40

Vimos um build up da Selic terminal para 15,00%, de modo que a aposta em manutenção na reunião de hoje virou zebra (!). E aí, qual é a Selic de equilíbrio para o contexto atual? E qual deveria ser?

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Olhando para cima: Ibovespa busca recuperação, mas Trump e Super Quarta limitam o fôlego

18 de junho de 2025 - 8:22

Enquanto Copom e Fed preparam nova decisão de juros, Trump cogita envolver os EUA diretamente na guerra

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Do alçapão ao sótão: Ibovespa repercute andamento da guerra aérea entre Israel e Irã e disputa sobre o IOF

17 de junho de 2025 - 8:24

Um dia depois de subir 1,49%, Ibovespa se prepara para queimar a gordura depois de Trump abandonar antecipadamente o G-7

INSIGHTS ASSIMÉTRICOS

Acima do teto tem um sótão? Copom chega para mais uma Super Quarta mirando fim do ciclo de alta dos juros

17 de junho de 2025 - 6:45

Maioria dos participantes do mercado financeiro espera uma alta residual da taxa de juros pelo Copom na quarta-feira, mas início de cortes pode vir antes do que se imagina

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: O fim do Dollar Smile?

16 de junho de 2025 - 20:00

Agora o ouro, e não mais o dólar ou os Treasuries, representa o ativo livre de risco no imaginário das pessoas

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

17 X 0 na bolsa brasileira e o que esperar dos mercados hoje, com disputa entre Israel e Irã no radar

16 de junho de 2025 - 8:18

Desdobramentos do conflito que começou na sexta-feira (13) segue ditando o humor dos mercados, em semana de Super Quarta

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Sexta-feira, 13: Israel ataca Irã e, no Brasil, mercado digere o pacote do governo federal

13 de junho de 2025 - 8:16

Mercados globais operam em queda, com ouro e petróleo em alta com aumento da aversão ao risco

SEXTOU COM O RUY

Labubu x Vale (VALE3): quem sai de moda primeiro?

13 de junho de 2025 - 7:11

Se fosse para colocar o meu suado dinheirinho na fabricante do Labubu ou na mineradora, escolho aquela cujas ações, no longo prazo, acompanham o fundamento da empresa

Insights Assimétricos

Novo pacote, velhos vícios: arrecadar, arrecadar, arrecadar

13 de junho de 2025 - 6:03

O episódio do IOF não é a raiz do problema, mas apenas mais uma manifestação dos sintomas de uma doença crônica

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Bradesco acerta na hora de virar o disco, governo insiste no aumento de impostos e o que mais embala o ritmo dos mercados hoje

12 de junho de 2025 - 8:19

Investidores avaliam as medidas econômicas publicadas pelo governo na noite de quarta e aguardam detalhes do acordo entre EUA e China

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Mais uma anomalia para chamar de sua

11 de junho de 2025 - 20:37

Eu sou um stock picker por natureza, mas nem precisaremos mergulhar tanto assim no intrínseco da Bolsa para encontrar oportunidade; basta apenas escapar de tudo o que é irritantemente óbvio

O MELHOR DO SEU DINHEIRO

Construtoras avançam com nova faixa do Minha Casa, e guerra comercial entre China e EUA esfria

11 de junho de 2025 - 8:20

Seu Dinheiro entrevistou o CEO da Direcional (DIRR3), que falou sobre os planos da empresa; e mercados globais aguardam detalhes do acordo entre as duas maiores potências

Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Fechar