🔴 A TEMPORADA DE BALANÇOS DO 1T25 JÁ COMEÇOU – CONFIRA AS NOTÍCIAS, ANÁLISES E RECOMENDAÇÕES

Manifesto das sete classes e além

Se não há tantas restrições, a alocação da sua carteira é um grande conjunto das seis classes de ativos básicos no Brasil

5 de fevereiro de 2021
13:07
Uma carteira de investimentos para qualquer cenário - de euforia ou tristeza nos mercados
Imagem: Shutterstock

Em 1911, quando o audiovisual ainda era um adolescente francês, o teórico de cinema italiano Ricciotto Canudo publicou seu manifesto “O nascimento da sexta arte”, propondo o cinema como o mais novo integrante das cinco artes clássicas definidas pelo filósofo alemão Hegel: música, pintura, escultura, arquitetura e literatura.

Anos mais tarde, revendo suas próprias ideias, Canudo publicou o “Manifesto das sete artes”, incluindo a dança no grupo e levando o cinema para o fim da fila, ganhando a alcunha mais famosa de Sétima Arte.

O motivo da troca de posições era simples: o cinema era considerado a combinação da ciência com as outras seis artes que o precederam.

Da música, surgiram os efeitos sonoros e a trilha; da pintura, escultura e arquitetura, a cenografia e o design de produção; da literatura, os roteiros; da dança, as artes cênicas e a interpretação teatral.

Sons, movimentos, cores, formas, espaços e palavras. Hoje, é difícil imaginar o cinema sem qualquer um desses seis elementos.

Alocação de investimentos também combina ciência e arte, acompanhadas de muita sorte, é claro.

Leia Também

Por pertencer a um campo em que descobertas “científicas” podem te deixar milionário da noite para o dia, como uma oportunidade de arbitragem ou um novo jeito de precificar ativos, a produção acadêmica sobre finanças é vasta. Desde a fronteira eficiente de Markowitz nos anos 1950 até estudos mais recentes sobre a geração de alfa em carteiras de ações orientadas por fatores ESG, há uma multidão de gente inteligente por aí em busca do Santo Graal nos investimentos.

Mas também há o lado artístico. Por mais que eu admire a gestão sistemática e a velocidade de modelos matemáticos, é inegável que há alguns gestores brilhantes e experientes nessa indústria — e é difícil dizer qual das duas qualidades causam seus bons resultados.

Nesta semana, por exemplo, em que o fundo Verde reabre para reservas, um assinante me perguntou, ao vivo, quanto do resultado acumulado de mais de 18.000% do Verde veio do brilhantismo de Luis Stuhlberger.

Desculpe, simplesmente não há como saber — e muito menos como separar ciência de arte e sorte. Caso fosse possível fazê-lo com precisão, aliás, não passaria a ser tudo ciência imediatamente, como propõem os fundos sistemáticos?

Há aqui uma ponderação justa: quanto mais ineficiente e sujeito a riscos idiossincráticos um mercado, como os político-fiscais brasileiros, mais são valorizados o conhecimento tácito e a experiência acumulada no longo prazo.

Luis Stuhlberger, André Jakurski e Rogério Xavier não passarão a compor, juntos, as três maiores posições da principal carteira de fundos da série Os Melhores Fundos de Investimento à toa. São décadas de eventos de cauda (aquela cauda à brasileira, menos fina do que o livro-texto propõe), tomadas de decisão sob o ângulo da incerteza e todo tipo de sorte e revés para moldar carreiras inquestionáveis.

Tanto o gestor de multimercado como o alocador de recursos, e, no limite, você, investidor pessoa física, equivalem à sétima arte do manifesto de Canudo. Se não há tantas restrições, a alocação da sua carteira é um grande conjunto das seis classes de ativos básicos no Brasil.

Em pós-fixados, não há mistério, é onde fica sua reserva de emergência, em um fundo DI com taxa zero, sem risco de crédito ou de mercado.

Os prefixados têm um papel praticamente unidirecional para a pessoa física: ganham dinheiro quando os juros caem mais ou sobem menos do que as expectativas de mercado — especialmente os de curto prazo, mais ligados às decisões de política monetária.

Já os títulos indexados à inflação têm duas funções importantes. De um lado, protegem seu dinheiro contra altas dos preços (e daí a recomendação de sempre ter um pouco na carteira); de outro, podem ser bons instrumentos para ganhar dinheiro quando o risco-país se altera, especialmente os de maior vencimento.

Nossa quarta classe não é unânime. Há quem diga que crédito privado deve fazer parte de uma das três acima, afinal quando se empresta dinheiro para uma empresa, a remuneração pode ser pós-fixada, prefixada ou indexada à inflação.

Prefiro, porém, separar o risco de crédito em uma carteira por dois motivos: pela sua natureza côncava, em que se ganha sempre um pouco e pode-se perder muito de uma só vez, e pela especialização dos gestores nessa classe, treinados para analisar balanços de empresas com uma ótica diferente dos analistas de ações ou traders de juros.

Na sequência, vem a mais artística das classes. Sujeitas ao escrutínio das interpretações de demonstrações financeiras e a “plot twists” em governança corporativa, as ações têm natureza oposta à do crédito privado. No lugar de credor, sócio. Em vez de pequenos ganhos frequentes, as ações podem multiplicar seu capital várias vezes, além do pagamento de dividendos.

Por fim, os fundos imobiliários. Solução mais acessível e eficiente para o investidor brasileiro realizar seu desejo da casa própria (ou da laje e galpão próprios), essa classe costuma ter baixa correlação com as anteriores e ainda paga rendimentos isentos na sua conta.

Segurança, títulos públicos, proteção contra a inflação, prêmio por risco de crédito, participação em empresas e exposição ao mercado imobiliário. Hoje, é difícil imaginar uma carteira completa sem qualquer um desses seis elementos.

Há espaço, claro, para propostas inovadoras. Filmes como “Dogville”, de Lars von Trier, que retira todos os elementos de cenografia e design de produção; “O Artista”, de Michel Hazanavicius, que homenageia o cinema mudo pra valer; e “O Som ao Redor”, de Kleber Mendonça Filho, dando mais destaque ao som do que a qualquer outra coisa, são propostas fora da caixa, que dificilmente servem a todos.

Da mesma maneira, um investidor prudente não deveria negligenciar, no longo prazo, qualquer uma das sete principais classes de ativos — incluindo os multimercados.

Porém, o fato menos conhecido é que, um século depois do manifesto de Canudo, já são 11 o total oficial de artes, com a fotografia, a história em quadrinhos, os videogames e a computação gráfica tendo entrado para o grupo.

Analogamente, também não devemos nos limitar mais às sete classes de ativos brasileiros mais clássicas. Nos últimos anos, temos reforçado a importância de o investidor brasileiro sair do tradicional e aumentar sua exposição a moedas como o dólar, a commodities como o ouro e a prata, a investimentos internacionais de maneira geral e, mais recentemente, a investimentos alternativos como private equity e venture capital.

Na série Os Melhores Fundos de Investimento, o desafio daqui para a frente é encontrar os novos artistas, gestores de fundos brilhantes e experientes em cada uma dessas novidades.

No lugar de um Oscar, mais dinheiro no seu bolso. Melhor, não?

COMPARTILHAR

Whatsapp Linkedin Telegram
EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: Dedo no gatilho

24 de março de 2025 - 20:00

Não dá pra saber exatamente quando vai se dar o movimento. O que temos de informação neste momento é que há uma enorme demanda reprimida por Brasil. E essa talvez seja uma informação suficiente.

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: As expectativas de conflação estão desancoradas

19 de março de 2025 - 20:00

A principal dificuldade epistemológica de se tentar adiantar os próximos passos do mercado financeiro não se limita à já (quase impossível) tarefa de adivinhar o que está por vir

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: Vale a pena investir em ações no Brasil?

17 de março de 2025 - 20:00

Dado que a renda variável carrega, ao menos a princípio, mais risco do que a renda fixa, para se justificar o investimento em ações, elas precisariam pagar mais nessa comparação

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Para um período de transição, até que está durando bastante

12 de março de 2025 - 19:58

Ainda que a maior parte de Wall Street continue sendo pró Trump, há um problema de ordem semântica no “período de transição”: seu falsacionismo não é nada trivial

EXILE ON WALL STREET

Tony Volpon: As três surpresas de Donald Trump

10 de março de 2025 - 20:00

Quem estudou seu primeiro governo ou analisou seu discurso de campanha não foi muito eficiente em prever o que ele faria no cargo, em pelo menos três dimensões relevantes

VISÃO 360

Dinheiro é assunto de mulher? A independência feminina depende disso

9 de março de 2025 - 7:50

O primeiro passo para investir com inteligência é justamente buscar informação. Nesse sentido, é essencial quebrar paradigmas sociais e colocar na cabeça de mulheres de todas as idades, casadas, solteiras, viúvas ou divorciadas, que dinheiro é assunto delas.

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Na esperança de marcar o 2º gol antes do 1º

5 de março de 2025 - 20:01

Se você abre os jornais, encontra manchetes diárias sobre os ataques de Donald Trump contra a China e contra a Europa, seja por meio de tarifas ou de afrontas a acordos prévios de cooperação

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Um Brasil na mira de Trump

26 de fevereiro de 2025 - 20:00

Temos razões para crer que o Governo brasileiro está prestes a receber um recado mais contundente de Donald Trump

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Eu gostaria de arriscar um palpite irresponsável

19 de fevereiro de 2025 - 20:01

Vai demorar para termos certeza de que o último período de mazelas foi superado; quando soubermos, porém, não restará mais tanto dinheiro bom na mesa

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Tenha muito do óbvio, e um pouco do não óbvio

12 de fevereiro de 2025 - 20:00

Em um histórico dos últimos cinco anos, estamos simplesmente no patamar mais barato da relação entre preço e valor patrimonial para fundos imobiliários com mandatos de FoFs e Multiestratégias

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: Isso não é 2015, nem 1808

10 de fevereiro de 2025 - 20:00

A economia brasileira cresce acima de seu potencial. Se a procura por camisetas sobe e a oferta não acompanha, o preço das camisetas se eleva ou passamos a importar mais. Não há milagre da multiplicação das camisetas.

EXILE ON WALL STREET

Tony Volpon: O paradoxo DeepSeek

3 de fevereiro de 2025 - 20:01

Se uma relativamente pequena empresa chinesa pode desafiar as grandes empresas do setor, isso será muito bom para todos – mesmo se isso acabar impactando negativamente a precificação das atuais gigantes do setor

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: IPCA 2025 — tem gosto de catch up ou de ketchup mais caro?

29 de janeiro de 2025 - 20:31

Se Lula estivesse universalmente preocupado com os gastos fiscais e o descontrole do IPCA desde o início do seu mandato, provavelmente não teria que gastar tanta energia agora com essas crises particulares

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Um ano mais fácil (de analisar) à frente

18 de dezembro de 2024 - 20:00

Não restam esperanças domésticas para 2025 – e é justamente essa ausência que o torna um ano bem mais fácil de analisar

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Às vésperas da dominância fiscal

11 de dezembro de 2024 - 15:00

Até mesmo os principais especialistas em macro brasileira são incapazes de chegar a um consenso sobre se estamos ou não em dominância fiscal, embora praticamente todos concordem que a política monetária perdeu eficácia, na margem

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Precisamos sobre viver o “modo sobrevivência”

4 de dezembro de 2024 - 20:00

Não me parece que o modo sobrevivência seja a melhor postura a se adotar agora, já que ela pode assumir contornos excessivamente conservadores

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Banda fiscal no centro do palco é sinal de que o show começou

27 de novembro de 2024 - 16:01

Sequestrada pela política fiscal, nossa política monetária desenvolveu laços emocionais profundos com seus captores, e acabou por assimilar e reproduzir alguns de seus traços mais viciosos

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: O Brasil (ainda não) voltou — mas isso vai acontecer

18 de novembro de 2024 - 20:00

Depois de anos alijados do interesse da comunidade internacional, voltamos a ser destaque na imprensa especializada. Para o lado negativo, claro

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: Não estamos no México, nem no Dilma 2

7 de outubro de 2024 - 20:00

Embora algumas analogias de fato possam ser feitas, sobretudo porque a direção guarda alguma semelhança, a comparação parece bastante imprecisa

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Brasil com grau de investimento: falta apenas um passo, mas não qualquer passo

2 de outubro de 2024 - 14:40

A Moody’s deixa bem claro qual é o passo que precisamos satisfazer para o Brasil retomar o grau de investimento: responsabilidade fiscal

Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Fechar