Felipe Miranda: Entre “O fim do Brasil —parte 2” e o começo da terceira via
Depois do desastre com o teto de gastos, o que podemos esperar de uma resolução que não envolva nem Lula nem Bolsonaro?
“Seja como for o começo da carreira de cada um de vocês, é importante saber que a vida não se move em linha reta. Vocês precisam estar cientes de que o mundo é um lugar imprevisível. Muitas vezes, até as pessoas mais capazes, como vocês, acabam caindo do cavalo. É inevitável, vocês vão se deparar com muitas dificuldades e adversidades ao longo da vida. Quando tiverem algum revés, precisarão reunir forças e se obrigar a seguir em frente. A resiliência que exibirem diante das adversidades, mais do que a adversidade em si, definirá que tipo de pessoas vocês são.”
CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADECONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADEStephen Schwarzman
As pessoas me pedem para escrever “O Fim do Brasil - Parte 2”. Na verdade, elas não sabem, mas eu já publiquei a continuidade do primeiro episódio. Se fosse o caso, este seria o terceiro capítulo da trilogia.
Sejamos sinceros: essas pessoas têm alguma razão. Até podemos encontrar um bom paralelo nas últimas semanas com a desastrada “Nova Matriz Econômica” — além da esquerda e da direita está o populismo. Com a perda da âncora fiscal, perdemos também um dos pés do tripé macroeconômico.
Confesso, porém, que, dada a maneira atabalhoada de condução de nossas mazelas fiscais, tenho me lembrado mais de outro episódio da história já não tão recente. Em 13 de janeiro de 1999, Chico Lopes assumiu a presidência do Banco Central no lugar de Gustavo Franco. No meio de um ataque especulativo, veio com uma terminologia “simples”, lançar uma “banda diagonal endógena”.
A proposta até fazia algum sentido. Era uma forma de transição do regime de câmbio fixo para o flutuante. A banda é diagonal (pra cima) porque determina um intervalo de variação para a taxa de câmbio, supondo desvalorização do real contra o dólar ao longo do tempo. Você começa com uma banda curtinha e, à medida que a taxa toca nos limites de cima ou de baixo, a banda vai se alargando. Por isso, ela é endógena, ou seja, é o próprio comportamento do câmbio quem vai ditando a largura da banda. Com o passar do tempo, a banda ficaria tão alargada que teríamos uma banda infinita. Ou seja, é o câmbio flutuante.
Na teoria, até o socialismo funciona. Mas, meu amigo, no meio de um ataque especulativo, até você explicar “banda diagonal endógena” pro gringo, já era. Chico Lopes foi demitido do BC em 2 de fevereiro de 1999. Passagem do tipo “velozes e furiosos” pela autoridade monetária. Aí veio o Armínio com o tripé e o resto é conhecido.
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Na semana passada, parece que lançamos o teto diagonal endógeno. Ele também só sobe com a passagem do tempo. Funciona assim: você cria o teto. E, daí, para não falar que abandonou de vez a âncora fiscal, cada vez que os gastos se aproximam do teto, ele se move para cima. O alcance do teto provoca um novo teto, endogenamente.
As consequências são conhecidas. Em linhas gerais, as mesmas da nova matriz econômica. Dólar pra cima, pressão sobre os juros de mercado, deterioração das perspectivas de crescimento. Obviamente, muito ruim.
Mas seria mesmo “O Fim do Brasil”?
Tenho uma teoria já manifestada aqui algumas vezes: o Brasil é obviamente problemático. Dificilmente será uma grande potência. Ao mesmo tempo, há uma certa tendência de reversão à média. Somos medíocres, macunaímicos e complacentes. E somos também antifrágeis.
Explico a ideia. A partir de um determinado tamanho de choque negativo, a corda estica a certo ponto que catalisa um processo de mudança positiva. Talvez tenhamos cruzado essa linha na semana passada.
Com a perda de qualquer esperança de algo positivo material até o final de 2022, emerge uma potencial solução inesperada. Alguma coisa ainda percebida como de baixa probabilidade (lembra do áudio do Bessias? Antes disso, ninguém acreditava no impedimento de Dilma Rousseff; vale ler aquela fatídica entrevista nas Páginas Amarelas de “flertando com o abismo”) acaba emergindo e retira o país do aparente inferno. Não se pode matar a esperança, porque ela ficou presa na Caixa de Pandora. Ela resiste, portanto.
O olhar atento começa a perceber os primeiros sinais mais materiais de união em prol de uma candidatura única de centro, evitando uma fragmentação da chamada terceira via e aumentando a, por ora ainda baixa, probabilidade de sua eleição.
Outras opiniões
Em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo, Ian Bremmer, da Eurasia, faz importantes considerações nesse sentido, à luz dos acontecimentos recentes: “A implicação mais interessante que pode haver seria Bolsonaro perder tanto apoio a ponto de abrir espaço para uma terceira via. Sabemos que Lula será um dos candidatos que deve chegar no segundo turno, e seria natural de se esperar que o atual presidente também conseguisse chegar lá, mas esse pode não ser o caso. As barreiras ainda são altas para uma terceira via, mas Bolsonaro tem cometido muitos equívocos, e isso em um contexto em que ainda estamos em uma grave crise”.
Bremmer ainda: “Acho que é extremamente improvável que o Bolsonaro seja reeleito, e vejo como uma possibilidade crescente um candidato do centro disputando contra Lula. A terceira via é um evento que com certeza seria muito bem recebido por empresários e investidores”.
Eliane Cantanhêde, em sua coluna no Estadão, vai por caminho semelhante: “Quanto mais golpeia a economia, mais Bolsonaro abre a trilha da terceira via”.
Amanhã vai ao ar o novo episódio do nosso podcast RadioCash, com Luciano Bivar. Das minhas conversas recentes, considero esta uma das mais relevantes e reveladoras. Bivar, à frente do União Brasil, foi categórico ao projetar uma terceira via forte e unida.
Um possível caminho agora seria a superação das prévias do PSDB em novembro, com aumento do favoritismo de Eduardo Leite sobre João Doria. Esse é o primeiro trigger positivo para os mercados. Na sequência, talvez ainda este ano, a publicação de um documento confirmando a convergência de União Brasil, PSDB, MDB e Cidadania em torno de uma só candidatura forte.
Por enquanto, é só uma possibilidade, mas ela se torna cada vez mais real.
Os eventos bastante negativos da semana passada foram tão ruins que podem ter criado um caminho bem positivo para a frente, numa manifestação concreta de nossa antifragilidade macunaímica.
Entre o fim do Brasil e um possível novo começo, talvez enfrentemos um pequeno purgatório até 21 de novembro. Até lá, juros de mercado na lua, dólar alto e penalização sobre todas as ações cujos fluxos de caixa estão muito lá na frente. Estamos terminando nossos estudos para propor novas recomendações short para o curto prazo.
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