Felipe Miranda: Contra argumento não há fundamento
Quando George Soros escreveu “A Alquimia das Finanças", em 1987, ele argumentava contra a intenção dos alquimistas em tentar mudar a natureza dos metais comuns por encantamento. Em vez disso, eles deveriam ter prestado atenção nos mercados financeiros e talvez conseguissem isso.
Nas ciências sociais, as teorias se prestam a uma função manipulativa — ou seja, elas interferem na própria realidade objetiva. É a tal reflexividade de Soros. As pessoas tentam entender o mundo em que vivemos, no que se chama “função cognitiva”. Ao mesmo tempo, esse entendimento dos seres pensantes se volta para a própria realidade, manipulando-a a partir de suas expectativas e interpretações. A realidade subjetiva interfere na realidade objetiva.
Ao propor o argumento, Soros entra em rota de colisão com o value investing clássico, porque desmonta o conceito de valor intrínseco. Não há uma realidade corporativa apartada, dissociada de elementos externos, inapartável daquela empresa. O comportamento dos ativos, estruturalmente, depende de algo externo, extrínseco, da expectativa dos agentes, que molda a própria realidade, sem que o equilíbrio seja necessariamente o destino final dos mercados.
Conforme escreve o próprio Soros, “os preços dos ativos financeiros não refletem com precisão seu valor intrínseco porque esse sequer é a intenção deles. Eles refletem as expectativas dos participantes sobre os futuros preços de mercado”. Estamos próximos à ideia do concurso de beleza keynesiano, em que os participantes deveriam conjecturar sobre qual seria a escolha mais popular — a ideia era escolher não a candidata mais bonita, mas, sim, aquela que seria votada pelos demais como a mais bonita. Importam mais as profecias autorrealizáveis de Robert Merton do que propriamente a realidade concreta.
A coisa fica um pouco mais complicada quando associamos o princípio da reflexividade aos outros dois pilares da teoria de George Soros: a falibilidade e a incerteza de Knight. A complexidade do mundo excede nossa capacidade de compreensão. Diante da falta de conhecimento do todo e da impossibilidade de processar e assimilar toda a informação relevante, recorremos a vários métodos de simplificação: generalizações, dicotomias, metáforas, regras de decisão e preceitos morais. Decidimos com informação incompleta e vários vieses cognitivos, sendo muito mais falíveis do que a ideia dos mercados eficientes poderia supor.
As Finanças Comportamentais caminharam bem ao identificar e lidar com os vieses cognitivos, mas percorreram apenas metade da estrada. Embora tenham adequadamente se debruçado sobre a função cognitiva, pouco têm a nos dizer sobre a função manipulativa — não há aí a reflexividade, a influência sobre a realidade dos vieses cognitivos. Existe a ida, sem a volta.
Leia Também
Aqui é necessário rigor ao se falar de incerteza, porque não se trata de risco mensurável e manipulável. Estamos sob a denominação de Frank Knight, em que risco se refere a múltiplos estados futuros possíveis e se conhecem as probabilidades de cada um dessas potenciais ocorrências. A incerteza é muito pior, porque não se conhecem todos os resultados futuros possíveis, tampouco sua distribuição de probabilidades.
O corolário da simultaneidade entre reflexividade, falibilidade e princípio da incerteza é que os mercados podem se afastar do equilíbrio de maneira quase estrutural e são muito mais sensíveis a interpretações, expectativas, preconceitos e visões de mundo do que a teoria ortodoxa gostaria de supor.
Soros, ao reconhecer a influência das expectativas e do “zeitgeist” sobre os mercados, em alguma medida, se encontra com as ideias de retórica de Deirdre McCloskey e Persio Arida. Mais do que os fundamentos em si, importam as expectativas e interpretações sobre eles. Sob esse arcabouço teórico, conseguimos entender frases bastante práticas como: “O mercado está muito temático”. Um determinado tema (narrativa, interpretação, retórica) se impõe sobre a realidade objetiva, como se algo particular contaminasse o geral.
Essas coisas interagem reflexivamente em ciclos de feedback, com loops positivos (que se reforçam) ou negativos (que vão se autoajustando e amenizam a distância até o equilíbrio). Mesmo os positivos não podem ocorrer ininterruptamente, porque a dissonância da realidade chega a níveis inimagináveis, atingindo um clímax ou são interrompidos por um feedback negativo no meio do caminho.
Há uma nuance adicional.
Se os mercados são perfeitos, então é impossível bater a média do mercado, pois tudo está devidamente incorporado nos preços. Se o axioma é correto, a conclusão é mera aplicação da lógica-dedutiva. Eis o problema: nas ciências naturais, as premissas são construídas de forma empírica, sob a observação da realidade. Nas ciências sociais, como na Economia, não é assim. Partem-se de premissas adotadas em prol da formalização e da aproximação do método ao hard science, sem a necessária correspondência à realidade — a escolha racional e a informação completa são exemplos canônicos.
Como já parece claro a esta altura, os mercados não são perfeitos. Temos reflexividade, falibilidade e incerteza. Isso não significa, porém, que possamos bater o mercado com facilidade — essa é uma falácia lógica que precisa ser evitada. Se os mercados são eficientes, não podemos bater o mercado. Mas isso não quer dizer que se os mercados não são eficientes todos dispõem de um método simples e eficiente para superá-lo. A implica B; Não A não implica não B.
A falibilidade, a reflexividade e a incerteza não são facilmente modeláveis. Os mercados podem continuar irracionais e em feedbacks positivos por mais tempo do que o trader pode suportar. Até que algo interrompa o ciclo, mostrando a realidade objetiva.
Penso em duas formas de manifestação do concreto. A primeira é o resultado trimestral ou uma sequência deles, que, no final das contas, se tornam dividend yield lá na frente se o mercado não vier a pagar por isso. E a segunda são deals privados, que objetivamente mostrem o valor que o mercado público não está disposto a pagar.
Conclusões práticas: essa temporada pode ser a primeira catálise para separarmos o joio do trigo. Alguns valuations de empresas de tecnologia simplesmente não fazem sentido — o choque de realidade começa agora. E ele pode ser duríssimo. Se o mercado não quer saber de incorporadora, mas os ativos são bons e os preços também, podemos nos preparar para uma sequência de deals — Tecnisa pode ser só o primeiro. O varejo de moda vai pelo mesmo caminho. Neste valuation e com a questão da sucessão batendo à porta, Marisa, para mim, tem Lojas Americanas apenas como uma de suas candidatas.
Shutdown nos EUA e bolsa brasileira estão quebrando recordes diariamente, mas só um pode estar prestes a acabar; veja o que mais mexe com o seu bolso hoje
Temporada de balanços, movimentos internacionais e eleições do ano que vem podem impulsionar ainda mais a bolsa brasileira, que está em rali histórico de valorizações; Isa Energia (ISAE4) quer melhorar eficiência antes de aumentar dividendos
Ibovespa imparável: até onde vai o rali da bolsa brasileira?
No acumulado de 2025, o índice avança quase 30% em moeda local — e cerca de 50% em dólar. Esse desempenho é sustentado por três pilares centrais
Felipe Miranda: Como era verde meu vale do silício
Na semana passada, o mitológico investidor Howard Marks escreveu um de seus icônicos memorandos com o título “Baratas na mina de carvão” — uma referência ao alerta recente de Jamie Dimon, CEO do JP Morgan, sobre o mercado de crédito
Banco do Brasil (BBAS3) precisará provar que superou crise do agro, mercado está otimista com fim do shutdown nos EUA no horizonte, e o que mais você precisa saber sobre a bolsa hoje
Analistas acreditam que o BB não conseguirá retomar a rentabilidade do passado, e que ROE de 20% ficou para trás; ata do Copom e dados de inflação também mexem com os mercados
Promovido, e agora? Por que ser bom no que faz não te prepara para liderar pessoas
Por que seguimos promovendo técnicos brilhantes e esperando que, por mágica, eles virem líderes preparados? Liderar é um ofício — e como todo ofício, exige aprendizado, preparo e prática
Novo nome da Eletrobras em nada lembra mercado de energia; shutdown nos EUA e balanço da Petrobras também movem os mercados hoje
Depois de rebranding, Axia Energia anuncia R$ 4 bilhões em dividendos; veja o que mais mexe com a bolsa, que bate recorde depois de recorde
Eletrobras agora é Axia: nome questionável, dividendos indiscutíveis
Mesmo com os gastos de rebranding, a empresa entregou bons resultados no 3T25 — e há espaço tanto para valorização das ações como para mais uma bolada em proventos até o fim do ano
FII escondido no seu dia a dia é campeão entre os mais recomendados e pode pagar dividendos; mercado também reflete decisão do Copom e aprovação da isenção de IR
BTGLG11 é campeão no ranking de fundos imobiliários mais recomendados, Copom manteve Selic em 15% ao ano, e Senado aprovou isenção de Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil
É bicampeão! FII BTLG11 volta ao topo do ranking dos fundos mais recomendados em novembro — e tem dividendos extraordinários no radar
Pelo segundo mês consecutivo, o BTLG11 garantiu a vitória ao levar quatro recomendações das dez corretoras, casas de análise e bancos consultados pelo Seu Dinheiro
Economista revela o que espera para a Selic em 2025, e ações ligadas à inteligência artificial sofrem lá fora; veja o que mais mexe com o mercado hoje
Ibovespa renovou recorde antes de decisão do Copom, que deve manter a taxa básica de juros em 15% ao ano, e economista da Galapagos acredita que há espaço para cortes em dezembro; investidores acompanham ações de empresas de tecnologia e temporada de balanços
O segredo do Copom, o reinado do Itaú e o que mais movimenta o seu bolso hoje
O mercado acredita que o Banco Central irá manter a taxa Selic em 15% ao ano, mas estará atento à comunicação do banco sobre o início do ciclo de cortes; o Itaú irá divulgar seus resultados depois do fechamento e é uma das ações campeãs para o mês de novembro
Política monetária não cede, e fiscal não ajuda: o que resta ao Copom é a comunicação
Mesmo com a inflação em desaceleração, o mercado segue conservador em relação aos juros. Essa preferência traz um recado claro: o problema deriva da falta de credibilidade fiscal
Tony Volpon: Inteligência artificial — Party like it’s 1998
Estamos vivendo uma bolha tecnológica. Muitos investimentos serão mais direcionados, mas isso acontece em qualquer revolução tecnológica.
Manter o carro na pista: a lição do rebalanceamento de carteira, mesmo para os fundos imobiliários
Assim como um carro precisa de alinhamento, sua carteira também precisa de ajustes para seguir firme na estrada dos investimentos
Petrobras (PETR4) pode surpreender com até R$ 10 bilhões em dividendos, Vale divulgou resultados, e o que mais mexe com seu bolso hoje
A petroleira divulgou bons números de produção do 3° trimestre, e há espaço para dividendos bilionários; a Vale também divulgou lucro acima do projetado, e mercado ainda digere encontro de Trump e Xi
Dividendos na casa de R$ 10 bilhões? Mesmo depois de uma ótima prévia, a Petrobras (PETR4) pode surpreender o mercado
A visão positiva não vem apenas da prévia do terceiro trimestre — na verdade, o mercado pode estar subestimando o potencial de produção da companhia nos próximos anos, e olha que eu nem estou considerando a Margem Equatorial
Vale puxa ferro, Trump se reúne com Xi, e bolsa bateu recordes: veja o que esperar do mercado hoje
A mineradora divulga seus resultados hoje depois do fechamento do mercado; analistas também digerem encontro entre os presidentes dos EUA e da China, fala do presidente do Fed sobre juros e recordes na bolsa brasileira
Rodolfo Amstalden: O silêncio entre as notas
Vácuos acumulados funcionaram de maneira exemplar para apaziguar o ambiente doméstico, reforçando o contexto para um ciclo confiável de queda de juros a partir de 2026
A corrida para investir em ouro, o resultado surpreendente do Santander, e o que mais mexe com os mercados hoje
Especialistas avaliam os investimentos em ouro depois do apetite dos bancos centrais por aumentar suas reservas no metal, e resultado do Santander Brasil veio acima das expectativas; veja o que mais vai afetar a bolsa hoje
O que a motosserra de Milei significa para a América Latina, e o que mais mexe com seu bolso hoje
A Argentina surpreendeu nesta semana ao dar vitória ao partido do presidente Milei nas eleições legislativas; resultado pode ser sinal de uma mudança política em rumo na América Latina, mais liberal e pró-mercado