Felipe Miranda: é sobre o quanto de dinheiro você ganha
Se você é um homem casado, possivelmente já entendeu: você não precisa ter razão. Ao contrário. Ter razão pode ser a pior coisa. Você ganha a discussão e junto leva uma tromba pelas próximas 48 horas, além de perder o direito de assistir aos próximos jogos do Brasileirão ou jogar aquele futevôlei com os "parça". Happy wife, happy life. É muito melhor ser feliz do que estar certo.
O desejo de provar seu ponto e não errar pode ser devastador. Serve para o casamento, serve para o investimento. Mundo, mundo, vasto mundo. Se eu me chamasse Raimundo, seria uma rima, não a solução.
Na dinâmica da renda variável, tudo que sabemos é que vamos errar. Todos os dias. Compramos o que não deveríamos. Ou compramos menos do que deveríamos. Decidimos ex-ante sob incertezas e perante um mapa de probabilidades, sabemos ex-post qual dos cenários se materializou, apenas uma das infinitas possibilidades que se colocavam previamente. O erro está na construção da coisa. Você se prepara para a distribuição de probabilidade, mas só um dos cenários vai acontecer. É o melhor a ser feito, e já é um erro.
Stanley Druckenmiller, que fazia uma espécie de dupla Pelé e Coutinho com George Soros, insiste sempre num ponto principal: o ato de investir não é sobre estar certo ou errado, e, sim, sobre quanto de dinheiro você perde quando está errado, e quanto de dinheiro você ganha quando está certo. O tamanho da posição importa. Druckenmiller é conhecido por suas posições grandes em momentos de grande convicção. E as posições de Druckenmiller eram pequenas perante as gigantes posições de Soros.
Esse é um ponto fundamental da gestão de recursos: nos raros momentos em que uma grande oportunidade aparece (e eles são realmente raros), você precisa ir para o "home run" — basta um deles para que você acumule retornos de anos em curtos intervalos de tempo.
Talvez estejamos numa dessas raras oportunidades, em que havemos de ir na jugular.
Leia Também
Como lembrou recentemente Rogério Xavier, se o investidor pudesse escolher um cenário a ser desejado, ele deveria selecionar exatamente o atual, com a maior economia do mundo vendo seu PIB nominal crescer 10% no ano.
Simultaneamente, a preocupação mais pronunciada com a subida das taxas de juro de mercado encontra um alívio — depois de beliscar o 1,80%, o yield do Treasury de 10 anos está hoje em 1,58% e enfrenta menos pressão depois do Employment Report mais fraco da última sexta-feira.
Há sempre uma tendência a nos observarmos sob nossa própria perspectiva, numa interpretação ensimesmada de nós mesmos. O Brasil, porém, é um grande beta no mundo e mostra grande sensibilidade às condições sistêmicas globais. Somos muito associados ao ciclo de commodities, temos uma moeda extremamente volátil e exótica e sentimos muito os fluxos de capitais globais.
Em paralelo, depois de muito tempo começamos a ter notícias boas internamente também. Eu nem lembrava mais como era isso. O PIB brasileiro deve crescer alguma coisa perto de 6% neste ano, muito acima do esperado anteriormente — há pouco, se falava em 3,5% de crescimento. A dívida sobre PIB caminha para algo como 83%, contra 110% sugeridos há alguns meses. O déficit primário pode ser inferior a 3% em 2021. Sejamos sinceros: ninguém esperava isso.
Curiosamente, voltamos a ser destaque entre os mercados emergentes emissores de boas notícias. De pária e patinho feio a um dos queridinhos, num piscar de olhos. E se você observar o fluxo gringo na B3, vai claramente perceber que esse cara já está voltando, e com força.
A vacinação pega ritmo importante nos próximos dois meses, a volta da economia é mais rápida do que se imaginava. Aos trancos e barrancos, caminhamos com a privatização da Eletrobras e com a reforma administrativa. Não será a privatização dos sonhos, tampouco a reforma dos sonhos. Mas nunca é. Os sonhos acontecem à noite, fora da atividade parlamentar. Resta-nos a dura realidade, que ainda é o único lugar onde podemos comer um bom bife, como lembra Woody Allen.
Resumo da história: os ativos brasileiros estão bem defasados frente aos pares. Havia razão de ser. A situação fiscal era caótica e explosiva. Éramos destaque negativo global da pandemia. As reformas não andavam. O cenário é diferente agora. E os preços ainda estão defasados. Uma coisa vai convergir para a outra, como costuma ser.
Duas coisas ainda me parecem bem fora do lugar:
1 — Incorporadoras. Isso sofreu dramaticamente com aumento dos preços de insumos e subida das taxas de juro de mercado. O aço turco derreteu nas últimas semanas e a curva de juros tem se comportado muito melhor. Com o crescimento da economia, o affordability tende a melhorar bastante. São Paulo é uma economia de serviços, cujo segundo semestre pode ser notadamente de maior atividade. Tecnisa continua largada mesmo depois da história dos Cepacs e ainda pode vir a se envolver num movimento de M&A. Mitre está voltando a lançar e colocando preço com ótima aceitação — vai ser um trimestre bem mais forte do que o anterior. Direcional vai mais uma vez surpreender o mercado, com lançamentos superiores a R$ 700 milhões no trimestre, talvez a R$ 800 milhões nas minhas contas; Manaus e Brasília voando. Vai pagar 15% de dividendo no ano e quase necessariamente terá re-rating com Riva decolando. Mas ninguém quer saber do setor. Quando a turma acordar, vai ver o número estampado no jornal.
2 — Varejo de moda. Já andou um pedaço, reconheço. Mas aquele derivativo gigante de Renner há uns dias atrás não sai da minha cabeça. Sensação de que alguém sabe de alguma coisa. O Leblon normalmente sabe de muita coisa. Converse com os varejistas, veja como eles mesmos estão surpresos com o ritmo da retomada. E a atividade de M&A está muito quente. Se vão se acertar em valuation ou não, só o tempo vai dizer. De uma forma ou de outra, mostra o quanto isso está barato. Não quero estar certo na tese de M&A, só quero ser feliz e ganhar dinheiro.
A corrida para investir em ouro, o resultado surpreendente do Santander, e o que mais mexe com os mercados hoje
Especialistas avaliam os investimentos em ouro depois do apetite dos bancos centrais por aumentar suas reservas no metal, e resultado do Santander Brasil veio acima das expectativas; veja o que mais vai afetar a bolsa hoje
O que a motosserra de Milei significa para a América Latina, e o que mais mexe com seu bolso hoje
A Argentina surpreendeu nesta semana ao dar vitória ao partido do presidente Milei nas eleições legislativas; resultado pode ser sinal de uma mudança política em rumo na América Latina, mais liberal e pró-mercado
A maré liberal avança: Milei consolida poder e reacende o espírito pró-mercado na América do Sul
Mais do que um evento isolado, o avanço de Milei se insere em um movimento mais amplo de realinhamento político na região
Os balanços dos bancos vêm aí, e mercado quer saber se BB pode cair mais; veja o que mais mexe com a bolsa hoje
Santander e Bradesco divulgam resultados nesta semana, e mercado aguarda números do BB para saber se há um alçapão no fundo do poço
Só um susto: as ações desta small cap foram do céu ao inferno e voltaram em 3 dias, mas este analista vê motivos para otimismo
Entenda o que aconteceu com os papéis da Desktop (DESK3) e por que eles ainda podem subir mais; veja ainda o que mexe com os mercados hoje
Por que o tombo de Desktop (DESK3) foi exagerado — e ainda vejo boas chances de o negócio com a Claro sair do papel
Nesta semana os acionistas tomaram um baita susto: as ações DESK3 desabaram 26% após a divulgação de um estudo da Anatel, sugerindo que a compra da Desktop pela Claro levaria a concentração de mercado para níveis “moderadamente elevados”. Eu discordo dessa interpretação, e mostro o motivo.
Títulos de Ambipar, Braskem e Raízen “foram de Americanas”? Como crises abalam mercado de crédito, e o que mais movimenta a bolsa hoje
Com crises das companhias, investir em títulos de dívidas de empresas ficou mais complexo; veja o que pode acontecer com quem mantém o título até o vencimento
Rodolfo Amstalden: As ações da Ambipar (AMBP3) e as ambivalências de uma participação cruzada
A ambição não funciona bem quando o assunto é ação, e o caso da Ambipar ensina muito sobre o momento de comprar e o de vender um ativo na bolsa
Caça ao Tesouro amaldiçoado? Saiba se Tesouro IPCA+ com taxa de 8% vale a pena e o que mais mexe com seu bolso hoje
Entenda os riscos de investir no título público cuja remuneração está nas máximas históricas e saiba quando rendem R$ 10 mil aplicados nesses papéis e levados ao vencimento
Crônica de uma tragédia anunciada: a recuperação judicial da Ambipar, a briga dos bancos pelo seu dinheiro e o que mexe com o mercado hoje
Empresa de gestão ambiental finalmente entra com pedido de reestruturação. Na reportagem especial de hoje, a estratégia dos bancões para atrair os clientes de alta renda
Entre o populismo e o colapso fiscal: Brasília segue improvisando com o dinheiro que não tem
O governo avança na implementação de programas com apelo eleitoral, reforçando a percepção de que o foco da política econômica começa a se deslocar para o calendário de 2026
Felipe Miranda: Um portfólio para qualquer clima ideológico
Em tempos de guerra, os generais não apenas são os últimos a morrer, mas saem condecorados e com mais estrelas estampadas no peito. A boa notícia é que a correção de outubro nos permite comprar alguns deles a preços bastante convidativos.
A temporada de balanços já começa quente: confira o calendário completo e tudo que mexe com os mercados hoje
Liberamos o cronograma completo dos balanços do terceiro trimestre, que começam a ser divulgados nesta semana
CNH sem autoescola, CDBs do Banco Master e loteria +Milionária: confira as mais lidas do Seu Dinheiro na semana
Matérias sobre o fechamento de capital da Gol e a opinião do ex-BC Arminio Fraga sobre os investimentos isentos de IR também integram a lista das mais lidas
Como nasceu a ideia de R$ 60 milhões que mudou a história do Seu Dinheiro — e quais as próximas apostas
Em 2016, quando o Seu Dinheiro ainda nem existia, vi um gráfico em uma palestra que mudou minha carreira e a história do SD
A Eletrobras se livrou de uma… os benefícios da venda da Eletronuclear, os temores de crise de crédito nos EUA e mais
O colunista Ruy Hungria está otimista com Eletrobras; mercados internacionais operam no vermelho após fraudes reveladas por bancos regionais dos EUA. Veja o que mexe com seu bolso hoje
Venda da Eletronuclear é motivo de alegria — e mais dividendos — para os acionistas da Eletrobras (ELET6)
Em um único movimento a companhia liberou bilhões para investir em outros segmentos que têm se mostrado bem mais rentáveis e menos problemáticos, além de melhorar o potencial de pagamento de dividendos neste e nos próximos anos
Projeto aprovado na Câmara permite divórcio após a morte de um dos cônjuges, com mudança na divisão da herança
Processos iniciados antes do falecimento poderão ter prosseguimento a pedido dos herdeiros, deixando cônjuge sobrevivente de fora da herança
A solidez de um tiozão de Olympikus: a estratégia vencedora da Vulcabras (VULC3) e o que mexe com os mercados hoje
Conversamos com o CFO da Vulcabras, dona das marcas Olympikus e Mizuno, que se tornou uma queridinha entre analistas e gestores e paga dividendos mensais
Rodolfo Amstalden: O que o Nobel nos ensina sobre decisões de capex?
Bebendo do alicerce teórico de Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt se destacaram por estudar o papel das inovações tecnológicas nas economias modernas