O curioso caso do restaurante de 100 milhões de dólares. Será que aceita dogecoin?
É absolutamente racional aproveitar-se da irracionalidade dos mercados. O problema é que quanto mais o tempo passa, e mais a bolha infla, mais tênue é a linha que separa o esperto do otário

Olá, seja muito bem vindo ao nosso papo de domingo que às vezes é sobre tecnologia, às vezes sobre investimentos, mas raramente sobre algo interessante.
Grandes investidores costumam escrever cartas a seus cotistas e ao mercado. É a ocasião em que colocamos para trabalhar toda nossa falsa erudição e as teorias que não sabemos se funcionam, mas que são chiques.
Isso para a maioria de nós, meros mortais.
Mas alguns investidores não são meros mortais, o que fica nítido em seus históricos de retornos.
Entre eles, David Einhorn, cuja a última carta (disponível neste link) criou um novo meme no mercado "pós-Gamestop".
O restaurante de 100 milhões de dólares
Einhorn escreveu em sua carta aos cotistas sobre a Hometown International (HWIN), uma ação negociada em balcão nos EUA.
Leia Também
A Hometown é dona de um único restaurante em Nova Jersey, que faturou 21.772 dólares em 2019 e pouco mais de 13 mil dólares na pandemia.
O fato de um pequeno restaurante ser uma empresa de capital aberto é apenas estranho.
O que é absurdamente estranho é o fato do seu valor de mercado ser superior a 100 milhões de dólares.
Sim, mais de 100 milhões de dólares num restaurante cujo dono é também técnico de wrestling da escola do bairro.
Einhorn ressaltou o ridículo do caso, comentando sobre como muitos investidores pessoa-física estavam se aventurando em bolhas que não faziam o menor sentido.
Mas calma, essa história acabou ficando maravilhosa.
Atenção
Naturalmente, o comentário de um grande investidor trouxe os holofotes para o HWIN.
Investidores se debruçaram para entender o porquê desse pequeno restaurante valer 100 milhões de dólares.
Descobriu-se que um fundo chamado VCH, baseado em Macau, China, é dono de 10% do HWIN.
Que o Hometown fez um aumento de capital recente, levantando 2,5 milhões de dólares com a VCH e outro sócio.
Que esses sócios possuem um acordo de consultoria com a Hometown, sendo pagos entre 15 e 25 mil dólares ao mês (lembrando que o restaurante faturou 13 mil no ano passado).
E que os atuais investidores possuem opções (os warrants) na proporção de 20:1 para cada ação em circulação.
O valor de exercício dessas opções é cerca de 90% inferior ao valor de mercado da HWIN.
Na prática, numa matemática de padeiro, descobriu-se que o valor de mercado deste pequeno restaurante, diluído, é próximo de 1,9 bilhão de dólares.
Negócio da China
O mais interessante é o acionista desconhecido de Macau.
Esse é um "golpe" conhecido pelos investidores.
Empresas chinesas que querem acessar o mercado de capitais americano, mas não desejam se submeter ao escrutínio do regulador, costumam fazê-lo através de um "IPO reverso".
Na prática, a empresa chinesa se funde a uma empresa americana listada de baixa capitalização de mercado; uma espécie de empresa zumbi, com ativos irrelevantes ou em processo falimentar.
A fusão mata o antigo negócio e dá vida ao novo; o negócio da empresa chinesa.
Passou a especular-se que o valor de mercado da HWIN é o bilhete de ouro para o IPO reverso: US$ 100 milhões.
Tudo isso já é ridículo o bastante, mas não tornava verdadeiro o argumento de Einhorn: a ação da HWIN não possuía liquidez nenhuma (às vezes passava dias consecutivos sem negociação) e sequer era negociada em corretoras populares como a famosa Robinhood.
Mas foi então que os fóruns não deixaram barato sua fama. Depois da carta de Einhorn, o volume negociado em HWIN simplesmente explodiu.
Uma série de investidores, que estão pagando 100 milhões de dólares por um restaurante com 13 milhões de dólares em receitas, e depois serão diluídos em 90%, estão dando saída às opções de ações dos atuais acionistas.
Nada disso faz o menor sentido.
Outras coisas que não fazem sentido
É absolutamente racional aproveitar-se da irracionalidade dos mercados.
O problema é que quanto mais o tempo passa, e mais a bolha infla, mais tênue é a linha que separa o esperto do otário.
Veja o caso da Dogecoin.
Antes disso, um disclaimer importante: eu possuo investimentos em criptomoedas, e sigo as recomendações do meu amigo e companheiro de podcast, André Franco, que é sem dúvida o maior analista de criptoativos do Brasil.
Mas voltando a Dogecoin: a moeda é simplesmente um meme. Foi criada num final de semana, em duas horas, por um cara que simplesmente estava de brincadeira.
Não existe um projeto em torno dela, ela não resolve nenhum problema real, simplesmente existe um esperto comprando de outro esperto, esperando vender a outro esperto.
Todos torcendo para que sempre exista o próximo esperto. Do contrário, serão todos otários.
No último final de semana, o valor de mercado da Dogecoin (número de tokens multiplicado pelo preço unitário) era comparável ao da Ambev.
Sim, da Ambev.
Espero não precisar te convencer que uma empresa global, que emprega mais de 50 mil pessoas e resolve um dos problemas mais importantes do mundo — nos fazer esquecer dos problemas da semana — é mais valiosa que um meme.
Se você não concorda, peça um X-tudo no Hometown International, talvez lá eles aceitem Dogecoin como pagamento (🚀🚀🚀🚀🚀🚀🚀🚀).
Contato
Se você gostou dessa coluna, pode entrar em contato comigo através do e-mail telaazul@empiricus.com.br, com ideias, críticas e sugestões.
Também pode conhecer o fundo de investimentos que implementa as ideias que eu, o Rodolfo Amstalden e Maria Clara Sandrini nos dedicamos semanalmente a produzir.
E claro, siga acompanhando meu trabalho através do Podcast Tela Azul, em que, todas as segundas-feiras, eu e meus amigos André Franco e Vinicius Bazan falamos sobre tecnologia e investimentos.
Aproveite para se inscrever no nosso Telegram; todos os dias, postamos comentários sobre o impacto da tecnologia no mercado financeiro (e no seu bolso).
Um abraço!
Leia também:
- O que o mercado está tentando te dizer sobre as ações do Banco Inter (BIDI11)
- A equação do e-commerce: onde estamos investindo quando o assunto é varejo
- A vida imita a crônica: o dia em que a Suíça virou Brasil
- Caixa Seguridade (CXSE3): reservas para o IPO terminam no dia 26; veja os detalhes e se vale a pena investir
FII Guardian Real Estate (GARE11) negocia venda de 10 lojas por mais de R$ 460 milhões; veja quanto os cotistas ganham se a operação sair do papel
Todos os imóveis estão ocupados atualmente e são locados por grandes varejistas: o Grupo Mateus e o Grupo Pão de Açúcar
ETFs ganham força com a busca por diversificação em mercados desafiadores como a China
A avaliação foi feita por Brendan Ahern, CIO da Krane Funds Advisors, durante o Global Managers Conference 2025, promovido pelo BTG Pactual Asset Management
Pátria Escritórios (HGRE11) na carteira: BTG Pactual vê ainda mais dividendos no radar do FII
Não são apenas os dividendos do fundo imobiliários que vêm chamando a atenção do banco; entenda a tese positiva
Fim da era do “dinheiro livre”: em quais ações os grandes gestores estão colocando as fichas agora?
Com a virada da economia global e juros nas alturas, a diversificação de investimentos ganha destaque. Saiba onde os grandes investidores estão alocando recursos atualmente
Excepcionalismo da bolsa brasileira? Não é o que pensa André Esteves. Por que o Brasil entrou no radar dos gringos e o que esperar agora
Para o sócio do BTG Pactual, a chave do sucesso do mercado brasileiro está no crescente apetite dos investidores estrangeiros por mercados além dos EUA
Bolsa em alta: investidor renova apetite por risco, S&P 500 beira recorde e Ibovespa acompanha
Aposta em cortes de juros, avanço das ações de tecnologia e otimismo global impulsionaram Wall Street; no Brasil, Vale, Brasília e IPCA-15 ajudaram a B3
Ibovespa calibrado: BlackRock lançará dois ETFs para investir em ações brasileiras de um jeito novo
Fundos EWBZ11 e CAPE11 serão listados no dia 30 de junho e fazem parte da estratégia da gestora global para conquistar mais espaço nas carteiras domésticas
Todo mundo quer comprar Bradesco: Safra eleva recomendação para ações BBDC4 e elege novos favoritos entre os bancões
Segundo o Safra, a mudança de preferência no setor bancário reflete a busca por “jogadores” com potencial para surpreender de forma positiva
Apetite do TRXF11 não tem fim: FII compra imóvel ocupado pelo Assaí após adicionar 13 novos ativos na carteira
Segundo a gestora, o ativo está alinhado à estratégia do fundo de investir em imóveis bem localizados e que beneficia os cotistas
Até os gringos estão com medo de investir no Banco do Brasil (BBAS3) agora. Quais as novas apostas dos EUA entre os bancos brasileiros?
Com o Banco do Brasil em baixa entre os investidores estrangeiros, saiba em quais ações de bancos brasileiros os investidores dos EUA estão apostando agora
FIIs de papel são os preferidos do Santander para estratégia de renda passiva; confira a carteira completa de recomendação
Fundos listados pelo banco tem estimativas de rendimento com dividendos de até 14,7% em 12 meses
Mesmo com petroleiras ‘feridas’, Ibovespa sobe ao lado das bolsas globais; dólar avança a R$ 5,5189
Cessar-fogo entre Israel e Irã fez com que os preços da commodity recuassem 6% nesta terça-feira (24), arrastando as empresas do setor para o vermelho
Não é hora de comprar Minerva (BEEF3): BTG corta preço-alvo das ações, mas revela uma oportunidade ainda mais suculenta
Os analistas mantiveram recomendação neutra para as ações BEEF3, mas apontaram uma oportunidade intrigante que pode mexer com o jogo da Minerva
CVC (CVCB3) decola na B3: dólar ajuda, mas otimismo do mercado leva ação ao topo do Ibovespa
A recuperação do apetite ao risco, o fim das altas da Selic e os sinais de trégua no Oriente Médio renovam o fôlego das ações ligadas ao consumo
É hora do Brasil: investidores estrangeiros estão interessados em ações brasileiras — e estes 4 nomes entraram no radar
Vale ficou para trás nos debates, mas uma outra empresa que tem brilhado na bolsa brasileira mereceu uma menção honrosa
Ações da São Martinho (SMTO3) ficam entre as maiores quedas do Ibovespa após resultado fraco e guidance. É hora de pular fora?
Do lado do balanço, o lucro líquido da companhia encolheu 83,3% no quarto trimestre da safra 2024/2025 (4T25); veja o que dizem os analistas
Porto Seguro (PSSA3) e Grupo Mateus (GMAT3) vão distribuir mais de R$ 450 milhões em JCP; confira os detalhes
A seguradora ainda não tem data para o pagamento, já o Grupo Mateus deposita os proventos ainda neste ano, mas vai demorar
Retaliação: Irã lança mísseis contra bases dos EUA, e petróleo desaba no exterior; Petrobras (PETR4) cai na B3
Após a entrada dos EUA no conflito, o Irã lançou mísseis contra a base aérea norte-americana no Catar, segundo agências de notícias
Comprado em Brasil: UBS eleva recomendação para ações e vê país como segundo mercado mais atraente entre os emergentes; veja o porquê
Banco suíço considera as ações do Brasil “baratas” e vê gatilhos para recuperação dos múltiplos de avaliação à frente
Por que o mercado não se apavorou com o envolvimento dos EUA no conflito entre Irã e Israel? Veja como está a repercussão
Mesmo com envolvimento norte-americano no conflito e ameaça de fechamento do estreito de Ormuz, os mercados estão calmos. O que explica?