A ofensiva da China contra as criptomoedas chegou a ser motivo de preocupação do mercado como um todo. Quase seis meses depois do início das proibições do gigante asiático contra o bitcoin (BTC), um novo polo de mineração começa a se consolidar no mundo.
Com as restrições, boa parte da atividade acabou migrando para o outro lado do mundo. Um índice de consumo de energia apurado pela Universidade de Cambridge mostra que os Estados Unidos passaram a representar 35,4% da taxa de mineração de todo o mundo. No início do ano, o percentual era de 7,2%.
Enquanto uns chutam…
Em maio deste ano, a China proibiu a mineração de bitcoin (BTC), alegando que a atividade impediria o país de atingir as metas de redução nas emissões de carbono.
A mineração é uma atividade que utiliza bastante energia elétrica, apesar de consumir menos do que o sistema bancário atual. O problema mora na produção da eletricidade: a matriz energética chinesa vem majoritariamente de combustíveis fósseis, como o carvão.
Dessa forma, minerar criptomoedas na China é uma atividade que impacta a meta de emissões do país. Em outros países, com uma matriz energética baseada em hidrelétricas, como o Paraguai, a mineração não produz tanto CO2.
Alguns analistas do mercado chegam a cogitar que essas proibições vieram para que o yuan digital, atualmente o projeto de CDBC mais bem desenvolvido do mundo, se tornasse a principal criptomoeda do mundo no lugar do bitcoin. Entretanto, a moeda chinesa segue sendo utilizada apenas no cenário doméstico.
Além disso, a retomada da economia tem pressionado a geração de energia da China. Algumas cidades chegaram a registrar apagões enquanto a mineração era permitida no país. Mesmo outros centros de mineração como Irã tiveram os mesmos problemas de falta de energia.
… Outros buscam a bola
Ao mesmo tempo, os mineradores que saíam da China precisavam de um local para religarem as máquinas. A primeira grande onda de saída passou para regiões próximas, como Uzbequistão e Mongólia.
Mas países mais distantes passaram a sinalizar um forte interesse no setor de mineração de criptomoedas. Para o negócio ser rentável, basta satisfazer duas condições: energia barata e clima frio.
A primeira delas é a mais fácil de entender. Gastar menos para criar bitcoins torna a atividade mais rentável. O clima frio serve para manter as máquinas (chamadas de RIGs) a uma temperatura constante, sem a necessidade de um ar condicionado.
Os Estados Unidos acabaram virando o novo centro da mineração mundial. Em nível estadual, governadores passaram a oferecer benefícios fiscais, como desconto na compra de máquinas, luz, entre outros, para atrair essa nova atividade.
Juntamente com elas, startups dos setores de criptomoedas, criptografia e blockchain começaram a aparecer e mudar suas sedes para essas regiões. Atualmente, os estados americanos do Texas, Miami e Kentucky atuam como centros em expansão deste tipo de atividade.
No âmbito federal, os debates envolvendo a regulamentação de criptomoedas voltam os olhos do mundo para os Estados Unidos. Como maior mercado de ações e maior economia do mundo, os EUA acabam sendo o país que direciona o mercado.
Uma nova China?
A mudança do eixo de mineração da China para os Estados Unidos é vista com bons olhos pelos especialistas do mercado. Eles destacam que uma proibição do dia para a noite, como aconteceu em maio com a China, é menos provável em um país como os EUA.
A transparência das instituições e maiores debates envolvendo a sociedade, tanto sobre criptomoedas quanto energias alternativas, dão mais segurança aos investidores. Entretanto, permanece o medo de que os EUA se tornem uma “nova China”, um país que fornece alta taxa de mineração para a rede do bitcoin e, por isso, acabe se tornando muito influente nesse mercado.
No ápice, a China chegou a corresponder por 75% de toda taxa de mineração global e, de acordo com dados da Cambridge, o país não fornece porcentagem significativa de hashrate para a rede. Em contrapartida, os Estados Unidos saíram de 4,1% para os 35,4%.