O Brasil em que eu acredito, da Nova Economia
As ações das empresas norte-americanas de tecnologia já não estão muito esticadas?
"I was the Walrus
But now I'm John
And so dear friends
You just have to carry on
The dream is over”
God — John Lennon
“As ações das empresas norte-americanas de tecnologia já não estão muito esticadas?”
Tenho escutado essa pergunta com frequência desde que introduzimos papéis do segmento na Carteira Empiricus. A resposta, como não poderia deixar de ser, tem sido a mesma: “Sim, estão. Há uns cinco anos pelo menos. E só sobem”.
O que será que está por trás do fenômeno? Poderíamos explicar essa aparente dicotomia com algum argumento racional, além de simples acusações de que o mercado vive uma euforia, de que há exagero no apreçamento ou coisa assim? Em outras palavras, por que as big techs parecem sempre caras e ficam cada vez mais caras?
Leia Também
De Volta para o Futuro 2026: previsões, apostas e prováveis surpresas na economia, na bolsa e no dólar
Tony Volpon: Uma economia global de opostos
De imediato, há, sem dúvida, todo um aspecto quality que as poderia ligar à argumentação de Philip Fisher e Charlie Munger. São fortes geradoras de caixa, além de já possuírem uma posição de caixa enorme (uma coisa é o fluxo, outra é o estoque) e um balanço forte, tem marcas reconhecidas, notáveis barreiras à entrada, managements competentes, etc.
Mas é só isso? Não existiria algum elemento fora do arcabouço de valuation tradicional associado a essas grandes empresas de tecnologia?
Entendo que sim. E acho que, nesse aspecto, Leibniz e Newton, os precursores do cálculo diferencial e integral, têm algo a nos oferecer além de Buffett e Graham. Não vamos transformar isso aqui num exercício de integrais, derivadas e limites. Apenas recuperemos a essência do que é uma curva exponencial.
Nela, o começo do eixo x implica um impacto pequeno de crescimento sobre o eixo y. Contudo, a partir de um determinado ponto, pequenos incrementos sobre as abcissas acarretam uma explosão nas coordenadas. No limite, quando a variável do eixo x aumenta muito, vamos para o infinito no eixo y.
Trazendo para nossa realidade, as grandes empresas de tecnologia são a representação canônica das organizações exponenciais. É somente a tecnologia que permite uma escala brutal, com custo marginal de expansão quase zero. Aqui, há uma forte tendência ao monopólio natural, a margens enormes e a uma dinâmica de “vencedor leva tudo”. Não à toa, você vê um grande mecanismo de busca, um único player dominando as redes sociais e outro caminhando para vencer o War do e-commerce global — a capa da Economist desta semana é especialmente emblemática.
Você começa a usar o Google, que, por sua vez, mapeia os seus hábitos e facilita sua próxima busca. Ao perceber a sua atividade facilitada, você entra de novo no Google, que melhora ainda mais o conhecimento a seu respeito. O mecanismo vai se retroalimentando. As buscas e os anúncios vão, no tempo, convergindo para um match perfeito com suas preferências. Não há razão para usar outro mecanismo de busca.
As redes sociais, por sua vez, sofrem e se beneficiam, claro, das externalidades de rede. Só faz sentido haver uma rede social grande se todo mundo estiver lá. A tendência à concentração é da natureza do negócio. A natureza da coisa empurra ao monopólio, pois ninguém vai querer estar numa rede social de que poucos participam. E lá vai o Face dominar tudo, seja por ele mesmo, seja pelo Instagram.
Quais as consequências de um crescimento grande no tempo, com consolidação de mercado e baixo custo marginal de expansão?
Ora, se, para simplificar aqui o argumento, é basicamente impossível competir com a Amazon (porque ela é mais capitalizada, possui mais informação do cliente, domina a melhor logística, tem uma cadeia mais integrada, além, claro, de um gênio obstinado no comando do leme), ela tende a dominar o mercado. Conforme o tempo passa, ela tem mais mercado, mais informação do cliente, mais escala, mais tecnologia. Há uma aceleração da própria taxa de crescimento. Bingo! Chegamos na curva exponencial.
Qual a consequência de uma curva exponencial de lucros sobre os valuations?
Quanto mais o mercado percebe essa natureza exponencial da trajetória, maior precisará ser o múltiplo atual.
De maneira simples, imagine que a assíntota (um número suficientemente grande) ocorra no ano 100, quando o eixo x (no caso, o tempo) está bem em seu ponto direito extremo. Pela construção de uma curva exponencial, o eixo y (no caso, o lucro) estará no infinito (o lucro converge para infinito conforme o tempo converge para o infinito). Se o mercado for minimamente eficiente e antecipar no ano 99 o lucro do ano 100, a relação Preço sobre Lucro do ano de 99 deverá ser muito alta. Isso vai acontecer porque o lucro projetado para o ano 100 será infinito. Logo, a relação Preço sobre Lucro projetada para o ano 100 vai convergir para zero (qualquer número dividido pelo infinito converge para zero). Assim você consegue explicar múltiplos de curto prazo bem altos para empresas de tecnologia e ainda assim comprá-las.
Em termos práticos, há duas soluções razoáveis para valuation.
Você estica o horizonte temporal dos múltiplos para ao menos cinco anos à frente, sem abusar demais das premissas de crescimento e tenta enxergar aí atratividade dos múltiplos.
Você abandona a abordagem de múltiplos e vai para um modelo de fluxo de caixa descontado, em que basicamente supõe três cenários à frente, calibrando o grau de otimismo entre eles, supondo que a companhia vai abocanhar lá na frente um determinado nível de share de mercado.
Quando você sai de uma abordagem linear e vai para uma perspectiva exponencial, os múltiplos de curto prazo acabam funcionando como um mapa errado. Múltiplos baixos, muito possivelmente, significam uma companhia cujas projeções estão caindo no tempo, em vez de significarem atratividade no valuation. Ao mesmo tempo, relações elevadas podem significar uma trajetória de aceleração do crescimento à frente, com aquilo que parece caro sendo na verdade barato em alguns anos.
A questão central é que o mundo atual não é da linearidade, das caminhadas bem-comportadas, de mercados livres e com vários players dividindo market share. Ao contrário, é justamente um ambiente de muita tecnologia, exponencialidade e “winner takes all” (o vencedor leva tudo).
Cada vez mais vai ser assim. Precisamos nos adaptar. A Nova Economia vai ganhar cada vez mais espaço nas carteiras dos investidores. Aquele Brasil velho de commodities, de bancos oligopolistas, das praças de alimentação lotadas nos self-services dos shoppings acabou. Feliz ou infelizmente, ninguém vai vir aqui comprar CSN, Usiminas e coisas parecidas. Esse sonho acabou e devemos seguir em frente. “You just have to carry on. The dream is over.”
A parte boa dessa história é que temos aqui empresas simplesmente fantásticas já inseridas nessa Nova Economia, com empreendedores competentes e tecnologia embarcada. A turma vai vir comprar Stone, Magalu, B3, BTG, B2W/LAME, XP e coisas parecidas. Nossas carteiras, cada vez mais, precisam caminhar nessa direção. O tempo da História só anda num único sentido.
Encerro com dois devaneios a respeito.
O primeiro sobre XP: o desafio aqui é tornar-se cada vez mais tecnológica, exponencial e digital sem concorrer com seus próprios parceiros analógicos. A nova ferramenta de alocação, feita pelo mais do que competente Felipe Dexheimer, tem tudo para dar certo; e para competir de frente com as sugestões dos agentes autônomos.
O segundo sobre Itaú: aqui também acho que a turma pode comprar. Porque é quase um win/win situation. Se banco grande não for muito afetado por fintech e conseguir imprimir um novo ciclo de crédito, vamos ganhar dinheiro pela atividade bancária tradicional. Se for o contrário e as fintechs dominarem, XP vai ficar cada vez mais relevante no balanço e isso vai ser levado para o preço, num movimento que, inclusive, já começou na semana passada. E o devaneio dos devaneios: Itaú vira minoritário da Stone, coloca a Rede pra dentro para ser tocada pela brilhante gestão da Stone (o André Street é um gênio!) e faz um movimento semelhante àquele da Porto Seguro. Melhor ter algo do líder do que muito do que não vale nada.
As vantagens da holding familiar para organizar a herança, a inflação nos EUA e o que mais afeta os mercados hoje
Pagar menos impostos e dividir os bens ainda em vida são algumas vantagens de organizar o patrimônio em uma holding. E não é só para os ricaços: veja os custos, as diferenças e se faz sentido para você
Rodolfo Amstalden: De Flávio Day a Flávio Daily…
Mesmo com a rejeição elevada, muito maior que a dos pares eventuais, a candidatura de Flávio Bolsonaro tem chance concreta de seguir em frente; nem todas as candidaturas são feitas para ganhar as eleições
Veja quanto o seu banco paga de imposto, que indicadores vão mexer com a bolsa e o que mais você precisa saber hoje
Assim como as pessoas físicas, os grandes bancos também têm mecanismos para diminuir a mordida do Leão. Confira na matéria
As lições do Chile para o Brasil, ata do Copom, dados dos EUA e o que mais movimenta a bolsa hoje
Chile, assim como a Argentina, vive mudanças políticas que podem servir de sinal para o que está por vir no Brasil. Mercado aguarda ata do Banco Central e dados de emprego nos EUA
Chile vira a página — o Brasil vai ler ou rasgar o livro?
Não por acaso, ganha força a leitura de que o Chile de 2025 antecipa, em diversos aspectos, o Brasil de 2026
Felipe Miranda: Uma visão de Brasil, por Daniel Goldberg
O fundador da Lumina Capital participou de um dos episódios de ‘Hello, Brasil!’ e faz um diagnóstico da realidade brasileira
Dividendos em 2026, empresas encrencadas e agenda da semana: veja tudo que mexe com seu bolso hoje
O Seu Dinheiro traz um levantamento do enorme volume de dividendos pagos pelas empresas neste ano e diz o que esperar para os proventos em 2026
Como enterrar um projeto: você já fez a lista do que vai abandonar em 2025?
Talvez você ou sua empresa já tenham sua lista de metas para 2026. Mas você já fez a lista do que vai abandonar em 2025?
Flávio Day: veja dicas para proteger seu patrimônio com contratos de opções e escolhas de boas ações
Veja como proteger seu patrimônio com contratos de opções e com escolhas de boas empresas
Flávio Day nos lembra a importância de ter proteção e investir em boas empresas
O evento mostra que ainda não chegou a hora de colocar qualquer ação na carteira. Por enquanto, vamos apenas com aquelas empresas boas, segundo a definição de André Esteves: que vão bem em qualquer cenário
A busca pelo rendimento alto sem risco, os juros no Brasil, e o que mais move os mercados hoje
A janela para buscar retornos de 1% ao mês na renda fixa está acabando; mercado vai reagir à manutenção da Selic e à falta de indicações do Copom sobre cortes futuros de juros
Rodolfo Amstalden: E olha que ele nem estava lá, imagina se estivesse…
Entre choques externos e incertezas eleitorais, o pregão de 5 de dezembro revelou que os preços já carregavam mais política do que os investidores admitiam — e que a Bolsa pode reagir tanto a fatores invisíveis quanto a surpresas ainda por vir
A mensagem do Copom para a Selic, juros nos EUA, eleições no Brasil e o que mexe com seu bolso hoje
Investidores e analistas vão avaliar cada vírgula do comunicado do Banco Central para buscar pistas sobre o caminho da taxa básica de juros no ano que vem
Os testes da família Bolsonaro, o sonho de consumo do Magalu (MGLU3), e o que move a bolsa hoje
Veja por que a pré-candidatura de Flávio Bolsonaro à presidência derrubou os mercados; Magazine Luiza inaugura megaloja para turbinar suas receitas
O suposto balão de ensaio do clã Bolsonaro que furou o mercado: como fica o cenário eleitoral agora?
Ainda que o processo eleitoral esteja longe de qualquer definição, a reação ao anúncio da candidatura de Flávio Bolsonaro deixou claro que o caminho até 2026 tende a ser marcado por tensão e volatilidade
Felipe Miranda: Os últimos passos de um homem — ou, compre na fraqueza
A reação do mercado à possível candidatura de Flávio Bolsonaro reacende memórias do Joesley Day, mas há oportunidade
Bolha nas ações de IA, app da B3, e definições de juros: veja o que você precisa saber para investir hoje
Veja o que especialista de gestora com mais de US$ 1,5 trilhão em ativos diz sobre a alta das ações de tecnologia e qual é o impacto para o mercado brasileiro. Acompanhe também a agenda da semana
É o fim da pirâmide corporativa? Como a IA muda a base do trabalho, ameaça os cargos de entrada e reescreve a carreira
As ofertas de emprego para posições de entrada tiveram fortes quedas desde 2024 em razão da adoção da IA. Como os novos trabalhadores vão aprender?
As dicas para quem quer receber dividendos de Natal, e por que Gerdau (GGBR4) e Direcional (DIRR3) são boas apostas
O que o investidor deve olhar antes de investir em uma empresa de olho dos proventos, segundo o colunista do Seu Dinheiro
Tsunami de dividendos extraordinários: como a taxação abre uma janela rara para os amantes de proventos
Ainda que a antecipação seja muito vantajosa em algumas circunstâncias, é preciso analisar caso a caso e não se animar com qualquer anúncio de dividendo extraordinário