Mutação da Covid-19 deve mesmo preocupar o investidor?
Fim de ano veio com oba-oba, na busca de uma justificativa para realização, mas vale lembrar que até agora a OMS indicou que a mutação não muda a produção das vacinas

Desde novembro, os mercados globais começaram a estruturar uma visão mais construtiva para o mundo em 2021. Acredito que consiga pontuar dois grandes destravadores de valor para os ativos de risco no âmbito global: as eleições americanas e as vacinas.
Sobre o primeiro item, tivemos a vitória de Joe Biden na corrida pela Casa Branca. A noção de um nome mais institucionalizado e multilateralista, ao invés de um perfil mais intempestivo, ajudou a formar a ideia de que o comércio global pode entrar em um novo ciclo de otimismo.
Adicionalmente, com uma Câmara democrata e um Senado republicano - a ser decidido no dia 5 de janeiro -, o mercado assumiu a possibilidade de mais comércio e mais gastos, com a fiscalização de um Senado republicano e uma Suprema Corte conservadora, que impedirão movimentos das alas mais radicais do partido rival. A composição, portanto, foi positiva.
Já sobre o segundo ponto, em novembro de 2020, o mundo recebeu a notícia empolgante de que as primeiras vacinas contra a Covid-19 estavam prontas para lançamento. Consequentemente, pedidos de utilização para uso emergencial e definitivo foram emitidos, de modo que já em dezembro temos países iniciando a vacinação de suas respectivas populações, com um número maior ainda de nações que darão início a programas de imunização a partir de janeiro.
A possibilidade de retorno à normalidade favoreceu ativos de risco, que passaram a precificar uma recuperação mais destacada da economia global já em 2021, com inclusive recuperação de patamares pré-Covid em diferentes setores.
Abaixo, uma análise da Visual Capitalist sobre como cada país tem se planejado, já no início de dezembro, para a vacinação de seus habitantes. Até agora, quase 7,25 bilhões de doses foram pré-adquiridas por países e organizações em todo o mundo.
Leia Também
Mercado em 5 Minutos: Os investidores se preparam para a Super Quarta
Mercado em 5 Minutos: Um respiro para a atividade global
A imagem abaixo destaca o número de doses de vacinas que diferentes países compraram, bem como as empresas e organizações que as pré-venderam (segundo gráfico). Os dados foram coletados por meio do velocímetro de lançamento e escala no Duke Global Health Innovation Center, com o apoio da Fundação Bill & Melinda Gates.

Embora os países de alta renda estejam comprando atualmente as maiores porções de doses, a Índia encomendou 1,5 bilhão - mais do que qualquer outro país individual. Os EUA, em comparação, compraram previamente 1,01 bilhão de doses, o suficiente para imunizar mais de duas vezes sua população inteira.
Considerando a União Europeia e a iniciativa Covax (iniciativa global para fornecer acesso equitativo às vacinas), o Brasil é a nona nação/região do mundo mais preparada nesse sentido, ao menos por enquanto, com 196 milhões de doses adquiridas (ou 2,70% do total global). Se trata do suficiente para imunizar pouco menos da metade da população brasileira.
Um ponto de neblina para os mercados
Se antes, ao olharmos para fora, nos parecia que estávamos vendo uma estrada mais limpa à frente, agora caímos num ponto de neblina. Tal nebulosidade deriva da mutação do vírus da Covid-19, que foi formalmente notificado pelo Reino Unido durante o fim de semana.
No último sábado, dia 19 de dezembro, o primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, afirmou que a nova variante do vírus pode ser até 70% mais transmissível, segundo análise preliminar de cientistas. Foi o suficiente para fazer o Reino Unido decretar um lockdown mais severo, principalmente em Londres, e que países ao redor do mundo, notadamente da União Europeia, fechassem suas fronteiras ou restringissem viagens para a Grã-Bretanha.
Pronto… O mercado realizou parte dos ganhos que teve no rali de fim de ano.
Depois de baterem recordes na semana passada e caminharem com uma robusta alta desde novembro, as Bolsas se viram em um ponto cego.
Otimismo até agora pode ter sido em vão?
Bem, minhas caras leitoras e meus caros leitores, muita calma nessa hora.
Apesar de mais rápido, o vírus não parece ter mudado de fato, de modo que as vacinas seguem fazendo efeito. A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) veio a público e afirmou que ainda não há indicação de mudança na forma de contágio da variante da Covid e que os vírus mudam o tempo todo e que isso é normal: não há sinais de que nova cepa cause doença mais severa.
É verdade, tanto que o susto provocado pela nova cepa do coronavírus foi amortecido à tarde pela declaração do diretor da OMS de que as vacinas já são produzidas visando uma ampla variedade de variantes.
Naturalmente, os vírus mudam. A própria Covid mudou diversas vezes desde seu primeiro caso há mais de um ano. Não à toa, anualmente temos vacina para o vírus da gripe comum - vírus mudam, ponto.
No final, talvez mais do que discutir o vírus em si é discutir o cenário no qual estamos vivendo. 2020 representa uma revolução científica. Nunca houve um esforço conjunto tão grande no sentido de uma vacina, de modo que a alcançamos em menos de 12 meses, feito único na história da humanidade - ainda que já existissem pesquisas iniciais de outros vírus das SARS do passado.
Além disso, as vacinas resultantes das pesquisas têm apresentado uma performance acima da média, com as mais cotadas com uma eficácia da ordem de 80% a 90%. Simplesmente impressionante. Para vocês terem uma ideia, a vacina da gripe administrada anualmente, tem eficácia média de 50%.
O fim de ano veio com oba-oba, na busca de uma justificativa para realização, ao que tudo indica. Faz sentido, afinal teremos feriado de Natal esta semana e de Ano Novo na semana que vem. Diante de uma conjuntura tão adversa, os agentes preferem vender a ficar comprados nos papéis durante as Bolsas fechadas com os feriados de final de ano.
Esse susto de agora, ainda que entendo que não represente grande problema estrutural para as teses que se estabeleciam para 2021 e em diante, serviu para lembrar todo mundo que o jogo não acabou e que manter proteções, clássicas e táticas, ainda é muito importante.
Tudo isso, claro, feito sob o devido dimensionamento das posições, conforme seu perfil de risco, e a devida diversificação de carteira, com as respectivas proteções associadas.
Riscos ainda existem
Um dos maiores erros dos investidores, principalmente das pessoas físicas em Bolsa, é esquecer que vivemos em um mundo opaco e impermeável depois de um período de bonança, por mais breve que ele seja.
Não podemos esquecer que os riscos ainda existem e que comprar sempre mais, sem o devido redimensionamento de posições de acordo com seu perfil de risco e estratégias previamente estabelecidas, é um erro.
Devemos olhar sempre para a alocação estratégica ideal e persegui-la. Não adianta ficar aumentando exposição porque o mercado parece estar infinitamente bom, principalmente depois de um ano como 2020.
Hoje, depois da correção, entendo que alguns agentes entendem que haja uma chance para aumentar exposição em bolsa; isto é, para quem está abaixo da alocação ideal, valeria um movimento ponderado.
Claro que mais fácil do que simplesmente achar quando é a hora certa para subir, é saber probabilisticamente quando o contexto é o melhor para tal. Timing não existe, mas o mundo presente às estatísticas e à humildade epistemológica. Acompanhar quem leva isso como lema de vida já se trata de um primeiro passo para ter um 2021 mais confortável.
Saber quais as melhores oportunidades para se expor, sem esquecer que riscos, como a nova cepa do Covid, existem e que precisamos estar comprados nas melhores proteções que existem. Esta sim é a essência de um bom investimento pensado para o longo prazo.
Como buscar oportunidades com responsabilidade
Felipe Miranda, Estrategista-Chefe da Empiricus, já avisava seus leitores que correções como a de ontem podiam acontecer há bastante tempo. Estabeleceu proteções e estava preparado. Sua estratégia tem conquistado ganhos há muitos anos e surfou a alta de novembro para cá, sem perder a compostura na correção de ontem.
Em seu best-seller, a série Palavra do Estrategista, Miranda apresenta para seus leitores suas melhores ideias de investimento para os mais diferentes tipos de investidores e carteiras.
Trata-se de uma assinatura barata (R$ 5 ao mês) e completa, destinada a todos que querem saber como surfar 2021 e se proteger dos riscos de cauda que ainda estão no radar. Tenha uma véspera de Natal tranquila, sem precisar ter dor de barriga antes mesmo da ceia, com a certeza de que seu dinheiro está no lugar certo.
Mercado em 5 Minutos: O que a queda de um símbolo nos mostra sobre o momento atual?
A morte da Rainha Elizabeth II marca não só o fim do 2º período elisabetano para os britânicos, mas também a queda de um dos mais icônicos símbolos de estabilidade das últimas décadas
Mercado em 5 Minutos: Uma nova frente de estímulos ao redor do mundo vem ganhando força
É possível sentir uma cautela no ar antes da reunião do Banco Central Europeu (BCE), nesta semana, enquanto acompanhamos as consequências do corte de gás da Rússia
O pior ainda está por vir: Europa corre o risco de apagões e recessão se Putin seguir cortando o gás
Existem duas frentes de preocupação da crise energética que o mercado deve permanecer de olho: o gás natural e o pétroleo
Mercado em 5 Minutos: Quem está ansioso para o dia da independência?
Começamos com o Dia do Trabalhos nos EUA, nesta segunda-feira (5), que fecha o mercado americano. Os mercados asiáticos iniciaram a semana em queda, acompanhados pelas bolsas europeias.
Aperte os cintos: o Fed praticamente acabou com as teses de crescimento, e o fim do bear market rally está aí
Saída da atual crise inflacionária passa por algum sacrifício. Afinal, estamos diante de um ciclo econômico clássico e será preciso esfriar o mercado de trabalho
O conclave dos banqueiros centrais vai começar: saiba o que esperar do simpósio de Jackson Hole
Foi em Jackson Hole que Jerome Powell previu erroneamente que a inflação nos Estados Unidos seria um fenômeno transitório
Campanha eleitoral finalmente começa e volatilidade se avizinha, mas há meios de mitigar os riscos no mercado; aqui você aprende como
Muita volatilidade é esperada, mas o mercado já conhece Lula e também sabe quem é Bolsonaro; as eleições não representam uma ameaça concreta à bolsa e é possível capturar o potencial de valorização desse período
Um mundo tomado pela inflação: entenda a que é preciso prestar atenção para saber se os preços vão finalmente parar de subir
O processo de normalização dos preços será fundamental para que consigamos ter maior previsibilidade quanto ao futuro dos ativos de risco
O ciclo de alta da Selic está perto do fim – e existe um título com o qual é difícil perder dinheiro mesmo se o juro começar a cair
Quando o juro cair, o investidor ganha porque a curva arrefeceu; se não, a inflação vai ser alta o bastante para mais do que compensar novas altas
O Fed entre os juros e a inflação: por que estamos na semana mais importante de julho?
O Federal Reserve (Fed) se vê entre a cruz e a espada: subir juros de um jeito agressivo e afetar a economia, ou deixar a inflação alta?
Pouso suave ou aterrissagem forçada? Saiba o que esperar do petróleo diante da desaceleração da economia global
Apesar de a história mostrar que o petróleo caiu em 5 das últimas 6 recessões, há espaço para que o declínio dos preços das ações de petróleo seja menor que o da commodity desta vez
Ruídos da recessão: como a alta dos preços da energia na Europa acabou com a vantagem competitiva da zona do euro
Efeitos nocivos da recessão na Europa também devem afetar o Brasil, que fornece matérias-primas e compra maquinários industriais dos europeus
Pior que a alta dos combustíveis! Entenda como o aumento dos preços dos alimentos ameaça a recuperação da economia global
Questões geopolíticas devem continuar pressionando as cadeias de fornecimento de alimentos existentes, sem uma solução fácil no curto prazo
O dólar pode ser imprevisível, mas é essencial para proteger sua carteira. Entenda os riscos e conheça as melhores estratégias
Os movimentos do dólar no mercado de câmbio são incertos, mas há estratégias eficazes para investir na moeda norte-americana e diversificar seu portfólio
Economia global em desaceleração: como investir quando o risco de recessão aumenta a cada minuto que passa
Mercado financeiro está diante de águas bastante turbulentas, o que reforça a importância de diversificar e proteger seus investimentos
Precisamos sobreviver a mais uma Super Quarta: entenda por que a recessão é quase uma certeza
Não espere moleza na Super Quarta pré-feriado; o mundo deve continuar a viver a tensão de uma realidade de mais inflação e juros mais altos
Um metal precioso ganha momento com o fim dos estímulos – entenda por que você precisa dele na sua carteira
Ouro se manterá como componente indispensável do portfólio no futuro, permitindo que investidores não percam o sono mesmo em situações estressantes nos mercados
Recessão em tons de Zima Blue – como investir em um momento no qual o mercado precisa buscar suas raízes para sair da crise
Processos como o atual fazem parte de movimentos naturais do mercado; a agressividade da correção se relaciona com o tempo em que nos distanciamos de nossa essência
O futuro bate à nossa porta: entenda a importância da regulamentação do mercado de carbono no Brasil
O avanço do mercado de carbono no Brasil ainda é pequeno em comparação ao que ocorre na Europa, mas é um passo fundamental para sua consolidação
Nos embalos de um mundo ainda globalizado: como a rotação setorial deve beneficiar a Vale (VALE3)
A Vale tem atravessado uma verdadeira montanha-russa – ou seria uma montanha-chinesa? -, mas sua ação mantém-se com um caso de sucesso entre as teses de valor