🔴 [EVENTO GRATUITO] COMPRAR OU VENDER VALE3? INSCREVA-SE AQUI

Qual o plano? O ano acabou?

Em resumo, o ano já acabou? Entendo sinceramente que não. Há muito a se fazer. Temos um plano bastante claro na cabeça e hoje vou tentar apresentá-lo aqui.

16 de março de 2020
10:29
Ampulheta e calendário
Imagem: Brian A Jackson/Shutterstock

Dado o comportamento dos mercados nas últimas semanas, em especial depois daquela fatídica Quarta-feira de Cinzas, investidores têm perguntado se o ano estaria perdido, se 2020 passará para a história como um período de rendimentos negativos, inexoravelmente.

Em resumo, o ano já acabou? Entendo sinceramente que não. Há muito a se fazer. Temos um plano bastante claro na cabeça e hoje vou tentar apresentá-lo aqui.

Começa mais ou menos assim…

Desde o início da semana passada, temos adaptado nossas carteiras recomendadas para um posicionamento conservador. De imediato, sugerimos uma exposição de 30% dos portfólios a dólar e ouro e introduzimos as ações da Suzano (correlação positiva com o dólar) com peso relevante entre nossas indicações. Na sequência, propusemos uma operação vendida (short) com BOVA11 — ou com qualquer outra referência sistêmica para a Bolsa brasileira.

Deixe-me qualificar um pouco melhor essa posição short.

“Quer dizer, então, que a Empiricus está apostando na queda da Bolsa brasileira, dado que sugeriu a venda de BOVA11?”

Não é o caso, definitivamente. O que fizemos foi uma redução da exposição líquida às ações brasileiras, para algo em torno de 10%, hedgeada com a posição em dólar e ouro.

Por que fizemos isso? De forma simples e direta, porque era a coisa sensata a se fazer. Foi um movimento de gestão de risco. Como a matriz de risco e retorno piorou, as alocações precisaram ser modificadas para contemplar esse novo cenário.

Para facilitar a exposição, vou recuperar argumento do Day One da última quarta-feira (11).

O analista/gestor/investidor/estrategista — deem-lhe o nome que quiserem — não prevê o futuro. Ele não é um infectologista — na verdade, isso ajudaria pouco, porque também os infectologistas não preveem o futuro. Ninguém sabe o que vai acontecer ao certo. O melhor dos analistas consegue enxergar, com precisão, uma distribuição de probabilidades dos eventos futuros possíveis, conforme sintetizado na curva abaixo:

Ou seja, ao lado esquerdo, configura-se o pior cenário possível à frente. O cenário de lockdown leva a uma retração brutal da atividade econômica, que, por sua vez, contamina as condições de liquidez e solvência de algumas empresas e setores. Há um custo social e psicológico muito grande, com as pessoas, isoladas e adotando o “social distancing”, sendo tiradas de suas zonas de conforto. O pânico e a aversão ao risco sobem ainda mais. Cadeias inteiras de suprimento são afetadas. As medidas de política econômica são pouco efetivas para combater o duplo choque de oferta e demanda agregadas. Vendas compulsórias se instauram no mercado financeiro. O drawdown (queda do topo ao fundo) dos índices de ações bate 60%, semelhante àquele de 2008. Trouxe duas tabelas com comparativos históricos para colocarmos em perspectiva essa crise frente às demais e trazer um pouco do quão ruim a coisa pode ficar.

Em contrapartida, também podemos caminhar à direita na curva de sino mais acima. A atuação dos bancos centrais consegue conter o pânico e endereçar problemas de iliquidez. Países emitem dívida a juro negativo e salvam o planeta inteiro num grande bail out, uma espécie de grande plano de estatização. A sinalização de que “tudo será comprado a qualquer preço pelos Tesouros e bancos centrais” elimina a pressão vendedora e gera otimismo (ainda que alimente o moral hazard e hipoteque o nosso futuro, mas isso é problema para depois). Empresas farmacêuticas desenvolvem vacina e remédio para o coronavírus. Resgatamos os princípios keynesianos mais elementares e iniciamos um gigantesco pacote fiscal focado em infraestrutura, ao menos endereçando parcialmente o problema da demanda agregada. Os mercados voltam a subir de forma vertiginosa, o surto é controlado e iniciamos uma clássica recuperação em V. Em 12 meses, ninguém lembra mais do coronavírus e de seu brevíssimo bear market.

Pode, perfeitamente, acontecer o primeiro cenário, o mais negativo. Pode também ser o segundo, o mais positivo. E, claro, há infinitos eventos igualmente possíveis entre eles, no meio da distribuição.

O bom analista/gestor/investidor/estrategista precisa preparar-se para toda a distribuição, já que é simplesmente impossível saber qual dos cenários vai se materializar exatamente. Aqui, há apenas dois tipos de pessoas: aquelas que não sabem qual dos cenários vai se materializar. E aquelas que não sabem que não sabem. O segundo grupo é muito mais perigoso.

Em cenários de extrema incerteza e sobretudo quando envolve risco de ruína e falência (como é o caso do cenário extremamente negativo apresentado), o parágrafo anterior é inviolável. Não se admite aventuras, brincadeiras, sonos tranquilos e postura gananciosa. O momento requer conservadorismo, proteção, diligência, seriedade e trabalho Para ser bem-sucedido, primeiro precisamos sobreviver, resume Warren Buffett. Ou, como recomenda Taleb, qualquer estratégia que envolva risco de ruína precisa ser evitada, a qualquer custo. O foco agora é a sobrevivência, proteção patrimonial. Isso vale tanto para investimentos quanto para outras decisões financeiras: viagens, trocas de carro, compra de apartamento, doações relevantes. Isso pode esperar.

Há dias fartos e há dias nefastos. Chegará o momento — talvez não demore, pela própria natureza dessa crise, mais acentuada e, ao mesmo tempo, provavelmente mais célere também — de voltarmos a focar na multiplicação de patrimônio. Agora, porém, precisamos de responsabilidade e proteção patrimonial. Essa é uma das grandes crises recentes da história do capitalismo, algo com precedentes somente nas grandes guerras em termos de isolamento e potencial quebra das cadeias de suprimento. E assim precisa ser encarada.

Num ambiente como esse que se coloca diante de nós, recorro a dois elementos essenciais para argumentar em prol da necessidade de cautela.

O primeiro é o Princípio da Precaução, tão defendido por Nassim Taleb. Se uma ação ou uma política tem a suspeita ou o risco de causar extremo dano, essa ação não pode ser adotada sem a devida segurança. Diante do risco e da dimensão que essa crise ainda pode assumir (por favor, não confundir com “necessariamente vai assumir”), o único caminho possível é o da precaução. Recuperando um pouco o juramento de Hipócrates, o primeiro princípio é não causar danos. Começamos por aí. Acima de tudo, está o patrimônio do nosso assinante.

O segundo se liga ao princípio da ciência, que apresenta o mesmo argumento de forma diferente. Há dois tipos de erros possíveis. O erro tipo 1 toma por verdadeiro o que é falso. Já o erro tipo 2 toma por falso o que é verdadeiro. Comprar uma ação ruim e ver ela derreter (erro tipo 1) é uma decisão bem diferente de deixar de comprar uma ação boa e ver ela se multiplicar (erro tipo 2). O primeiro aniquila seu patrimônio. O segundo apenas vai ser mais uma das oportunidades que você deixou passar na vida — neste momento mesmo, algumas estão passando e nós não estamos vendo; faz parte do processo o erro tipo 2.

Talvez o leitor mais exigente (e acho que ele está mesmo certo em ser exigente) possa perguntar: “Ah, mas vocês não previram a crise?”.

Respondo com o grave defeito da transparência e honestidade de sempre: com efeito, não previmos a crise. E por quê? Porque é da essência dos cisnes negros sua impossibilidade de previsão. Não é esse o jogo. A definição do black swan é: um evento raro, de alto impacto e imprevisível — claro, depois que acontece, fica óbvio, como qualquer outra coisa na vida. Nunca vou me esquecer daquela apresentação do Bernardinho em nosso evento de 10 anos: “Eu demorei dois anos e meio para entender aquela derrota para a Rússia. Mas um grupo de pessoas a entendeu em 15 minutos: os comentaristas”.

Sendo 100% sincero aqui, talvez pudéssemos, sim, ter agido um pouco antes. Não no sentido de prever a crise, mas de atuar já na Quarta-feira de Cinzas. As palavras de Ray Dalio, o maior gestor do mundo, ao Financial Times nesse fim de semana expressa muito bem o sentimento em torno dessa questão: “Nós não sabíamos como navegar diante do vírus e, portanto, decidimos não mexer nas nossas posições, porque não tínhamos qualquer vantagem frente ao mercado para tradar o vírus. Então, ficamos com as posições e, em retrospecto, deveríamos ter cortado de imediato nossa exposição ao risco”.

A verdade é que, voltando no tempo, era muito difícil antever o quão grave a crise ficaria e que ela se tornaria estrutural. O caráter era um tanto claro de “one off” e de que o surto passaria, preservando ainda boa parte dos valores intrínsecos das empresas. Mesmo os melhores gestores do mundo não conseguiram reagir imediatamente. Precisamos de alguns dias para estudar, analisar e mudar as carteiras. Tudo aconteceu muito rápido — foram apenas três dias de mercado — e, assim que tivemos a real clareza do potencial tamanho do problema, ajustamos as carteiras, cortando na carne, porque aquilo era o certo a se fazer.

Há uma máxima de que me lembro todos os dias: no mercado, você é tão bom quanto seu último trade. Não importa sua história, não importa há quanto tempo você está na estrada. Sua última atitude foi a correta?

É essa última atitude a relevante, porque é ela que vai prepará-lo para o futuro. Estou convencido de que, a partir de nossas decisões desde a última segunda-feira, estamos rigorosamente preparados. Que seja do meu conhecimento, fomos a única casa de pesquisa, entre todos os bancos, as corretoras e os independentes, a defender uma significativa elevação da exposição a dólar e ouro desde o começo da semana passada e uma redução da posição líquida em ações, por meio do short em BOVA11. Estamos absolutamente focados na gestão de risco agora. E como diria Howard Marks: o risco é a coisa mais importante.

Estamos preparados e temos um plano claro nas mãos.

Se o cenário negativo, de fato, se materializar (hoje parece ser mais um dia nessa nefasta direção) e o Ibovespa caminhar mesmo para algo em torno de 60 mil pontos, aguentaremos firmes o tranco até lá. Chegaremos líquidos a este momento e poderemos comprar ações a preços realmente descontados. Será a chance da vida para formar posições que, em dois a três anos, vão se multiplicar algumas vezes. Aí é realmente a oportunidade da vida para ficar rico de verdade. Tudo de que precisamos é estarmos vivos até lá.

“Ah, mas e se vier uma recuperação vigorosa já a partir de agora?” Ora, se o cenário positivo se concretizar, então será o cenário positivo. Todos ganham com ele. Ainda temos uma posição razoável em Bolsa, juro longo e fundos imobiliários. Surfaremos também. Claro que, num primeiro momento, podemos até não pegar a recuperação com a mesma intensidade de que se estivéssemos “all in”. Mas aqui não se admite posicionamentos irresponsáveis do tipo “all in”. Se o cenário melhorar e ficar tudo mais claro, com as nuvens passando e o céu voltando a ficar azul, retomamos o bull market estrutural e vamos lá buscar os 300 mil pontos ainda neste ciclo. Então, com a crise superada, poderemos voltar a ter uma posição mais pesada em Bolsa. Ainda que não tenhamos surfado a pernada inicial com tamanha intensidade, vamos recuperar no tempo. O cenário bom, positivo e de multiplicação dos preços dos ativos de risco é muito mais simples de navegar. Ele nos traria ganhos de qualquer jeito.

Em resumo, se formos a 60 mil pontos, aumentaremos a alocação líquida comprada em Bolsa para algo próximo a 50% das carteiras. E, se começarmos a subir a partir dos níveis atuais, vamos recuperar de todo modo, só precisaremos estender um pouco nosso horizonte temporal.

Eis o plano que temos nas mãos. Estamos preparados, venha o que vier.

Compartilhe

EXILE ON WALL STREET

A simplicidade é a maior das sofisticações na hora de investir

12 de setembro de 2022 - 18:55

Para a tristeza dos estudiosos das Finanças, num daqueles paradoxos do conhecimento, quanto mais nos aprofundamos, parece que cavamos cada vez mais no subterrâneo

EXILE ON WALL STREET

Marcas da independência: Vitreo agora é Empiricus Investimentos

5 de setembro de 2022 - 8:43

Com a mudança de nome, colhemos todos os benefícios de uma marca única, com brand equity reconhecido e benefícios diretos, imediatos e tangíveis ao investidor

EXILE ON WALL STREET

Além do yin-yang: Vale a pena deixar os fundos para investir em renda fixa?

2 de setembro de 2022 - 11:47

Investidores de varejo e institucionais migraram centenas de bilhões em ativos mais arrojados para a renda fixa, o maior volume de saída da história do mercado de fundos

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Encaro quase como um hedge

1 de setembro de 2022 - 13:27

Tenho pensado cada vez mais na importância de buscar atividades que proporcionem feedbacks rápidos e causais. Elas nos ajudam a preservar um bom grau de sanidade

EXILE ON WALL STREET

Complacência: Entenda por que é melhor investir em ativos de risco brasileiros do que em bolsa norte-americana

29 de agosto de 2022 - 11:25

Uma das facetas da complacência é a tendência a evitar conflitos e valorizar uma postura pacifista, num momento de remilitarização do mundo, o que pode ser enaltecido agora

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: O elogio que nem minha mãe me fez

25 de agosto de 2022 - 12:02

Em mercados descontados que ainda carregam grandes downside risks, ganha-se e perde-se muito no intraday, mas nada acontece no dia após dia

EXILE ON WALL STREET

Degrau por degrau: Confira a estratégia de investimento dos grandes ganhadores de dinheiro da bolsa

24 de agosto de 2022 - 13:57

Embora a ganância nos atraia para a possibilidade de ganhos rápidos e fáceis, a realidade é que quem ganha dinheiro com ações o fez degrau por degrau

EXILE ON WALL STREET

Blood bath and beyond: Entenda o banho de sangue dos mercados financeiros — e as oportunidades para o Brasil

22 de agosto de 2022 - 12:25

Michael Hartnett, do Bank of America Merrill Lynch, alerta para um possível otimismo exagerado e prematuro sobre o fim da subida da taxa básica de juro nos EUA; saiba mais

EXILE ON WALL STREET

Você está disposto a assumir riscos para atingir seus sonhos e ter retornos acima da média?

19 de agosto de 2022 - 13:50

Para Howard Marks, você não pode esperar retornos acima da média se você não fizer apostas ativas. Porém, se suas apostas ativas também estiverem erradas, seus retornos serão abaixo da média

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Qual é o mundo que nos aguarda logo à frente?

18 de agosto de 2022 - 11:45

O mercado inteiro fala de inflação, e com motivos; afinal, precisamos sobreviver aos problemas de curto prazo. Confira as lições e debates trazidos por John Keynes

Fechar
Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Continuar e fechar