🔴 MARATONA ONDE INVESTIR 2º SEMESTRE: ASSISTA TODOS OS PAINÉIS DO EVENTO – CLIQUE PARA LIBERAR

Procure por lucros crescendo

Procurar por lucros que crescem, na maior parte das vezes, implica bater de frente com a ideia de comprar barganhas clássicas apuradas sob os critérios de múltiplos baixos

20 de outubro de 2020
10:56 - atualizado às 10:57

Se eu tivesse de apontar uma única coisa a se procurar numa empresa, seria: lucros por ação em alta. Há boa dose de evidência empírica sugerindo correlação positiva entre a evolução dos lucros corporativos e as respectivas ações.

Não é propriamente uma novidade. Philip Fisher sintetizou os benefícios do “growth investing” (o investimento em crescimento) no mais do que clássico “Common Stocks and Uncommon Profits”. O próprio Warren Buffett trouxe ideia semelhante ao proferir que “se um negócio vai bem, as ações acabam seguindo” — e claro, “ir bem” raramente pode ser representado por lucros caindo.

O ponto central aqui é que procurar por lucros que crescem, na maior parte das vezes, implica bater de frente com a ideia de comprar barganhas clássicas apuradas sob os critérios de múltiplos baixos. Num mercado informacionalmente muito eficiente, uma relação Preço/Lucro baixa está daquela forma não porque o mercado não percebeu a suposta barganha — com Bloombergs, Broadcasts, Valor Pros e o próprio Google, nada tão simples passa despercebido. Um baixo P/L significa a interpretação do mercado de que os lucros devem cair à frente e, por isso, seu múltiplo deve ser baixo agora.

Não é à toa que Cielo negocia com múltiplos de resultados históricos tão baixos, enquanto Stone os tem em níveis bem maiores — óbvio que todos perceberam a distorção, mas também é igualmente óbvia a expectativa por lucros aumentando mais para Stone do que para Cielo. XP está 70x lucros e os bancos tradicionais estão a 9x por razão semelhante — enquanto se espera resultados crescendo rápido para a primeira, projeta-se estabilidade ou queda de resultados para os últimos. Carros elétricos de um lado, motor a combustão de outro.

As dicotomias do mercado são amplas. Talvez a melhor categorização para elas seja: de um lado, aquelas com possibilidades de disruptar o status quo e se beneficiar de grandes tendências estruturais de longo prazo; frente a outras a serem disruptadas e em desarmonia com o curso da História.

Se é verdade que as ações acompanham lucros e múltiplos baixos indicam lucros caindo à frente, decorre daí que devemos comprar múltiplos altos, não baixos. Contraria-se, portanto, a intuição original de se perseguir relações comprimidas de Preço/Lucro ou Valor da Empresa/Ebitda. 

Haveria quem pudesse dizer que isso decorre de um erro de mercado. Múltiplos muito altos significam, na verdade, uma estimativa muito otimista sobre o futuro. Ora, se o mercado virou Poliana e ingenuamente projeta um céu de brigadeiro à frente, então pode ser qualquer coisa. Os 100x lucros podem ser 150x ou 200x. Chute por chute, valeria qualquer um. 

Não desprezo o ponto, mas aqui falo em outra direção. Não me refiro necessariamente a múltiplos fora da realidade. Apenas a múltiplos moderadamente altos, um pouco acima da média do mercado ou de sua indústria particular. Aquilo é uma sinalização da visão de resultados crescentes, que, muito provavelmente, se apoia num track record já entregue de lucros aumentando no passado recente. Um mercado informacionalmente eficiente não vai acreditar com facilidade em lucros crescendo muito no futuro se não houve execução semelhante no passado.

Leia Também

Abordagem semelhante foi documentada por William O’Neil, no Investor’s Business Daily. O’Neil estava insatisfeito com a qualidade das informações financeiras disponíveis em jornais, revistas e newsletters do ramo. Então, vendo a eficácia do seu próprio método, resolveu torná-lo público. Sintetizou a abordagem no acrônimo “CANSLIM”, cada letra representando um atributo a se perseguir numa ação.

C: current earnings per share. Ou seja, o lucro atual por ação. Segundo ele, as melhores ações são aquelas cujo lucro corrente mostra um crescimento de pelo menos 70% na média no trimestre frente ao mesmo período do ano anterior. “Ainda fico surpreso em como investidores compram ações com lucros parados ou menores frente aos trimestres anteriores”, afirmou uma vez.

A: annual earnings per share. Lucro anual por ação. Nos seus estudos, o crescimento compostos anual de cinco anos das melhores ações era de pelo menos 24%. Idealmente, cada ano deve trazer um avanço dos lucros frente ao exercício anterior.

N: new. Precisa haver algo novo naquele negócio, um produto ou um serviço. De acordo com O’Neil, 95% dos vencedores tinham algo novo em suas categorias. E esse novo pode ser, inclusive, uma nova máxima histórica para a respectiva ação. “O que parece alto costuma ficar mais alto ainda e é surpreendente a resistência das pessoas em comprar uma ação na máxima.”

S: shares outstanding, número de ações disponíveis. Em termos literais, é algo que vale mais para os EUA, mas a intuição está preservada. Nos estudos, 95% das melhores performances tinham menos de 25 milhões de ações no período de seu melhor desempenho. Em outras palavras, papéis de menor capitalização de mercado tendem a estar no topo dos rankings. Aqui é bastante intuitivo. O Itaú não vai poder se multiplicar por 10x. Caso contrário, vai superar o PIB mundial. Somente uma empresa pequena pode crescer tanto. Uma pequena ressalva de minha parte: esse dado, embora verdadeiro, esconde um outro. Os piores retornos também muito possivelmente estejam representados por ações de pequena capitalização. Mais risco, mais retorno. Não há muito como fugir. De todo modo, a ideia é válida: se você quer capturar as maiores valorizações, procure por small e microcaps (sabendo do risco associado, claro).

L: leader or laggard. Resumindo, procure pelos líderes e deixe os retardatários. É uma espécie de estratégia de seguir a tendência ou de momentum trade. De acordo com O’Neil, as ações de melhores performances são aquelas de maior índice de força relativa — uma forma de medir esse indicador é por meio da comparação do desempenho daquela ação nos últimos 12 meses com as demais ações; entre várias formas de se medir, uma forma pode apontar que um índice de força relativa de 80 significa que a respectiva ação superou 80% de todas as demais durante um ano.

I: institutional sponsorship. Temos de procurar por investidores institucionais que também compram aquela ação. Eu imagino que você seja um gênio. Realmente acredito nisso. Mas não sei se você é o único gênio por aí. Temos equipes de análise altamente capacitadas nos fundos de ações no Brasil e, se nenhuma delas descobriu aquela bela ação, talvez seja improvável que você o tenha feito antes de todo mundo. Não custa lembrar: investidores institucionais são a maior fonte de demanda pelas ações. Ao mesmo tempo, tome cuidado para evitar o excesso deles. Se o call virou excessivamente óbvio e todo mundo já tem a respectiva ação, não há mais comprador marginal e o risco de uma pressão vendedora futura é grande. A virtude está no meio.

M: market. A correlação com o mercado importa. Segundo O’Neil, três quartos das ações andam na mesma direção de um movimento significativo do mercado. Um bom ativo num mercado ruim ainda pode ser um ativo ruim.

Tudo isso foi sintetizado em 1984 e ainda é esquecido por boa parte das pessoas. Em investimentos, o grande engano oficial orwelliano talvez não seja o autoritarismo descrito no famoso livro, mas a perseguição por ativos aparentemente baratos, que ficam cada vez mais baratos. 

Você ainda não tem Magazine Luiza e B3?

COMPARTILHAR

Whatsapp Linkedin Telegram
EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: O elogio que nem minha mãe me fez

25 de agosto de 2022 - 12:02

Em mercados descontados que ainda carregam grandes downside risks, ganha-se e perde-se muito no intraday, mas nada acontece no dia após dia

EXILE ON WALL STREET

Degrau por degrau: Confira a estratégia de investimento dos grandes ganhadores de dinheiro da bolsa

24 de agosto de 2022 - 13:57

Embora a ganância nos atraia para a possibilidade de ganhos rápidos e fáceis, a realidade é que quem ganha dinheiro com ações o fez degrau por degrau

EXILE ON WALL STREET

Blood bath and beyond: Entenda o banho de sangue dos mercados financeiros — e as oportunidades para o Brasil

22 de agosto de 2022 - 12:25

Michael Hartnett, do Bank of America Merrill Lynch, alerta para um possível otimismo exagerado e prematuro sobre o fim da subida da taxa básica de juro nos EUA; saiba mais

EXILE ON WALL STREET

Você está disposto a assumir riscos para atingir seus sonhos e ter retornos acima da média?

19 de agosto de 2022 - 13:50

Para Howard Marks, você não pode esperar retornos acima da média se você não fizer apostas ativas. Porém, se suas apostas ativas também estiverem erradas, seus retornos serão abaixo da média

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Qual é o mundo que nos aguarda logo à frente?

18 de agosto de 2022 - 11:45

O mercado inteiro fala de inflação, e com motivos; afinal, precisamos sobreviver aos problemas de curto prazo. Confira as lições e debates trazidos por John Keynes

EXILE ON WALL STREET

Novas energias para seu portfólio: Conheça o setor que pode impedir a Europa de congelar — e salvar sua carteira

17 de agosto de 2022 - 12:55

Para aqueles que querem apostar no segmento de energia nuclear, responsável por 10% da energia do mundo, é interessante diversificar uma pequena parcela do capital

EDUCAÇÃO FINANCEIRA

Está na hora de você virar um investidor qualificado

16 de agosto de 2022 - 15:03

No longo prazo, produtos de investimento qualificado podem ter uma rentabilidade média maior e permitem maior diversificação

EXILE ON WALL STREET

É melhor investir em bolsa ou em renda fixa no atual momento dos mercados financeiros?

15 de agosto de 2022 - 12:39

A resposta continuará sendo uma carteira devidamente diversificada, com proteções e sob a âncora de valuations suficientemente descontados

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Foi tudo graças à peak inflation

11 de agosto de 2022 - 11:07

Imagine dois financistas sentados em um bar. Um desses sujeitos é religioso, enquanto o outro é ateu. Eles discutem sobre a eventual existência de bull markets

EXILE ON WALL STREET

Beta, e depois alpha: Saiba por que você precisa saber analisar a temporada de balanços antes de montar sua carteira

8 de agosto de 2022 - 12:38

Depois de muito tempo de narrativas sobre juros, inflação e recessão, talvez estejamos entrando num momento em que os resultados individuais voltam a ser relevantes

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Uma ideia de research jamais poderá salvar sua alma

4 de agosto de 2022 - 11:15

Venho escrevendo relatórios de research há quase 15 anos, e ainda não aprendi uma lição: a de que não é possível alcançar consolo para os nossos lutos através da explicação

EXILE ON WALL STREET

Más notícias virando boas notícias? Saiba como queda no PIB dos EUA pode beneficiar seus investimentos

3 de agosto de 2022 - 13:14

Investidores enxergaram nesse dado ruim a possibilidade de o Fed reduzir o aperto monetário. Desde então, os índices americanos valorizaram mais de 10%. Mas será que é para ficar animado?

EXILE ON WALL STREET

Felipe Miranda: Dez lições de um fracassado

2 de agosto de 2022 - 13:10

Após escrever um best-seller sobre o sucesso, hoje resolvi falar sobre o fracasso. Confira uma dezena de coisas que muito possivelmente você não vai ouvir por aí

Educação formal

Por que uma certificação ainda vale muito para trabalhar no mercado financeiro

31 de julho de 2022 - 12:15

Longe de mim desmerecer o conhecimento empírico, mas ter um certificado que comprove a sua expertise ainda é fundamental no mundo dos investimentos

EXILE ON WALL STREET

O que é preciso para alcançar os melhores resultados em investimentos

29 de julho de 2022 - 12:55

Os melhores resultados não costumam vir das nossas melhores intenções, mas das melhores leituras de cenário.

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Como se não bastasse, a crise hídrica nas bolsas mundiais voltou

28 de julho de 2022 - 12:30

O Ibovespa rompeu a barreira dos 100 mil pontos 8 vezes desde junho, sem sair do lugar, e os investidores estão perdendo dinheiro com tantos pregões que não levam a lugar nenhum

EXILE ON WALL STREET

Como lidar com o desconhecido? Saiba como analisar os cenários no mundo e encontrar oportunidades de investimento

27 de julho de 2022 - 12:32

Minha sugestão é a diversificação de seu portfólio de investimentos e a ampliação do seu horizonte temporal para se apropriar dos diversos prêmios de risco ao longo do tempo

EXILE ON WALL STREET

Será possível retornar à era de ouro dos grandes fundos de ações?

25 de julho de 2022 - 11:47

O jogo está estruturalmente mais difícil, por conta da maior competição, das restrições impostas pelo tamanho e pela menor assimetria de informação

EXILE ON WALL STREET

E o Oscar de melhor fundo no curto prazo vai para…

22 de julho de 2022 - 13:26

Nas crises, o investidor inteligente é aquele que sobrevive. Para isso, deve-se preferir a consistência de bons retornos à raridade de desempenhos excepcionais

EXILE ON WALL STREET

Rodolfo Amstalden: Nasci 300 mil anos atrás, sou quase um bebê

21 de julho de 2022 - 11:03

Somos mais frágeis do que gostaríamos de admitir. Mas, se tomássemos em plena conta essa fragilidade, faltaria confiança para seguirmos adiante

Menu

Usamos cookies para guardar estatísticas de visitas, personalizar anúncios e melhorar sua experiência de navegação. Ao continuar, você concorda com nossas políticas de cookies

Fechar