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Notícias da trincheira

Quando foi que os técnicos e os cientistas perderam a sensibilidade humana?

5 de maio de 2020
10:25
mercado
Imagem: Shutterstock

Não fosse pela Netflix e pelo Wagner Moura, Sergio Vieira de Mello seria um desconhecido de boa parte dos brasileiros. Na melhor das hipóteses, “ah, já ouvi falar. Um brasileiro no FMI, né? Ou Banco Mundial? ONU talvez?”. Não deixa de ser curioso que tenhamos precisado de uma grande empresa norte-americana e de um ator comunista para conhecermos um pouco de nós mesmos.

“Sergio” não fica ruim na versão da Netflix — acho que é simplesmente impossível alguma coisa, uma peça de teatro (lembra daquele Hamlet no teatro Faap? Uau!) ou um filme, ser ruim com o simplesmente impressionante Wagner Moura. Mas o documentário original homônimo é melhor. Vale a pena, ainda que a versão de Carolina Larriera sobre a ONU merecesse estar melhor representada — ela completou as informações faltantes em seu Twitter pessoal, a quem interessar possa.

Sergio Vieira de Mello me surpreende por várias coisas, mas há uma em especial capaz de tocar-me a alma: a capacidade de transitar em ambientes dos mais diversos possíveis, compondo a erudição típica de um diplomata com uma habilidade de falar simples e de forma humilde com os mais necessitados. Quem poderia seduzir, ao mesmo tempo, George W. Bush e rebeldes do Camboja? O resultado é uma rica possibilidade de resolução de conflitos, alguns tidos como impossíveis a princípio.

Quando foi que os técnicos e os cientistas perderam a sensibilidade humana?

Talvez — e essa é mesmo uma mera possibilidade — eu tenha ficado tão admirado com a figura porque há ali ao menos uma coisa com que me identifico fortemente. Sergio carrega consigo um pouco daquilo que eu gostaria de ser. Mas mais do que uma concepção platônica idealizada existe um fator comum aqui, sintetizado em uma de suas frases repetidas com frequência: se você quer entender a natureza do conflito, se quer mesmo fazer algo pelo mundo, você precisa ir até o campo, sentir de perto a dor das pessoas. A essência do mundo não está nos palacetes acarpetados e nas salas com ar condicionado.

Em outra série de TV, desta vez na HBO, Logan Roy, de “Succession”, desiste da nomeação de um de seus filhos para sucedê-lo como CEO de seu conglomerado quando lhes pergunta o preço do litro de leite e encontra como resposta um silêncio ensurdecedor.

Eu me pergunto — é um questionamento verdadeiro — se os analistas da Faria Lima e os youtubers de finanças sabem o preço do litro de leite. Afinal, o preço do leite não aparece no Instagram.

O que o campo está nos dizendo agora?

Eu paguei, ontem mesmo, R$ 11 no feijão. Há pouquinho tempo, era R$ 4,50, o mesmo feijão. Como passo boa parte do tempo em dieta cetogênica, como muita carne, vermelha e de porco. A verdade é que, em muitos supermercados, tenho encontrado dificuldade para comprar.

Não sei qual será o desdobramento disso sobre a inflação lá na frente. Os macroeconomistas, debruçados em seus modelos econométricos sofisticados, mas que eu duvido que saibam o preço do leite (com raras exceções), dizem que o IPCA deve subir apenas 2% neste ano. Ok, eu não duvido, mas desconfio de muita coisa. Desconfio até de que seja prerrogativa do presidente da República trocar diretores do IBGE — se movemos com tanta rapidez um superintendente da PF no RJ, por que haveríamos de ser mais comedidos com a troca de gestão de um instituto de pesquisa? O risco sobre as suas NTN-Bs, se levadas até o vencimento, não é tanto de um calote num país em que o ministro da Fazenda, PhD por Chicago, avisa que pode imprimir moeda, mas de roubarem no cálculo da inflação.

Há alguns poucos meses, circulou uma carta interessante do Sequoia. Ela dizia algo mais ou menos assim: se preparem, meus caros, porque aquilo que estou vendo nas operações do dia a dia das nossas empresas investidas não é nada bom. Era mais um sinal vindo do campo. Deu no que deu. Há poucas semanas, li um comentário interno da Kaszek que me assustou. Bom, mas isso é outro assunto.

Ontem, o Itaú soltou seus resultados trimestrais. Foram nada menos do que R$ 10 bilhões em provisões, no que se traduziu numa queda de lucro de 40%. Em paralelo, o banco suspendeu a divulgação de guidance, alertando para a falta de visibilidade à frente. Papai, que trabalhou em banco 25 anos e sabia muito bem o preço do leite, sempre me alertou: banco entrega o lucro que quiser, tamanha a margem de manobra dentro do balanço. Se o Bradesco e o Itaú elevaram ao máximo as provisões para simplesmente não pagar tanto imposto e revertê-las depois, eu sinceramente não sei. Pode ser. Tudo pode. Mas não me parece um bom sinal. Os dois bancões privados brasileiros estão nos emitindo um sinal claro: nós, que estamos aqui lidando com crédito e acompanhando o cotidiano das empresas, vemos uma crise pior do que 2015 e 2008. Mais do que isso, há um recado? Não temos nenhuma visibilidade à frente; é impossível fazer qualquer projeção.

Então, vejo gritos de que essa é a hora de investir pesado. Ora, ora. O que é investir? Segundo Aswath Damodaran, é comprar algo por menos do que aquilo vale. E o quanto aquilo vale representa a soma de todos os fluxos de caixa de hoje até o infinito, a valor presente. Se as próprias empresas, do lado mais favorável estão dizendo que não conseguem ver nada à frente, como você vai projetar os fluxos de caixa futuro? Desculpe, mas isso não é investimento. É torcida, aposta ou ideologia. Você não pode ser um sócio-torcedor da B3.

A gritaria dos torcedores tinha rigorosamente os mesmos decibéis da época do Fim do Brasil. Os paralelos são assustadores. A altura dos berros e o discurso de golpe, aparentemente de forma contraintuitiva, eram exatamente de igual natureza.

Naquela época, Delfim Netto usou o termo “tempestade perfeita” para descrever o que vinha acontecendo no Brasil. Agora, Arminio Fraga recupera a mesma expressão para resumir aquilo que poderia ser visto como um novo tripé para chamar de seu, agora para as crises de saúde, economia e política. Em sua live na XP, uma frase poderia sintetizar tudo no âmbito dos mercados: “No momento, tenho mais medo de uma pernada para baixo do que de perder uma grande virada”.

Essa, na verdade, além de uma frase prática, remete a uma postura epistemológica. Perder uma eventual alta representa o erro do tipo 2, de tomar por falso algo que é verdadeiro. Significa perder uma oportunidade, como fazemos todos os dias de nossas vidas — neste momento, há algum bull market acontecendo no mundo e nós não estamos participando dele, pois nem ficamos sabendo. Você já perdeu e vai perder várias e várias oportunidades na vida. Acostume-se com isso. Agora, estar comprado e sofrer com uma segunda pernada de baixa é incorrer no erro do tipo 1, de tomar como verdadeiro algo que é falso. As consequências disso são brutais. Perder um bull market deixa o investidor na mesma situação anterior. Sofrer pesado num bear market pode quebrá-lo. Não há simetria entre os erros, as situações têm natureza distintas. Por isso, a própria ciência permite-se o erro do tipo 2. Enquanto isso, boa parte das pessoas desafia essa noção, sofrendo de um dos mais canônicos vieses cognitivos, o Fear of Missing Out — o medo de não participar da festa.

Warren Buffett, no campo há muito tempo e dono de várias companhias, portanto com acesso à informação concreta do dia a dia empresarial, está vendendo. Por que você está comprando?

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